Diálogo sobre a imutabilidade de Deus e a punição do pecado!
por Carlos Bitencourt e Hendrickson Rogers
Carlos – Professor, a Palavra de Deus é realmente fabulosa! Em seu artigo, no último parágrafo, está um fundamento, um pilar. Não pode ser usado para uma coisa e, depois, retirado para outra. Deus age de modo eterno, segundo Sua natureza eterna. Ele pode tudo, mas desde que seja em conformidade com o Seu imutável caráter. Eu sou pai. Eu posso tudo em relação ao meu filho. Mas esse tudo não é tudo. É “tudo” conforme se espera de um pai. Você fala sobre o divórcio. Se falasse sobre destruição (dilúvio, guerras e matanças), teria que usar o mesmo critério: Deus é Criador no Velho e no Novo Testamento.
Essa conversa de que Ele em alguns momentos foi destruidor é conversa do inimigo, é a dureza do nosso coração em expressar a origem de coisas que ainda não tínhamos conhecimento. É por isso que o “Patriarcas e Profetas” [livro] inicia assim: “Deus é amor. Sua natureza, Sua lei, são amor. Assim sempre foi; assim sempre será. O Alto e o Sublime, que habita na eternidade, cujos caminhos são eternos, não muda. NEle não há mudança nem sombra de variação”. O único trecho escrito por Ele na Bíblia diz “não matarás” – esse é o caráter dEle – então, Ele não mata também!
Mas há mortes. Bem, essas mortes são salário do pecado. E assim será até o dia em que Satanás, o pai da morte, o homicida desde o início, finalmente morte [morrer]. E isso ocorrerá quando a glória da presença de Deus se manifestar. Pecado e pecadores não mais existirão. Não é o caso de seu artigo – estou apenas aproveitando a deixa do “princípio” por você declarado – mas, sinceridade, fico triste quando o nome de Deus é associado ao sofrimento, acidentes, tragédias. “Onde estava Deus…?”; “Deus é o responsável por…?” Louvado seja Deus porque Ele não muda. Ele tem um carinho enorme por todos nós!
Hendrickson – É sempre um aprendizado ler e refletir sobre seus comentários! Se me permite, amigo, gostaria de destacar algo:
1) As escolhas das criaturas racionais do Criador trino não O mudam, mas O afetam e fazem com que Ele também escolha dentre as opções que Seu perfeito e imaculado caráter (Seus “princípios eternos”) possui. Exemplo: A escolha de Adão e Eva no jardim resultaram na morte do inocente cordeirinho (Gn 3:21 e Lv 7:8). Abel matou um cordeirinho. JAVÉ matou os descendentes de Caim por meio do Dilúvio. JAVÉ matou os de Sodoma e Gomorra, etc. Isto não evidencia mudança da parte de Deus, mas reação à ação humana dentro do mesmo caráter divino anterior a ação humana! Também não é contraditório afirmar que Deus mata e ordena não matar. Exemplo: O dilúvio não garantiu a ausência do mal, mas garantiu a possibilidade de escolha para as próximas gerações. Antes da escolha humana pelo mal, não há registro da escolha divina pela “punição”.
A escolha humana pelo mal demandou a escolha divina pela punição para que outros tivessem o direito de escolher também, ainda que escolhessem o mal! Assim, o matar de Deus não é infanticídio ou homicídio, mas sim a reação de um reto Juiz para com um réu culpado. Caso contrário, Satanás só morreria por “morte natural” e, portanto, o mal governaria por causa das brechas da Lei divina, o que nos leva a um absurdo! Deus não muda, Deus obedece Suas próprias leis (elas são Seu próprio “raciocínio”!) e é exatamente por isso que Deus pune a uns e simultaneamente agracia outros. “A Lei de JAVÉ é perfeita” (Sl 19:7) e exige a misericórdia e a justiça, ou seja, o perdão e a punição dentro de seus contextos.
2) As perguntas “Onde estava Deus…?”; “Deus é o responsável por…?” podem ser resultado de terrível angústia, exemplos: Jesus e Jó; podem revelar ignorância, exemplos: Jó, família Coré (Sl 42:3,10) e discípulos (Jo 9:1-3); e podem revelar ousadia e desrespeito, exemplos: família Coré (Sl 42:3,10) e amigos de Jó. Logo, podemos encarar todas as perguntas desse sabor como oportunidades para ensinarmos o que a Bíblia diz!
C – Professor, sei do seu respeito e entenda assim de minha parte também, pois estamos falando do grande conflito entre Cristo e Satanás.
1) Sendo Cristo o Cordeiro morto antes da fundação do Mundo, temos um Redentor antes mesmo de ter um Criador. Então, é básico que Deus já possuía um Plano para eliminar o pecado, caso o homem ainda a ser criado viesse a desobedecer. E, nesse caso, torna-se claro que a Criação está dentro da Redenção.
