Da “ferida mortal” infligida ao império papal (Ap 13) até sua completa cura e novo auge, onde ele receberá adoração por parte de “toda a terra”
Esta cronologia começa com o artigo Do chifre pequeno à besta do mar – as origens do império católico globalista romano, continua através do artigo Do auge do império globalista católico romano até a “ferida mortal” e termina com o presente texto.
Fim do séc. 18 | "Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta" (Ap 13.3, ARA). Esta sentença profética testifica que o papado voltaria a reassumir a sua preponderância sôbre as nações. E isto exigiria, antes de tudo, a eleição de um novo papa. Durante dois anos, o mundo não teve papa. Porém, a República francesa, na Itália, caiu dois anos após seu estabelecimento, e os cardeais dispersos, reuniram-se em Veneza, em número de 35, e elegeram, a 14 de março de 1800, um novo papa, o cardeal Barnabé Luiz Gregório Chiaramonti, que tomou o nome de Pio VII. Êste foi o primeiro passo para a cura da chaga mortal que sofrera o papado e para a sua restauração ao antigo poder temporal. [1] |
1804 | A própria França reatou relações com o papado e Napoleão convidou Pio VII para ir a Paris sagrá-lo imperador dos franceses, cerimônia esta que se realizou a 2 de dezembro de 1804, na catedral de Notre Dame (O Vaticano Potência Mundial, Joseph Bernhart, 285). [1] |
1841 - 1846 | Gregório XVI, que exerceu o ofício papal de 1841 a 1846, declarou que “essa vergonhosa fonte de indiferentismo [o liberalismo e a democracia] dá origem à absurda e errônea afirmação de que a liberdade de consciência precisa ser mantida para todos” (Gregório XVI, encíclica, 15 de agosto de 1832, “On Liberalism and Religious Indifferentism” (Mirari Vos), par. 14, Papal Encyclicals Online, http://www .papalencyclicals.net/Greg16/g16mirar.htm). [4] |
1846 - 1878 | Segundo o papado, a proteção da igreja é uma das atribuições mais importantes do Estado. O papa Pio IX*, cujo pontificado se estendeu de 1846 a 1878, disse: “O poder real foi dado não apenas para o governo do mundo, mas, acima de tudo, para a proteção da igreja” (Pio IX, encíclica, 8 de dezembro de 1864, “Condemning Current Errors”, também chamada “Forbidding Traffic in Alms” (Quanta Curd), par. 8; Papal Encyclicals Online, http://www.papalencyclicals.net/Pius09/p9quanta.htm). De maneira geral, nossos modernos governos democráticos também são responsáveis pelo funcionamento das igrejas, sinagogas e mesquitas. Mas isso simplesmente significa que o Estado é responsável pela criação de um ambiente seguro no qual a religião possa ser praticada. No entanto, Pio IX declararia que outro dos “principais erros de nossa época” é a ideia de que “a igreja deve ser separada do Estado, e o Estado, da igreja” (Pio IX, “Syllabus of Errors”, nº 55). É fato que Pio IX* e outros papas queriam dizer algo completamente diferente quando afirmaram que “o poder real foi dado [...] acima de tudo, para a proteção da igreja”. Na verdade, eles propagaram o conceito de que, num Estado ideal, a Igreja Católica deve ser a única religião oficial, e o Estado precisa garantir a superioridade da Igreja Católica em relação a todas as outras. [4] *Marvin Moore, p. 81 e 89, menciona Pio XI em vez de Pio IX, o que é um equívoco. A consequência natural do pensamento católico é a rejeição da ideia da liberdade religiosa, que pressupõe liberdade de consciência e de culto, segundo a escolha individual. Pio IX disse que um dos principais erros de nossa época consiste na ideia de que “todo homem é livre para adotar e professar a religião que, guiado pela luz da razão, considerar verdadeira” (Pio IX, “Syllabus of Errors”, nº 15). Nesse sentido, Pio IX também discordou do conceito de que “a liberdade de consciência e culto é um direito pessoal de cada homem que deve ser legalmente proclamado e afirmado em toda sociedade corretamente constituída”. De acordo com ele, essa é “uma opinião errônea, muitíssimo desastrosa quanto a seus efeitos sobre a Igreja Católica e a salvação de almas, sendo, por isso, chamada de doutrina insana por nosso predecessor Gregório XVI” (Pio IX, “On Current Errors”, par. 3). É evidente que a liberdade de consciência para todo cidadão é um dos preceitos fundamentais do Estado democrático laico, cujo princípio básico de governo é a separação entre igreja e Estado. [4] |
1867 | Em 28 de fevereiro de 1867, o Congresso aprovou uma legislação que proibia qualquer financiamento futuro de missões diplomáticas dos Estados Unidos à Santa Sé. Esta decisão foi baseada no aumento do sentimento anticatólico nos Estados Unidos (Melady, Thomas P.; Stebbins, Timothy R. (2009). US-Vatican Relations: 25th Anniversary and a New President. The Institute of World Politics.), alimentado pela condenação e enforcamento de Mary Surratt, uma católica, por participar da conspiração para assassinar o presidente Abraham Lincoln. [2] e [3] |
1869 - 1870 | Concílio Vaticano I. Desde o concílio Vaticano I, realizado nos anos 1869 e 1870, o papado busca se restabelecer. Neste mesmo concílio foi pronunciado o dogma da infalibidade papal, de acordo com o qual o papa, quando fala ex-cathedra, isto é, em função de seu ofício apostólico, seja para explicar uma doutrina ou um item da fé e moral a serem mantidos pela igreja, seja concernente à disciplina e ao governo da mesma, sua palavra é a lei e deve ser acatada sem questionamento, permanecendo inalterável por si mesma, e não pelo consenso da igreja. [5] |
1870 | "A Igreja Católica Romana, com todas as suas ramificações pelo mundo inteiro, forma vasta organização, dirigida da sé papal, e destinada a servir aos interesses desta. Seus milhões de adeptos, em todos os países do globo, são instruídos a se manterem sob obrigação de obedecer ao papa. Qualquer que seja a sua nacionalidade ou governo, devem considerar a autoridade da igreja acima de qualquer outra autoridade. Ainda que façam juramento prometendo lealdade ao Estado, por trás disto, todavia, jaz o voto de obediência a Roma, absolvendo-os de toda obrigação contrária aos interesses dela. A História testifica de seus esforços, astutos e persistentes, no sentido de insinuar-se nos negócios das nações; e, havendo conseguido pé firme, nada mais faz que favorecer seus próprios interesses, mesmo com a ruína de príncipes e povo", p. 505 e 506. [6] |
1871 | A revolução de Mazzini, Cavour e Garibaldi, deu ao papado, a 13 de maio de 1871, direitos sôbre o palácio do Vaticano, a catedral de São Pedro, São João de Latrão e Castel Gandolf. [1] |
1885 | “Antes de tudo é dever de todos os católicos dignos do nome e ansiosos para serem conhecidos como os mais amorosos filhos da igreja [...] empenharem-se em trazer de volta toda a sociedade civil ao modelo e à forma de cristianismo que nós representamos” (The Great Encyclical Letters of Leo XIII, 132. Citado por S. A. Kaplan no livro Surge uma Perseguição Religiosa nos Estados Unidos?, p. 124). [2] |
1878 - 1903 | Leão XIII, que exerceu o pontificado de 1878 a 1903, exortou fervorosamente os governantes a “defender a religião e consultar os interesses de seus Estados ao dar à Igreja [Católica] aquela liberdade que não pode ser tirada sem prejuízo e ruína para a comunidade” (Leão XIII, “On the Origin of Civil Power”, par. 25). [4] Em outras palavras, visto que a autoridade espiritual da igreja deveria ser superior à do Estado, ela teria o direito de ditar as verdadeiras leis morais que governarão as nações e os seus povos. Segundo a concepção católica, um Estado que promulgue leis em desacordo com o ensino moral da igreja está equivocado e, pelo bem comum da sociedade, precisa mudar seus princípios a fim de que eles estejam em harmonia com as normas impostas pelo papado. É por isso que o catolicismo se opõe tão fortemente à separação entre igreja e Estado. Leão XIII considerou esse conceito como um “princípio fatal” (Leão XIII, “On the Nature of Human Liberty”, par. 38). George La Piana disse que a Igreja Católica condena a separação entre igreja e Estado “como uma ofensa à lei de Deus e uma fonte inevitável de males” (George La Piana e John Swomley, Catholic Power vs. American Freedom (Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 2002), p. 51). [4] Tendo em vista essa ideia romanista de que não se pode confiar na capacidade humana de escolha conscienciosa da própria religião, a conclusão mais óbvia é a de que também não se pode esperar que as pessoas tenham competência para escolher seu próprio governo. Afinal de contas, a autoridade para governar vem de Deus, não do povo. Com base nesse conceito, o papado se opõe fortemente ao “governo do povo, pelo povo e para o povo” (trecho extraído do famoso Discurso de Gettysburg, de Abraham Lincoln). Nesse ponto, vale ressaltar a seguinte declaração do papa Leão XIII, presente em sua encíclica “Sobre a Autoridade do Governo”. "De fato, em época mais recente, ao andarem nas trilhas daqueles que, no passado, atribuíram a si mesmos o nome de filósofos, muitos dizem que todo o poder vem do povo. Dessa maneira, aqueles que exercem autoridade no Estado, fazem-no porque o poder lhes foi concedido pelo povo. Portanto, segundo essa regra, a autoridade pode ser revogada pela vontade do próprio povo. No entanto, os católicos discordam dessas pessoas, afirmando que o direito de governar vem de Deus, como um princípio natural e necessário" (Leão XIII, “On the Origin of Civil Power”, par. 5). Leão XIII prosseguiu dizendo que, quando “a lei que determina o certo e o errado está à mercê da maioria, [...] ela é simplesmente uma estrada que leva direto à tirania” (Leão XIII, “On the Nature of Human Liberty”, par. 16). O papado baseia em Romanos 13:1 sua reivindicação da autoridade sobre os assuntos seculares. Nesse verso, ao abordar a questão do poder dos governantes políticos, Paulo afirma: “As autoridades que existem foram por Ele [Deus] instituídas”. Na encíclica de