Evolução teísta: uma opção válida?
A questão da evolução teísta como uma opção válida contém implicações teológicas para a crença cristã histórica e, nesse contexto, para a teologia adventista em particular. Começamos esclarecendo esses três elementos, que vão proporcionar o arcabouço de nossa discussão.
Evolução Teísta
A evolução teísta é a visão de que, na história do Universo, o desenvolvimento evolutivo, quer físico, quer biológico, envolveu intervenção divina, embora mínima. Uma boa definição de evolução teísta é apresentada por Francis Collins, destacando seis elementos fundamentais de sua cosmovisão: [1]
1. O Universo veio à existência, do nada, há uns 14 bilhões de anos.
2. Embora improvável, ele parece “finamente ajustado para a vida”.
3. No transcorrer de longas eras, a vida, de maneira misteriosa, veio a existir e, mediante a evolução, desenvolveu diversidade e complexidade biológica.
4. Nenhuma intervenção sobrenatural se fez necessária, uma vez tendo iniciado a evolução. [2]
5. Os seres humanos são parte desse processo, participando da ancestralidade comum com os grandes símios.
6. A singularidade humana é provada por nossa natureza espiritual: consciência universal da lei moral e um igualmente universal anseio por Deus. [3]
Crença Cristã Histórica
A crença cristã histórica é a crença enraizada na centralidade de Jesus e Seus ensinos conforme toda palavra de Deus (Mt 4:4, 7, 10; Dt 8:3). Para o cristianismo histórico, a Bíblia é a eterna Palavra escrita de Deus (Is 40:6-8), e Jesus é a Palavra que se tornou carne (Jo 1:1-3, 14). A partir da Palavra Escrita, a cristandade entende que o Universo inteiro é produto da ordem de Deus (Hb 11:3), de modo que os fenômenos da natureza são um terceiro livro, do qual se pode aprender sobre Seu poder e propósitos. A obra de Martin Hanna sobre ler os três livros de Deus é instrutiva. Hanna mostra que a epistemológica primazia da Escritura, a ontológica primazia de Jesus e a primazia cronológica e contextual da natureza merecem nosso respeito. [4] Vivemos no contexto da natureza, existente antes que as Escrituras fossem escritas e o Deus encarnado se revelasse. Jesus é a suprema revelação do Pai, mas a Bíblia é de igual modo a declaração feita pelo próprio Deus sobre a verdade e os princípios de vida legados à humanidade.
Teologia Adventista
Brevemente declarada, a teologia adventista só é compreendida de forma plena no contexto da própria crença cristã histórica, e também se deriva apenas da Bíblia, resultando na fé no Criador, Senhor e Salvador ali revelado. A teologia adventista reconhece o caráter imutável de Deus, expresso nos permanentes e universais Dez Mandamentos do Sinai. Embora os cristãos em geral tenham por essa lei moral a mais alta consideração, os adventistas do sétimo dia, especificamente, consideram a natureza sagrada do sétimo dia da semana como sinal do poder criador e redentor de Deus (Ez 20:12, 20), conforme está realçado no quarto mandamento.
Embora os cristãos tenham sempre conhecido Deus como um Deus do juízo, os adventistas reconhecem, no ensino bíblico do santuário, um esboço do plano divino para santificar Seu povo e para libertar o Universo do pecado. A teologia adventista entende as três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6 a 12 como a mensagem do juízo do tempo do fim, apontando para trás e para frente — para trás, ao sábado da criação e ao juízo universal passado no dilúvio, e para frente ao clímax final da história e ao último juízo. A crença no segundo e iminente retorno de Cristo dá a razão para a ênfase “adventista” no nome Adventista do Sétimo Dia.
Deve-se ressaltar que as ênfases teológicas adventistas “distintivas” só fazem sentido no contexto da crença cristã histórica corretamente entendida e na centralidade da fé em Jesus.
Abordagem Pormenorizada da Crença Cristã Histórica
Como a crença cristã histórica é fundamental e o adventismo uma expressão denominacional específica do cristianismo básico, e como a teologia adventista é agora considerada por alguns como uma articulação potencial da crença cristã histórica, esta última requer uma abordagem mais pormenorizada, contra a qual julgar as alegações da evolução teísta (e do adventismo). Após essa abordagem, concentro-me (a) na hermenêutica da evolução teísta, (b) na principal razão de ser da evolução teísta e (c) na dissonância entre a evolução teísta e doutrinas cristãs específicas.
Como já foi declarado, a fonte e o foco da doutrina e do comportamento cristão é Jesus Cristo, apresentado nas Escrituras como o Filho ungido de Deus e o Redentor da humanidade (1 Co 2:2). A evolução teísta parece entender isto: “O cristianismo, como o nome sugere, diz respeito, primariamente, a Cristo” [5]. Jesus também é chamado Cristo porque acredita-se ser Ele o ungido do Espírito de Deus, posto para morrer em uma cruz, mas ressuscitado ao terceiro dia, em cumprimento a muitas profecias do Antigo Testamento e agora apontado por Deus como Juiz dos vivos e dos mortos (At 10:38-43).
Em alguns poucos anos, se falaria muito sobre os seguidores do Jesus ressurreto, que ensinaram “o caminho de Deus de acordo com a verdade” (Mt 22:16; Mc 12:14), e passariam a ser chamados de “cristãos” (At 9:2; 11:26). O rótulo foi a princípio aplicado a um grupo de pessoas que receberam o evangelho na população helenista na cidade de Antioquia da Síria, no contexto de uma proclamação destemida, impactante e sistemática do evangelho (At 11:19-26). [6] O livro de Atos revela, repetidas vezes, que os primeiros cristãos eram dedicados seguidores de Cristo e que, inequivocamente, davam testemunho da morte e ressurreição de Jesus. Esse testemunho, levado ao mundo conhecido da época com grande rapidez, é a pedra de toque do cristianismo autêntico.
O foco deste capítulo não permite uma abordagem adicional sobre os primeiros tempos do cristianismo. Entretanto, nenhuma discussão quanto ao significado da evolução teísta para a crença cristã histórica é prática sem a consciência de que o cristianismo histórico é um corpo de crenças humanamente inconcebível, conhecido apenas por revelação sobrenatural, que invade, esclarece e transforma a humanidade. Não é uma negação de categorias humanas, mas uma demonstração do poder divino além de categorias e expectativas humanas. E, mais do que tudo, é cristão porque está enraizado em sua figura central, Jesus Cristo, Senhor de todos.
O significado de Cristo para a realidade do cristianismo histórico é demonstrado com ousadia na mais antiga formulação conhecida de suas crenças fundamentais. O Credo Apostólico, conhecido primeiro em Roma, c. 170 d.C., e subsequentemente desenvolvido ao longo de vários séculos, afirma o papel de Deus como criador e então dedica o cerne de sua confissão e mais da metade de sua declaração completa à pessoa de Jesus Cristo:
Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso,
Criador dos céus e da Terra.
Creio em Jesus Cristo, Seu único Filho, nosso Senhor,
o qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da virgem Maria;
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu ao Céu;
está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja universal,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição do corpo,
na vida eterna. Amém. [7]
Essa centralidade de Cristo, a Palavra Encarnada, tem seu paralelo na consideração da cristandade para com as Escrituras, a Palavra escrita que confirmou sua existência e testificou de sua vida e ensinos. No encontro em Emaús, registrado por Lucas, Cristo não atraiu a atenção para Sua pessoa ressuscitada, como bem poderia ter feito. Em vez disso, recapitulou com os dois discípulos o testemunho da Bíblia acerca de Sua messianidade (Lc 24:27). Pouco depois disso, explicou: “São estas as palavras que Eu vos falei, estando ainda convosco”. Ele insistiu: “Importava que se cumprisse tudo o que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (v. 44). Para Jesus, o Antigo Testamento falava essencialmente a Seu respeito. [8] O cristianismo contemporâneo, do mesmo modo, deve se concentrar em Cristo se deseja seguir sua direção ao defender a autoridade e o ensino da Palavra escrita.
Evolução Teísta: Algumas Considerações Hermenêuticas
Este capítulo prossegue sobre a base de que a Bíblia é o único e supremo documento da fé cristã. Seu testemunho, assim como a vida de Jesus, é internamente coerente, e seus ensinos, como já se indicou, são a pedra de toque da crença cristã, o cânon pelo qual essa crença é julgada, como outros escritores já demonstraram neste livro [demais capítulos da obra No Princípio]. Como se relaciona a evolução teísta com esse fundamento hermenêutico?
