novembro 23, 2024

Blog do Prof. H

Adaptando conhecimento útil às necessidades da humanidade

A mulher adúltera de João 8 – segundo Hendrickson Rogers

“Em muitas ocasiões já ouvi pregadores
falando que Maria Madalena é a mulher adúltera de João 8. No entanto não é
mencionado o nome dela na história! Existe algum estudo que prove que a mulher
adúltera foi Maria Madalena?”
[Bela
questão enviada por Juliana Marney, de São Paulo – SP!]
É um fato que “a palavra do
Senhor” muitas vezes é “preceito sobre preceito, preceito e mais preceito;
regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali” (Is
28:13), quando estudamos certos assuntos! A Bíblia não se assemelha a um
dicionário, onde os conceitos aparecem completos logo após a palavra
procurada… Uma enciclopédia com 66 volumes, onde um mesmo assunto pode
permear vários volumes e ser consumado apenas quando juntamos todas as suas
partes – eis uma comparação mais adequada para a Bíblia! Deus preferiu assim.
Vamos então buscar as várias
partes do assunto “Maria Madalena”, espalhadas pelos 4 livros evangélicos, para
alcançarmos uma visão imparcial do mesmo (“um pouco aqui, um pouco ali”!). Para
dinamizar a pesquisa percorreremos o seguinte caminho até a aprendizagem: a
síncrese (visão caótica da pesquisa), a análise (ordenação em seqüência) e,
finalmente, a síntese (destaque das conclusões sobre um suporte sólido).
Em Mt 26:7 lemos: “aproximou-se
dEle uma mulher, trazendo um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo, que
Lhe derramou sobre a cabeça, estando Ele a mesa”.
Em Mc 14:3 lemos o mesmo
acontecido escrito com outras palavras.
Lucas narra o fato assim*: “E eis
que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que Ele estava à mesa na casa do
fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando por detrás, aos
Seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios
cabelos; e beijava-Lhe os pés e os ungia com o ungüento” (Lc 7:37, 38). [* Qualquer questionamento do tipo: “mas quem
disse que essa história contada por Lucas é a mesma narrada por Mateus e
Marcos? Não está ela num contexto bem diferente no livro de Lucas?”, deve ser
adiado até os comentários finais!]
João nos ajuda sobremaneira ao
descrever a mesma cena com as palavras: “Então, Maria, tomando uma libra de
bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os
seus próprios cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo”! (Jo 12:3)
Para não deixar dúvidas sobre que Maria era essa, ele afirmou: “Esta Maria,
cujo irmão Lázaro estava enfermo, era a mesma que ungiu com bálsamo o Senhor e
Lhe enxugou os pés com os seus cabelos”, Jo 11:2.
Mais detalhes decisivos João nos
revela no capítulo 20! Vejamos alguns versos:
“No primeiro dia da semana, Maria
Madalena
foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a
pedra estava revolvida. Então, correu e foi ter com Simão Pedro e com outro
discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e
não sabemos onde O puseram. Saiu, pois, Pedro e o outro discípulo e foram ao
sepulcro”(vs.1-3).
Maria, entretanto,
permanecia junto à entrada do túmulo, chorando”(v.11).
“Disse-lhe Jesus: Maria!”(v.16).
“Então, saiu Maria Madalena
anunciando aos discípulos: Vi o Senhor!”(v.18).
  