Leão XIII publicada em 1881, “Sobre a Autoridade Governamental”, ele apresentou esta ideia: “No que diz respeito ao poder político, a igreja corretamente ensina que ele vem de Deus” (Leão XIII, encíclica, 29 de junho de 1881, “On the Origin of Civil Power” (Diuturnum Illud), par. 8; Papal Encyclicals Online, http://www.papalencyclicals.net/ Leo13/113civ.htm). Ao se valer desse conceito bíblico, o papado vai ainda além, pois afirma que Deus exerce Sua autoridade sobre reis e reinos por intermédio da igreja e que o papa tem autoridade sobre os governantes políticos, já que ele é o cabeça da igreja. Isso ocorre porque, segundo a interpretação católica, esse verso afirma que um governo eleito pelo povo não pode ter sido indicado por Deus. Embora não ocorra nada neste mundo sem a permissão de Deus, vale lembrar que Paulo não disse como uma autoridade governamental deveria vir à existência. Historicamente, os governos obtiveram controle dos Estados de várias formas: com base em uma linhagem real, no caso da monarquia; por meio de eleição, com participação do povo; por meio de revolução, etc. A propósito das formas de governo instituídas, as ações praticadas por qualquer organização política têm por objetivo manter a ordem na sociedade. Para que isso ocorra, a obediência às leis seculares não podem entrar em conflito com a observância das leis de Deus. A pressuposição não declarada na teoria católica de um governo apontado por Deus é que a mais alta autoridade na Terra é o papa; e, uma vez que ele é o representante de Deus, qualquer governo que deseje legitimidade precisa ter sua bênção. Por isso, os papas preferem a existência de reis à de presidentes e parlamentos. Afinal de contas, os governos eleitos são mais difíceis de ser controlados pelo papa. Para ser justo, devo mencionar que recentemente alguns papas deram apoio, com ressalvas, à democracia, considerando-a uma forma legítima de governo. O primeiro papa a se pronunciar a respeito foi Leão XIII. Em sua encíclica intitulada “Sobre a Autoridade Governamental”, de 1881, ele afirmou: “É importante, contudo, notar que pessoas às quais se dá autoridade sobre um Estado podem, em certos casos, ser escolhidas pela vontade e decisão da multidão, sem que haja oposição à doutrina católica ou contestação por parte dela” (Leão XIII, “On the Origin of Civil Power”, par. 6). Vale ressaltar que ele aceitou, sob certas circunstâncias, o fato de o povo poder escolher seus próprios governantes quando não houver “oposição à doutrina católica ou contestação por parte dela”. Do ponto de vista do papado, a legitimidade da autoridade governamental se dá na medida em que há concordância com as doutrinas e os princípios morais católicos. O ideal é que o governante esteja disposto a se submeter à autoridade do papa. Portanto, o que parecia uma mudança de atitude papal e uma aprovação irrestrita à moderna democracia, não é algo tão convincente assim. Ou seja, um governo cujos princípios devem estar em conformidade com os pressupostos papais não é uma democracia – pelo menos não a democracia laica norte-americana. [4] O jubileu de Leão XIII, em 1888, é uma das maiores e mais incontestáveis evidências da homenagem da terra ao papado. Não só príncipes católicos e protestantes porfiaram por tributar homenagens de devoção a Leão XIII, através de “embaixadas extraordinárias, senão que ainda o sultão, o micado, o imperador da China, e o Xá da Pérsia, o último dos quais tratou o papa como o ‘Messias superior aos habitantes do mundo celeste’. O papa mesmo exclamou arrebatado de júbilo: ‘Consideraste-o bem. O mero ato de nosso jubileu chamou a atenção do mundo inteiro. Não só católicos, não só particulares, mas também soberanos e príncipes, govêrnos e representações de povos hão querido cada qual mais ter participação nesta festa e dar-nos um testemunho de sua devoção e de seu aprêço”’. “A imprensa papista chama o jubileu uma maravilha; 'ante Leão, o dominador de povos, proste-se o mundo inteiro’" (Los Videntes y lo Porvenir, L. R. Conradi, 571). [1] O papa Leão XIII reforçou a ideia de Aquino [cf. século 13 desta cronologia], em sua encíclica de 1888, “Sobre a Natureza da Verdadeira Liberdade”. Ele salientou que, se as autoridades seculares e religiosas partilham da mesma clientela, seus interesses às vezes coincidem. Tendo isso em vista, declarou: “Precisa existir necessariamente alguma ordem ou modo de procedimento para remover as ocasiões de divergência e conflito, a fim de se garantir a harmonia em todas as coisas. Não se pode considerar inapropriado o fato de que essa harmonia foi comparada à que existe entre o corpo e a alma” (Leão XIII, encíclica, 20 de junho de 1888, “On the Nature of Human Liberty” (Libertas Praestantissimum), par. 18; Papal Encyclicals Online, http://www.papalencyclicals.net/Leo13/113liber.htm). [4] |
1900 | Como peça final vão ainda umas linhas da Maerkische Volkszeitung de 3 de janeiro de 1900. Ao descrever o auge da igreja romana no século XIX, observa por fim: ‘A princípio do século achava-se o chefe da igreja em cadeias, e ao fim do mesmo século todos os poderosos da terra dirigem os olhares para o venerável ancião sentado no trono de Pedro e lhe tributam homenagem' (Los Videntes y lo Porvenir, L. R. Conradi, 571). [1] |
Séc. 20 | O século 20 presenciou uma mudança radical na relação do Vaticano para com a política mundial. Seria impossível neste capítulo nos aprofundarmos numa simples fração das atividades políticas exercidas pelo Vaticano durante esse século. Mas é válida a abordagem de três dos exemplos mais importantes: (1) o Tratado de Latrão, feito entre o Vaticano e a Itália de Mussolini em 1929, acordo esse que restaurou a condição de Estado do Vaticano; (2) a concordata do Vaticano com a Alemanha de Hitler em 1933; (3) a contribuição do Vaticano para a queda do comunismo na Europa Oriental e na Rússia no fim da década de 1980 e início da década de 1990. [4] Embora restaurado ao poder temporal em 1929, o papado jamais se conformou com apenas os 44 hectares e uma população de pouco mais de mil habitantes que compreendem o Estado do Vaticano. Mas nem mesmo com a Europa inteira, onde era seu antigo domínio exercido, se conforma o papado. Suas pretensões temporais vão ainda muito além. Reza a profecia que o papado almeja o domínio de “tôda a terra”. Em comprovação disto, vemos que o papado, para comemorar o pacto com o govêrno facista que restaurou em parte o seu poder, mandou cunhar uma moeda na qual num dos lados aparece o busto de Pio XI e no outro lado Pedro assentado sôbre o glôbo da terra. Quais são as pretensões temporais do papado? A resposta é a que está na medalha comemorativa — a terra, a totalidade do glôbo, tôdas as nações. A soberania temporal do papado sôbre o Estado do Vaticano foi reconhecida por tôdas as nações civilizadas, dentre as quais cêrca de 50 mantêm embaixadas e legações na Sé Romana. Por sua vez o papado está mais forte do que nunca nos cinco continentes do glôbo. Sua influência internacional é enorme. [1] O papado não é uma democracia nem mesmo no seu Estado. Numa democracia o soberano é eleito pelo povo de seu Estado, tornando-se então govêrno “do povo, pelo povo e para o povo”. Não se dá isto com o soberano do Vaticano. O papa em seu Estado, não é eleito pelo povo católico. Êste não comparece às urnas para elevá-lo ao trono. Nenhum católico do mundo, exceto os cardeais, elege o seu pontífice. O papa é o potentado exclusivo. O que diz é executado inexoràvelmente. Daí não serem os súditos mundiais do papado mais que autómatos em suas mãos. Êle domina suas consciências a seu prazer. Em matéria de fé não têm os católicos direito de pensar. O papa é quem pensa por êles. E quando o futuro restaurar completamente o seu domínio temporal, e ainda muito mais ampliado, veremos coisas e leis espantosas demandarem a terra procedentes do trono de Roma. [1] A história do Tratado de Latrão, feito em 1929, teve início 59 anos antes dessa data, quando a Igreja Católica perdeu os Estados Papais para o Estado emergente da Itália. Nesse momento, juntamente com a maioria dos outros Estados europeus, a nação italiana estava empenhada na luta pelo liberalismo, pela democracia, pelo anticlericalismo e pela condição de Estado laico. O papado se opunha fortemente a essa tendência, uma vez que preferia lidar com governos autoritários que estabelecessem o catolicismo como a religião oficial e lhe dessem um papel importante na vida civil. Os papas proclamavam que o liberalismo, a democracia e a liberdade de expressão e de imprensa eram ideais pecaminosos. Além disso, declaravam que qualquer pessoa que votasse em favor de um Estado laico italiano cometia um pecado que automaticamente resultava em condenação eterna (Avro Manhattan, The Vatican in World Politics (Nova York: Gaer Associates, 1949), p. 108.). Na primeira década do século 20, o Vaticano deixou de proibir o voto dos italianos. Na verdade, devido ao fato de que o socialismo – o qual o Vaticano também detestava – estava rapidamente ganhando terreno na Itália após a Primeira Guerra Mundial, o Vaticano permitiu que os católicos organizassem um partido político que teria por objetivo anular a influência socialista. Conhecido como Partito Populare [Partido Popular], e liderado por um sacerdote siciliano chamado Don Sturzo, logo se tornou uma força poderosa na política italiana. Aproximadamente nessa mesma época surgiu o Partito Fascista [Partido Fascista] italiano. [4] |