A evolução teísta, como se desenvolveu até agora, é vista, pelo menos em um sentido, como uma reação teísta a uma teodiceia deísta expressa por meio da evolução:
Charles Darwin […] apresentou o que podemos chamar de teodiceia da evolução, que distanciou o Criador do mal natural assim como Milton distanciou o Criador do mal moral. […] A cosmovisão de Darwin não foi revolucionária, mas Darwin encontrou, sim, uma forma de descrever sua cosmovisão usando termos científicos. A ideia de que Deus deve manter-se à parte separado da criação torna-se, agora, respeitável. Com a evolução, o selo de aprovação da ciência deu crédito adicional a ideia de um Deus distante. [9]
A evolução teísta e a crença cristã histórica têm elevada consideração para com o livro divino da natureza. Coerentemente com a alegação bíblica de que a natureza revela a glória de Deus (SI 19:1; Rm 1:20), William Dembski declara que “Deus deu à humanidade duas fontes primárias de revelação a Seu respeito: o mundo que Ele criou, e a Escritura que Ele inspirou”. [10] Como tal, a evolução teísta se vê como uma defesa contra o ateísmo, reagindo contra a tese de que Deus nenhum teria criado o mundo que conhecemos. A hermenêutica da evolução teísta procura reconciliar o caos do cenário evolucionista com a ordem da revelação bíblica e o amor do Deus bíblico. A partir de uma leitura da evolução teísta, diz-se que o texto bíblico estabelece uma divindade real em oposição ao ateísmo, um Deus que Se mantém à parte da natureza em oposição ao panteísmo, e uma deidade única, em lugar do politeísmo de nações vizinhas.
A evolução teísta contrasta com o deísmo, no qual Deus nada tem que ver com o Universo desde que deu corda ao Seu relógio há bilhões de anos, e com a crença em uma criação recente, na qual Deus criou o que conhecemos como a ordem bioquímica da vida aqui na Terra, há uns poucos milhares de anos. A observada objetividade da ciência domina a hermenêutica da evolução teísta, exercendo influência definitiva sobre a interpretação da Escritura.
Entretanto, a ansiedade da evolução teísta em se identificar com o sobrenatural, enquanto insiste na confiabilidade e até na prioridade da observação humana, parece incongruente. Vamos analisar três aspectos da questão. Primeiramente, conforme o dogma de Stephen Jay Gould, de magistérios não interferentes, [11] “uma ciência orientada de forma matemática é plenamente justificável, independente e autônoma. Nenhum teólogo ou clérigo deve questioná-la com referência a uma autoridade mais elevada (Deus, a Bíblia, o papa, a Igreja)”. [12] Na verdade, como Carl Raschke se expressou, “talvez o mais formidável obstáculo para o pensamento teológico seja o desafio epistemológico apresentado pela ciência moderna”. [13] Conforme esse ponto de vista, a ciência e suas perguntas empíricas não devem ser confundidas com coração humano e suas preocupações existenciais, morais e éticas, às quais a Bíblia, como livro religioso, pode ter a permissão de falar.
Infelizmente, para aqueles que tentam essas distinções de categoria, a questão das origens é, acima de tudo, uma questão existencial, ou, na verdade, uma série de questões existenciais: De onde vieram a vida e os seres humanos? Por que e como estamos aqui? Qual é o nosso destino, se que há algum? Essas são, todas, questões existenciais. Embora científicos, os processos de análise da molécula do DNA, a descrição do que ela faz de que é composta, dificilmente respondem às perguntas existenciais. Porém, quando a evolução ateísta afirma que não existe propósito no DNA, apresenta uma resposta um tanto existencial ou talvez antiexistencial.
Também se pode declará-la como uma inverdade, já que há um propósito funcional na molécula. Em tudo isso, a maior ironia deve ser o emprego da razão para provar a ausência de sentido na vida. A resposta contrastante da evolução teísta, no sentido de que Deus está envolvido, deixa perplexos, com razão, tanto ateus quanto outros a quem a evolução teísta convenceria de suas credenciais científicas. Esse é apenas um aspecto da peculiaridade científica da evolução teísta.
Um segundo aspecto é a pergunta necessária, mas difícil, sobre por que, em um determinado ponto do processo de desenvolvimento evolutivo, permite-se legitimamente a intervenção divina. Considerando a aura científica da evolução teísta, como determina ela, cientificamente, esses momentos da atividade divina, tão essenciais para sua tese básica? [14] Em resumo, como harmonizar a evolução com a intervenção divina? O espaço limita nossa busca pela resposta. No entanto, a pergunta é suficiente, em si mesma, para salientar o problema.
A terceira inquirição também é muito importante. Como pode um paradigma, designado a explicar todas as coisas sobre base naturalística, enquanto admite a intervenção divina, alegar que elimina o miraculoso ao demonstrar seu naturalismo? Essa conclusão demonstra a capacidade humana do arrazoado circular. Uma rejeição a priori de explicações miraculosas garante que, no fim, não se aceitará nenhuma explicação miraculosa. É difícil identificar qual doutrina cristã ou qual elemento essencial da crença cristã histórica é salientado por uma associação solidária com essa combinação intelectualmente atordoante de dedicação tanto à objetividade naturalística quanto ao sobrenaturalismo.
A Evolução Teísta e a Doutrina da Escritura
Começamos agora uma discussão mais profunda do impacto da evolução teísta sobre a crença cristã histórica, com uma análise de sua relação com a doutrina da Escritura. De acordo com Phillip Johnson, a piedade e a ciência permanecem separadas para muitos hoje por causa da crença de que maneiras diferentes de pensar governam os tópicos religioso e secular. [15] Entretanto, o modo evolucionista de pensar se enraíza “em uma história da criação não reconhecida”, [16] um tipo de religião materialista:
No princípio, havia as partículas e as leis impessoais da física.
E as partículas, de algum modo, tornaram-se matéria viva complexa;
E a matéria imaginou um Deus;
Mas depois descobriu a evolução. [17]
Tanto os defensores quanto os oponentes da teoria da evolução concordam que, para se harmonizar a evolução com a Bíblia, é necessário rejeitar ou reinterpretar de forma radical a Escritura cristã. Essa rara harmonia pode ser examinada sobre múltiplas bases, [18] das quais tomaremos apenas uma, a saber, o argumento em favor da descendência com modificação. O argumento da “progênie”, que abordaremos brevemente, a despeito de alguma tentativa de ligá-lo com Gênesis 2:7, permanece estranho à crença cristã baseada no relato de Gênesis. Como Aquino sabia, a criação ex nihilo não poderia ser filosoficamente demonstrada. Para ele, como para todo seguidor de Jesus Cristo, essa é uma questão de fé na revelação divina. [19] Considere, então, como a fé cristã contrasta com a fé manifestada pela evolução teísta na teoria darwinista das origens da vida.
A evolução darwinista (e o neodarwinismo) insiste em que o desenvolvimento da vida sobre a Terra envolveu “uma lenta e gradual modificação [de formas de vida] mediante descendência e seleção natural”, em lugar da “ideia comum da imutabilidade das espécies”. [20] De acordo com a teoria, formas de aparência mais recente são “mais altamente desenvolvidas” que as anteriores, como Darwin também escreveu. [21] A ideia de Darwin expõe a ignorância do ensino bíblico que ele se sente constrangido a desafiar. A referência à “ideia comum da imutabilidade das espécies” diz respeito à má compreensão popular do ensino da Bíblia sobre a criação “segundo a sua espécie”. [22] Dito de modo simples, e a despeito de gerações de ataques de evolucionistas, a Bíblia não ensina a fixidez das espécies, mas a falsa acusação continua. A Bíblia, na verdade, não apoia a “fixidez das espécies” nem a teoria da descendência universal de criaturas com modificação a partir de um ancestral comum. Darwin e o relato bíblico são incompatíveis.
Um segundo conceito equivocado, igualmente contrário à Escritura, oculta-se dentro do argumento de Darwin quanto a “descendência”. A confusão emerge em sua definição de superioridade:
As formas modernas devem, segundo a teoria da seleção natural, ser mais elevadas do que as formas antigas; pois cada nova espécie é formada por ter tido alguma vantagem, na luta pela existência, sobre outras formas precedentes. Se se pudessem pôr em concorrência, nas condições de clima quase idênticas, os habitantes da época eocênica com os do mundo atual, estes venceriam os primeiros e os exterminariam da mesma forma também, a flora e a fauna da época eocênica venceriam as formas do período secundário e estes as formas paleozoicas. [23]
O mecanismo evolutivo, para Darwin, produz “mais recentes e vitoriosas formas de vida”, em comparação com as antigas e desgastadas formas. [24] É difícil conceber uma contradição mais clara com o espírito de Jesus Cristo e do cristianismo. A pregação de Darwin quanto à superioridade dos bem-sucedidos na violenta luta pela sobrevivência pode parecer uma lógica atraente para uma “mentalidade segundo a qual o poder tem a razão”. Porém, é contrastante com a mensagem de Cristo. Para Jesus, são os mansos, não os violentos, que “herdarão a terra” (Mt 5:5). O mundo que Ele criou e que por fim será restaurado é um mundo que a evolução não pode compreender, no qual “o lobo habitará com o cordeiro” e criancinhas brincarão com áspides (Is 11:6-9).
