Mamilos masculinos humanos: órgãos vestigiais ou sexuais?
Frequentemente é levantada a questão da suposta inutilidade dos mamilos masculinos como objeção ao conceito de um designer. Nas mulheres, os mamilos funcionam como um dispositivo de entrega do leite para amamentar os bebês. Então, qual é o propósito dos mamilos nos homens? A perspectiva evolutiva diz que eles são “restos” do nosso passado evolutivo; portanto, eles são considerados “órgãos vestigiais” ou “rudimentares”.[1] Isso sugere que eles teriam sido funcionais no passado, mas, à medida que a evolução progrediu, a função deles teria se perdido. Essa questão intrigou o avô de Charles Darwin, Erasmus Darwin, e muitos outros antes e depois. Erasmus especulou que os mamilos masculinos teriam sido uma relíquia de uma época em que os mamíferos eram hermafroditas – sexo masculino e feminino em um indivíduo.[2] O biólogo evolucionista Stephen Gould também afirmou que, em sua experiência com o público, “nenhum item provocou mais confusão do que a própria questão que Erasmus Darwin escolheu como um desafio primário para seu conceito de utilidade invasiva – os mamilos masculinos”.[3: p. 43]
Um exemplo moderno de pressupostos evolucionistas que levaram os mamilos masculinos a ser rotulados como inúteis foi apresentado pelo médico cirurgião Robert Rothenberg: “Quando inspecionamos o Homo sapiens, acusado de ser a mais ilustre realização da natureza, é óbvio que o trabalho poderia ter sido feito muito melhor! Como exemplo, vamos considerar o peito [mamilo] masculino, uma estrutura encontrada em todos os mamíferos. O que a natureza tem em mente para esse apêndice decorativo? Era suposto servir a um propósito real, ou foi um ato lunático cometido durante um momento em que a natureza estava com um humor para brincadeira?” [4: p. 224]
O filósofo e crítico das ciências Jim Holt escreveu em um artigo publicado no jornal New York Times que “algumas esquisitices não funcionais, como a cauda do pavão ou o mamilo masculino humano, podem ser atribuídas a um sentido de capricho por parte do designer”.[5]
Porém, o Dr. Rothenberg e o Sr. Holt se esqueceram de analisar que diferenças sexuais físicas entre homens e mulheres são resultado do desenvolvimento que se deve a influencias cromossômicas e hormonais. Os machos e as fêmeas são fisiologicamente idênticos nas fases iniciais do desenvolvimento embrionário.[6] Os homens têm mamilos porque eles começam a se desenvolver no momento em que é ativado o sinal hormonal masculino para se diferenciar.[7]
Assim, ambos os projetos têm basicamente a mesma informação genética, e essa informação é expressa de forma tão eficiente quanto possível, ao longo do desenvolvimento do embrião. Essa é a economia de design. O desenvolvimento do mamilo masculino é, portanto, resultado da diferenciação sexual concebida para produzir o dimorfismo sexual (ou seja, contém características de ambos os sexos). Os mamilos são, obviamente, parte funcional do projeto do corpo masculino.
Na verdade, o argumento de que o mamilo masculino é inútil não faz sentido e representa um argumento muito pobre para a evolução. Se a evolução fosse verdadeira, os mamilos masculinos seriam redundantes. Tempo e acaso certamente já os teriam eliminado, uma vez que a evolução sugere a sobrevivência do mais apto para fins de reprodutibilidade. Assim, eles deveriam ter sido selecionados naturalmente contra.
Porém, Pau Carazo, um zoólogo evolucionista da Universidade de Oxford, argumenta que “os homens têm mamilos porque, mesmo que eles não sejam úteis, a evolução não funciona eliminando todas as partes dispensáveis no nosso corpo, mas eliminando apenas as partes dispendiosas do ponto de vista evolutivo. A evolução não tem dado atenção a mamilos masculinos porque eles não apresentaram qualquer perigo para a nossa sobrevivência ou em desvantagem nosso sucesso reprodutivo”.[8]
Michael Le Page, jornalista da revista New Scientist, também oferece sua explicação: “Mamíferos machos claramente não precisam deles [mamilos]: eles os têm porque as fêmeas têm e porque não custa muito para crescer um mamilo. Então, não houve nenhuma pressão para os sexos evoluírem vias de desenvolvimento separadas e ‘desligar’ o crescimento de mamilos no sexo masculino.”[9]
Então, se na visão evolucionista os mamilos persistem por falta de seleção contra eles, ao invés de seleção para eles, é curioso e até poderíamos argumentar que a ocorrência de problemas associados com o mamilo masculino, tais como carcinoma, constitui seleção contemporânea contra eles.[10, 11] Mas essa não é a nossa proposta.
