Corpo, alma e paraíso com harpas x visão bíblica
Os “novos céus e uma nova terra” não são um retiro espiritual remoto e inconsequente nalgum recanto do espaço como um paraíso etéreo onde almas glorificadas passarão a eternidade trajando vestes brancas, cantando, orando e tocando harpas, navegando sobre nuvens e bebendo leite de ambrósia. Como haverão de ser, então? Veja a análise abaixo para saber.
A visão dualística da natureza e destino humanos (crença na imortalidade da alma) não pode ser considerada em nada superior ao entendimento holístico desses dois temas. Desafiaríamos os advogados dessa posição a enumerar que aspectos superiores encontrariam no seu entendimento da questão em cotejo com a enumeração que abaixo apresentamos de itens em que se percebe a indiscutível superioridade da visão holística sobre o entendimento de imortalidade da alma:
1) Muito mais cristocêntrico. O entendimento holístico ressalta que somente em Cristo temos esperança de obter a imortalidade, quando da ressurreição dos justos, não sendo algo que já possuímos inerentemente na forma de uma alma imortal. “Quem tem o Filho, tem a vida” (cf. João 5:28, 29; 1 João 5:12; 1 Coríntios 15:51-54).
2) Maior embasamento com a doutrina básica da justificação pela fé. Há um só que é bom, disse Jesus: Deus (ver Mateus 19:17). Num sentido absoluto, só Deus é justo e estamos muito aquém de ser detentores de qualquer justiça própria. A visão holística destaca que assim como não possuímos justiça em nós pela qual comparecer perante o Supremo Juiz para obter aprovação (ver Isaías 64:6), também não temos inerentemente o dom da imortalidade, que só a Deus pertence (1 Timóteo 1:17; 6:16).
3) Maior ênfase e valorização do tema do advento de Cristo. Para os que crêem na imortalidade da alma o tema da segunda vinda de Cristo não merece a mesma importância, pois, na prática, tal evento se torna dispensável, já que a herança eterna se dá com a morte. Daí a ênfase no segundo advento e na “terminação da obra de evangelização” entre os adventistas por todos os meios possíveis (rádio, TV, literatura, testemunho pessoal, conferências públicas, atendimento assistencial e à saúde) em cumprimento de Mateus 24:14, a grande preocupação e motivação da IASD que é a que tem o maior número de terras penetradas e proporcionalmente o maior número de missionários dentre todos os que se empenham na tarefa de evangelização mundial.
4) Maior coerência com o tema do juízo de cada um. Os que crêem na imortalidade da alma tornam o tema do juízo final ambíguo e sem nexo. Para que haverá tal juízo, se as pessoas na morte já seguem para o seu destino – salvos para “a glória”, perdidos para um local de tormento ou, pelo menos, para um sítio nada agradável onde aguardarão o castigo já definido?
5) Nenhuma identificação com crenças pagãs. A identificação de todos os povos pagãos com conceitos dualistas demonstra outra superioridade da visão holística. Ninguém é capaz de indicar um só povo pagão que deixe de crer em almas e espíritos de pessoas (ou até animais e coisas inanimadas) para crer na ressurreição final como único meio de retorno à existência após a morte, fato ressaltado na própria parábola do rico e Lázaro, um dos fundamentos da visão dualista (cf. Lucas 16:31).
6) Melhor defesa contra doutrinas perigosas. A visão holística é a melhor proteção e antídoto contra erros sutis que existem ou têm vindo à existência nestes últimos tempos, como o espiritismo, doutrinas católicas do purgatório e intercessão dos santos, mormonismo, Nova Era, religiões orientais, etc., sobretudo ante as advertências de Cristo e de Paulo quanto aos enganos crescentes nos tempos finais (Mateus 24:24; 2 Timóteo 3:1-5).
7) Visão mais elevada da justiça e amor divinos. A visão da justiça e amor divinos é prejudicada com a crença de um inferno eternamente a arder, com penas inteiramente desproporcionais à culpa dos impenitentes. Na visão holística a paga será proporcional à culpa e o pagamento será liquidado, não eternizado (Mateus 18:30).
8) Coerência com o sentido bíblico de termos básicos. Conquanto na linguagem bíblica haja muitas menções a “alma” e “espírito”, as Escrituras não autorizam qualquer conceito de “alma” ou “espírito” imortal. Além de nos informar que só Deus é possuidor de imortalidade, a Bíblia afirma que a alma pode morrer (Ezequiel 18:4), em vez do contrário disso.
9) Maior valorização à saúde corporal. É sabido que os cristãos que mantêm o entendimento dualístico da natureza humana conceitualizam a vida presente dualisticamente. Tendem a encarar o cultivo da alma como mais importante do que o cuidado do corpo. O bem-estar físico do corpo muitas vezes tem sido intencionalmente ignorado ou até suprimido. Daí a conhecida preocupação holística dos adventistas do sétimo dia com a saúde e a ênfase no cuidado do corpo como “templo do Espírito Santo” que deve ser consagrado inteiramente ao Senhor (cf. 1 Cor. 16, 17).
10) A visão holística não retrata o mundo por vir do modo imaturo e irreal dos imortalistas, como um paraíso etéreo onde almas glorificadas passarão a eternidade trajando vestes brancas, cantando, tocando harpas, orando, navegando sobre nuvens e bebendo leite de ambrósia. Antes, a Bíblia fala dos santos ressurretos habitando este planeta purificado, transformado e tornado perfeito por ocasião da vinda do Senhor e mediante tal evento (2 Ped. 3:11-13; Rom. 8:19-25; Apoc. 21:1). Os “novos céus e uma nova terra” (Isa. 65:17) não são um retiro espiritual remoto e inconsequente em algum recanto do espaço; antes, são o céu e a terra presentes renovados à sua perfeição original.
Fonte: Prof. Azenilto G. Brito