A evolução teísta afasta-se do relato de Gênesis e exibe um mal-entendido fundamental do papel e significado da Bíblia, quando argumenta em favor de uma explicação naturalista da história da Terra como sendo compatível com o relato da criação de Gênesis. Pensar assim não dá à Escritura a prioridade, não é autenticamente cristão, além de deturpar o relato do mundo original de Deus. Também não são os mais hábeis eruditos da Terra capazes de explicar, por meios naturalistas, o que aconteceu quando Deus criou os céus e a Terra. A evolução teísta está filosoficamente deslocada em ambos os terrenos.
Alicerçada em explicações naturalistas, a evolução teísta apoia a noção de autonomia no Universo criado. O problema dos paradigmas de pesquisa que investigam a natureza enquanto excluem de maneira categórica explicações sobrenaturais pode ser comparado com o de uma criancinha que investiga seus pais, mas decide, a priori, que eles não podem ser considerados durante a investigação.
A crença cristã, por outro lado, defende que o registro bíblico é o relatório do próprio Criador sobre Seu produto, necessário para a edificação da humanidade. A investigação histórica sempre deu prioridade a inscrições, acima de outros artefatos da Antiguidade. As aulas de pós-graduação em arqueologia me ensinaram que descobrir uma inscrição pode garantir uma nota “A”. Rochas e ossos escavados, seja qual for sua informação química e biológica, continuam mudos. A Bíblia é a “inscrição” de Deus, preservada e coerente. Contém o registro exclusivo de Suas revelações na natureza e em Jesus Cristo. Testifica do fato de ter sido dada por orientação divina pelo mesmo Deus que fez o mundo.
Bart Ehrman, erudito em Novo Testamento que abandonou a fé de sua juventude porque “não podia reconciliar as alegações da fé com os fatos da vida”, [25] apresenta hoje severa crítica à fé cristã primitiva. Sua tese é que o cristianismo somente se tornou um todo unificado depois que pensadores divergentes foram sufocados pelos vencedores em uma batalha de ideias. O Novo Testamento é o inimigo vitorioso em uma batalha contra a justiça democrática da diversidade de opinião. Como tal, seu testemunho é suspeito, já que “você nunca pode confiar nos relatórios do inimigo quanto a uma apresentação justa e imparcial”. [26] O argumento é algo como uma inversão da teoria de Darwin sobre a superioridade do mais forte. Para Darwin, ser bem sucedido na violenta luta pela sobrevivência é ser o melhor. Para Ehrman, o suposto sucesso do cristianismo mediante o triunfo sobre inimigos mais fracos o torna indigno de confiança.
A alegação, embora não seja nova, é de fato equivocada, pois foi a mansa vulnerabilidade do Messias e de Seus seguidores diante dos adversários que levou à Sua crucifixão e ao martírio de milhares na história cristã primitiva. O sangue deles demonstrou ser a semente da igreja. Incrível, também, é que os escritos sagrados do santo Livro de Deus tenham sobrevivido aos seus inimigos, de modo tal que “não há outros documentos remanescentes que sejam tão confiáveis e historicamente próximos de Jesus e dos primeiros dias da igreja como os escritos incluídos no NT”. [27]
Johannes Geldenhuys explica como isso chegou a acontecer:
“O fato, como o de que Jesus possui suprema autoridade divina […], dá-nos a certeza de que o Senhor de toda a autoridade teria providenciado para que […] um relato adequado e completamente confiável de […] Sua vida e obra fosse escrito e preservado para as épocas vindouras”. [28]
Em resumo, a verdade revelada desses escritos é que eles são a revelação sobrenatural de realidades sobrenaturais. [29]
Se a evolução teísta fosse uma autêntica opção para a crença cristã, ela deveria ser solidária com as alegações da Escritura a respeito de suas verdades reveladas por meio do sobrenatural, incluindo sua posição sobre as origens. Qualquer coisa inferior a isso é uma dicotomia ilógica. Porém, é a esse mesmo sobrenaturalismo que a evolução teísta resiste, com sua história naturalista das origens. Na realidade, a evolução teísta permite que a narrativa bíblica da criação signifique certas coisas não demonstráveis cientificamente acerca de Deus.
Ao mesmo tempo, a despeito do cuidadoso detalhe de sua narração, não se permite que Gênesis signifique o modo como Deus criou ou o tempo que levou o processo de criação. Contra essa posição, uma ampla fileira de exegetas bíblicos e filólogos seculares tem insistido em que o relato de Gênesis 1 pretende ser um relato literal de um evento histórico irrepetível. [30] A evolução teísta se relaciona com a doutrina da Escritura com a pretensão de controlar a liberdade divina de realizar milagres. Rejeita a explicação de Adão e Eva como literais, criados maduros alguns milhares de anos atrás, estabelecendo, em vez disso, paradigmas naturalistas aos quais a realidade deve conformar-se.
A Evolução Teísta e a Doutrina de Deus
O Deus da Bíblia — cujo mistério da Trindade a evolução teísta não entende — esmaga a pequena e mecanicista deidade acidental a quem, como Christopher Hitchens sarcasticamente reconhece, a evolução teísta ofereceria sua adoração:
Aqueles que têm cedido, não sem lutas, à esmagadora evidência da evolução, estão agora procurando atribuir-se uma medalha por sua aceitação da derrota. A própria magnificência e variedade do processo, desejam eles agora dizer, argumenta em favor de uma mente que dirige e origina. Deste modo, escolhem fazer de palhaço o seu pretenso deus. E fazem com que ele seja um remendão, um simulador e um tolo, que levou éons de tempo para modelar umas poucas figuras aproveitáveis e, enquanto isso, empilhou sucata e tentativas fracassadas em um ferro-velho. Não têm eles mais respeito pela divindade do que isso?! [31]
Por contraste com a divindade geradora de morte da evolução teísta, o Deus onipotente da Escritura gera a vida sem necessidade de ferramentas ou matéria-prima. Até o uso de uma semana para a criação prova que Seu poder criador não depende do tempo mais do que da matéria ou do acaso. Certamente, Ele não necessita da morte a fim de trazer a vida à existência. Não precisa de nada. Ele dá a todos a vida, a respiração e tudo mais (At 17:25).
A história do Êxodo apresenta um notável exemplo do miraculoso poder do soberano Deus visto primeiramente na criação. Comissionado a enfrentar Faraó e libertar o povo de Deus, Moisés é dotado com o poder de realizar milagres: “Quando voltares ao Egito”, instrui o Senhor, “vê que faças diante de Faraó todos os milagres [mofetim] que te hei posto na mão” (Ex 4:21). Dando-lhe a garantia da onipotência divina, o Senhor ilustra Seu poder e transcendência: “Que é isso que tens na mão?”, pergunta Deus. “Um bordão”, responde Moisés (v. 2). “Então, lhe disse [wayyo’mer]: Lança-o na terra. Ele o lançou na terra, e o bordão virou [wayehi] uma serpente” (v. 3). Os elementos gramaticais e sintáticos da história desse milagre aparecem juntos apenas três vezes no Antigo Testamento. A primeira ocorre na história da criação, Gênesis 1:3, 6 e assim por diante, com suas indiscretas raízes verbais, “dizer/ordenar” (‘amar) e “ser/tornar-se” (hayah), à medida que Deus fala e a matéria e a vida passam a existir.
O valor exegético de se comparar Êxodo 4:2 e 3 e Gênesis 1:3 em diante está na raridade dessas combinações verbais na Bíblia hebraica. Embora suas raízes (‘amar e hayah) e formas (wayyo’mer e wayehi) sejam comuns no Antigo Testamento, em nenhuma passagem além dessas três na Bíblia hebraica — sendo a terceira no Salmo 33 — são apresentadas nesse relacionamento narrativo. Difícil ser coincidência que todas as três passagens relatem a mesma atividade, como declarada pelo salmista: “Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir” (SI 33:9).
À parte do tema, vocabulário e sequência sintática comuns, o hebraico do Salmo 33:9 exibe um relacionamento notável com o relato da criação em Gênesis. Usando os mesmos verbos, o Salmo 33 testifica uma vez mais quanto ao modo da criação. Aqui, a combinação dos termos é provocativa por causa daquilo que o escritor omite. Pois, enquanto em Gênesis o verbo ‘amar introduz a fala divina, “E disse: Produza a terra relva […]”, com o salmista ele não introduz nada, pelo menos não de forma explícita. Em vez disso, a despeito de versões que traduzem o Salmo 33:9 como “Ele falou”, o que o salmista na verdade usa é a palavra da criação em Gênesis, “disse”, como segue: “Ele disse, e tudo se fez”. [33] Levando em conta a assumida familiaridade dos leitores com a Torá, o salmista considera desnecessário dizer mais, permanecendo enigmaticamente misterioso.