Outro ponto de discussão está na presença de glândulas mamárias tanto em homens quanto em mulheres. Ernest Haeckel observou há mais de um século que o desenvolvimento anormal do peito masculino podia levar os homens a produzirem lactato.[12] Mas será que, conforme proposto por Darwin, isso realmente indica um vestígio evolutivo do tempo em que homens podiam amamentar seus filhos?[13] Em relação à lactação, as evidências sugerem que é possível surgir níveis de prolactina em mamíferos do sexo masculino.[14, 15] No entanto, o fato de alguns tecidos mamários masculinos em humanos (não saudáveis) apresentarem essa capacidade simplesmente indica a presença de algum fator interferindo na função do projeto.
A conclusão errônea de que os mamilos masculinos não são utilizados para amamentar e, portanto, são inúteis vai contra as evidências apontadas pela literatura científica. Os mamilos masculinos têm várias funções importantes, mas estão principalmente envolvidos na estimulação sexual.[16, 17] Ambos os mamilos, masculinos e femininos, contêm uma abundância de tecido nervoso e, portanto, são muito sensíveis ao toque.[18-23] Na maioria das vezes, o mamilo masculino é tão sensível quanto o mamilo feminino.[24] Em relação à estrutura nerval, o médico cirurgião Peter Sykes observou que “o mamilo é inervado principalmente pelos ramos cutâneos anterior e lateral do quarto nervo intercostal. Também recebe contribuições dos ramos correspondentes dos terceiro e quinto nervos intercostais”.[18: p. 201] E a presença de grande quantidade de tecido nervoso é um grande indício de que um órgão tem função. Embora existam várias diferenças no complexo mamilo-areolar entre os gêneros, ambos os mamilos, masculinos e femininos, podem ser estimulados pelo toque.[16, 24, 25]
Uma diferença importante é que as mulheres têm mais e maiores zonas erógenas mamárias, e elas são como um todo mais importantes para a resposta sexual delas.[24] Nos homens, os nervos da área do mamilo masculino estão mais perto em conjunto em comparação com os das mulheres, o que resulta no fato de os estímulos sexuais nos homens serem mais concentrados e discretos. O mamilo masculino também é importante para reconstruir o complexo mamilo-areolar masculino depois de um acidente ou doença.[26-30] De acordo com Stoppard, é apenas nos seres humanos que os seios e os mamilos estão envolvidos na atividade sexual, e não há nenhuma evidência para a evolução dessa resposta importante a partir de primatas inferiores.[24]
Assim, vemos que caracterizá-los como “vestigiais” é problemático, uma vez que eles são totalmente vascularizados e possuem muitas terminações nervosas sensoriais para o seu papel na prestação de estimulação em contato sexual. Então, por que é difícil de aceitar ou entender que os mamilos também são órgãos sexuais de sensibilidade que aumentam a experiência do sexo?
Lembrando que homens e mulheres foram projetados por um mesmo Designer, isso deve nos dar algumas dicas sobre por que algumas características são comuns em ambos os projetos. E uma vez que os mamilos masculinos têm uma função, eles são consistentes com uma explicação de design. De certa forma, é compreensível o fato de os evolucionistas terem aversão ao tecido mamário em homens, visto que eles não conseguem fornecer qualquer tipo de razão para a existência e persistência de mamilos masculinos após supostos milhões de anos no cenário evolutivo. Minha sugestão aos evolucionistas é a seguinte: se conformem com a presença deles, pois eles fazem parte do projeto ideal.
(Texto traduzido e adaptado do original Bergman [2001] por Everton Fernandes Alves, enfermeiro e mestre em Ciências da Saúde pela UEM; seu e-book pode ser lido aqui)
Referências:
[1] Mitchell T. “Why Do Men Have Nipples?” Answers in Genesis, 2011. Disponível em:https://answersingenesis.org/human-body/vestigial-organs/why-do-men-have-nipples/
[2] Lawrence E. “Why do men have nipples?” Nature News, 1999. Disponível em:http://www.nature.com/news/1999/990805/full/news990805-1.html
[3] Capítulo 4: “Male nipples and clitoral ripples.” In: Gould SJ. Adam’s Navel and Other Essays. NewYork: Penguin Books, 2000.
