maio 3, 2024

Blog do Prof. H

Adaptando conhecimento útil às necessidades da humanidade

Diálogo sobre o livre-arbítrio

Dialogantes: (A) Alan e (H) Hendrickson. 

(H) O livre-arbítrio de Deus e o nosso https://blogdoprofh.com/2011/08/21/o-livre-arbitrio-de-deus-e-o-nosso/ 

Livre-arbítrio realmente existe?  https://blogdoprofh.com/2011/08/16/livre-arbitrio-realmente-existe/ 

(A) Eu li o artigo querido. O meu ponto de vista em relação ao assunto é bem diferente do apresentado. Amado, como a salvação alcança o homem e como isso acontece na prática? 

(H) Está escrito: 

A vereda do justo é como a luz da alvorada, que brilha cada vez mais até a plena claridade do dia.
Provérbios 4:18 PTNVI 

permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João 15:4 – 5 ARA 

Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. 1Pedro 4:10 ARA 

É um bom começo!

(A) Quando falamos em salvação no contexto evangélico atual no Brasil, lembramos dos defensores do livre-arbítrio. Essa salvação, baseada no livre-arbítrio, é uma concepção humana e que não reflete o ensino bíblico.

(H) Poderia descrever (e fundamentar) sua visão a respeito do assunto? 

(A) Não é preciso nos esforçar para descrever algo que a própria Escritura desvenda em suas linhas. Antes de criarmos ideias que, poderiam nos levar a graves erros acerca do assunto, é de fundamental importância entendermos a queda. O irmão, como estudioso da Palavra de Deus e conhecedor dos meandros da Teologia, provavelmente sabe sobre minha vertente teológica sobre a soteriologia. 

O senhor já ouviu falar, ou leu alguma coisa a respeito das doutrinas da graça? Pois bem! São conhecidas também como doutrinas fundamentais do Evangelho e foram elaboradas pelos reformadores. Vou colocá-las em ordem, em seguida farei um resumo de cada ponto. 

Eis aqui cada ponto: 

1. Depravação Total

2. Eleição Incondicional

3. Expiação Limitada ou Redenção Particular 

4. Graça Irresistível

5. Segurança Eterna dos Santos

Em resumo é isso. Mas, quero lembrar que, a Reforma Protestante foi muito mais do que 5 pontos doutrinários. São nesses pontos que me baseio e fundamento o meu pensamento sobre soteriologia.

Vou explicar de forma didática o que significa cada ponto. Existe uma complexidade em cada um deles, mas farei um breve resumo. São doutrinas apaixonantes. A expressão “as doutrinas da graça” resume cinco ensinamentos bíblicos distintos que foram reunidos em resposta à teologia que se desenvolveu na Holanda no final do século dezesseis, uma teologia centrada no homem, cuja base principal era o livre-arbítrio. Essas doutrinas formam um elo inquebrável. Caso o irmão desprenda qualquer uma delas, toda a construção cairá por terra. Vamos para os pontos: 

Ponto 1. Depravação Total – todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo campo do pensamento e da conduta.

Ponto 2. Eleição Incondicional – Deus escolhe salvar aqueles que, sem Sua soberana escolha e subsequente ação, certamente pereceriam.

Ponto 3. Redenção Particular – Jesus fez a propiciação pelos pecados daqueles a quem o Pai escolheu ou elegeu. 

Ponto 4. Graça Irresistível – Pecadores arruinados resistem à graça de Deus, mas a sua graça regeneradora é efetiva e eficaz no coração do pecador. Ponto 5. Segurança dos Santos – Deus nos ajuda a perseverar, protegendo-nos e impedindo de tropeçar, coisa que certamente aconteceria se Ele não estivesse conosco. Resumidamente, esses são os pilares fundamentais da fé cristã. Essa é uma síntese bíblica, na qual toda a minha construção de pensamento se apóia.

(H) Alguns questionamentos, amigo. Ponto 2: Essa é “eleição incondicional” é para todos os pecadores, sem distinção?

Ponto 3: O Pai “elege” a todos ou Ele faz acepção de pecadores? Dito de outro modo: todos podem ser adotados ou não? Pense bem..

Ponto 4: Se há a possibilidade de “resistir” a graça, qual o objetivo em rotulá-la como “irresistível”?

Ponto 5: Se Deus “impede” Seu filho de tropeçar, isso significa que salvação é “a transformação de um escravo do pecado num robô justo”. Tem certeza que a Bíblia ensina isso? Como ficam os tropeços de Pedro (preconceito em Gl 2) e Moisés (ferir a rocha no lugar de falar à rocha)? Eles não eram salvos ou eram salvos que tropeçaram?