A Bíblia sustenta essas verdades básicas sobre a doutrina da criação e a doutrina de Deus até o fim. Entender que Deus trouxe o mundo à existência simplesmente por falar (Hb 1:2) apresenta tanto os fatos sobre as origens da matéria quanto a impressionante verdade acerca do originador da matéria. A ciência, hoje, é tão incapaz de perscrutar esse Deus ou de dar razão das maravilhas da flora e da fauna, que Ele trouxe à existência, quanto as artes mágicas dos bajuladores de Faraó, forçados a exclamar perante os milagres de Moisés: “Isto é o dedo de Deus” (Ex 8:19). Se a evolução teísta fosse realmente cristã, seria um novo cristianismo, porque nenhum Deus como ela propõe — a criação conforme o mais recente consenso cientifico — fazia parte do cristianismo histórico.
A minimização que a evolução teísta faz do Deus revelado na Escritura é apenas parcialmente abordada até sermos confrontados com a caracterização que Deus faz de si mesmo. Pois, acima e além do poder divino de criar e sustentar sóis e planetas por Sua palavra (Is 40:12, 15, 26; Hb 1:3) e de predizer o fim desde o princípio (Is 41:21-24; 43:9; 46:9, 10) está a grandiosidade incomparável de Seu amor, pelo qual nos pede que O definamos. “Deus é amor” (1 Jo 4:8) é a fundamental e imutável definição judaico-cristã do Deus que cria e sustém, inconcebível no contexto da perpétua violência que permeia a evolução teísta (1 Co 13:13). [34]
“Aquele que não ama não conhece a Deus”, insiste João, “pois Deus é amor” (1 Jo 4:8: Tg 1:17). É como compaixão e graça que Ele Se define quando Moisés Lhe roga uma revelação (Ex 34:6). Nós também O conhecemos mais claramente pelo amor que se dispôs a sacrificar a eterna unidade da Trindade em favor de um planeta rebelde (Rm 5:8). A evolução teísta converteria esse abnegado autossacrifício na concepção darwinista de superioridade — a capacidade de sobreviver ao suplantar todos os rivais em nome do conforto, espaço ou alimento, como for necessário.
Ela oferece um deus cuja primeira opção é a miséria, espezinhando os fracos e violando os vulneráveis em favor do lucro daqueles que triunfam na luta pela sobrevivência. Essa redefinição é a redução do Deus bíblico ao absurdo, identificando-o, na realidade, com a obra de Seu declarado inimigo. Excluído de toda análise, o inimigo é deixado livre para continuar causando estrago espiritual e físico no mundo de Deus (Ap 12:9; 1 Pe 5:7; Mt 13:24-30). Voltamo-nos, agora, para uma discussão sobre esse inimigo.
O Inimigo Excluído: O Elo Perdido da Evolução Teísta
Vimos que, embora a evolução teísta declare seu compromisso com a ciência, ela vigorosamente proclama a mensagem da Escritura de que a natureza é o livro didático de Deus. Afirmando tanto a evolução quanto a Escritura, a leitura kairológica que Dembski faz de Gênesis 1 a 3 cumpre uma dupla tarefa como validação de longas eras para o surgimento da vida e do sábado da criação:
Se os dias da criação são kairológicos, referindo-se a divisões básicas na divina ordem da criação, então a observância do sábado reflete uma verdade fundamental acerca da criação do mundo. […] A observância do sábado nos capacita, a nós que somos feitos à imagem de Deus, a compreender o devido lugar da obra humana à luz da obra de Deus. [35]
A teoria de Dembski é uma exposição adicional da confusão científica e teológica da evolução teísta. Sua “leitura kairológica” envolve a humanidade, antes mesmo que a humanidade apareça, porque o Deus onisciente sabe o que os seres humanos farão e, em nome da justiça, perverte o mundo para ensinar aos seres humanos que o salário do pecado é uma condição defeituosa:
Deus não apenas permite que males pessoais […] sigam seu curso subsequente à queda. Além disso, Deus permite que males naturais […] sigam seu curso antes da queda. Desse modo, o próprio Deus ordena a desordem da criação, tornando-a defeituosa propositalmente. [36]
Compreender a queda deixa de ser importante quando as consequências precedem sua origem: “Os efeitos da queda podem ser retroativos”. [37] Esclarecer a compreensão de Dembski sobre a queda nada faz para melhorar seu arrazoado, já que isso envolve Deus testando a lealdade das criaturas em algum lugar perfeito — “uma área segregada, que não dá evidências de um mal natural”. [38] A busca da evolução teísta por uma justificativa moral, então, leva-nos de volta ao lugar em que começamos o testemunho da Bíblia acerca do ambiente físico original — a saber, uma criação perfeita. O reconhecimento da evolução teísta da necessidade lógica de testar a lealdade em um lugar perfeito resulta em sua distorcida alternativa à revelação bíblica.
Embora filosoficamente atraente, nada há de científico em torno da fantástica concepção de Dembski. Sua esperança de encontrar um significado moral definido no estudo de rochas fica condenada por suas pressuposições mais significativas: (1) a infalibilidade da observação humana objetiva e (2) a interpretação naturalista de realidades sobrenaturais. A confusão da evolução teísta surge de sua fé absoluta na objetividade humana e da atribuição de toda atividade sobrenatural a um único agente sobrenatural, enquanto passa por alto o forte testemunho bíblico quanto à existência de um agente sobrenatural malévolo na pessoa de Satanás.
É curioso o fato de que Darwin esforçou-se por isentar a divindade, distanciando o sobrenatural da flora e da fauna sofredoras. A atribuição arbitrária, a um único ser sobrenatural, tanto da graça quanto da malignidade, é porém, uma característica de evolucionistas cristãos, entre outros. Ao mesmo tempo, a comunidade de ateus deve ficar atônita diante do fato de um cristão insistir, agora, em que o Deus da Bíblia deva ser responsabilizado como agente direto e contínuo da histórica violência na Terra.
A distinção crítica entre a explicação bíblica e as outras quanto à dissonância na esfera humana, seja moral, seja física, quer darwinista, quer da evolução teísta ou de religiões mundiais, parece relacionar-se diretamente à existência do Satanás bíblico, o grande adversário de Deus. As atividades de Satanás denunciam sua oposição ao Deus que é amor (1 Jo 4:8) e aqueles que Deus deseja proteger de modo explícito (por exemplo, Jó: Jó 1, 2; Josué, o sumo sacerdote: Zc 3:1-5). Entender a resposta bíblica à teodiceia é impossível enquanto se ignora Satanás. Suas operações envolvem um engano considerável — incluindo anonimato, culpa erradamente atribuída (sobre os sabeus, caldeus ou Deus: Jó 1) e atitude de impostor (falar de si mesmo em termos que pertencem a Deus). [39]
Além de tudo isso, a implicação narrativa de Jó 1 e 2 é de uma determinação insensivelmente destrutiva. [40] Tendo eliminado camelos, ovelhas, bovinos, mulas e os filhos de Jó, ele volta a Deus para acusá-Lo de superproteger a Jó (Jó 1:3-2:3). De forma inexplicável, a evolução teísta atribuiria as ações cruéis de Satanás ao Deus que atua para livrar Sua criação da mão perversa do inimigo.
O livro de Apocalipse chama Satanás de “antiga serpente”, identificando-o, portanto, como o enganador presente no paraíso e marcando os contornos de uma longa e contínua batalha que começou no Éden e só termina quando a história da Terra se completa. O conflito, portanto, é claramente anterior ao Éden, que é o ponto no qual Satanás conquista os seres humanos para o seu campo, ao persuadi-los a rebelar-se contra o Criador (Gn 3:1-6). Seus assaltos contra Jesus, logo no início do ministério terrestre Deste (Mt 4:1-11; Le 4:1-13) e as dimensões cósmicas de sua oposição tornadas explícitas em Apocalipse 12, [41] mostram Satanás se definindo em ação como o implacável inimigo do Filho de Deus. Jesus o conhece como tal (Jo 12:31) e Se regozija diante de seu aniquilamento (Lc 10:18).
O testemunho da Bíblia sobre Satanás é que sua malignidade se originou nele mesmo (Is 14:12-14), que ele é a causa da morte dos seres humanos e do mal sobre a Terra (Gn 3) e que está destinado à extinção quando Deus, no fim da história terrestre, purificar o mundo da mancha satânica do pecado. [42] Aqui está a dimensão escatológica do longo conflito entre Deus e Satanás.