[4] Rothenberg R. The Complete Book of Breast Care. New York: Crown Pub. Inc., 1975.
[5] Holt J. “Unintelligent Design.” [Ago. 2005]. The New York Times magazine, 2005. Disponível em: http://www.nytimes.com/2005/02/20/magazine/unintelligent-design.html
[6] Yulsman T. “Why do men have nipples?” Science Digest 1982; 90(1):104.
[7] Endersby J. Pointless. [Nov. 1995]. “Last Word.” New Scientist 1995; Supplement, p. 49.
[8] Carazo P. “Why do men have nipples?” Mètode News, 2012. Disponível em:http://metode.cat/en/Metode-s-Whys-and-Wherefores/Per-que-els-homes-tenen-mugrons
[9] Le Page M. “Evolution myths: Everything is an adaptation.” [Abr. 2008]. Seção: “Life”,New Scientist, 2008. Disponível em: http://www.newscientist.com/article/dn13615-evolution-myths-everything-is-an-adaptation.html#.VXgBuvlVj2M
[11] Oger AS, Boukerrou M, Cutuli B, Campion L, Rousseau E, Bussières E, Raro P, Classe JM. “Male breast cancer: prognostic factors, diagnosis and treatment: a multi-institutional survey of 95 cases.” Gynecol Obstet Fertil. 2015; 43(4):290-6.
[12] Haeckel E. The Evolution of Man. 5 ed., vol. 1, New York: Putnam, 1905, p.269. Disponível em: http://catalog.hathitrust.org/Record/002001069
[13] Darwin CR. The descent of man, and selection in relation to sex. Vol. 1, 1 ed. London: John Murray, 1871.
[14] Kunz TH, Hosken DJ. “Male lactation: why, why not and is it care?” Trends in Ecology & Evolution 2009; 24(2):80-85.
[15] Anoop TM, Jabbar PK, Pappachan JM. “Lactation associated with a pituitary tumour in a man.” CMAJ. 2010; 182(6): 591.
[16] Masters W, Johnson V. Human Sexual Response. Boston: Little, Brown e Co., 1966.
[17] Sloand E. “Pediatric and adolescent breast health.” Lippincotts Primary Care Practice 1998; 2(2):170–175.
[18] Sykes PA. “The nerve supply of the human nipple.” J. Anat. 1969; 105(Pt 1):201.
[19] Robinson JE, Short RV. “Changes in breast sensitivity at puberty, during the menstrual cycle, and at parturition.” British Medical Journal 1977; 1(6070):1188–1191.
[20] Kapdi CC, Parekh NJ. “The male breast.” Radiology Clinical North America 1983; 21(1):137–148.
[21] Sarhadi NS, Lee FD. “An anatomical study of the nerve supply of the breast, including the nipple and areola.” British J. Plastic Surgery 1996; 49(3):156–164.
[22] Sarhadi NS, Shaw-Dunn J, Soutar DS. “Nerve supply of the breast with special reference to the nipple and areola: Sir Astley Cooper revisited.” Clinical Anatomy 1997; 10(4):283–288.
[23] Wuringer E, Mader N, Porsch E, Holle J. “Nerve and vessel supplying ligamentous suspension of the mammary gland.” Plastic and Reconstructive Surgery 1998; 101(6):1486–1493.
[24] Stoppard M. The Breast Book: The Essential Guide to Breast Care & Breast Health for Women of All Ages. New York: Dorling Kindersley, 1996.
[25] Zubin J, Money J. Contemporary Sexual Behavior. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1973.
[27] Aiache AE. “Male chest correction. Pectoral implants and gynecomastia.” Clinical Plastic Surgery 1991; 18(4):823–828.
[28] Vasconez HC, Holley DT. “Use of the tram and latissimus dorsi flaps in autogenous breast reconstruction.” Clinical Plastic Surgery 1995; 22(1):153–166.
[29] DeBono R, Rao GS. “A simple technique for correction of male nipple hypertrophy: the ‘sinusoidal’ nipple reduction.” Plastic Reconstruction Surgery 1997; 100(7):1890–1892.
[30] Liebau J, Machens HG, Berger A. “Gynecomastia of the male nipple.” Annuals of Plastic Surgery 1998; 40(6):678–681.
[31] Bergman J. “Is the human male nipple vestigial?” Journal of Creation 2001; 15(2):38-41.
Fonte: Criacionismo.