1902 | Na obra A Igreja Católica publicada em 1902, lemos: “Como é que a Itália ao entrar em Roma não se mostrou à altura de sua tarefa? Assim como houve gênios universais que estamparam seu sêlo sôbre seus respectivos séculos, assim pode falar-se também de uma metrópole, que impõe leis a todo o orbe; a história não conhece mais que uma: Roma! "Já pagã, já cristã, com o panteon ou com a igreja de São Pedro, sob o govêrno de César ou o de Gregório VII, Roma é sempre católica, isto é, comum a todos, dominadora do mundo. "Podeis odiá-la como Aníbal, desprezá-la como Yugurta, invadi-la como Genserico, Roma segue sendo dominadora. Podeis trasladar o assento do império para Constantinopla, a sede papal a Avinhão, podeis fazer-vos proclamar em Paris imperador romano, Roma segue sendo a que domina” (Los Videntes y lo Porvenir, L. R. Conradi, 562). [1] |
1919 | A Alemanha emergiu da Primeira Guerra Mundial como uma nação democrática chamada República de Weimar (1919 - 1933). Vários partidos competiam pela influência no Reichstag – o parlamento ou congresso alemão. Entre esses estava o Partido do Centro, o Partido Alemão dos Trabalhadores (que Hitler, mais tarde, denominou Partido Socialista Nacional Alemão dos Trabalhadores), o dos Democratas Sociais e o dos Comunistas. O Partido do Centro, o equivalente alemão do Partito Populare italiano, era católico. [4] |
1920 | Em 1920, o Vaticano enviou Eugenio Pacelli, um de seus mais talentosos diplomatas, como núncio ao estado alemão da Bavária (um núncio católico é essencialmente o mesmo que um embaixador e serve também como a ligação principal do Vaticano com os bispos do país para o qual é nomeado). Três anos depois, ele foi designado para Berlim, onde se tornou o núncio da igreja na Alemanha. Nessa função, conseguiu exercer uma influência significativa na política alemã. Uma das grandes ambições de Pacelli durante a década de 1920 foi a negociação de uma concordata com a República de Weimar. Vale ressaltar que ele conseguiu estabelecer uma concordata com a Bavária, para onde havia ido como núncio em 1920, devido ao fato de que a maior parte dos habitantes desse país é católica. No caso da Alemanha, porém, em que dois terços da população são protestantes, o governo democrático de Weimar não se interessou em estabelecer uma concordata com o Vaticano que sujeitasse os protestantes da Alemanha a uma lei canônica que desse à igreja controle sobre a educação pública e o casamento. Por isso, Pacelli nunca conseguiu fazer esse acordo com a República de Weimar. Mas teria muito mais sucesso com Hitler. [4] Um eloquente orador, Adolf Hitler, hipnotizou o povo alemão com sua brilhante promessa de acabar com o pagamento das reparações, reconstruir o exército alemão e recuperar o território que havia sido tomado da Alemanha no momento da assinatura do Tratado de Versalhes. No fim da década de 1920, ele já estava emergindo com uma poderosa força na política alemã. [4] |
1922 - 1939 | Postas essas informações, percebe-se que o alvo supremo do papado é a obtenção do governo mundial e a imposição do conceito da união entre igreja e Estado. Em sua encíclica “Sobre a Festa de Cristo Rei”, Pio XI escreveu: O império de nosso Redentor abrange a todos. Nas palavras de nosso imortal predecessor, o papa Leão XIII: “Seu império inclui não apenas as nações católicas, não apenas as pessoas batizadas que, embora por direito pertençam à igreja, tenham sido desviadas pelo erro ou separadas por causa de seu cisma, mas também todos aqueles que não adotaram a fé cristã; de forma que, verdadeiramente, toda a humanidade está sujeita ao poder de Jesus Cristo.” No tocante à esse assunto, não há diferença entre o indivíduo, a família e o Estado, pois todos os homens, coletiva ou individualmente, estão sob o domínio de Cristo. NEle está a salvação do indivíduo, nEle está a salvação da sociedade (Pio XI, “On the Feast of Christ the King”, par. 18). O seguinte resumo das palavras de Leão XIII torna o assunto ainda mais claro: • “O império de nosso Redentor abrange a todos”, não apenas os católicos ou cristãos. • “Toda a humanidade está sujeita ao poder de Jesus Cristo.” • “Todos os homens [...] estão sob o domínio de Cristo.” Em certo sentido, é correto dizer que “toda a humanidade está sujeita ao poder de Jesus Cristo” e que “todos [...] estão sob o domínio de Cristo”. No entanto, Pio XI não quis afirmar apenas que Deus é o Governante supremo do mundo; que, na segunda vinda de Cristo, todo ser humano “dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14:12); que Cristo irá “ferir as nações” e “as regerá com cetro de ferro” (Ap 19:15). O raciocínio de Pio XI, na verdade, abrange os seguintes conceitos: (1) as leis das nações precisam estar baseadas na Bíblia, que deve ser corretamente compreendida; (2) a Igreja Católica é a única igreja cristã verdadeira e a autoridade suprema no que diz respeito ao significado da Bíblia; (3) a autoridade do papa é superior à dos governantes seculares. Portanto, a conclusão lógica é a de que todos os seres humanos e todas as nações devem se sujeitar à autoridade do papa, o representante de Deus na Terra. [4] Com base na ideologia agostiniana "De Civitate Dei" (Cidade de Deus), do ano 413, Pio XI – no século 20 – fez a seguinte declaração: “Se o reino de Cristo [isto é, a Igreja Católica] recebe, como deveria, todas as nações sob seu controle, não há razão pela qual devamos desistir de ver aquela paz que o Príncipe da paz veio trazer à Terra" (Pio XI, “On the Feast of Christ the King”, par. 20). Pio XI também falou fortemente contra a democracia laica moderna, que destituiu a igreja de seu poder temporal. Ele chamou de “praga do anticlericalismo” a liberdade de religião proporcionada pela democracia laica, que tem existido no mundo nos últimos duzentos anos. "Esse mau espírito, como vocês estão bem cientes, veneráveis irmãos, não veio à existência em um dia; faz tempo que ele está à espreita. O domínio do império de Cristo sobre todas as nações [isto é, o poder político do papado sobre a Europa durante o período medieval] foi rejeitado. O direito que a igreja recebeu do próprio Cristo, de ensinar a humanidade, de fazer leis, de governar os povos em tudo o que diz respeito à sua salvação eterna – esse direito foi negado. Gradualmente, a religião de Cristo [o catolicismo] veio a ser igualada às falsas religiões e a ser rebaixada de forma humilhante, ao mesmo nível delas. Foi então subordinada ao poder do Estado [em vez de o Estado ser submetido ao poder da igreja] e passou a ser tolerada em maior ou menor grau, segundo o capricho de príncipes e governantes" (Pio XI, “On the Feast of Christ the King”, par. 24). Até hoje a Igreja Católica não aprova o moderno Estado laico. Ela convive com ele porque não tem outra escolha. A separação entre a religião e o governo, nunca foi, e até hoje não é, aceita pelo papado, que apregoa o conceito de que, no Estado considerado ideal, o catolicismo deve ser a religião oficial do Estado, cuja função se pauta na imposição da moralidade e do dogma católicos. George La Piana resumiu deste modo a ambição papal: “Tendo em vista sua própria reivindicação, a Igreja Católica Romana é totalitária e espera conquistar o mundo com base no princípio de que ela é a agência divina exclusiva da salvação, o órgão exclusivo da graça divina, o canal exclusivo do divino Espírito” (La Piana e Swomley, Catholic Power vs. American Freedom, p. 20). [4] |
1922 | Em 22 de outubro de 1922, o líder do Partido Fascista, Benito Mussolini, assumiu o controle do governo italiano. Entre outras coisas, Mussolini e os fascistas lutaram contra o socialismo e o comunismo. O Vaticano, incluindo o recém-empossado papa Pio XI, observou esse acontecimento com grande satisfação, pois, se havia algo que o papado odiava mais que a democracia, era o socialismo e o comunismo, ambos com filosofia ainda mais secular que a dos governos democráticos. O comunismo se constituía em algo particularmente odioso, porque declarava, nas palavras de Karl Marx, que a religião é “o ópio do povo”. Os papas estavam bem conscientes das atrocidades cometidas contra a igreja pelo governo comunista da Rússia. Mussolini, que desejava obter poderes ditatoriais, sofreu resistência de uma coalizão composta por socialistas e pelo Partito Populare católico. Pio XI, vendo nos fascistas de Mussolini um poderoso oponente do socialismo e do comunismo, apoiou os fascistas contra seu próprio partido católico. Ele advertiu todos os católicos italianos de que qualquer aliança com os socialistas era pecado, e ordenou a todos os sacerdotes que eram membros do partido católico que o abandonassem. Mussolini conseguiu sua ditadura. O Partito Populare estava condenado. [4] Pio XI disse que “a dignidade real [de Cristo] exige que o Estado leve em consideração os princípios de Deus, tanto ao elaborar leis quanto ao exercer justiça” (Pio XI, encíclica, 11 de dezembro de 1925, “On the Feast of Christ the King” (Quas Primas), par. 32; Papal Encyclicals Online, http://www.papalencyclicals.net/ Pius11/P11PRIMA.HTM.). E, uma vez que a religião católica seria a única verdadeira, os mandamentos de Deus e os princípios morais sobre os quais o governo está baseado devem estar em harmonia com a compreensão católica. [4] |
1926 | Em outubro de 1926, Pio XI iniciou negociações com Mussolini que resultaram no Tratado de Latrão. [4] |
1928 | Em sua encíclica “Sobre a Promoção da Verdadeira Unidade de Religião”, promulgada em 6 de janeiro de 1928, Pio XI disse: “A Igreja Católica é a única que mantém o verdadeiro culto. Ela é a fonte da verdade, o domicílio da fé e o templo de Deus.” (Pio XI, encíclica, 26 de janeiro de 1928, “On Religious Unity” (Mortalium Animos), par. 11; Papal Encyclicals Online, http://www.papalencyclicals.net/ Pius11/P11MORTA.HTM). [4] |
