Diálogo sobre Miguel e Lúcifer – 2ª parte
Querido Alexandre, fico feliz em me comunicar com alguém que demonstra ter o costume de estudar as Escrituras, não somente lê-las ou ouvi-las! Parabéns e que o Senhor Espírito – o Autor da inspiração (II Pe 1:20, 21) e Dono do dom profético (I Co 12:7-11) e de sua interpretação – continue com sua mente e influenciando seu caráter!
Respondendo suas indagações e comentando suas colocações
“Por que Deus na sua infinita sabedoria faria um texto tão confuso que mistura em um momento uma lamentação contra a babilônia e em outro momento fala de um suposto anjo caído, como se Ele se importasse com a história de (com o perdão da palavra) idiotas como esses pra perder tempo falando algo para alguém que não tem mais volta, e depois voltar a falar da babilônia outra vez?” (Alexandre*)
Primeiramente sugiro a você que não chame Satanás ou qualquer um dos demais anjos caídos de “idiota”. Nem Deus, a maior autoridade do universo, faz isso. Fazer uso de armas carnais contra o autor delas é dar tiros no próprio pé, você me entende? Deus nos dá Suas próprias armas nesse grande conflito. “Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne, pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo” (II Co 10:3-5, ARA). E o que está registrado na Bíblia não é para quem quer se perder ou já se perdeu, mas “essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos” (I Co 10:11, NVI).
Segundo: o fato de você achar alguns textos de Isaías 14 confusos (bem como Ez 28) significa que eles de fato o são?! Você pode achar confusa a dupla abordagem – local e profética – na interpretação destes textos bíblicos, mas isso não é um argumento válido para invalidar a interpretação. Vou lhe apresentar como essa ambiguidade bíblica se repete frequentemente em ambos os testamentos e como o próprio Deus é o responsável por ela, ou seja, não se trata de uma escolha do profeta escritor dos textos ou de uma conveniência religiosa, mas do significado original do texto a tal ponto que, de outo modo, sua interpretação fica incompleta ou completamente errada!
Exemplo 1 “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17). Se usarmos o método que você usou para entender Is 14 e Ez 28 aqui nesta passagem, chegaremos a conclusão absurda de que Deus mentiu, já que Adão comeu do fruto, foi expulso do jardim vivo e só veio a falecer com 930 anos (Gn 5:5)! Por outro lado, evitando essa interpretação simplista que faz Deus errar, temos que procurar o significado original do texto. Paulo e o próprio Moisés, autor do Pentateuco, entre outros profetas, entenderam o raciocínio divino de Gn 2:17: “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo” (Ef 2:1, 2, NVI). “O salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). “Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam, e para que vocês amem o Senhor, o seu Deus, ouçam a sua voz e se apeguem firmemente a ele. Pois o Senhor é a sua vida, e ele lhes dará muitos anos na terra que jurou dar aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó” (Dt 30:19, 20, NVI). Ou seja, a morte profetizada por JAVÉ em Gn 2:17 era tanto a física quanto a espiritual, com ênfase nesta última, já que o casal não morreu fisicamente no dia em que comeram, muito embora tenham começado a morrer, tanto eles quanto o restante da criação de Deus!
Exemplo 2 As profecias preditas pelo próprio JAVÉ Deus em carne, o Senhor Jesus, em Mateus 24, são outro excelente exemplo da ambiguidade deliberada por Deus nalgumas passagens bíblicas! Os versinhos 4 – 29 tanto já tiveram seu cumprimento no contexto judaico (destruição de Jerusalém, 70 d.C.), como nos séculos de predominância católica no contexto político-religioso, bem como têm se cumprido em nossos dias e ainda se cumprirão imediatamente antes da vinda do Filho do homem, o v. 30 nos assegura! Ignorar isto e interpretar Mt 24:4-29 como cumprido ou como a se cumprir ainda revela desconhecimento bíblico profundo e interfere até mesmo na compreensão do que é a verdade segundo as Escrituras e seu impacto na vida diária, me refiro ao estilo de vida Deus espera de Seus filhos!
“Em nenhum momento Isaías foi incitado a citar nome de anjo, ou se referir a alguém que não fosse o reino babilônico” (Alexandre).
Sério? Então, o referido homem “rei da babilônia” (Is 14:4) tinha poderes sobrenaturais e tinha ambições sobre-humanas, pois o profeta o descreveu assim: “Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Você que dizia no seu coração: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo“” (Is 14:12-14, NVI). É bem verdade que Nabucodonosor, um dos reis babilônicos, passou por uma possível epifania como castigo por sua arrogância contra Deus (Dn 4), mas Isaías 13 e 14 e a cronologia bíblica-histórica deixam claro que a) o “rei da Babilônia” é uma referência ao reino babilônico em seu auge avassalador com suas várias sucessões reais e b) Nabucodonosor nem fraudas usava ainda quando a profecia de Isaías já existia e apontava para o passado de um ser que em sua arrogância caíra dos céus, embora almejasse ser maior do que JAVÉ!
Acompanhe a sequência de textos bíblicos numa ordem e contexto que realçam seu significado original, e apesar de fora de seus contextos bíblicos, não têm seu valor alterado e nos ajudam a entender Is 14 e Ez 28!
“Enquanto as estrelas matutinas juntas cantavam e todos os anjos se regozijavam” (Jó 38:7, NVI). “Sua cauda [do dragão] arrastou consigo um terço das estrelas do céu, lançando-as na terra” (Ap 12:4). “Houve então uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar no céu. O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançado à terra” (Ap 12:7-9). “Certamente, se Deus não se refreou de punir os anjos que pecaram, mas, lançando-os no Tártaro, entregou-os a covas de profunda escuridão, reservando-os para o julgamento” (II Pe 2:4, Tradução Novo Mundo).
(Não é errado trabalhar com sequências de textos bíblicos como a construída logo acima quando o significado de cada texto é mantido mesmo fora de seu contexto! A própria Bíblia é um conjunto de ensinamentos espalhados que podem ser organizados numa sequência razoável. Cf. Is 28:10, 13)
Isaías 14 e Ez 28 têm seus significados proféticos realçados pela sequência acima. Um certo anjo, brilhante como o Vênus, criado perfeito (algo que do rei de Tiro, por exemplo, nunca poderia se dizer já que nascemos em pecado, Sl 51:5; cf. Ez 28:15) e ocupando a posição de querubim como aqueles dois da tampa ou propiciatório da “arca do Testemunho” (Êx 25:16-22).
Aliás, vemos ali estátuas muito mais antigas do que a imagem que você me apresentou no link http://misteriosantigos.50webs.com/Ciro_o_Grande.jpg, as quais só evidenciam a existência desses seres angelicais majestosos! Sua própria figura no link não tem nada que ver com o rei de Tiro, mas nos ajuda a perceber como os antigos povos contemporâneos ao Antigo Testamento e até a ele anteriores já possuíam conhecimento sobre a existência dessa classe de anjos, uma vez que suas esculturas reflitem um ensinamento bíblico datado muito anterior a elas (Gn 3:24 cita querubins aqui na Terra na época do primeiro casal!); lembre-se que até Moisés nasceu, morreu, foi ressuscitado e trasladado (Jd 9 e Mt 17:3) muito antes das culturas dos povos mencionados, de modo que não se pode dizer que os querubins da arca sejam posteriores aos achados arqueológicos! (Hendrickson Rogers)
Estude todo o artigo: “Diálogo sobre Lúcifer e Miguel – introdução” e “Diálogo sobre Lúcifer e Miguel – conclusão”.
*Alexandre é um dos leitores deste blog.