Obrigado por compartilhar sua visão sobre o assunto, mano! Eu procuro me apoiar apenas no “Assim diz o Senhor”, sabe amigo? As 5 “solas” apontam neste sentido, não é mesmo? Se nossas premissas não forem verdadeiras, poderemos estar apostando em algo falso desde o início. No entanto, a Bíblia não ensina que seremos salvos pelas “crenças corretas”, mas pela graça! Afinal, todos nós temos crenças falsas, uns mais, outros menos, mas todos.

(A) Resposta às suas duas primeiras questões: Não. A eleição bíblica e não por suposição como pensam muitos irmãos, diz respeito a alguns indivíduos específicos e não todos. Esse número é inalterado, não se acrescenta ou diminui. Estes são predestinados antes de todas as eras, na eternidade. Se essa eleição visasse a salvação de todos, certamente isso aconteceria sem falhas. Isso iria desembocar no universalismo, uma doutrina que suponho ser rechaçada pelo irmão. 

(H) Que profeta bíblico cria nessa crença? Moisés, p. ex., apresentou a árvore do conhecimento. Pra quê o Criador produziria tal teste de liberdade, se a liberdade do primeiro casal não faria diferença na “eleição incondicional” de Deus? 

(A) Essa é uma pergunta querido que, nenhuma vertente teológica consegue responder. O máximo que conseguem é mudar os termos, pois os problemas continuam os mesmos. Não um profeta ou dois, mas as Escrituras em geral ensinam essa maravilhosa doutrina.

(H) Por favor, preciso conferir os profetas.. Mano, qual a segurança em acreditar num ensinamento que Jesus e Seus profetas não ensinam?

(A) Quanto à questão sobre o quarto ponto, boa pergunta. A resistência a essa graça é a evidência de que, tal indivíduo, não é um eleito. A recusa do Evangelho não é simplesmente um ato deliberado de seu suposto livre-arbítrio, mas este indivíduo foi deixado a seguir o seu próprio caminho (curso natural); ou seja, um não eleito. Sendo assim, cedo ou tarde irá sucumbir.

(H) Noutras palavras: “se Deus não escolhe, é porque o pecador não merecia”. Ora, mas quem merece (por obras suas)? Se os salvos são imerecedores, no sentido da salvação pela graça, por que a graça não acolhe a todos os imerecedores? Por que essa sua crença torna a graça tão parcial? De novo: a Bíblia ensina isso? Onde, amigo?

(A) As Escrituras ensinam a doutrina da eleição em muitas páginas.

(H) Verdade. Mas a eleição constitui uma escolha divina para comissionar pessoas para determinadas ações. Deus deu a missão para Noé construir a arca. Noé foi eleito, portanto. O mesmo pode-se demonstrar para Abrão, Israel (nação) e os “anjos” (mensageiros) de Apocalipse 14. No entanto, não me lembro de ver “eleição” para salvação, mas para funções relacionadas à salvação. Não é certo dizer que Deus elege uns e não elege outros para a salvação/perdição. Deus elege/não elege pessoas para funções relacionadas à salvação.

Por outro lado, Paulo fala sobre predestinação (Ef 1). Essa ideia paulina é confirmada por Moisés, Pedro, João e outros profetas. A predestinação divina é anterior ao próprio pecado: antes da criação na Terra, Jesus já possuía em Seu livro os nomes dos salvos (cf. Ap 13.8, Êx 32.33, 1a Pe 1.19 e 20). Isso é Deus usando Seu livre-arbítrio. No entanto, Seu livre-arbítrio não anula o nosso, de modo que todos por quem Jesus morreu (literalmente todos, cf. 1a Tm 1.6) podem escolher ter seu nome riscado desse livro, biblicamente, no juízo desde 1844, quando o pecado eterno é cometido (ou pecado contra o Senhor Espírito) de acordo com Ap 3.5 Mc 3.29, Êx 32.33 e Mt 12.31.

Logo, não há base (pelo menos eu a não conheço) para se afirmar que eleição = predestinação, e ainda que você veja assim, a ideia bíblica de predestinação nada tem que ver com “eleição incondicional”, “graça irresistível”, os quais são expressões bonitinhas mas com implicações bem feias..

(A) Com relação à pergunta a respeito do quinto ponto: quando falamos em segurança eterna, não significa dizer que não somos pecadores, ou, que não cometeremos erros na jornada cristã. Mesmo sendo regenerados, é possível que o irmão e eu pequemos, a nossa natureza nos empurra para esse abismo. A automação é a acusação mais irracional que eu já ouvi durante a minha caminhada. Vejamos a trajetória de Judas: as Escrituras dizem que, satanás o envolveu (se apossou dele) para entregar o Senhor Jesus, é uma afirmação bíblica. Logo, ele foi um recipiente que poderia ser deslocado sem sua própria permissão para onde aprouvesse a satanás e ele cometeu por assim dizer, o maior crime da história: traindo o Senhor. Suponhamos que, Judas cometeu esse crime sem que sua volição o quisesse, pois estava “tomado” por uma entidade. Ele ainda é responsável pelo ato maldoso que cometeu? Seria ilógico pensar que sim. No entanto, as Escrituras dizem que ele é responsável pelo sangue derramado do Senhor Jesus.