1929 | “Não há dúvida de que a Igreja Católica Romana colocou Mussolini no poder. A fim de conseguir o Tratado de Latrão, o papa exigiu que os Católicos deixassem de participar na política (muitos deles tinham sido socialistas fazendo ativa oposição a Mussolini e seu partido fascista)... O papa fez declarações públicas tão fortes em apoio a Mussolini: 'Mussolini é o homem enviado pela Providência', que os católicos não tinham outra escolha senão apoiar o ditador fascista. Sem esta ajuda Mussolini não teria conseguido se eleger e a história poderia ter sido muito diferente” (Dave Hunt, A Woman Rides the Beast, p. 219, 220 e 221). [2] O papado nunca se conformou com a derrota e a perda de seus Estados, e aguardou o dia em que a Itália restaurasse o poder temporal que lhe usurparam. E as negociações entaboladas entre o papa Pio XI e o govêrno facista italiano sob Mussolini, restabeleceram-lhe o poder temporal embora ainda em pequena escala. A 11 de fevereiro de 1929, o cardeal Gasparri, secretário papal, e Benito Mussoline, assinaram as estipulações que solvia a Questão Romana. “Acuradamente falando três documentos foram assinados em Latrão — um tratado político, uma convenção e a concordata”. Na manhã de 12 de fevereiro, ao assomar Pio XI a um dos mais altos balcões da igreja de São Pedro, uma multidão de 200.000 pessoas concentradas na praça São Pedro, exclamou vibrante de entusiasmo: “Viva o papa-rei! Viva o papa-rei!” Sim, estava restaurado mais uma vez o poder temporal do papado, e a ferida mortal de 1798 já mais cicatrizada. [1] No dia 11 de fevereiro de 1929, a ferida mortal começou a ser curada. Nesse dia foi assinado por Benito Mussolini e Pietro Cardinal Gasparri, o Tratado de Latrão, restaurando parte das terras perdidas; restaurando também o poder temporal do papa, que recebeu o domínio da cidade do Vaticano, uma parte da cidade de Roma, medindo cerca de 108,7 acres. O jornal San Francisco Chronicle de 12 de fevereiro de 1929, noticiou o evento em manchete: “Mussolini e Gasparri Assinam Histórico Pacto Romano Curando Ferida de Muitos Anos” (Citado em Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 9, p. 706). Como indenização pelos prejuízos provocados pela extinção dos Estados Papais em 1870, a Itália pagou para a Santa Sé 750 milhões de lira em dinheiro e 1 bilhão de liras em títulos do governo (Dave Hunt, A Woman Rides the Beast, p. 219). Parte desses fundos seriam usados para iniciar o Banco do Vaticano, que hoje é famoso pela corrupção financeira (sobre as corrupções financeiras do Banco do Vaticano leia o livro Em Nome de Deus escrito por David Yallop.). [2] Em outubro de 1926, Pio XI iniciou negociações com Mussolini que resultaram no Tratado de Latrão, assinado pelo Vaticano e pelo governo italiano em 11 de fevereiro de 1929. Esse acordo consistiu em três documentos: o tratado em si, chamado de “Tratado de Conciliação”; uma “Convenção Financeira”; e uma “Concordata”. Uma concordata é um acordo formal. Às vezes o termo é usado especificamente para um acordo entre um governo e a Igreja Católica Romana quanto à relação entre ambos. O primeiro artigo do tratado estabeleceu o catolicismo como a religião oficial do Estado. Embora a relação entre a igreja e o Estado delineada no tratado ainda não fosse a ideal, segundo os padrões de Roma, houve um grande passo nessa direção. Os artigos 3 e 4 do tratado deram à Santa Sé completa e soberana autoridade sobre a cidade do Vaticano, garantindo que o governo italiano não interviria nos negócios internos do papado. A Convenção Financeira estipulou que o governo italiano daria 7,5 milhões de liras italianas ao Vaticano como compensação pela perda dos Estados Papais em 1870. O artigo 11 da Concordata reconheceu os dias de festa instituídos pela igreja, incluindo “todos os domingos”. O artigo 34 estabeleceu a lei canônica católica como a base para o casamento e o divórcio. (A Igreja Católica proíbe seus membros de se divorciarem, portanto a igreja autoriza anulações para casais que estejam separados. Tecnicamente, a anulação difere do divórcio porque declara que o casamento nunca existiu, enquanto o divórcio reconhece a existência do casamento e o rompe – algo que a teologia católica proíbe. Na prática, contudo, as anulações católicas têm o mesmo propósito que o divórcio; portanto, na realidade, não existe qualquer diferença entre os dois). O artigo 36 conferiu à Igreja Católica controle sobre toda a instrução religiosa dada nas escolas públicas da Itália. A Concordata também estipulou que os casamentos civis deveriam ser regidos por essa lei. O resultado disso foi a adoção da lei canônica católica – no tocante à educação e ao casamento – como a política oficial do governo italiano. Em essência, a lei religiosa se tornou a lei italiana. Isso foi de extrema importância para o Vaticano, pois, novamente, alguns dos mais importantes princípios morais católicos deveriam, pelo menos em teoria, ser impostos por um governo civil, muito embora este fosse um governo laico. Um dos efeitos primários do Tratado de Latrão foi a restauração do Vaticano enquanto Estado independente. Agora, o papa, como legítimo chefe de Estado, poderia uma vez mais realizar negócios com outras nações do mundo, inclusive a troca de embaixadores. Alguns adventistas do sétimo dia, ouvindo a notícia do Tratado de Latrão em 1929, proclamaram que a ferida mortal havia sido curada. De fato, o acordo possibilitou o início da cura da ferida mortal; porém, essa recuperação ainda está em andamento. [4] |
1930 | Ao longo da década de 1920, o Partido Nacional Socialista exerceu pouca influência na política alemã. No entanto, após o colapso econômico mundial de 1929, à medida que a Alemanha mergulhava em um caos econômico, as promessas de restauração do poder militar alemão e, especialmente, as do término dos pagamentos esmagadores das reparações, que intensificaram as dificuldades econômicas da nação, passaram a ter grande popularidade entre o povo alemão. O resultado foi que, na eleição de setembro de 1930, os nazistas conquistaram 107 cadeiras no Reichstag, fato que os tornou o segundo maior partido político da nação. Hitler estava quase realizando o seu desejo de governar a Alemanha. Entretanto, a maioria do povo católico, dos bispos e arcebispos ainda se opunha fortemente às políticas nazistas, condenando-as em público. Felizmente, Hitler tinha um aliado no Vaticano. [4] Em 1930, o papa Pio XI chamou Eugenio Pacelli de volta a Roma e o nomeou secretário de Estado do Vaticano. Pacelli e Pio tinham a ambição prioritária de estabelecer uma concordata com a Alemanha. E viram a ascensão de Hitler ao poder como um meio de satisfazê-la. Também viram em Hitler um poderoso aliado contra os comunistas, a quem eles temiam e odiavam. Esses foram os dois fatores dominantes que moldaram o relacionamento do Vaticano com a Alemanha no início da década de 1930. No livro The Churches and the Third Reich [As Igrejas e o Terceiro Reich], Klaus Scholder explica: “Toda a administração alemã era julgada por Roma, sobretudo, tendose em vista duas questões: a de quão resolutamente ela lutava contra o comunismo ateísta e a de quão preparada estava para concluir uma concordata com o Reich” (Klaus Scholder, The Churches and the Third Reich (Philadelphia: Fortress Press, 1988), p. 146). [4] |
1932 | Na eleição de 31 de julho de 1932, os nazistas mais do que dobraram sua representação no Reichstag, a qual passou de 107 membros para 230. Hitler estava prestes a satisfazer sua ambição política de governar a Alemanha. Em contraposição ao Vaticano, os bispos e católicos alemães não apoiaram Hitler. Além disso, opuseram- se fortemente ao partido nazista. Os bispos católicos alemães fizeram uma conferência em agosto de 1932, pouco após a eleição que deu aos nazistas 230 cadeiras no Reichstag, onde todas as autoridades diocesanas desaprovaram a participação no partido nazista. [4] O Vaticano apoiou o nazismo, já que a ascensão de Hitler ao poder continuou a satisfazer os desejos do Vaticano. Em 30 de janeiro de 1933, ele foi nomeado chanceler da Alemanha, ficando mais próximo da obtenção do poder ditatorial. A República de Weimar e sua constituição democrática lhe barravam o caminho, mas havia uma solução para esse problema. A constituição da república incluía uma cláusula cujo conteúdo declarava que, numa emergência nacional, uma “Lei de Capacitação Plena” votada por dois terços do Reichstag poderia conferir poderes ditatoriais ao chanceler. Tendo isso em vista, Hitler necessitava do respaldo dessa Lei de Capacitação Plena. Só havia um problema: os membros de seu partido nazista não totalizavam dois terços dos votos no Reichstag. Sendo assim, para se valer de uma Lei de Capacitação Plena, os nazistas teriam de colaborar com outro dos partidos políticos da Alemanha – mas qual deles? Para Hitler, a resposta era simples: o Partido do Centro católico. A fim de conseguir a adesão desse partido, ele pensou em oferecer ao Vaticano uma concordata. O plano funcionou. Eugenio Pacelli, determinado como sempre a negociar uma concordata com o governo alemão, vendo Hitler como aliado no combate ao comunismo, concordou prontamente. O Partido do Centro católico emprestou seus votos aos nazistas, e, em 23 de março de 1933, o Reichstag deu a Hitler o poder ditatorial por meio da Lei de Capacitação Plena. Portanto, foi o Vaticano que contribuiu para a ascensão de Hitler ao poder no momento em que ele era o chanceler da Alemanha havia menos de dois meses. [4] É importante notar que a concordata foi estritamente estabelecida entre o Vaticano e o governo alemão, não entre o catolicismo alemão e o governo alemão. No que se refere a esse fato, vale notar as palavras de Scholder: Pacelli obviamente viu – provavelmente de maneira correta – que seus planos [para uma concordata] correriam perigo, se não ficassem fadados ao fracasso, por causa de uma inclusão prematura dos bispos alemães nas negociações da concordata. Por isso, nessa primeira fase ele conservou tudo o que tinha a ver com a concordata em segredo, evidentemente sem considerar o triunfo que seria para Hitler o fato de a Cúria ter mais confiança nele que em seus próprios bispos (Klaus Scholder, The Churches and the Third Reich (Philadelphia: Fortress Press, 1988), p. 392). [4] |