A essência de qualquer teodiceia cristã biblicamente baseada é o reconhecimento pleno da existência de Satanás como o declarado inimigo de Deus e de todo o bem e a evidência bíblica de sua natureza e intenções. Esse reconhecimento distingue sua instigação e perpetração do mal da generosa atividade de Deus, enquanto atribui ao soberano Senhor todo o direito de ministrar juízo e justiça no Universo (Gn 18:25; Dn 7:9-14, 17-27). O Satanás real e pessoal da Bíblia é o elo perdido da evolução teísta e de Darwin, que tem levado gerações à frustração acerca das origens do mal e da ilógica, demoníaca e equivocada atribuição desse mal a Deus como sua fonte. É o elo que liga o começo perfeito em Gênesis 1 e 2 ao dilúvio global de Gênesis 6 a 8. É a ligação lógica entre o Deus da perfeição edênica e o Deus da justiça no dilúvio, em Sodoma e Gomorra, na destruição dos amorreus, no exílio de Israel e no lago de fogo final de Apocalipse (20:12-15).
Deus revela, por meio desses atos, a Sua intenção de destruir Satanás e o mal que ele foi bem-sucedido em estabelecer na Terra Assim como a rebelião satânica manchou a pureza do Céu, também arruinou a beleza da criação, e, deste modo, como a santidade do Céu não poderia ser mantida sem a sua expulsão (Ap 12:7-10), a perfeição da Terra não seria recuperada sem a eliminação dele. A evolução, em qualquer forma, incluindo a evolução teísta, não tem um lugar lógico para essa revelação bíblica.
A Evolução Teísta e a Doutrina do Pecado
Considerando a exclusão de Satanás do cenário, por parte da evolução teísta, não está claro por que a suposta “objetividade” da evolução teísta permite a existência do pecado, embora o comportamento humano certamente apresente ampla evidência para esse reconhecimento. A evolução teísta continua sendo evolução, embora vestida com traje diferente, e os paradigmas evolucionistas e bíblicos correm, de forma coerente, em direções opostas. O ensino bíblico de um princípio perfeito, de uma queda trágica e de uma restauração definitiva mediante a redenção em Cristo contrasta direta e totalmente com o conceito da evolução teísta sobre uma explosão há 14 bilhões de anos que passou a produzir, de maneira progressiva, formas cada vez mais elevadas de vida, chegando ao clímax com a espécie humana derivada de um ancestral que faz lembrar o macaco.
Richard Rice declara que o pecado é um dos mais profundos conceitos bíblicos, mais claramente evidenciado que qualquer outra ideia cristã, e suprindo a mais prática evidência de toda a crença cristã. [43] Por outro lado, para a evolução teísta, o pecado, misteriosamente, “entrou no mundo em um ponto específico da história humana, impactando toda escolha e ambiente humano”. [44] Na crença cristã histórica, o pecado surgiu pela deliberada escolha humana, e sua intrusão no mundo perfeito de Deus resultou em sofrimento e morte para os seres humanos (Rm 5:12), como Deus, no Éden, dissera que ocorreria (Gn 2:15-17). De modo contrário, a evolução teísta argumenta que a morte é mais natural para a existência na Terra do que a humanidade, tendo ela nos precedido por bilhões de anos.
John Haught, um preeminente porta-voz da evolução teísta, diz: “A necessidade de um salvador não é, de modo nenhum, diminuída por nosso recente conhecimento sobre a evolução”. [45] Porém, tanto na crença cristã histórica quanto na teologia adventista, a queda e a entrada do pecado na experiência humana são antecedentes necessários para um Salvador e para o fato de que, a partir de Gênesis 3:15, a Sua vinda estava predita.
A necessidade desse Salvador e a expiação que Ele proveu não são menos desconcertantes do que a crença da evolução teísta no pecado. Como surge a necessidade de um Salvador se há um progresso constante em direção ao que é melhor? A especulação da evolução teísta de que Deus influenciou animais seletos dentro do processo evolutivo na direção da inteligência autoconsciente e obediência à Sua vontade é uma triste tentativa de moralizar uma teoria que, em sua essência, é brutal. Supostamente, é a ingratidão humana diante da bondade de Deus que tornou necessária a salvação, embora isso ainda falhe em explicar o quadro bíblico da salvação como a restauração divina ao estado original de felicidade dos seres humanos (Ap 21:1-5; 22:1-5; cf. Is 11:6-9; 35:1-10).
A evolução teísta não conhece nenhuma felicidade original à qual possamos retornar. Uma doutrina diminuída da criação diminui os seres humanos e enfraquece a dignidade da expiação, permitindo, como o faz, uma especulação até mesmo sobre o possível desenvolvimento evolutivo do próprio Jesus Cristo, [46] e questionando a própria necessidade de Sua obra expiatória. O pecado humano necessita tanto do Salvador quanto da salvação — esse é o entendimento histórico tanto da crença cristã quanto da teologia adventista. Por outro lado, a ideia de pecado e salvação da evolução teísta deve ser coerente com sua visão da ciência, tornando a erudição secular, no fim, o árbitro da verdade divinamente revelada e da esperança humana.
As filosofias da evolução teísta não podem mudar a verdade bíblica de que a morte é uma maldição (Gn 2:17; 3:3, 17-19). Ao anunciar o evangelho na cena do primeiro pecado (Gn 3:15), Deus procurou ensinar aos seres humanos a necessidade e deixá-los conscientes de Sua graciosa intenção. As tribulações que eles agora experimentam significam não o Seu abandono, mas as consequências trágicas do erro deles. Ainda assim, eles podem saber, desde o principio, qual será o resultado final. Ao receber em Si mesmo a maldição do pecado, Ele esmagará a cabeça de Satanás sob Seu calcanhar, destruindo-lhe o poder para sempre (Hb 2:15) e tornando o Éden possível mais uma vez.
Embora as promessas bíblicas de salvação e restauração não façam sentido na teoria evolucionista, a evolução teísta precisa romper a lógica com a inserção da ideia cristã de pecado que torna necessária a salvação. O clímax triunfante de Apocalipse 21 e 22, que completa o ciclo da história, permanece inacessível à evolução teísta, pois ela não pode, pela lógica, aspirar a uma restauração do paraíso enquanto nega o paraíso original, no qual o pecado é a razão para a necessidade que a natureza tem de restauração.
A Evolução Teísta e a Salvação Como Nova Criação
Entre outras coisas, a evolução teísta alega que a criação “é uma doutrina secundária para os cristãos”. [47] Essa noção seria inteiramente incompreensível para os cristãos do Novo Testamento, pois sua herética alegação constitui um ataque direto à doutrina cristã da salvação. O Cristo do cristianismo apóstolo extrai Suas credenciais redentoras precisamente de Sua autoridade como o eterno Deus Criador. Uma das declarações cruciais do Novo Testamento sobre essa relação está em Colossenses 1:13 a 22, em que a doutrina de Cristo como Criador é declarada entre duas afirmações igualmente claras de Sua redentora obra de reconciliação:
Versos 13, 14: Ele [o Pai] nos libertou do império das trevas e nos transportou
para o reino do Filho do Seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados (ARA, itálico acrescentado).
Versos 15, 16: Ele é a imagem do Deus invisível […] pois, Nele, foram criadas todas as coisas,
nos céus e sobre a terra […] Tudo foi criado por meio Dele e para Ele.
Versos 19-22: Aprouve a Deus […] que, havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz,
por meio Dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas […] E a vós outros também que,
outrora, éreis estranhos […] vos reconciliou no corpo da Sua carne, mediante a Sua morte (ARA, itálicos acrescentos).
Essa passagem de Colossenses é um todo contínuo, argumentando que é o Criador quem se torna o Redentor. Em consequência disso, a redenção não se pode divorciar da criação. A teologia cristã é inequívoca sobre a questão dessa estreita ligação entre criação e redenção, entre a salvação humana e o Cristo da criação.
Atanásio, pai da igreja, repetidas vezes banido por sua defesa da plena divindade de Cristo, apresenta una explicação a seu jovem converso, Macário: “A renovação da criação foi realizada pela mesma Palavra que a fez no principio. Não há, portanto, inconsistência entre criação e salvação”. [48] J. van Genderen e W. H. Velema declaram que “no meio da história da criação em Gênesis 1 e 2, encontramos Jesus Cristo e, portanto, a criação é, em essência, a história da salvação”. [49] Se a criação é secundária, então a recriação, que é salvação, não deveria importar tanto a Deus. Porém, como Atanásio continuou explicando, Cristo precisava vir à Terra para executar Sua obra redentora:
Ele viu quão impróprio era que as coisas das quais Ele mesmo fora o Artífice devessem desaparecer. […] Ele, o Poderoso, o Artífice de tudo, Ele mesmo preparou [um] corpo […] entregou Seu corpo à morte em lugar de todos, e o ofereceu ao Pai. [50]
A encarnação é, na história, a incomparável revelação do Deus que é amor (Jo 14:9). A base bíblica para esse mistério insondável é a crise na criação. Por ter observado que a degradação se instalara para macular suas obras antes perfeitas [51] foi que o Artífice de tudo precisou vir para reverter a tragédia pelo sacrifício de Si mesmo. É por esse sacrifício que a restauração pode ser efetuada. Esse grande mistério, proclamado pelos cristãos primitivos (1 Tm 3:16), [52] era loucura para os gregos (1 Co 1:18-23) e um confuso obstáculo para os judeus (v. 23). [53] A ideia viola as mais básicas concepções da compreensão humana e da moderna ciência. Requer que o Criador da matéria se torne matéria criada, e que a fonte da vida do Universo inteiro morra. Desse modo, criação e salvação estão inextricavelmente ligadas a todos os outros conceitos da doutrina cristã no relato bíblico da existência e do destino humano.
