novembro 22, 2024

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Enoque: ressuscitado, trasladado ou ainda morto?

Gênesis 5:24 realmente diz que Enoque foi levado para o Céu? Se você estiver procurando uma frase que diga literalmente: “levado para o Céu”, a resposta é “não”; o texto não usa essas exatas palavras. Se examinarmos a linguagem usada no próprio verso, temos que concluir que há alguma dúvida no que diz respeito à experiência de Enoque. Vamos examinar a linguagem propriamente dita, explorar o contexto e, finalmente, estudar suas conexões intercontextuais, ou seja, outra passagem onde o assunto é abordado.

1. Ambiguidade na Expressão Usada: Duas frases principais merecem atenção: “e já não era”*; “Deus o tomou para Si”. Na primeira expressão em hebraico (we’eynennû), que pode ser literalmente traduzida “e ele não ali”, o verbo “ser” foi adicionado. Portanto, o sentido é: “ele não era ou ele não estava mais”. Isso pode significar que ele desapareceu ou que morreu. Por exemplo, Jacó disse de José: “José já não existe” (Gn 42:36), que é o mesmo que: “Ele se foi ou morreu” (veja Jó 6:8; Sl 39:7). A segunda expressão, “Deus o tomou para Si”, também é ambígua. Pode significar que Deus “o tomou” (laqah  ’thô) no sentido de ele ter morrido (veja Ez 24:16; Jn 4:3), ou que Deus o livrou ou preservou (Gn 7:2). Muitos comentaristas cristãos argumentam que a passagem simplesmente diz que Enoque desapareceu porque morreu prematuramente. Na maioria das vezes, essa leitura é baseada na convicção de que o Antigo Testamento não ensina uma ressurreição que conduz a uma existência na presença de Deus. Argumentam que só mais tarde tal ideia começa a aparecer no Antigo Testamento. Quando leio as Escrituras vejo algo diferente.

2. Avaliação Contextual: Genesis 5 é a descrição do poder da morte sobre os seres humanos, mesmo sobre os que serviram ao Senhor. Ler esse texto é como visitar um cemitério e ler as lápides. A fórmula é assim: “X viveu Y anos e morreu” (veja versos 5, 8, 11, 14, 17, 20, 27, 31). Essa fórmula não é aplicada a Enoque; não encontramos o verbo “morreu” no seu caso. Então, a frase “e já não era” realmente não significa que ele “morreu”, mas que “desapareceu”. Nos casos que podem significar morte, isso é determinado pelo contexto, não pela frase propriamente dita. Em outras palavras, uma pessoa pode desaparecer porque morreu, ou porque Deus a “tomou”. No caso de Enoque, o verbo “tomar” é usado na forma absoluta, ou seja, não é mencionado o lugar. Esse uso é também encontrado no caso de Elias (2Rs 2:3, 5), indicando que significa “ser arrebatado”. Isso torna mais claro o que diz Gênesis 5:24. O verbo também é usado para designar nossa vida futura com o Senhor (veja Sl 49:15; 73:23-25). Note a estrutura da sentença em Gênesis 5:24: Enoque (a) andou com Deus, e (b) desapareceu, porque (a) Deus o tomou. Esse relato destaca a estreita relação de Enoque com o Senhor, resultando em sua partida/desaparecimento, não morte. A explicação para o seu desaparecimento é que Deus o tomou, não que Deus o matou!

3. Enoque no Novo Testamento: Se você ainda tiver dúvida, leia Hebreus 11:5: “Pela fé, Enoque foi trasladado [Grego: metatithemi, “mudar de endereço”, “ser arrebatado”] para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara [metatithe-mi]”. A frase “e já não era”, usada em Gênesis 5:24, é interpretada como significando que Enoque “não pôde ser encontrado”. A frase “Deus o tomou para Si” compreende-se como ele tendo sido transferido para um lugar celestial. A mudança de endereço é interpretada como não tendo experimentado a morte. Finalmente, Deus é identificado como Aquele que o trasladou. A história de Enoque coloca esperança no coração humano; esperança no fato de que por Cristo venceremos o poder da morte. Os benefícios da morte de Cristo foram concedidos a Enoque pela fé. Sua íntima comunhão com o Senhor deve nos inspirar a fazer de Cristo nossa mais próxima e constante companhia em nossa peregrinação cristã.

*Todos os textos bíblicos foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada.

Fonte: Dr. Ángel Manuel Rodríguez, Revista Adventist World, Abril de 2011.  
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