1933 | O periódico católico Allgemeine Rundschau afirmou que “os bispos não podem lutar quando Roma conclui que deve haver paz” (Nº 16, 19 de abril de 1933; citado em Guenther Lewy, The Catholic Church and Nazi Germany (Nova York: McGraw-Hill, 1964), p. 44). Richard Evans salienta que, “na busca da prometida concordata, os bispos alemães retiraram sua oposição ao nazismo e emitiram uma declaração coletiva de apoio ao regime em maio [de 1933]”. Na conferência dos bispos, em 1º de junho, também expediram uma carta pastoral “dando as boas-vindas ao ‘despertamento nacional’ e à nova ênfase numa forte autoridade estatal”. No entanto, ainda davam atenção às questões que os haviam preocupado no ano anterior: a apreensão relacionada à “ênfase dos nazistas na raça e a iminente ameaça às instituições leigas católicas” (Evans, The Coming of the Third Reich, p. 363). [4] |
1939 - 1958 | “Um dos personagens centrais na lucrativa negociação da Concordata de 1929 com Mussolini foi o Solicitor Francesco Pacelli, irmão do Cardeal Eugenio Pacelli, que mais tarde se tornou o papa Pio XII. Este, como Secretário de Estado do Vaticano, desempenharia um papel chave na lucrativa negociação (para a igreja) na Concordata com Hitler. Um dos benefícios da Concordata eram as centenas de milhões de dólares que fluiriam para a Igreja Católica Romana através do Kirchensteuer (imposto da igreja) durante o período da guerra. Em troca disso Pio XII nunca iria excomungar Hitler da Igreja Católica nem levantaria sua voz em protesto contra a matança dos 6 milhões de Judeus” (Dave Hunt, A Woman Rides the Beast, p. 221). [2] |
1962 - 1965 | Concílio Vaicano II. "Este Concílio Vaticano declara que o ser humano tem direito à liberdade religiosa. Essa liberdade significa que todos devem ser imunes à coerção por parte de indivíduos ou de grupos sociais e de qualquer poder humano, de tal forma que ninguém deva ser forçado a agir de maneira contrária a suas próprias crenças, particular ou publicamente, individual ou em associação com outros, dentro dos devidos limites" (“Declaração sobre Liberdade Religiosa” do Concílio Vaticano II, nº 2; http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatishumanae_en.htm). A declaração inicia dizendo que “a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa”, mas termina declarando que essa liberdade está dentro de “limites”. É óbvio que a ideia de que existem limites à liberdade religiosa não é necessariamente má. A Suprema Corte dos Estados Unidos também tomou a posição de que, sob certas circunstâncias, o governo tem justificativas para impedir que as pessoas ajam em harmonia com suas crenças religiosas. Para usar um exemplo hipotético comum, uma pessoa não pode agir sobre a crença religiosa de que é seu dever dar um soco no nariz de outras pessoas. Um exemplo real é a prática do manuseio de cobras venenosas durante serviços religiosos, a qual as cortes americanas têm consistentemente defendido que o governo pode proibir. Assim, a pergunta relativa à frase “dentro dos devidos limites” não é se esse é um princípio errado. Em vez disso, a pergunta é: Quem estabelecerá esses “devidos limites”? Num governo democrático, laico, que não é controlado por pressuposições religiosas sobre o que é moralmente certo e errado, esses limites serão definidos de maneira muito estreita, e a liberdade religiosa será em grande parte protegida. Contudo, num Estado onde prevalece a filosofia católica da união entre a igreja e o Estado, a igreja será a entidade que define esses limites, e a liberdade religiosa daqueles que discordam poderia ser muito facilmente cerceada. "Todos devem ser impelidos pela natureza e também compelidos por uma obrigação moral a buscar a verdade, especialmente a religiosa. Cada pessoa tem a obrigação de aderir àquilo que é verdadeiro, uma vez que isso seja conhecido, e de ordenar toda a sua vida de acordo com as exigências da verdade. Contudo, ninguém pode cumprir essas incumbências em harmonia com sua própria natureza, a menos que desfrute de imunidade de coerção externa, bem como de liberdade psicológica. Portanto, o direito à liberdade religiosa tem seu fundamento não apenas na disposição subjetiva da pessoa, mas em sua própria natureza. Em consequência, o direito a essa imunidade continua a existir mesmo naqueles que não vivem à altura de sua obrigação de buscar a verdade e aderir a ela, e o exercício desse direito não deve ser impedido, contanto que a justa ordem pública seja observada" (“Declaração sobre Liberdade Religiosa” do Concílio Vaticano II, nº 2; http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatishumanae_en.htm). A segunda declaração afirma que todos são “compelidos por uma obrigação moral a buscar a verdade, especialmente a verdade religiosa”, e que “também têm a obrigação de aderir à verdade, uma vez que seja conhecida”. Surge, é claro, a pergunta do que constitui a “verdade”, e para isso a Igreja Católica tem uma resposta pronta: como a verdadeira igreja de Cristo na Terra, ela tem o direito exclusivo, como vimos, de definir a verdade que todos são “compelidos por uma obrigação moral a buscar” e à qual têm a obrigação de “aderir [...], uma vez que seja conhecida”. A declaração prossegue dizendo, contudo, que “ninguém pode cumprir essas incumbências de maneira que esteja em harmonia com sua própria natureza, a menos que desfrute de imunidade de coerção externa, bem como de liberdade psicológica”. Além disso, “o direito a essa imunidade continua a existir mesmo naqueles que não vivem à altura de sua obrigação de buscar a verdade e aderir a ela”. Em outras palavras, as pessoas têm o direito de estar erradas! Vinda de um concílio da Igreja Católica, essa é de fato uma declaração notável que certamente podemos aplaudir. A frase que apresenta ressalvas na segunda declaração é a que diz: “contanto que a justa ordem pública seja observada”. Podemos entender que isso signifique simplesmente que ninguém tem o direito religioso de causar dano a outra pessoa. A verdadeira pergunta, como ocorre com a declaração anterior, é: A quem cabe definir o que constitui uma “justa ordem pública”? E sobre essa pergunta, é relevante uma declaração posterior do Concílio Vaticano II sobre liberdade religiosa: "A sociedade tem o direito de se defender contra possíveis abusos cometidos sob o pretexto de liberdade religiosa. É especial dever do governo proporcionar essa proteção. Contudo, o governo não deve agir de maneira arbitrária ou com injusto espírito de partidarismo. Sua ação deve ser controlada por normas jurídicas que estejam em conformidade com a ordem moral objetiva. Essas normas surgem da necessidade de salvaguarda efetiva dos direitos de todos os cidadãos e da resolução pacífica de conflitos de direitos, e também da necessidade de cuidado adequado com a paz pública, que surge quando todos vivem juntos em boa ordem e verdadeira justiça, e finalmente da necessidade de uma proteção adequada da moralidade pública (“Declaração sobre Liberdade Religiosa” do Concílio Vaticano II, nº 7; http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatishumanae_en.htm). Observe que “é especial dever do governo” defender a sociedade contra “possíveis abusos cometidos sob o pretexto de liberdade religiosa”. Novamente, podemos concordar com a declaração, contanto que entendamos o significado dela como sendo que ninguém tem o direito religioso de prejudicar outra pessoa ou colocar em risco a saúde e segurança públicas. O terrorismo, por exemplo, não pode ser aprovado, mesmo que os terroristas creiam firmemente que seus atos sejam cumprimento de um dever religioso. Mas a declaração do Vaticano vai além disso. Ela afirma que, ao defender a sociedade contra abusos cometidos sob o pretexto de liberdade religiosa, a ação do governo deve ser “controlada por normas jurídicas que estejam em conformidade com a ordem moral objetiva”, e que surgem “da necessidade de uma proteção adequada da moralidade”. Já vimos que a Igreja Católica considera sua autoridade espiritual como superior à autoridade do Estado da mesma forma que a alma é superior ao corpo. Portanto, em situações em que a Igreja Católica é favorecida pelo governo, a igreja tomará para si a responsabilidade de definir os princípios morais da “ordem moral objetiva” que o Estado deve proteger. Essa é uma importante ressalva às declarações positivas sobre liberdade religiosa que lemos há pouco. Em circunstâncias adequadas, essa ressalva poderia ser interpretada como dando à igreja a mesma autoridade sobre o governo civil que ela possuía durante a Idade Média. Outro fato importante a ser lembrado é que, apesar de todas as suas declarações elogiáveis em apoio à liberdade religiosa do indivíduo, o papado nunca renunciou a sua preferência pela união igreja-Estado. Em um país onde esta prática seja possível, a Igreja Católica ainda gostaria de ser a igreja oficial, com o Estado legislando e impondo os princípios morais católicos. Mas, é claro, a união igreja-Estado é um fator central em quase todas as perseguições. Num governo em que há união entre igreja e Estado, a liberdade religiosa está em perigo de ser cerceada em certo grau (no entanto, até aqui, alguns países, como a Inglaterra, possuem uma igreja estatal estabilizada, mas oferecem plena liberdade religiosa a todos os cidadãos). [4] O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi outro fator básico resultante do espírito ecumênico do papa João XXIII. Depois do Vaticano II a Igreja Católica desempenhou um papel mais ativo encorajando o retorno dos “irmãos separados”. Também durante seu reinado o papa enviou observadores católicos para a assembléia do Concílio Mundial das Igrejas em Nova Deli e estabeleceu um Secretariado para promover a unidade cristã (G. Edward Reid, Sunday's Coming, p. 39-41). [2] |