Não é surpreendente, então, que o Novo Testamento enfatize repetidamente que nenhuma obra divina é mais crucial do que a obra de restauração, um fato de grande significado para o Universo inteiro. Os habitantes do Céu curvam-se diante do Cordeiro vitorioso e cantam um cântico novo: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o Teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5:9). Incontáveis milhões de anjos se unem a essa emocionante efusão (v. 11, 12), porque o Cordeiro, que é digno de adoração, “foi morto”. Sua morte é a causa da adoração e do regozijo. Porém, já se afirmou que o entronizado Cordeiro foi originalmente o Criador (4:11). De modo semelhante, Paulo declara que a “criação” aguarda com esperança a “redenção” e a libertação do “cativeiro da corrupção” (Rm 8:19-22).
Dizer, em vista de tudo isso, que a criação é secundária para os cristãos é separar aquilo que o Novo Testamento ensina e o que o próprio Deus uniu. Leitores atentos podem concluir que o impacto da evolução teísta sobre as doutrinas cristas básicas do pecado e da salvação está entre suas mais perniciosas consequências.
A Evolução Teísta e a Teologia Adventista: Uma Breve Síntese
As interpretações da Escritura por parte da evolução teísta envolvem significativas implicações para a teologia adventista, chegando ao âmago de nosso nome e identidade. Collins expressa a verdadeira natureza da questão e a raiz do dilema da evolução teísta ao reconhecer o seguinte: “Quando me tornei crente aos 27 anos […] não aceitei a literalidade de Gênesis porque havia chegado à cosmovisão científica antes de chegar à cosmovisão espiritual”. [54] Collins não seria autoridade em genética se tratasse de modo tão sumário seus principais textos. Ele e a evolução teísta estão inteiramente corretos em crer que natureza e Deus, devidamente compreendidos, não podem se contradizer. O ponto no qual cometeram um sério desvio foi na compreensão do relacionamento entre os dois livros de Deus, a natureza e a Escritura. O pensamento da evolução teísta distorceu esse equilíbrio, dando a um a primazia que devia ser dada ao outro e, por conseguinte, concedendo com eficácia o poder de veto a seres humanos errantes quanto à revelação de Deus na Escritura e em Jesus.
O adventismo do sétimo dia, firmemente ancorado desde o início na autoridade máxima da Sagrada Escritura, foi trazido à existência por Deus, em parte como uma resposta específica ao desafio desse pensamento evolucionista, que é tão diametralmente oposto aos ensinos da Bíblia. Essa convicção deriva-se das implicações de Apocalipse 12:17 e 14:6 a 12, textos fundamentais na autocompreensão adventista, que implícita ou explicitamente enfatizam a importância de se reconhecer Deus como Criador. O urgente clamor do primeiro dos três anjos de Apocalipse 14, ouvido ao redor do mundo desde meados do século 19, período do aparecimento do pensamento darwinista, responde às alegações da evolução, ao reiterar as afirmações da declaração de abertura da Escritura. O juízo aqui anunciado é o juízo do Deus “que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap 14:7). A criação é retratada como o fundamento tanto do evangelho quanto do juízo. A alusão ao sábado da criação e ao juízo global do dilúvio de Noé pode ser ouvida como uma advertência contra a repetição da tragédia antediluviana, e como um apelo a permanecer firme na tradição bíblica da criação, em oposição a qualquer forma de desvio ou diluição evolucionista.
Citamos, aqui, dois parágrafos de uma recente publicação intitulada Should Christians Embrace Evolution? A oposição entre a evolução teísta e a revelação divina é claramente destacada:
Tendo considerado algumas das questões-chave que surgem ao se buscar reconciliar a evolução com
o cristianismo, devemos enfrentar a pergunta: Devem os cristãos aceitar a evolução? Nossa resposta
é um sonoro “não” — definitivamente, não. Os evolucionistas teístas falharam em demonstrar uma
teologia coerente com a supremacia da Escritura. Reinterpretaram a Escritura a fim de harmonizá-la
com os entendimentos correntes do paradigma evolucionista. […]
A teologia cristã tradicional explica o sofrimento, a degradação e a morte por referência à queda,
crendo que a boa criação de Deus foi danificada e que a morte e a degradação entraram como
consequência. Deus enviou Seu Filho para redimir-nos e restaurar-nos a um lugar em que todas
as coisas, no Céu e na Terra, estarão juntas, em harmonia, e sob o governo de Cristo. [A queda]
torna o pecado do ser humano responsável pela disfunção em nosso mundo. Uma teologia que nega
uma queda significativa e nega que a morte física seja resultado do pecado da humanidade torna
Deus responsável pelo sofrimento no mundo. Essa não é uma questão pequena ou trivial e, na ausência
de uma teologia clara que explique essa posição e concorde com a Escritura, seria chocante aceitar
a evolução. [55]
A evolução teísta contraria a crença cristã histórica e enfraquece de igual forma a teologia adventista. É evidente que o cristianismo e, em consequência, o adventismo não podem ser conciliados com o pensamento da evolução teísta. O adventismo que for fiel ao seu chamado profético deve resistir às afirmações não bíblicas e essencialmente humanistas da evolução teísta. Deve, com mansidão e respeito, expor a confusa teologia da evolução teísta, declarando a luz do evangelho eterno de Apocalipse 14:6, enraizado, como claramente está, no relato de Gênesis sobre a criação e refletindo a teologia bíblica como um todo. Fazemos isso por meio de uma exegese honesta, da proclamação e da adoração do Deus criador segundo Sua explícita ordem. Honrando o senhorio do Criador de for ma completa, participamos, com toda a criação, da natureza sagrada do repouso sabático, porque Ele o separou como memorial de Sua obra original criadora, dotando-o com significado santificador em testemunho de Sua obra salvífica e recriadora em Cristo.
A dimensão escatológica é que, a fim de encerrar o conflito cósmico contra o arqui-inimigo e devolver a humanidade e o planeta à sua bem aventurança original, Ele sacrificou-se “de uma vez por todas” com a intenção de voltar outra vez e levar a um triunfante encerramento a obra de redenção e restauração. A protologia e a escatologia nunca poderão ser desunidas em uma teologia que seja verdadeiramente bíblica e em uma teologia adventista em particular.
Conclusão
A primeira das seis declarações de Collins com as quais começamos este artigo exige uma resposta do crente cristão, porque o tempo evolucionista continua, ininterrupto, desde o big bang até aos 850 milhões de anos, pelo menos, de vida neste planeta. [56] Embora a Bíblia não fale especificamente quanto à idade do Universo, ela aponta para a vida sobre a Terra como tendo apenas alguns milhares de anos.
A segunda declaração de Collins desfrutaria ampla corroboração e atrairia entusiástico apoio de crentes que não se surpreendem de que o Universo se apresente como organizado para a vida. O testemunho da Escritura é de que Deus formou a Terra para ser habitada (Is 45:18) [47] e o relato da criação de Gênesis deixa muito claro que o propósito da criação da Terra (em relação específica com outros corpos cósmicos, Gn 1:14-18) era sustentar a vida.
As declarações três a cinco, porém, só podem ser entendidas e aceitas no contexto das pressuposições evolucionistas que guiaram o pensamento de Collins e o pensamento de evolucionistas teístas semelhantes. Para os proponentes da evolução teísta, “a ciência é o único meio legitimo de investigar o mundo natural”. [58] Seu estudo, nessa moldura de interpretação, leva à convicção de que a vida sobre a Terra só pode ser explicada em termos de processos longos, lentos, graduais, passando de formas simples para complexas: “A evolução, como mecanismo, pode ser e deve ser verdadeira”. [59] Entretanto, como vimos, neste e em outros capítulos do livro, é impossível conciliar essa visão com qualquer leitura consistente da Escritura.
