O ativismo gay e a apologética evolucionista
No mês de fevereiro [de 2013], após a polêmica entrevista concedida por Silas Malafaia à jornalista Marília Gabriela (confira aqui), o biólogo ateu Eli Vieira postou no YouTube um vídeo que teve milhares de visualizações. Em julho, postei um texto sobre ele e a Atea (confira aqui). Recentemente, Eli concedeu entrevista a um blog LGBT na qual afirma categoricamente ser gay e reafirma sua opinião de que o homossexualismo é mais herdado do que adquirido. Quando perguntado sobre por que decidiu postar o vídeo, ele respondeu: “Eu decidi fazer o vídeo por três motivações, em ordem de importância naquele momento: porque detesto abuso e distorção de conhecimento científico, porque tenho real compromisso com meus valores como humanista, e porque também sou um homem gay e tenho direito de resposta.” Aí está. Só acho que a ordem de importância está invertida… Eli vive dizendo que a religião move as ações dos criacionistas. No caso dele, parece que é a bandeira do ativismo gay. Como se pode ver mais uma vez, subjetividades, preferências, opções, conceitos e preconceitos acometem a todos, inclusive criacionistas e evolucionistas.
Eli disse, também, que “as pessoas variam quanto ao tempo que levam para aplicar seu conhecimento de que não há nada de errado em ser gay ou lésbica para eliminar o sentimento de culpa em sua vida amorosa e sexual. Algumas pessoas se livram completamente disso com o tempo – eu diria que a maioria, depois de alguns anos. Mas infelizmente há aqueles que foram tão profundamente marcados por uma educação homofóbica agressiva que podem levar décadas para se sentirem confortáveis em serem o que são”.
Sei que ele não vai gostar da comparação (e a faço sem qualquer ranço homofóbico, que não tenho, e consciente de que talvez não seja a mais apropriada), mas o que dizer de alguém que nasceu com propensões para o alcoolismo e não quer ser alcoólico? Deve se entregar também ao vício? O que dizer de outras índoles herdadas, mas que são repudiadas pelo herdeiro? Ele deve aceitar esse determinismo genético? E se a pessoa não quiser se entregar ao estilo de vida homossexual, ainda que tenha tendências para isso?
Eli chega a admitir seu comportamento homossexual, ao dizer que “é muito difícil estar em Cambridge e ignorar o clima de aceitação da diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero. Não é incomum ir a pubs onde por acaso está havendo uma reunião de transexuais, e nas baladas não há constrangimento em um casal do mesmo sexo se beijar no meio de uma maioria de heterossexuais: eu já fiz isso”.
E diz mais: “Eu não acredito que os fundamentalistas realmente conseguirão num futuro próximo tomar o poder no Brasil. Não conseguirão indefinidamente infiltrar um Estado laico com leis explicitamente inconstitucionais para privilegiar sua fé. Infelizmente já há leis assim em funcionamento, como a lei estadual 5998/11 do Rio de Janeiro, proposta pelo deputado Edson Albertassi (PMDB) e assinada pelo governador Sérgio Cabral, que obriga as bibliotecas públicas a ter Bíblia. Isso vai de encontro ao Artigo 19 da Constituição, pois é subvenção estatal do cristianismo.”
E que dizer do infame “Kit Gay” que o governo tentou levar para as escolas? Não seria subvenção estatal do estilo de vida homossexual? Combate à homofobia é uma coisa, apologia do homossexualismo é outra. E o que dizer do PL122, que acabaria obrigando os discordantes do estilo de vida homossexual a calar a boca, numa clara violação ao direito de liberdade de expressão? Por que não posso me declarar contra as práticas homossexuais, ao mesmo tempo em que defendo a liberdade de as pessoas viverem como bem entendem?
