Tom Wolfe nos convida a “puxar o gatilho” por nós mesmos contra a teoria da evolução
No livro The Kingdom of Speech (O Reino da Expressão), o autor Tom Wolfe conta a história da queda épica da evolução.
A evolução darwiniana explica a trivialidade biológica – variedade de bicos de tentilhão e afins -, mas tropeça quando o assunto é inovação ao longo da história da vida. Nenhuma inovação poderia ser mais revolucionária do que a do Homo sapiens que, como diz o biólogo Michael Denton, do Discovery Institute, “apareceu repentinamente nas ricas e frutíferas pastagens da África, no final do pleistoceno”. A característica mais marcante do homem é, por natureza, seu dom de linguagem. Tom Wolfe explica magistralmente nesse seu novo livro que, hoje, o darwinismo leva um tombo épico. A evolução não pode nos explicar muito a respeito da proeminência que nos torna humanos. “Dizer que os animais evoluíram para o homem”, escreveu Wolfe na última página do livro, “seria como dizer que o mármore Carrara evoluiu para David, de Michelangelo.”
A analogia é pesada, mas faz sentido, pois um artista molda seu meio em um ato de “desenho deliberativo”. Wolfe, um dos escritores mais valiosos ainda vivos atualmente, não saiu ao encontro ao Design Inteligente (DI) somente agora. Em declarações anteriores, ele tem mostrado simpatia pelo DI, e tem comparado a perseguição aos cientistas adeptos do DI com a “Inquisição Espanhola” – aqui, referindo-se também à “Inquisição Neo-Darwinista”.
Mas seu foco é sobre a história de como a evolução, de Darwin a Chomsky, é muito breve na explicação da linguagem. Ele deixa que as implicações desta falem por si mesmas. O significado de expressão vai além de simplesmente podermos nos expressar excepcionalmente como seres humanos – a “distinção principal entre homem e animal” – mas, como aponta Wolfe, é o que nos dá domínio sobre a terra e suas criaturas, e até mesmo mais do que isso: “Em suma, a linguagem, e só ela, tornou-nos ‘bestas humanas’ aptas para conquistar cada centímetro de terra no mundo, subjugar qualquer criatura grande o suficiente para olhar-nos de cima, e comer até a metade da população do mar. E isso, esse poder de conquistar todo o planeta para a nossa própria espécie, é uma pequena conquista do grande poder da linguagem. A grande conquista foi a criação de um eu interno, o ego.”
A partir desse “eu interno”, dotado de curiosidade e desejo, flui a riqueza da civilização – arte, religião, filosofia, literatura, ciência, e muito mais. Quão realmente impressionante poderia ser uma teoria das origens que não lança ao menos uma luz qualquer sobre a origem de tudo isso?
Wolfe molda sua história nos termos de dois pares de rivais ou “dobradinhas” – de um lado, Charles Darwin e Alfred Russel Wallace e, de outro, os linguistas Noam Chomsky e Daniel Everett. Como em todos os seus livros que eu li, Wolfe mostra-se finamente sintonizado com questões de status, posição e/ou classe social – que em si já explicam muito – não só em moda ou política, mas também na história das ideias. Em ambos os pares de cientistas, um é o valor estabelecido, o homem de posição e prestígio (Darwin, Chomsky), que foi ultrapassado e quase caiu de seu pedestal pelos argumentos do pesquisador de campo de menor prestígio (Wallace, Everett), considerado “papa-moscas”, na frase de Wolfe.
Em 1858, Wallace deixou Darwin em pânico ao ir a público com uma teoria, que Wallace tinha pensado de forma independente, enquanto estava em um desmaio por malária, no outro lado do mundo. O “codescobridor” da evolução por seleção natural veio depois rejeitar o poder, explicativo e abrangente, da sua teoria e a de Darwin.
Wallace mostrou, escreve Wolfe, que “a seleção natural somente pode expandir os poderes de uma criatura até o ponto em que ela obtenha uma vantagem sobre a concorrência, na luta pela existência”. Além do mais, “a seleção natural não pode produzir qualquer órgão” especialmente desenvolvido “que seria inútil a uma criatura […] ou de tão pouco uso que não remetesse até milhares e milhares de anos abaixo da linha em que a criatura pode tirar vantagem do potencial total do órgão”.
