“Eu, porém, vos digo” e o “olho por olho, dente por dente” (parte 2)
O revide deve ser marcado pela boa intenção Voltando à “guerra no Céu” e ao texto de Tiago, podemos descobrir harmonia entre eles, o “Eu, porém vos digo” de Jesus e o Antigo Testamento. Resistir ao perverso está na Lei: “Não terás outros deuses diante de Mim” (Êx 20:3). Eva recebeu instrução e ordem para resistir ao mal (compare Dt 4:25-27 com Gn 2:16,17). O próprio Deus fez isto quando Satanás apareceu no Céu (Ap 12:7-9)! Esse revide ou essa reação é fruto da intenção de não permitir que o mal se espalhe e domine; portanto, tal vingança é legal. Quando Jesus, cheio do Senhor Espírito, ordenou “não resistais ao perverso” (Mt 5:39), Ele nos oportunizou mais um aprendizado transformador. Analise a sequência de textos que segue: “porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lc 21:15); “e não podiam resistir à sabedoria [de Estêvão] e ao Espírito, pelo qual ele falava” (At 6:10). “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis” (Ef 6:13). Perceba o sentido da palavra resistir (a mesma palavra grega inclusive) em cada um deles! Conclusão: só quem está sujeito a Deus (Tg 4:7), ou seja, cheio do Espírito Santo, saberá quando resistir e quando não resistir. Mais uma vez, não é possível obedecer à Palavra de Deus longe do Autor dela!
A espada de Pedro Deus não é a favor da guerra; longe disso Ele é o “Rei da paz”, “o Deus da paz” o “JAVÉ paz” (Hb 7:2, Rm 15:33 e Jz 6:24). Por outro lado, Ele sabe falar no idioma dos pecadores sem paz! Jesus guerreou com Satanás como “príncipe Miguel” (Dn 10:13), pois este disseminou violência no Céu (Ez 28:16,18), arrebanhou seguidores (Ap 12:4) com suas mentiras (Is 9:15) e partiu ousadamente para cima do trono de Deus (Is 14:12-14)! A Lei de Deus não condena a autodefesa, mas seu foco é a defesa do próximo, pois o próprio Deus, embora não precise Se defender, defende os Seus: “JAVÉ é o meu forte defensor; foi ele quem me salvou. Ele é o meu Deus, e eu o louvarei” (Êx 15;2, NTLH). “JAVÉ é homem de guerra; JAVÉ é o seu nome” (Êx 15:3); e somente neste sentido o “JAVÉ paz” também é “homem de guerra”!
Isto nos ajuda a entender o relato sobre “espadas”[*] (ou “facas de degolar”) de Lucas 22:35-38 e as palavras de Jesus à reação violenta de Pedro sobre o soldado Malco (Jo 18:10,11). Apesar de o Mestre não ter ordenado a Pedro “jogue fora a espada”, mas “guarde a espada” (NVI), certamente podemos enxergar a preocupação divina pela ausência das armas ao se resolver uma injustiça. Num contexto “civilizado”, Deus usa o idioma da cidadania para ensinar Seus princípios eternos. Ele mesmo poderia chamar Seus anjos para O defenderem daqueles que perante Ele estavam com “espadas e porretes” (Mt 26:55); “mais de doze legiões de anjos” (Mt 26:52), Ele garantiu, poderiam defendê-Lo usando espadas, talvez (cf. I Cr 21:27 e Js 5:13)!
Parece-me que os anjos de Deus podem portar armas, mas, quanto a Seus filhos pecadores Jesus adverte: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (ibidem). Tem coisas que só o Pai e os filhos mais velhos podem usar. Não é um faça o que eu falo, mas não o que eu faço, e sim uma advertência devido a nossa natureza pecaminosa, algo que nem Deus nem os anjos possuem! Além do mais, os judeus não eram mais nômades (embora novamente escravos, devido a sua desobediência) e tampouco conquistadores vitoriosos.
Dar a outra face é pregar o evangelho “Dizendo ele isto, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que falas ao sumo sacerdote? Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que me feres?” (Jo 18:22,23). É errado confundir não se vingar com não ser missionário! A primeira é virtude. A segunda é pecado. São, portanto, excludentes. Jesus não ofereceu a outra face, ao receber um tapa no rosto, como um coitadinho, uma vítima indefesa ou alguém em depressão ou com ressentimento ou ira. Diferente disso, Ele revidou com a pregação do evangelho.
Ele não Se esquivou de um segundo tapa, mas aproveitou a oportunidade para apresentar a transgressão do soldado e oportunizar a arrependimento e mudança! Ele obedeceu a… Ele: “Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo; mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele, não levarás sobre ti pecado. Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou JAVÉ” (Lv 19:16-18)! Oferecer a outra face sem ensinar algo ao ofensor é outra ofensa. Um seguidor de Cristo, conhecedor de Sua Palavra, deve saber disso. Quanta tristeza sobreveio àquele soldado caso ele tenha reconhecido o seu Salvador posteriormente! Contudo, tendo-se convertido a Deus ou não, as consequências de seus maus atos foram colhidas “olho por olho, dente por dente”; mas uma coisa é suportá-las possuindo o perdão divino e outra, bem diferente, é sofrer algo merecido estando em falta com o Salvador!
Por fim, a lei do altruísmo de Mateus 7:12 é citada por Jesus também nesse contexto, e com ela todas as perguntas encontram suas respectivas respostas: “Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica; dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda. Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lc 6:29-31)!
[*] Mudei minha opinião em meados de 2015: Jesus Cristo não autorizou o armamento de Seus seguidores. Os textos citados sobre as espadas não ensinam isso. Como citei, as espadas ou facas permitidas por Jesus objetivavam unicamente a alimentação, e não a defesa pessoal.
(Hendrickson Rogers)
Todo este estudo está disponível num pequeno livro em PDF AQUI (clique).
E ainda aqui no Blog na seguinte sequência de capítulos:
Capítulo 1: “Eu, porém, vos digo” e o Sexto Mandamento (que é este artigo!).
Capítulo 2: “Eu, porém, vos digo” e o 7° Mandamento.
Capítulo 3: “Eu, porém, vos digo” e o Divórcio.
Capítulo 4: “Eu, porém, vos digo”, o 3° e o 9° Mandamentos.
Capítulo 5: “Eu, porém, vos digo” e o “olho por olho, dente por dente” (parte 1).
Capítulo 6: “Eu, porém, vos digo” e o “olho por olho, dente por dente” (parte 2).
Capítulo 7: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.