2) Deus não é culpado pela entrada do pecado e nem pela desobediência do homem, embora Ele já possuísse um Plano de resgate. Deus não é responsável pela morte, embora tenha dito “é certo que morrerás”. Deus não é o causador do dilúvio, embora tenha antecipado o assunto para Adão e Enoque (conforme Patriarcas e Profetas), e para Noé (e isso 120 anos antes do acontecimento!). Mas Deus via o que iria acontecer como desdobramento da vida que levavam. Ele sabia do salário do pecado. “Quando, porém, os homens passam os limites da clemência divina, a restrição é removida. Deus não fica em relação ao pecador como executor da sentença contra a transgressão; mas deixa entregues a si mesmos os que rejeitam Sua misericórdia, para colherem aquilo que semearam” (O Grande Conflito, 33).
3) Quando li que Deus anunciou a criação da Terra, e só depois ocorreu a rebelião de Lúcifer, e que mesmo assim Ele fez a Terra, então entendi que o Redentor e Criador não muda mesmo e não é afetado pelo pecado. Somente o Plano da Redenção daria resposta, se necessário fosse.
4) Quando Satanás triunfou sobre Adão, Cristo Se colocou em nosso favor. Ele interviu. Segurou os ventos soprados pelo mal. “Aquilo que tem sido mantido sob controle será liberado. O anjo da misericórdia está dobrando suas asas, preparando-se para descer do áureo trono e deixar o mundo sob o controle de Satanás, o rei que escolheram, assassino e destruidor desde o princípio” (Cristo Triunfante, 369 – MM 28/12/2002).
5) Quando tudo amadurecer, e em cumprimento ao estabelecido nas tarefas finais do santuário, Cristo virá, e acontecerá o milênio. Aí haverá um processo judicial. Ao final do milênio, a sentença “é certo que morrerás” será em fim permitida. “Em consequência de uma vida de pecados, colocaram-se tão fora de harmonia com Deus, sua natureza tornou-se tão aviltada com o mal, que a manifestação da glória divina é para eles um fogo consumidor” (GC, 34).
Com a graça de Deus, estimulemos mais comentários, mesmo sabendo que isso é apenas um fiapo de um assunto tão mais profundo.
H – Boa tarde amigo Carlos. Obrigado por nossa troca respeitosa de ideias e textos inspirados; penso que Deus está sendo honrado e pessoas estão sendo instruídas!
Por favor, permita-me observar algumas de suas afirmações e da amiga Ellen:
2)”Deus não é responsável pela morte”; “Deus não é o causador do dilúvio”; “Deus não fica em relação ao pecador como executor da sentença contra a transgressão”. Vou deixar Deus falar por meio de Seus profetas como você fez citando Ellen!
a) “Este [Jesus] te ferirá a cabeça [de Satanás]” (Gn 3:15; cf. Rm 16:20).
b) “Disse JAVÉ: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei” (Gn 6:7).
c) “No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu [a Herodes Antipas], por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou” (At 23).
Vejo nos profetas que, embora não seja tirania divina nem qualquer outra manifestação de falta de amor de Deus, é por causa dEle que o mal irá findar e não por causa do próprio mal! Assim como um juiz não está errado em “condenar” alguém culpado; assim como um policial não está errado em prender alguém culpado, Deus não esteve/está/estará errado ao destruir o mal, embora seja o Agente desse ato. É também fato nosso Deus ser a fonte da vida e os que dEle se afastam inevitavelmente encontram a morte. Contudo, após quanto tempo? Quem decide esse tempo? O mal? Não. Deus! A Bíblia me faz raciocinar que, se o mal se destruísse por si só, então, ele não seria completamente mal, posto que faria um bem ao universo, você me entende amigo?
Por outro lado concordo com você em seu cuidado de isentar Deus das consequências das escolhas dos pecadores! Perdoe-me a minúcia Carlos; minha mente está habituada a calcular e resolver situações matemáticas e bíblicas; e isto na Matemática significa não deixar lacunas, brechas. É por isso que, além de não culpar Deus no lugar do pecador eu procuro mostrar que, mesmo sem culpa, o Juiz decide o tempo entre o erro e a punição, e também a própria punição final! Não é o pecador, não são os anjos maus que autodestroem, nem é algo aleatório, mas a autoridade e a misericórdia do Todo-poderoso que respeita as escolhas dos transgressores com suas consequências (as imediatas e as finais) e Ele não apenas permite como cria a destruição/punição do mal, como no Dilúvio, Sodoma, Herodes e Lago de fogo (Ap 20:10).
Por fim, Carlos, quanto as fantásticas palavras de Ellen, confira o que ela diz algumas linhas depois:
“Jamais foi dado um testemunho mais decisivo do ódio ao pecado por parte de Deus, e do castigo certo que recairá sobre o culpado” (GC, 36).
Fonte: Comentários dos artigos deste blog!
Deus nos providenciou, a mais, a maravilhosa Lição da Escola Sabatina, 4º trimestre de 2012. Joga luz sobre o diálogo acima.
Maravilhoso Criador e Redentor!!!