A fala é o exemplo mais óbvio de um poder inexplicável em termos de seleção natural. Apenas um projetista (ou designer) pode enxergar dessa maneira, usando previsão e elaboração de um plano, o que levou Wallace à sua visão de design “protointeligente”, defendendo “o agir de algum outro poder”, ou uma “inteligência superior” – a “inteligência controladora” – na direção, para orientar a evolução. Darwin, por sua vez, foi reduzido a especular de forma absurda sobre a linguagem ser uma extensão do canto dos pássaros…
E a questão foi abandonada até Chomsky, quando este entrou em cena na década de 1950 com sua própria noção de um “órgão de linguagem evoluído” escondido em algum lugar no cérebro, porém ainda não detectado. Conhecido tanto por essa teoria como por sua política “Radical Chique” (famosa frase de Wolfe), Chomsky sentiu seu campo intimidado quando olhou para trás e viu os “papa-moscas” deixarem o ar-condicionado de seus escritórios para investigar línguas ocultas em outras partes do mundo – lugares estes obscuros, inconvenientes, e anti-higiênicos.
A teoria de Chomsky reinou suprema até 2008, quando um “papa-moscas” chamado Daniel Everett, revelou uma linguagem primitiva, a do Pirarrã, um povo da Amazônia que não dispunha de nenhum recurso linguístico desenvolvido, que Chomsky considerava universal. Deveria ser universal se um “órgão evoluído” fosse compartilhado, sendo responsável por toda a fala humana. A conclusão da pesquisa de Everett era que a expressão não é um produto da evolução; era, na verdade, um “artefato” de origem humana.
O estudo da linguística foi jogado no caos. O próprio Chomsky, mesmo que tivesse negado a existência de seu rival, foi obrigado a admitir, após dedicar décadas ao seu trabalho, que “a evolução da faculdade da linguagem permanece em grande parte um enigma”: “Em trinta anos, Chomsky tinha avançado, partindo de ‘estruturas neurais específicas, não tão bem compreendidas em sua natureza’ para ‘algum sistema bastante obscuro de pensamento que nós sabemos que está lá, mas que não sabemos muito sobre ele.”
Dificilmente entenderemos a linguagem de hoje, o que ela é, e ainda não há nada melhor que a explicação de Aristóteles, que explicou-a como um sistema de “mnemônicos” – uma ajuda para a memória.
O livro The Kingdom of Speech é breve, porém maravilhosamente escrito e muitas vezes hilariante. As partes sobre “o cão de Darwin” e a “visita aos Marcianos” de Chomsky (uma fixação de suas palestras), por exemplo, são deliciosos. O papel do prestígio social, não ciência, no registro da persistência de uma ideia é um tema em que ninguém é mais adequado para explorar do que Tom Wolfe. Ele conta como, no próprio Dia de Darwin, “as pessoas começaram a julgar uns aos outros socialmente de acordo com sua crença e não com base na grande descoberta de Darwin”. Como pouca coisa mudou!
Wolfe, é verdade, não puxa o gatilho óbvio. Ele suplica modestamente para ser apresentado a Michael Denton. “Se a expressão é um artefato, como é que o homem adquiriu a capacidade de concebê-la e usá-la?” Como o Dr. Denton escreve em seu livro recente, Evolution: Still a Theory in Crisis (Evolução: Uma teoria ainda em crise), “as capacidades intelectuais exaltadas e compartilhadas por homens e mulheres de todas as raças e acessadas somente através da linguagem, provavelmente não eram muito úteis na caça aos mamutes”. Ele escreve:
“Um dos aspectos mais curiosos da evolução humana, que dá início a um desafio intrigante e ainda sem resposta à narrativa darwiniana e funcionalista, é o fato de que todos os seres humanos modernos compartilham de todas as mesmas capacidades intelectuais mais elevadas. Isso significa, por incrível que possa parecer, que um cérebro capaz das proezas intelectuais de um Einstein, um Newton ou um Mozart já teria surgido nos nossos últimos ancestrais comuns, há mais de 200.000 anos atrás [sic]. Tais habilidades intelectuais parecem absurdamente poderosas, muito além de ter qualquer utilidade concebível para caçadores ou coletores na savana ancestral e, portanto, também além de qualquer explicação funcionalista.”
A linguagem, escreve Denton, o “homólogo de definição de tipo”, é “consistente com uma origem saltacional”. Em outras palavras, parece ter “saltado à existência”, ou “veio a existir repentinamente”, partindo de nenhum modelo primitivo ou animal antes dele.
Alfred Wallace, como sempre, apontou o caminho – um poder tal, que passa a existir quando não poderia servir a um propósito evolutivo, só pode ser contabilizado como produto de design. Wolfe prefere deixar-nos “puxar o gatilho” por nós mesmos.
Fonte: David Klinghoffer, Evolution News, 30/8/2016; tradução: Mauricio Mancuzo, via Criacionismo.