O dízimo e as cartas de Paulo
Hipóteses:
H1 Paulo afirmou que o dízimo não existia mais.
H2 Paulo afirmou que o dízimo ainda vigorava.
H3 É razoável acreditar que o sistema dízimo-ofertas do AT foi mantido na/adaptado a fase apostólica do povo de Israel (o Israel espiritual, pós-santuário e serviços sacrificais), por meio dos escritos paulinos.
H4 Quem dizima e quem recebe o dízimo, hoje em dia, não obedece à Bíblia.
Investigação:
I Coríntios 9
1 Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?
2 Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.
3 A minha defesa perante os que me interpelam é esta:
4 não temos nós o direito de comer e beber?
6 Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?
7 Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?
8 Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei?
9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?
10 Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida.
11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?
12 Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo.
13 Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento?
14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho;
15 eu, porém, não me tenho servido de nenhuma destas coisas e não escrevo isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória.
Evidência 1 Paulo abdicou de receber honorários daqueles a quem ensinou o evangelho de Cristo. Ora, mas ele deixa claro que quem não o imitava, não cometia erro algum, pois, de acordo com ele, “ordenou […] o Senhor” (v. 14) que os evangelistas poderiam/deveriam viver do evangelho, ou seja, receber pelo trabalho da pregação do evangelho.
Mais investigação:
I Tessalonicenses 2
7 Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos;
8 assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados de nós.
9 Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus.
10 Vós e Deus sois testemunhas do modo por que piedosa, justa e irrepreensivelmente procedemos em relação a vós outros, que credes.
I Timóteo 5
17 Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino.
18 Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário.
II Coríntios 11
7 Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus?
8 Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir,
*9 e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado* a ninguém; pois *os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava;* e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser pesado.
Evidência 2 Paulo recebeu salário nalguns lugares, mas não em Corinto.
As evidências levam a construção da seguinte teoria:
Teoria 1 Paulo reconhecia que um ministro do evangelho tinha o direito instituído pelo Senhor de receber por seu trabalho em ensinar, e ele mesmo fez uso dessa ordenança divina. Por outro lado, em Corinto ele escolheu se manter por conta própria, em vez de ser mantido por seus aprendizes.
Mas, aonde que o Senhor Jesus instruiu Paulo quanto a esse direito? E esse salário ou essa manutenção tinha alguma relação com o dízimo do AT?
I Timóteo 5
18 Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário.
I Coríntios 9
9 Porque na *lei de Moisés* está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?
A referência “as Escrituras” e a “lei de Moisés” remetem ao AT. Isso não é forçar o texto, pois não existiam os livros do NT, antes, estavam em construção. Ou seja, Paulo se referiu intencionalmente ao AT nessas passagens. E como viviam os ministros do evangelho no AT (na fase dos símbolos do santuário, antes da fase apostólica)?
Números 3
5 Disse o SENHOR a Moisés:
6 Faze chegar a tribo de Levi e põe-na diante de Arão, o sacerdote, para que o sirvam
7 e cumpram seus deveres para com ele e para com todo o povo, diante da tenda da congregação, para ministrarem no tabernáculo.
8 Terão cuidado de todos os utensílios da tenda da congregação e cumprirão o seu dever para com os filhos de Israel, no ministrar no tabernáculo.
9 Darás, pois, os levitas a Arão e a seus filhos; dentre os filhos de Israel lhe são dados.
10 Mas a Arão e a seus filhos ordenarás que se dediquem só ao seu sacerdócio,
Neemias 10
38 O sacerdote, filho de Arão, estaria com os levitas quando estes recebessem os dízimos, e os levitas trariam os dízimos dos dízimos à casa do nosso Deus, às câmaras da casa do tesouro.
Ou seja, os ministros do AT viviam do dízimo. Portanto, implicitamente (mas não explicitamente) Paulo usa as Escrituras ou a lei mosaica para fundamentar o direito do ministro do evangelho no NT de receber honorários daqueles a quem serve assim como ocorria com os ministros do AT. E, obviamente, no AT o dízimo cumpria esse papel.
I Tessalonicenses 2
7 Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos;
II Coríntios 11
8 Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir,
Talvez a citação de Jesus a seguir (usada por Paulo em I Tm 5.18), nos ajude. Talvez.
Lucas 10
7 Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; porque digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis a mudar de casa em casa.
Jesus Cristo associa a manutenção dada ao pregador do evangelho ao salário de um trabalhador, um profissional de outro ramo. Paulo fez o mesmo e disse que isso era ordem de Cristo (como vimos em I Co 9.14). E qual a intenção de Cristo ao falar sobre a manutenção/o salário do professor do evangelho? Será que Ele tinha em mente uma ajuda esporádica, não planejada (esmola)? Ou algo planejado e regular?
Talvez algo planejado e regular como o dízimo, pois Ele autoriza a continuação deste, pelo menos é o que vemos antes da cruz:
Lucas 11
42 Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a *justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.*
Estaria Jesus comparando/igualando a obediência do fiel ao devolver os dízimos ao seu dever de ser justo e amável? Talvez sim. Em caso positivo, devolver o dízimo sem ser justo e amável é equivalente a querer ser justo e amável sem devolver o dízimo.
Conclusões:
I) A teoria 1, se estiver bem construída, sobre evidências bem interpretadas, aponta na direção da hipóteses H3: “É razoável acreditar que o sistema dízimo-ofertas do AT foi mantido na/adaptado a fase apostólica do povo de Israel (o Israel espiritual, pós santuário e serviços sacrificais), por meio dos escritos paulinos.”
II) H2 está implícita, não explicita, nos escritos paulinos.
III) Pelas investigações sucintas desta pesquisa, fica claro que H1 e H4 não são verdadeiras. Pelo menos se a teoria 1 for sólida.
IV) O senhor Jesus concordou com os dízimos antes da cruz e não mencionou qualquer alteração de Seu ponto de vista divino com relação a este tema após Sua morte. E Paulo se baseia nEle para equiparar o ministério evangélico no NT ao do AT, o que nos permite fazer a inferência de que o dízimo era o salário/honorário/manutenção do professor do evangelho no NT, como afirmam H2 e H3. (Hendrickson Rogers)