 Vamos começar a organizar as informações
coletadas:
1°) A mulher que ungiu Jesus,
chorou sobre Seus pés e os enxugou com os próprios cabelos foi Maria irmã de
Lázaro.
2°) O fato de João ter escrito o
nome de Maria Madalena por duas vezes sem o adjetivo “Madalena” nos versos 11 e
16, entre os textos 1 e 18 (nos quais ele escreve com o adjetivo), revela para
mim que a “Madalena” era a própria Maria irmã de Lázaro! Observe o cuidado dos
escritores em especificar as Marias: Mt 27:55, 56, 61; Mc 15:40, 47; 16:1, 9; e
Lc 8:2; 24:10. Uma outra evidência, para mim, é a maneira da “Madalena” ao
falar: “Vi o Senhor!” Maria irmã de
Lázaro (assim como sua irmã) também dizia: “Senhor, se estiveras aqui…”(Jo 11:32). “Senhor, vem e vê!”(Jo 11:34) Veja ainda Lc 10:40 e Jo 11:21, 27,
39. 
Basta, então, encontrarmos apoio
para a afirmação de que Maria foi a mulher adúltera de João 8. Para isto não é
suficiente comparar expressões e maneiras de falar!
Uma evidência notável, para mim,
se encontra na narrativa de Lucas: “E eis que uma mulher da cidade, pecadora” e “Se Este fora profeta, bem
saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora”, Lc 7:37, 39.
A ênfase na indignidade de Maria por
ser ela pecadora (e não apenas por ser mulher), nos leva a pensar sobre que
tipo de pecado ela cometeu a ponto de ser conhecida por seu delito… A
parábola contada pelo Senhor a Simão, após seus pensamentos de dúvida e
preconceito, também me chama muito a atenção: “Qual deles, portanto, o amará
mais
?”, perguntou Jesus. “Suponho que aquele a quem mais perdoou”,
respondeu o fariseu! O Senhor reconhece a grande pecadora que Maria era:
“perdoados lhe são os seus muitos
pecados
”! Sem dúvida esses “muitos pecados” estão relacionados com o
passado desta mulher, o qual Jesus conhecia muito bem, pois dela “expelira sete
demônios”, Mc 16:9 e Lc 8:2. O que ela fez para que as portas de sua alma
estivessem tão escancaradas para a invasão absurda de 7 anjos maus? 
Vejamos outros argumentos esclarecedores:
Sobre o fato de Mateus, Marcos e
Lucas não mencionarem o nome de Maria em suas narrativas, apesar de João
explicitá-lo, “provavelmente isso aconteceu porque Maria, piedosa cristã,
estava viva quando os evangelhos sinópticos foram escritos. Os autores desses
livros, desejosos de que sua história fosse incluída, podem ter decidido, por
bondade cristã, não mencionar o nome dela. Mas João possivelmente não se sentiu
obrigado a esse silêncio porque seu livro foi escrito várias décadas mais
tarde, muitos anos depois da morte de Maria. 
“Lucas e João mencionam Maria de
Betânia e a identificam como irmã de Marta e Lázaro. Maria, conhecida como
Madalena, que provavelmente era de Magdala, aldeia situada à margem ocidental
do mar da Galiléia, aparece entre as mulheres que acompanharam a Jesus na
segunda viagem pela Galiléia.
“Em algum momento antes da
segunda volta pela Galiléia, Jesus havia expulsado dela sete demônios.
“Se por acaso Maria de Betânia saiu de sua casa como resultado
de sua vida vergonhosa, poderia ter ido a Magdala e ficado ali com amigos ou
parentes. Muitos dos fatos registrados do ministério de Jesus na Galiléia
transcorreram nas proximidades da planície de Genesaré, onde se encontrava
Magdala. É possível que durante uma das primeiras visitas de Jesus a Magdala,
houvesse libertado a Maria dos demônios que a possuíam. Depois de acompanhar a
Jesus na segunda volta pela Galiléia, ela, já transformada, poderia ter regressado a Betânia e novamente habitado ali. Esta
possibilidade não prova que Maria de Betânia e Maria Madalena são a mesma
pessoa, mas mostra como é razoável essa opção.
“Parece que Lucas considerava a
relação de Jesus com os fariseus num plano amistoso e social, um fato digno de
nota, e isso explicaria por que ele registrou aqui a informação de o anfitrião
ser um fariseu.
“Não é estranho que Lucas examine
a reação de Simão diante do ocorrido, enquanto que os outros evangelistas não
mencionam esse aspecto do relato, mas só destacam a reação de Judas. Se Lucas
teve alguma razão especial para introduzir este relato nessa parte de seu livro
e não no final do ministério de Cristo, como o fizeram os outros evangelistas,
dificilmente haveria registrado a atitude de Judas e a lição que Cristo
procurou ensiná-lo, pois seria inadequado a essa altura do relato evangélico.
“Tal fato, na forma como o
apresentam os outros três evangelistas num momento posterior de suas narrações,
somente teria servido para confundir os leitores, se Lucas o houvesse inserido
aqui.
“Lucas escreveu em primeiro lugar
para cristãos gentios que não habitavam na palestina. Depois de mencionar
repetidas vezes que os dirigentes judeus se opunham a Cristo (veja 5:17, 21,
30, 33; 6:2, 7, 11; etc.), o escritor sem dúvida temia que seus cultos leitores
gentios se perguntassem como poderia ele esperar que eles cressem em Cristo se
todos os dirigentes de sua própria nação O haviam rejeitado, os quais
evidentemente haviam estado em melhores condições para julgar suas afirmações
messiânicas! Isto explica por que Lucas foi o único dos quatro evangelistas que
menciona três casos específicos quando Jesus comeu na casa de um fariseu (7:36;
11:37 e 14:1), assim também outros casos de aparente amizade entre Jesus e
certos dirigentes judeus (veja, por exemplo, 7:3).
“O contexto anterior ao relato de
Lucas sobre o banquete na casa de Simão, torna ainda mais compreensível o
motivo pelo qual ele inseriu tal relato nesse momento de sua narração. Acabara
de registrar que os dirigentes haviam rejeitado tanto a mensagem de João
Batista quanto a de Jesus (7:30-35); nem todos os dirigentes, mas claramente a
maioria. No entanto, neste ponto de seu relato da vida de Cristo, Lucas pode
ter sentido a necessidade de assinalar alguns dos líderes que simpatizavam com
Ele. Além do que, nesse mesmo capítulo Lucas registra a mediação amistosa de
certos ‘anciãos dos judeus’(v.3). Ele apresenta, imediatamente depois deste
trecho, as circunstâncias que levaram Cristo a admitir que os dirigentes de
Israel haviam rejeitado tanto a Ele como a João Batista (11-35). É possível que
Lucas registrasse imediatamente antes e depois dos versos 11-35, a simpatia de
alguns dos líderes judeus para acalmar qualquer suspeita de seus leitores de
que Jesus não fora o Messias porque Sua própria nação O havia desprezado.
“Se se aceita que esta é a razão
pela qual Lucas inseriu o relato do banquete de Simão entre os primeiros
capítulos do relato evangélico e não em seu verdadeiro contexto cronológico,
então se explica o motivo para a diferença principal entre seu escrito e o dos
outros três evangelistas. É evidente, então, que não tinha sentido que Lucas
registrasse a reação de Judas nem as referências a iminente morte de Cristo. O
ponto principal era, portanto, destacar o proceder de Simão, um dos guias do
povo. Mas para os outros três evangelistas, o proceder de Judas é o que tem
significado dentro do contexto em que aparece a narração que se faz desse fato.
Os relatos da reação de Judas e de Simão não se excluem mutuamente, mas se
complementam, e de nenhum modo se contradizem ainda que ambas as reações sejam
apresentadas por um ou mais dos evangelistas” [Comentário Bíblico Adventista em
espanhol, pp. 745-747].
Fonte: Publicado em 2003 no vol. 1 da trilogia  Perguntas & Respostas, escrito por Hendrickson Rogers.

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