“Ser homossexual foi acidente”, diz Eli, “mas como houve uma tentativa de uma cultura, de uma criação e até de mim mesmo de me fazer ter vergonha de sê-lo, tenho orgulho e incentivo outros LGBT a afirmarem seu orgulho, porque sabemos bem que ainda é difícil, então há mérito nesta afirmação e em viver com ela, e mérito justifica orgulho. Não há nenhum mérito em ser heterossexual numa cultura que não apenas aceita como incentiva isso exageradamente ao ponto de impelir quem não é hetero a se esconder, por isso não fazem sentido afirmações de orgulho hetero: soam muito mais como provocação às conquistas e reivindicações dos LGBT.”
Realmente é bobagem ter orgulho de ser hetero, como também é bobagem ter orgulho de ser homo. E quem deixou isso bem claro foi o deputado homossexual Clodovil Hernandes, que recebeu vaias durante o lançamento da frente parlamentar em defesa de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, na Câmara dos Deputados (veja o vídeo). Ele disse: “Eu não gosto da parada do Orgulho Gay. Não me orgulho de ser gay. Orgulho-me de ser eu mesmo. E sou contra uma pessoa se travestir de mulher e ir para a prostituição.”
No fim da entrevista, Eli apela para um líder religioso: “Como disse Allan Kardec sobre a codificação religiosa espírita, se esta disser uma coisa e a ciência disser outra, a razão provavelmente está com a última. Felizmente, é perfeitamente possível fazer oferenda a Iemanjá sem extinguir os peixes, adorar Alá sem negar a evolução biológica e louvar a Jesus sem inventar que o DNA tem mensagens divinas, sem inventar ‘gene africano’ ou mostrar ignorância atacando um ‘gene gay’ que jamais foi proposto a sério por geneticistas (por saberem que o número de genes que participam é bem maior que um). E também é plenamente possível ser religioso sem ordenar que as mulheres se calem, que os homossexuais se escondam e que o Estado privilegie suas crenças particulares.”
É muito comum pessoas que se sentem acuadas e agredidas partirem para o ataque e para comparações descabidas. E o histórico de Eli de combate às religiões já vem de longa data, conforme atestou no Facebook Ernane Garcia: “Conheço o Eli Vieira desde os tempos do Orkut, época em que eu tinha lá meus 15 anos. Acompanhei sua ‘evolução’ intelectual de perto, desde que ele iniciou a graduação em biologia, na UnB, pois participei dessa geração neoateísta. Éramos fanáticos pela leitura de Epicuro, David Hume, Bertrand Russell, Isaac Asimov, Carl Sagan, Richard Dawkins e outros. Adorávamos passar horas em comunidades de ceticismo e ateísmo ‘refutando’ a argumentação dos religiosos. Estávamos convencidos de que Deus não existia ou de que não havia nenhuma evidência a seu favor e, ademais, de que a religião era prejudicial à humanidade. Li toda essa besteirada cética e materialista até os meus 18 anos, até me deparar com o livro de Dawkins, The God Delusion, cuja leitura me provou o contrário: Deus existe. Nessa época, já tinha um conhecimento razoável de metafísica, teologia e lógica, que me permitiu reconhecer as falácias do biólogo inglês. Eli, pelo contrário, não evoluiu. Não estudou as críticas à sua visão ateísta do mundo. Movido por um ódio irracional à religião e à Igreja, caminhou ‘progressivamente’ à esquerda, por mera pirraça, dando atenção única e exclusivamente ao pensamento cético, materialista e ateu. É apenas isso que o Eli sabe de filosofia: somente aquilo que alimenta a justificação de seu ódio à fé, ou seja, uma ínfima parte praticamente insignificante de toda a filosofia ocidental.”
Interessante a análise de Ernane, mas não creio que os ataques de Eli à fé sejam movidos unicamente por “pirraça”. Analisando sua postura atual e o fato de ter-se assumido ainda mais explicitamente homossexual, sou obrigado a concordar com Julian Huxley: “A razão de nos lançarmos sobre A Origem das Espécies é que a ideia de Deus interfere com nossos hábitos sexuais.”
Fonte: Michelson Borges.