A sexta declaração de Collins é admiravelmente otimista, embora falha. Sua crença na consciência universal da lei moral e em um anseio universal por Deus dá margem a um sério questionamento, à medida que o pensamento evolucionista molda a consciência de sucessivas gerações no mundo todo e permeia a sociedade em todos os níveis. Após dois séculos de falso otimismo evolucionista, podemos com justiça perguntar: Onde está a sociedade melhor, prometida e na verdade requerida pela evolução? O otimismo de Collins quanto à consciência humana universal da lei moral e do anseio universal por Deus não parecem ter seu fundamento no mundo de hoje. Sua convicção é o outro lado da moeda de J. L. Mackie, no qual o mal é apenas problemático “para alguém que creia que há um Deus onipotente e totalmente bom”. [60]
Em resumo, a teologia da evolução teísta, fundamentada na evolução, é claramente edificada sobre areia movediça, e não sobre o seguro fundamento da Palavra de Deus. Enquanto isso, o cristianismo baseado na Bíblia precisa estar em constante alerta para viver e proclamar cada palavra que vem por revelação divina (Dt: 8:3; Mt 4:4). Os crentes devem tomar cuidado para não ser levados por uma filosofia persuasiva, mas concebida de maneira equivocada, “conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo não segundo Cristo (Cl 2:8). O cristão não evitará o escândalo da cruz nem procurará desviar-se dele (1 Co 1:23, 24). Também não rejeitará o que alguns consideram uma crença “ingênua” em Satanás e em um conflito cósmico.
A condenação da evolução teísta reside no fato de ela ser uma perspicaz tentativa de distorcer a revelação pela lógica humana. A evolução teísta depende de pressuposições materialistas pelas quais a Escritura deve ser interpretada e com as quais se requer que os cristãos concordem. Ela afeta tudo o que sabemos por revelação especial, da criação à redenção e à recriação, com efeitos que distorcem a narrativa bíblica para além do jardim do Éden e chegam à rebelião satânica contra o Criador.
Concluímos fazendo referência a mais um estudo sobre problemas teológicos e exegéticos apresentados pela evolução teísta. Em seu livro Did God Use Evolution?, o Dr. Werner Gitt assinala dez perigos “inerentes à evolução teísta e examina, em detalhe, 20 objeções à teoria, concluindo: “Existe um abismo intransponível entre a evolução teísta e a doutrina bíblica da criação. Ele declara “Os proponentes da evolução teísta relegam a Bíblia a um papel subordinado. [61]
No capitulo final, traduzido como “As Consequências da Evolução Teísta, o Dr. Gitt nos faz lembrar que a evolução teísta corrói o modo tradicional segundo o qual a Bíblia tem sido entendida pelos cristãos há séculos e adverte: “A adesão às ideias da evolução teísta leva ao abandono de ensinos bíblicos centrais”. [62] Tentamos mostrar a exatidão dessa declaração com alguns detalhes neste capítulo. Para todos aqueles que consideram a Bíblia como a Palavra revelada de Deus, talvez seja esse o mais sério desafio teológico de nosso tempo.
Referências
1. Francis Collins, A Linguagem de Deus (São Paulo: Gente, 2007), considera sua posição filosófica “muitíssimo satisfatória”, p. 255. Porém, ele gostaria de escapar de algumas implicações negativas e da resistência pública que o termo evolução teísta envolve na atualidade, mudando seu nome para BioLogos. “‘BioLogos’ expressa a crença de que Deus é a fonte de toda vida, e a vida expressa a vontade de Deus”, p. 209.
2. A posição aparentemente minimalista de Collins sobre a intervenção divina contrasta com outras ideias que consideram Deus como intervindo com maior frequência. Qualquer uma dessas ideias é considerada nesta discussão, já que é a alegação da intervenção divina, e não o grau ou frequência dessa intervenção, que constitui a evolução teísta.
3. Ibid., p. 206. J. Barton Payne define a evolução teísta como “aceitando, como desdobramento na naturalmente explanável, a evolução corporal (embora não espiritual) da humanidade”, “Theistic Evolution and the Hebrew of Gen 1-2”, Bulletin of the Evangelical Theological Society 8 (1965), p. 85. Esse foco exclusivo sobre a humanidade, provavelmente, admita, em vez de contestar, outros aspectos da definição de Collins.
4. Martin Frederick Hanna, The Cosmic Christ of Scripture (Martin Frederick Hanna, 2006), p. 129.
5. Karl W. Giverson, prefácio de Francis S. Collins, Saving Darwin: How to Be a Christian and Believe in Evolution (HarperOne, 2008), p. 11.
6. Podemos extrair duas notas de apoio da apologia de Aristides, o mais bem conhecido defensor pós-bíblico do cristianismo: uma sobre o poder do evangelho, e a outra sobre a aplicação do nome “cristão”. Acerca do poder da verdade do evangelho, Aristides escreve a respeito da encarnação: “Isso é ensinado no evangelho […]; e você também, se quiser ler, pode perceber o poder que a ele pertence”. Quanto à aplicação do nome: “Logo a seguir, esses 12 discípulos saíram pelas partes conhecidas do mundo, e continuaram demonstrando sua grandeza com toda modéstia e retidão A partir daí, também aqueles dos dias atuais [c. 125-47 AD] que creem nessa pregação são chamados cristãos”. “The Apology of Aristides the Philosopher”, em William Edgar e K. Scott Oliphint eds., Christian Apologetics Past and Present: A Primary Source Reader, v. 1: to 1500 (Wheaton, IL: Crossway, 2009), p. 31.
7. Roger E. Olson, The Story of Christian Theology (Downers Grove, IL: IVP, 1999), p. 129, 130. Sobre a localização e data do mais antigo credo, ver Kurt Aland. A History of Christianity, trad. James L. Schaff (Filadélfia, PA: Fortress, 1985), v. 1: From the Beginnings to the Threshold of the Reformation, p. 54, 117.
8. A terceira seção da Bíblia Hebraica, apropriadamente denominada “Escritos”, aqui está rotulada como “Salmos”, provavelmente, porque o livro de 150 salmos seja seu primeiro e grande item, 41% de seu total, em termos de divisões de capítulos.
9. Comelius G. Hunter, Darwin’s God (Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2001), p. 145.
10. “William Dembski, The End of Christianity: Finding a Good God in an Evil World (Nashville, TN B&H Publishing Group, 2009), p. 71.
11. Stephen Jay Gould, “Non-overlapping Magisteria”, Natural History 106/2 (março de 1997), p. 18.
12. Hans Kung The Beginning of All Things: Science and Religion, trad. John Bowden (Grand Rapids, MI e Cambridge, UK. Eerdmans, 2007), p. 30.
13. Carl Raschke, Theological Thinking: An Inquiry (Atlanta, GA Scholars Press, 1988), p. 29; citado em Hanna, p. 99.
14. “Criação progressiva” é às vezes considerada distinta da evolução teísta por causa do uniformismo da última. Porém, a distinção é pouco relevante para a nossa tese. A fé da evolução teísta afirma que a obra contínua de Deus efetua as mudanças, desde o trilobita até o organismo moderno. Par contraste, fé da criação progressiva inclui ocasionais criações por fiat ao longo da história do planeta. No fim das contas, um debate de teístas entre a criação progressiva e a evolução teísta é dificilmente distinguível daquele entre não teístas sobre o equilíbrio pontuado e o gradualismo filético. Evolucionistas cientistas ainda exigem dos crentes na evolução teísta e na criação progressiva alguma justificativa cientifica para a introdução de Deus em determinado(s) ponto(s) do processo evolutivo e, igualmente, alguma demonstração de que a chamada intervenção divina tenha sido mesmo divina. Em tudo isso, o uso crescente de títulos “criacionistas” pode ser um desvio retórico digno de atenção.
15. Johnson, The Right Questions: Truth, Meaning & Public Debate (Downers Grove, IL: IVP 2002), p. 63.
16. Ibid.
17. Ibid., p. 63, 64.
18. As seis seguintes são meramente ilustrativas da total incompatibilidade entre a evolução darwinista e a doutrina cristã da revelação de Deus na Escritura: (1) descendência com modificação — aqui tratada; (2) a “luta pela existência” de Darwin (ver seus capítulos III e IV: “Luta pela Existência”, p. 114-129, e “Seleção Natural”, p. 130-172) versus a criação perfeita de Gênesis; (3) a “luta pela existência” de Darwin versus a posição bíblica categórica de que Deus é amor; (4) a sobrevivência do mais apto de Darwin (ver seu capitulo IV) versus a mansidão e vulnerabilidade de Deus; (5) a sobrevivência do mais apto de Darwin (ver seu capítulo V. “Leis da Variação, p. 173-204) versus a dedicação de Deus para com o mais fraco; (6) o relativismo e a flexibilidade moral da ética darwinista versus o testemunho bíblico quanto aos absolutos morais.
19. Olson, p. 339.
20. Charles Darwin, A Origem das Espécies, (São Paulo: Hemus, s/d), p. 317. Ver o cap. 10, “Da Suces são Geológica dos Seres Orgânicos”, p. 317-343, Ibid., p. 336.
21. Ibid., p. 336.
22. Lemino, leminehu, leminah, Gênesis 1:11, 12 [2x], 21 [2x], 24 [2x]. 25 (3x) — dez vezes ao todo em Gênesis 1.
23. Darwin, p. 336-337.
24. Ibid., p. 337. Os evolucionistas se contradizem quando são dúbios sobre essa definição de “superioridade”, mesmo apegados ainda ao “sensível” arranjo de Darwin.