1970 | Sindicato "Solidariedade". Essa organização teve suas origens numa greve ilegal dos trabalhadores que ocorreu no estaleiro polonês de Gdansk (a sexta maior cidade da Polônia e seu principal porto marítimo), em 1970. Para combatê-la, o governo comunista enviou a tropa de choque, o que resultou em mais de oitenta mortes. Ainda assim, Lech Walesa, um dos membros da comissão de greve, continuou a organizar pequenos sindicatos clandestinos, os quais ampliaram o número de manifestações por todo o país, visto que a economia polonesa se deteriorou rapidamente no fim da década de 1970. [4] |
1978 | Em 1978, João Paulo II, com 58 anos de idade, consagrou-se o mais jovem papa em 132 anos. Por ser muito dinâmico, três meses após sua nomeação visitou a República Dominicana e o México. Essa foi a primeira das 104 peregrinações que marcaram seus 26 anos de atuação como Pontífice Máximo. Durante esse tempo, ele viajou o equivalente a três vezes a distância da Terra à Lua (Andrew Nagorski, “Freedom Matters”, Newsweek, 11 de abril de 2005, p. 46). De acordo com David Van Biema, da revista Time, “o mundo era um palco, e o papa estava determinado a percorrer cada centímetro dele” (Van Biema, “Pope John Paul II, 1920-2005”, p. 39). E o percorreu, pois, durante sua gestão, João Paulo visitou 129 dos quase 200 países do mundo (Esse é o número de países independentes alistados pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos em maio de 2005 no site http://www.estate.gov/www/regions/independent_states.html). Esse papa fez mais viagens fora de Roma que todos os outros papas juntos (Woodward, “Beloved and Brave”, p. 42) e foi visto pessoalmente por mais pessoas que qualquer outra figura mundial, religiosa ou política. Ele se via como o sucessor não apenas de Pedro, mas também de Paulo, que “nunca conseguia ficar parado, estando sempre em constante movimento” (effery L. Sheler, “Pope John Paul II: pastor to the world, he led a revolution of conscience”, U.S. News & World Report, 11 de abril de 2005, p. 31). [4] O impacto de João Paulo II em sua própria igreja foi bastante intenso. Durante seu pontificado, o número de membros da igreja aumentou 41% – de 737 milhões, em 1978, passou a 1,1 bilhão em 2003. O crescimento católico na África foi de 168%, e o número de sacerdotes africanos aumentou 237% (Van Biema, “Pope John Paul II, 1920-2005”, p. 40). João Paulo II nomeou 150 cardeais durante sua gestão como papa, sendo que 44 foram empossados de uma só vez em fevereiro de 2003. Sete meses depois, em setembro, ele nomeou mais 31. João Paulo era famoso por ser doutrinariamente muito conservador. E seu conservadorismo inevitavelmente dominará a igreja nos próximos anos, pois, dos 117 cardeais de 52 países que se reuniram em Roma em 18 de abril de 2005 para escolher seu sucessor, 114 haviam sido nomeados por ele (Van Biema, “Pope John Paul II, 1920-2005”, p. 42. Num artigo de notícia na Internet em 18 de abril de 2005, a CNN apresentou o número de 115). Esse apego às tradições continua também com Bento XVI, pois, quando ainda prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (antigamente conhecida como Inquisição), no Vaticano, Bento XVI foi, ao longo de 25 anos, o responsável pela defesa da doutrina de João Paulo II. [4] |
1980 | Em setembro de 1980, o governo assinou um acordo com os grevistas que permitiu a organização legal da Comissão de Coordenação Nacional do Sindicato Comercial Livre Solidariedade. Walesa se tornou o presidente da comissão, e logo o número de membros rapidamente subiu para nove milhões. [4] |
1981 e 1982 | A Polônia continuou a se afundar em um caos econômico que resultou em escassez de alimentos, racionamento e aumento do desemprego. As greves continuaram, e, em 31 de dezembro de 1981, o líder do governo, o general Wojciech Jaruzelski, valeu-se da lei marcial para suspender as atividades do sindicato. No mês de outubro do ano seguinte, ele a baniu. Seiscentos líderes do Sindicato Solidariedade foram presos, e centenas de membros foram acusados de traição. Entretanto, alguns milhares foram abrigados por sacerdotes e bispos em igrejas e mosteiros. Segunda-feira, 7 de junho de 1982, foi um dia histórico para o Vaticano e os Estados Unidos. Foi histórico, sobretudo, para a União Soviética e os seus partidários do leste europeu, embora não tenha sido provável que a União Soviética e os seus aliados estivessem cientes do que estava acontecendo. Nesse dia, Ronald Reagan passou cinquenta minutos com o papa João Paulo II na biblioteca do Vaticano. Conversaram sozinhos. Sem secretários, sem auxiliares, sem intérpretes. Foi o primeiro encontro entre o presidente e o papa, embora não tenha sido o último. O assunto da conversa? “Reagan e o papa fizeram um acordo para empreender uma campanha secreta cujo objetivo era apressar a dissolução do império comunista” (Carl Bernstein, “Holy Alliance”, Time, 14 de fevereiro de 1992, p. 28). Estavam “convencidos de que a Polônia podia se desprender da órbita soviética se o Vaticano e os Estados Unidos utilizassem seus recursos com a finalidade de desestabilizar o governo polonês” (ibidem). Também criam que, se pudessem derrubar o regime comunista na Polônia, o mesmo ocorreria com outras nações do leste da Europa, ocasionando, possivelmente, a extinção da União Soviética. [4] O Sindicato Solidariedade era, acima de tudo, um movimento do povo polonês, e não morreu enquanto esteve proscrito. Apenas funcionou de forma clandestina. Por causa de razões políticas, João Paulo II e Ronald Reagan decidiram manter o movimento vivo e ajudá-lo a crescer. O Sindicato Solidariedade seria o punhal deles no coração do regime comunista. O presidente norte-americano e o papa dariam, cada um, sua própria contribuição. De um lado, os Estados Unidos forneceriam os auxílios financeiro e tecnológico que fossem necessários, ao passo que João Paulo II daria a inspiração moral. De outro, a igreja na Polônia proveria a sede geral e os locais de encontro para as uniões clandestinas de todo o país. E assim aconteceu. Usando canais secretos, os Estados Unidos enviaram toneladas de equipamento para os poloneses: máquinas de fax, prelos, fotocopiadoras, computadores e software. Os equipamentos eram frequentemente enviados primeiro para a Suécia e Dinamarca. De lá, eram transferidos para grandes contêineres e reenviados com endereço escandinavo para o porto polonês de Gdansk por meio de um navio. Os trabalhadores dos armazenamentos dos portos que eram agentes clandestinos do Sindicato Solidariedade sabiam quais equipamentos continham o contrabando e, por intermédio de sacerdotes e de outros canais da igreja, faziam-no chegar aos prédios dos sindicatos secretos em toda a Polônia. João Paulo II encorajou Walesa a conservar vivo seu sindicato clandestino. A estratégia da igreja consistiu no impedimento de um confronto com o governo polonês enquanto cooperava com os Estados Unidos ao exercer crescente pressão sobre a ditadura polonesa. Tendo isso em vista, o papa disse a Walesa que os membros de seu sindicato deviam evitar os confrontos abertos com o governo nas ruas. Tais confrontos, segundo o chefe católico, só forçariam o governo a intervir com o envio das tropas russas, que teriam por objetivo dissolver a rebelião. [4] Enquanto João Paulo II e Ronald Reagan estavam minando o comunismo polonês, o arcebispo Pio Laghi aconselhou um diplomata de Washington com as seguintes palavras: “Ouça o Santo Padre. Temos dois mil anos de experiência nisso” (Carl Bernstein, “Holy Alliance”, Time, 14 de fevereiro de 1992, p. 33). O boletim online publicado por Stratfor declarou: “Os papas sabem como exercer a política do poder” (George Friedman, “Faith, Reason and Politics: Parsing the Pope’s Remarks”, boletim online de Stratfor, 19 de setembro de 2006). Stratfor representa Strategic Forecasting (Previsão Estratégica). Essa edição do boletim de Stratfor foi um comentário sobre as afirmações controversas que o papa Bento XVI fez ao islamismo em setembro de 2006. [4] |
1984 | Os Estados Unidos reconheceram o papa como chefe de Estado e designaram um embaixador oficial para a Santa Sé. A revista Visão, de 23 de janeiro de 1984, publicou: “O presidente Ronald Reagan decidiu no último dia 10 restabelecer as relações diplomáticas com o Estado do Vaticano [...] Esta medida tornou-se possível desde a aprovação pelo congresso americano de uma lei revogando a proibição desse relacionamento, em vigor desde 1867". [2] e [3] Um dos objetivos de João Paulo II foi estabelecer relações com outros grupos religiosos. Embora almejasse especialmente a união de todos os cristãos sob a bandeira papal, também esteve atento às religiões não cristãs. Sentia ter um laço especial com os judeus por estar familiarizado com os sofrimentos impostos a eles na Polônia dominada pelos nazistas ao longo da Segunda Guerra Mundial. Foi o primeiro papa a visitar uma sinagoga em Roma. Em 1984, encontrou-se com membros do B’nai B’rith, uma organização judaica dedicada aos direitos humanos. Dois anos depois, reuniu mais de 270 líderes religiosos, cristãos e não cristãos, para um serviço de adoração em Assis. Entre os presentes estavam sacerdotes hindus, xamãs tribais e o budista tibetano Dalai Lama, os quais tomaram assento ao lado do papa. [4] |
1985 | “Antes de tudo é dever de todos os católicos dignos do nome e ansiosos para serem conhecidos como os mais amorosos filhos da igreja [...] empenharem-se em trazer de volta toda a sociedade civil ao modelo e à forma de cristianismo que nós representamos” (The Great Encyclical Letters of Leo XIII, 132. Citado por S. A. Kaplan no livro Surge uma Perseguição Religiosa nos Estados Unidos?, p. 124). [3] |
1986 | Centenas de líderes de todas as principais religiões do mundo juntaram-se ao papa João Paulo II, na Itália, a pedido dele, numa cerimônia de oração especial pela paz mundial. “O papa está sendo hoje admiravelmente bem sucedido, obtendo ampla aceitação como o Papa urbis et orbis, o Pai espiritual de Roma e do mundo” (Samuele Bacchiocchi, Signs of the Times, dezembro de 1987, p. 21). [2] |
1987 | A revista Veja de 16 de setembro de 1987 trouxe a notícia da visita do papa aos Estados Unidos sendo recebido pelo então presidente Ronald Reagan e sua mulher Nancy: “O presidente Ronald Reagan e sua mulher Nancy, voaram até Miami especialmente para recebê-lo aos pés do avião que o trazia de Roma, uma distinção jamais tributada a outros chefes de estado que visitaram o país. As três redes de televisão a CBS, a NBC e a ABC registraram ao vivo a cerimônia de sua chegada, que se calcula tenha sido assistida por mais de 50 milhões de pessoas. Cada hora que ele permanece nos Estados Unidos o custo é de 98.000 dólares. Foi nesse clima de honrarias, publicidades e opulência que João Paulo II iniciou na quinta-feira passada sua segunda peregrinação pelo território norte-americano.” [2] O presidente dos Estados Unidos não esperou o papa na Casa Branca, como se costuma fazer com todos os chefes de Estado, mas veio pessoalmente ao aeroporto em Miami para receber o papa ao descer ele do avião. Esta é uma indicação de como a maior e única superpotência mundial reconhece a superioridade papal e diante dela se inclina. Em 1987, o presidente dos Estados Unidos deu as boas-vindas ao papa para pregar ao povo norte-americano; vinte e sete dirigentes protestantes e ortodoxos orientais se encontraram com o papa em Colúmbia, Carolina do Sul. Poucos dias depois, ele se encontrou em Los Angeles com representantes do islamismo, hinduísmo, budismo e judaísmo. [2] O papa João Paulo II declarou aos repórteres em Miami que a democracia não é a forma de governo preferida da Igreja Católica, e sim “uma instituição governada por Jesus Cristo, uma teocracia”. [2] |
1989 - 1991 | Em 1989, quando João Paulo II se encontrou pela primeira vez com Mikhail Gorbachev, ele e o primeiro- ministro soviético conversaram durante oito minutos em russo. [4] "[...] O encontro entre Gorbachev e o Papa em 01/12/1989, mudou todas as regras do jogo internacional” (Dave Hunt, Global Peace, and the Rise of Antichrist, p. 100). “Na opinião de Joseph Sobran, colunista sindicalizado e editor do National Review: 'O verdadeiro encontro, aquele que merece ser chamado de histórico, não ocorreu em Malta, mas na cidade do Vaticano. Lá Roma e Moscou se encontraram. Moscou ajoelhou-se [...] Gorbachev, um cristão batizado (ele foi batizado quando criança na Igreja Ortodoxa Russa com o nome de Mikhail Sergeyevich) (idem, p. 101), dirigiu-se ao papa chamando-o de 'Santo Padre' [...] louvou o papa e a influência que toda fé exerce [...] homens como João Paulo II, Lech Walesa e Michael Gorbachev [...] são os pais fundadores de uma nova ordem [mundial]'" (idem, p. 100). O líder do comunismo e ateísmo mundial cuja função era destruir todas as religiões, agora proclama que a União Soviética é um país cristão e está encorajando o crescimento do cristianismo, restaurando assim as relações diplomáticas entre a Santa Sé e o Kremlin que foram rompidas durante a Revolução de 1917. Robert Muller, ex-Secretário Geral Assistente das Nações Unidas, declarou: “Eu creio firmemente hoje que o cumprimento da nossa futura paz, justiça, felicidade e harmonia neste planeta não dependerá de um governo mundial mas de um governo divino ou cósmico [...] meu grande sonho pessoal é conseguir uma grande aliança entre todas as grandes religiões e as Nações Unidas” (idem, p. 104). [2] A pressão política exercida pelos Estados Unidos e pelo Vaticano sobre o regime totalitário comunista polonês fez com que, em 5 de abril de 1989, o governo assinasse um acordo que legalizaria novamente o Sindicato Solidariedade, possibilitando as eleições parlamentares dois meses depois. Em dezembro de 1990, Lech Walesa se tornou o presidente da Polônia. [4] No início de 1990, o comunismo já havia sido banido de toda a Europa ocidental e em dezembro de 1991, o comunismo da União Soviética chegou ao fim. Tendo em vista todas essas questões mencionadas, é razoável dizer que o Vaticano, cuja influência exercida na política europeia durante a Idade Média foi tão forte, novamente voltou a desempenhar um papel significativo na política mundial. [4] No livro chamado The Keys of This Blood [As Chaves Deste Sangue]. O autor, Malachi Martin, foi um sacerdote que, anteriormente, havia servido como professor do Pontifício Instituto Bíblico do Vaticano em Roma. Seu livro mais vendido, que foi publicado pela editora Simon and Schuster em 1990, é de grande significado para nossa discussão. Martin começa seu livro com a ousada declaração de que “dispostos ou não, prontos ou não, todos estamos envolvidos numa enérgica competição global de três vias que nada pode deter”. A competição, Martin explica, é sobre quem irá controlar o futuro governo mundial, o qual qualquer pessoa de 40 anos para baixo em 1990 viveria para ver. Ele então afirma: “O propósito escolhido do pontificado de João Paulo II é ser o vencedor nessa competição, que agora já está bastante avançada” (Malachi Martin, The Keys of This Blood: The Struggle for World Dominion Between Pope John Paul II, Mikhail Gorbachev, and the Capitalist West (Nova York: Simon and Schuster, 1990), p. 15, 17). Segundo Malachi Martin, a mais elevada ambição de João Paulo II era que ele e sua igreja estivessem no comando do futuro governo mundial. E, dada a influência global que João Paulo II desenvolveu para si e a igreja durante seu pontificado, é fácil acreditar que Martin sabia do que estava falando. Posteriormente em seu livro, Martin faz várias outras declarações que são relevantes quando vistas à luz do que temos examinado sobre a compreensão católica das relações entre igreja e Estado: “É uma verdade segura e evidente para João Paulo II que ninguém tem o direito – democrático ou de outro tipo – de cometer um erro moral; e nenhuma religião baseada na revelação divina tem o direito moral de ensinar esse erro moral ou defendê-lo” (p. 157). Interessante! Você e eu não temos o direito de crer – muito menos de praticar ou ensinar – algo que seja moralmente errado! A pergunta chave, obviamente, é: Quem decide o que é moralmente certo e errado? Eis a resposta de Martin: “A Igreja Católica Romana sempre reivindicou – e, sob a direção de João Paulo II, reivindica hoje – ser o árbitro supremo do que é moralmente bom e moralmente mau na ação humana” (p. 287). Note que a Igreja Católica afirma hoje, como sempre afirmou, ser “o árbitro supremo”, não do que é moralmente bom ou mau para os católicos, mas do que é moralmente bom ou mau “na ação humana” – isto é, para todos os seres humanos. Então, o que a igreja de João Paulo II se propõe a fazer com respeito às pessoas que escolhem ensinar e defender um erro moral? É sensato pensar sobre a resposta de Martin e de sua igreja a essa pergunta. Eis o que Martin declara: "O pré-requisito final para a capacidade georreligiosa [domínio religioso do mundo] é a autoridade. A instituição [Igreja Católica Romana], em suas estruturas e empreendimentos organizacionais, deve ter uma autoridade singular [controle político]: uma autoridade que seja autônoma em comparação com todas as outras autoridades no plano supranacional [global]; uma autoridade que traga consigo sanções que sejam eficazes para manter a unidade e objetivos da instituição [Igreja Católica Romana], enquanto ela desempenha sua tarefa de servir ao bem maior da comunidade como um todo e em todas as suas partes" (p. 157). Em uma análise atenta, essas palavras têm implicações sombrias. Martin disse no início de seu livro que o objetivo de João Paulo II era que ele e sua igreja dominassem o futuro governo mundial. Então ele afirma que, a fim de qualquer organização ter essa “capacidade georreligiosa”, é necessário ter uma autoridade que é “autônoma em comparação com todas as outras autoridades no plano supranacional”. Em outras palavras, a Igreja Católica Romana precisa ter uma autoridade que seja independente e superior em comparação com qualquer outra autoridade do mundo, de forma que esteja no controle e ninguém possa prevalecer sobre ela. Martin declara ainda que a Igreja Católica Romana precisa ter a capacidade de formular “sanções que sejam eficazes para manter a unidade e propósitos da instituição enquanto desempenha sua tarefa de servir ao bem maior da comunidade como um todo e em todas as suas partes”. Sanções é o que acontece quando uma autoridade superior impõe restrições às políticas e ações de uma autoridade subordinada até que a autoridade subordinada se submeta às exigências da autoridade superior. Um exemplo são as restrições (sanções) de importação e exportação que as Nações Unidas impuseram ao Iraque após a Guerra do Golfo em 1991, em uma tentativa de forçar Saddam Hussein a revelar seu programa de armas de destruição em massa. Malachi Martin acrescenta que “a instituição” – isto é, a Igreja Católica Romana – precisa ter autoridade para impor seus interesses morais ao restante do mundo (o que ele chamou de “plano supranacional”) e para impor sanções a qualquer nação que recuse se dobrar às exigências da igreja. Martin escolheu sua linguagem muito cuidadosamente, certificando-se de ser um pouco ambíguo com suas longas sentenças. Mas, em um exame atento, seu significado é óbvio: a Igreja Católica Romana precisa ter a autoridade de deter qualquer um que interfira em sua ambição global de servir ao que a igreja considera “o bem maior da comunidade como um todo e em todas as suas partes”. Em outras palavras, a igreja deseja o controle sobre todos os elementos da sociedade humana no mundo todo. Essa é a relação entre igreja e Estado que existia na Idade Média! É a filosofia da relação entre igreja e Estado que as encíclicas papais têm defendido nos últimos duzentos anos, embora a igreja tenha sido impedida de aplicá-la na maioria dos países. Alguns católicos sem dúvida argumentariam que Malachi Martin, que morreu em 1999, representava um elemento muito conservador do catolicismo que não é aceito pela maioria dos católicos hoje, especialmente na América do Norte e Europa ocidental. Isso certamente é verdade. Contudo, João Paulo II era um forte conservador, tanto em sua visão religiosa quanto política, e seu sucessor, Bento XVI, é tanto ou mais conservador. A visão conservadora de Martin está viva e ativa no catolicismo hoje, e, na presença de condições adequadas, ela poderia ganhar influência novamente em qualquer país e, em circunstâncias propícias, no mundo todo. [4] |