25. Bart Ehrman, God’s Problem: How the Bible Fails to Answer Our Most Important Question — Why We Suffer (Nova York, NY: HarperCollins, 2008), p. 3.
26. Ehrman, Lost Christianities: The Battles for Scripture and the Faiths We Never Knew (Oxford: Oxford University Press, 2003), p. 104, citado em Andreas J. Kostenberger e Michael J. Kruger. The Heresy of Orthodoxy (Wheaton: Crossway, 2010), p. 74.
27. Kostenberger e Kruger, p. 73, 74.
28. Johannes N. Geldenhuys, Supreme Authority; The Authority of the Lord, His Apostles and the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1953), p. 43, citado em Maurice M. Wiles, The Making of Christian Doctrine: A Study in the Principles of Early Doctrinal Development (Londres: Cambridge University Press, 1967), p. 11.
29. De acordo com Maier, os múltiplos estágios da supervisão divina incluem, a título de exemplo: (1) a preservação dos escritos de Daniel, (2) “preservação de arquivos nacionais”, (3) “o uso perspicaz de ambos numa ponderada obra literária” e (4) “o subsequente surgimento do livro de Daniel em sua totalidade. Não foi antes de concluído o livro que a inspiração atingiu seu alvo”, p. 134, de modo que contradiz o caráter de todo o processo inspirado para destacar dele elementos individuais ou tentar qualificar esses elementos como ‘humanos”, p. 136. Quanto a uma discussão adicional sobre a confiabilidade do texto das Sagradas Escrituras, ver os capítulos 7-10: “A Inspiração da Escritura”, p. 97-147, “O Canon”, p. 149-163; “A Inspiração da Escritura”, p. 165-186 “A Unidade da Escritura”, p. 187-208. Ver também George W. Reid, ed., Compreendendo as Escrituras Uma Abordagem Adventista, Biblical Research Institute Studies, v. 1. (Engenheiro Coelho, SP. Unaspress, 2007); Gerhard F. Hasel, Understanding the Living Word of God (Mountain View, CA. Pacific Press, 1980).
30. Entre os quais Gerhard Hasel relaciona Gerhard Von Rad, James Barr Hermann Gunkel. Ver Gerhard Hasel, “The Days of Creation in Genesis 1”, em John Templeton Baldwin, ed., Creation, Catastrophe, and Calvary (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000), p. 54.
31. Christopher Hitchens, God Is Not Great: How Religion Poisons Everything (Nova York Hatchette Book Group, 2009), p. 85.
32. A raiz ‘amar aparece 5.298 vezes; a forma específica wayyo’mer ocorre 2.081 vezes; a raiz hayah é apresentada 3.548 vezes; a forma específica wayehi (Qal pretérito waw 3ms, em oposição a Qal impf 3ms + waw conjunção) ocorre 776 vezes.
33. O verbo hebraico biblico padrão para “falar” é dabar, ocorrendo mais de 1.100 vezes, TWOT, s. v. dabar.
34. Collins, evolucionista teísta, crê também que Deus tem “infinito amor e benevolência” (Collins, p. 275), mas é um amor redefinido para acomodar o sofrimento como uma necessidade a priori para toda a existência das criaturas.
35. Dembski, End of Christianity, p. 143, “Kairológico” vem do grego kairos, tempo como momento (crucial), em contraste com chronos, tempo como realidade continua.
36. Ibid., p. 145, ênfase no original.
37. Ibid., p. 110.
38. Ibid., p. 146.
39. Sua explicação, do livro de Jó, acerca de “rodear a terra e passear por ela” (16 1:7), é linguagem usada com maior frequência a respeito do próprio Deus — quatro de suas sete ocorrências na Bíblia grega. Somente aqui, em Jó, devido à presunção de Satanás, é a linguagem aplicada a ele mesmo.
40. Compare sua insistência no início do ministério de Cristo (Mt 4:1-11).
41. Exatamente como Apocalipse 12:9, as narrativas das tentações de Mateus 4 e Marcos 1, tomadas juntas, mostram que o diabo e Satanás são uma e a mesma pessoa.
42. Ver Lael Caesar, “Where in the World Is Satan the Devil?”, Ministry, novembro de 2010. p. 6-10, e “Religious Faiths and the Problem of Evil: a Biblical Perspective”, Foundation for Adven tist Education, Symposium IV sobre a Biblia e a Erudição Adventista. Disponível em: <http://fae.adventist.org/essays.htm>.
43. Richard Rice, Reign of God (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1997), p. 144-148.
44. Kenneth A. Matthews, Genesis 1-11:26, New American Commentary (Nashville: Broadman & Holman, 1996), p. 61. Ver também Hans Kung, Justification: The Doctrine of Karl Barth and a Catholic Reflection (Louisville, KY: Westminster John Knox, 2004), p. 22.
45. John F. Haught, Responses to 101 Questions on God and Evolution (Nova York: Paulist Press, 2001), p. 81.
46. “Os seres humanos, incluindo Jesus, podem ter evoluído ao longo de bilhões de anos”, ibid., p. 11.
47. Ibid., p. 10.
48. Atanásio, “The Incarnation of the Word of God”, em Edgar e Oliphint, Christian Apologetics, p. 11. p. 175. J. Rodman Williams tem consciência de que “Aquele mesmo que nos redimiu foi o canal mediante o qual todas as coisas vieram à existência”, J. Rodman Williams, Renewal Theology: God, the World, and Redemption (Grand Rapids, MI: Academie, 1988), v. 1, p. 103.
49. J. van Genderen e W. H. Velema, Concise Reformed Dogmatics, trad. Gerrit Bilkes e M. van der Maas (Phillipsburg, NJ: P&R, 2008), p. 261, apoiados em Karl Barth, Church Dogmatics (3:1): The Doctrine of Creation (Edimburgo: T&T Clark, 1958), p. 230, 231.
50. Atanásio, “The Incarnation”, p. 180.
51. Gênesis 1:31 (towb me’od) é um superlativo — a criação de Deus não podia ser melhor.
52. A evolução teísta alega compreender o cerne do mistério divino: “A ideia central do cristianismo diz respeito a Jesus Cristo e à alegação de que Ele era o filho de Deus, verdadeiramente divino e verdadeiramente humano. Essa ideia extraordinária traz implícita a estranha noção de que o Criador do Universo inteiro escolheu entrar na raça humana na pessoa de um pregador itinerante da Galileia” (Giberson, Saving Darwin, p. 10). Porém, a alegação é contraditada pela devoção da evolução teísta à objetividade mecanicista da evolução. Devemos, também, ter o cuidado de notar que Deus não entrou na humanidade quando Jesus se tornou um pregador galileu. Ele veio ao ventre de Maria (Lc 1:35).
53. Ou alguém poderia dizer, um “escândalo”, considerando a palavra grega para pedra de tropeço — skandalon (akaubakoo).
54. Karl I. Giberson, “Evolution, the Bible, and the Book of Nature: A Conversation With Francis Collins”, Books and Culture, Christianity Today, 2009, postado em 10/7/2009.
55. Norman C. Nevin, ed., Should Christians Embrace Evolution? (Nottingham: IVE 2009) p. 210, 214.
56. Passando por alto os traços de vida nas rochas Pré-Cambrianas.
57. A difícil palavra tohu, que ocorre em Isaías 45:15, como também em Gênesis 1:2, não tem um cognato hebraico ou outro para ajudar a esclarecer suas 20 ocorrências bíblicas. No âmbito semântico, a julgar por seus variados contextos, vai desde nulidade (Jó 26:7 e 15:20) a futilidade (1 Sm 12:21), e a desolação pós-destruição (Jr 4:23). Em Gênesis, no início da semana da criação, a expressão tohu wabohu representa o vazio sem forma que Deus preencheu com a ação criadora da semana. Aqui em Isaías, a declaração explícita do texto mostra um contraste com “para ser habitada”. O propósito evidente do termo é representar o vazio: Deus criou a Terra, não para ser vazia, mas como habitação.
58. Collins, p. 231.
59. Ibid., p. 110.
60. J. L. Mackie, “Evil and Omnipotence”, em Marilyn McCord Adams e Robert Merrihew Adams, eds., The Problem of Evil, Oxford Readings in Philosophy (Oxford University Press, 1990), p. 25: “O problema do mal […] é um problema lógico […], não é um problema científico que poderia ser resolvido com observações posteriores, ou um problema prático que poderia ser resolvido com uma decisão ou ação”.
61. Werner Gitt, Did God Use Evolution? (Green Forest, AR: Master Books, 2006), p. 8, 22, 24.
62. Ibid., p. 90.
Fonte: No Princípio: a ciência e a Bíblia confirmam a criação. Org. Bryan W. Ball; tradução Eunice Scheffel. – Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017, p. 291-317.
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(Hendrickson Rogers)