1994 | O mais significante evento em aproximadamente 500 anos da história da igreja católica é a declaração assinada por católicos e evangélicos no dia 29 de março de 1994. O documento assinado tem como título: “Evangélicos e Católicos juntos: A Missão Cristã no Terceiro Milênio”. Esse documento de 25 páginas indica algumas diferenças entre católicos e evangélicos, mas infelizmente não toca nos principais assuntos. Por exemplo: O que significa ser cristão? Para os evangélicos em geral, ser cristão significa aceitar a Jesus como Salvador, mas para a Igreja Católica, ser cristão significa tornar-se um católico. Tom Forrest escreveu para um grupo de católicos carismáticos: “Isto é o que o papa diz: 'o compromisso de alguém recém evangelizado não pode ser abstrato ('Oh, eu sou um cristão', isto é muito abstrato) [...] é preciso que se dê a isto uma forma visível e concreta através da entrada na Igreja [Católica] nosso sacramento visível da salvação.' [...] Você não só convida as pessoas para se tornarem cristãs, você deve convidá-las para se tornarem católicas [...] Por que isso é tão importante? Antes de tudo, há sete sacramentos, e a Igreja Católica tem todos os sete [...] Em nosso altar nós temos o corpo de Cristo; bebemos o sangue de Cristo [...] nós temos Maria, e esta nossa Mãe, Rainha do Paraíso, está orando por nós [...] nós temos o papado [...] nós temos o purgatório [...] Como católicos [...] nosso trabalho é usar esta década que nos resta para evangelizar a cada um na Igreja Católica” (Dave Hunt, A Woman Rides the Beast, p. 9-10). [2] O Catecismo da Igreja Católica, cuja tradução para o inglês foi publicada em 1994, contém a seguinte declaração: "A doutrina da igreja elaborou o princípio dito da subsidiariedade. Segundo ele, uma comunidade de ordem superior não deve interferir na vida interna duma comunidade de ordem inferior, privando-a das suas competências, mas deve antes apoiá-la, em caso de necessidade, e ajudá-la a coordenar a sua ação com a dos demais componentes sociais, com vista ao bem comum" (Catecismo da Igreja Católica (São Paulo: Loyola, 2000), nº 1883). Essa declaração está completamente em harmonia com a filosofia medieval da igreja sobre a relação entre igreja e Estado. Ela descreve duas comunidades – uma de uma ordem superior, que é a igreja, e a outra de uma ordem inferior, o Estado. A palavra subsidiariedade na frase inicial é um termo sociológico. Significa que as funções que uma organização subordinada pode realizar efetivamente não devem ser assumidas por uma organização mais elevada, uma vez que a organização subordinada está mais próxima das situações locais. A filosofia católico-romana sobre a igreja e o Estado, é claro, considera o Estado como subordinado à igreja. Assim, o princípio da subsidiariedade significa que as funções que o Estado pode realizar melhor devem ser deixadas para ele. Isso soa bem à primeira vista, especialmente a declaração de que “uma comunidade de ordem superior [a igreja] não deve interferir na vida interna de uma comunidade de ordem inferior [o Estado], privando-a das suas competências”. Contudo, a declaração prossegue dizendo que a comunidade de ordem superior [a igreja] deve “apoiá-la, em caso de necessidade, e ajudá-la a coordenar a sua ação com a dos demais componentes sociais, com vista ao bem comum”. Isso poderia ser entendido como significando que a comunidade de ordem inferior (o Estado) ainda depende do apoio e coordenação da comunidade de ordem superior (a igreja). Portanto, a igreja estaria livre para intervir nos assuntos do Estado “em caso de necessidade”. E a questão de “necessidade” seria obviamente decidida pela comunidade de ordem superior – a igreja. Embora revestida em termos que são consideravelmente mais modernos, a teoria medieval da superioridade da igreja em relação ao Estado está contida nessa declaração, pronta para ser implementada sem receio quando as circunstâncias o permitirem. [4] |
1998 | Em 31 de maio de 1998, o papa João Paulo II publicou uma carta apostólica intitulada Dies Domini, que em latim quer dizer “dia do Senhor”. Nessa carta, ele insistiu com todos os católicos sobre a importância de santificar o domingo. O texto de João Paulo II tem muitas coisas que a recomendam. Por exemplo, ele salientou que uma correta teologia do sábado precisa levar em consideração que ele se originou na criação. “A fim de entender plenamente o significado do domingo”, ele disse, “precisamos reler a grande história da criação e aprofundar nossa compreensão da teologia do sábado” (João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini, 1:8, <https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1998/documents/hf_jp-ii_apl_05071998_dies-domini.html>). Ele também salientou algo que os adventistas enfatizam há muito tempo: que “antes de decretar que algo seja feito, o mandamento [do sábado] insiste em que algo seja lembrado” (Ibid. 1:16). E finalmente, embora ele tenha aplicado o quarto mandamento ao domingo, o conselho de João Paulo II sobre como guardar o mandamento se assemelha às recomendações adventistas para a observância do sábado. Além da frequência aos serviços da igreja (para ele, a missa), o papa sugeriu que os cristãos se dediquem a obras de misericórdia e caridade: “Convidar para uma refeição pessoas que vivem sozinhas, visitar os doentes, proporcionar alimento para famílias necessitadas, passar algumas horas em serviço voluntário e atos de solidariedade” (Ibid. 4:69, 72). Entretanto, a carta apostólica de João Paulo II também levanta algumas bandeiras vermelhas significativas. A respeito da lei dominical de Constantino, ele disse: “Os cristãos se regozijaram de ver assim removidos os obstáculos que até então tinham às vezes tornado a observância do dia do Senhor algo heroico. Eles podiam agora se dedicar à oração em comum sem impedimento” (4:64). E quanto a nossos próprios dias, ele disse: “Nesse assunto, meu predecessor, o papa Leão XIII, em sua encíclica Rerum Novarum, falou do descanso do domingo como um direito do trabalhador que o Estado precisa garantir.” Ele declarou também: “Nas circunstâncias particulares de nosso próprio tempo, os cristãos naturalmente se esforçarão para garantir que a legislação civil respeite seu dever de santificar o dia de guarda” (Ibid. 4:66, 67). P. 211 e 212. [4] |
2005 | É a partir desse pano de fundo que precisamos avaliar o funeral de João Paulo II e sua relevância profética. Por que estiveram presentes a esse evento quatro reis, cinco rainhas e mais de setenta primeiros-ministros? Por que estiveram presentes a ele 23 delegações da Igreja Ortodoxa e oito delegações protestantes, que se uniram a representantes do judaísmo, do islamismo e de outras religiões não cristãs? Por que três presidentes norte-americanos, inclusive o da época, ajoelharam-se por cinco minutos em frente ao ataúde do papa? Por que mais de setecentas pessoas ficaram em pé durante várias horas na Praça de São Pedro para assistir ao funeral do papa? E por que cerca de dois bilhões de pessoas ao redor do mundo o viram pela TV, sendo quatro milhões delas da cidade de Roma? A resposta é simples: por causa do modo com que as pessoas o viam como pessoa e da influência que exerceu no mundo. João Paulo II modificou a visão que o mundo tinha de seu cargo e sua igreja. É por isso que, muitos dias antes de sua morte, a TV, as rádios e os jornais ao redor do mundo apresentaram boletins diários, às vezes de hora em hora, sobre o agravamento de seu estado de saúde. Seu funeral foi o foco das notícias por mais de uma semana. A morte de João Paulo II e a escolha de seu sucessor mantiveram a Igreja Católica Romana nas principais páginas das mídias eletrônica e impressa durante todo o mês de abril de 2005. Inclusive a morte de papas anteriores foi relembrada em todo o mundo. É realmente intrigante o fato de quatro reis, cinco rainhas, 70 primeiros-ministros, 23 delegações Ortodoxas e oito delegações protestantes irem ao funeral. Quatro milhões de pessoas assistirem ao funeral somente em Roma, e dois bilhões ao redor do mundo? Concordo com aqueles que interpretam esse evento como parte do cumprimento da profecia de que “toda a Terra se maravilhou, seguindo a besta” (Ap 13:3). [4] |
Referências:
1. MELLO, Araceli S. A Verdade Sôbre As Profecias Do Apocalipse, 1959. Disponível em: <https://pt.scribd.- com/doc/264320586/Araceli-S-Mello-A-Verdade-Sobre-As-Profecias-Do-Apocalipse-pdf>. Acesso em: abr. 2020.
2. RAMOS, Samuel. As Revelações do Apocalipse, v. 2, 2006.
3. https://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%B5es_entre_Estados_Unidos_e_Santa_S%C3%A9.
4. MOORE, Marvin; LIRA, Rosangela. Apocalipse 13: leis dominicais, boicotes econômicos, decretos de morte, perseguição religiosa – isso poderia realmente acontecer? Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013.
5. OLIVEIRA, Arilton; BRANCO, Frederico; SOUZA; Jairo; QUEIROZ, Manassés; ANDRADE, Milton; IRAÍDES, Társis. Apocalipse. Escola Bíblica, Novo Tempo. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2015.
6. WHITE, Ellen Gould. O Grande Conflito. 2013. Disponível em: <http://centrowhite.org.br/files/ebooks/egw/O%20Grande%20Conflito.pdf>. Acesso em: out. 2021.
Esta cronologia está em constante atualização. (Hendrickson Rogers)
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