Querido, não se engane. A essência humana é totalmente maligna. A vontade é cativa ao pecado. Quando Deus salva o pecador, Ele não o faz violando o seu intelecto, ou, sua volição, mas a graça triunfa docemente regenerando, concedendo fé e selando para o glorioso dia do Senhor. Isso não anula a razão nem a responsabilidade.

(H) De fato, segundo sua ideia, Deus não dá liberdade. Ele obriga os perdidos a não serem salvos, ao não escolhê-los! Portanto, Ele não viola qualquer liberdade humana, pois está não existe no modelo construído pelo amigo.. Por outro lado, no modelo de Gênesis, Deus dá liberdade o suficiente para julgar Adão e Eva por suas escolhas..

(A) A concepção do livre-arbítrio torna Deus um deus incapaz de perscrutar o futuro e de exercer Sua onipotência absoluta. Correto, não creio em liberdade. Nunca existiu o livre-arbítrio. O irmão não encontrará em nenhuma das páginas da Bíblia a sugestão do uso da liberdade para “escolher” Deus.

(H) Sugiro que considere a possibilidade de não está correto quanto a isso.. Que tal ler cada uma das passagens que estou oportunizando, aqui em nosso diálogo? (Bem como seu contexto; realizar uma boa hermenêutica..).

(A) Essa ideia foi criada pelos homens por observação espontânea, olhando para si mesmos, para seus atos agentes. Tal observação não define com absoluta certeza que haja liberdade ilimitada. O irmão crê em liberdade ilimitada?

(H) Liberdade ilimitada?? O que é isso? Nem Deus a tem.. Só o PT e o LGTB… Mano, a Bíblia oferece à humanidade o mais lindo projeto de governo que jamais existiu aqui na Terra, após a queda de nossos ancestrais.. Em Seu governo, Deus é livre, Suas criaturas também têm um grau de liberdade e essa dinâmica de liberdade afeta cada ser, inclusive o Criador. Caso contrário, Deus não correia riscos. Mas, de fato Ele correu ao Se tornar criatura! Ele poderia pecar (foi tentado, lembra-se). De modo que, liberdade ilimitada não pode existir num reino tão comprometido com o bem-estar eterno de todos.

(A) Se temos a imagem e semelhança de Deus (também creio assim) e temos liberdade tal como Ele a tem, a rigor deveríamos ter os atributos iguais aos dEle, não acha? Querido, o homem tem um determinado limite no tempo e no espaço para empreender seus negócios, para exercer escolhas e isso é natural. Nem o irmão mesmo tem livre-arbítrio. Suas escolhas são baseadas em pressupostos. Vamos nos desprender de nossas ideologias e focar nos versos de Efésios 1, os quais abordarei mais adiante.

Acredito que, quanto ao primeiro ponto o irmão concorda comigo, certo? Me explique como era antes da queda e o que aconteceu com os nossos primeiros pais após a desobediência.

(H) Oxi mano, quem lhe disse isso? Fomos feitos à imagem de Deus, ou seja, temos uma cópia de Seu próprio livre-arbítrio! A presciência dEle não é causativa nem é impedida por nossas escolhas. Ele não precisa castrar nossa liberdade para prever nossas escolhas. Satanás, p. ex., já teve seu destino selado por ele mesmo e, mesmo ele sabendo que seu fim está próximo (Ap 12.12), suas escolhas não driblarão nem as consequências de seus atos nem a presciência dAquele que julga e garante a justiça na retribuição a cada um de acordo com suas obras (cf. Ap 22.11 e 12).

Portanto, amigo, sua concepção de livre-arbítrio é tão bíblica quanto sua ideia de eleição (sua ideia sobre ambos os assuntos não estão de acordo com a Bíblia!). Sugiro que aprenda a crer na liberdade ensinada pela Bíblia. Ela lhe ajudará a desaprender sua concepção equivocada do assunto livre-arbítrio, tão essencial para uma compressão razoável sobre Deus. Posso ajudar..

(A) Em relação a crença, concordo plenamente com o irmão. Os nossos sentidos são falhos, com isso, podemos construir doutrinas que podem nos levar a um caminho de erros. Isso acontece porque somos seres racionais, tendenciosos a cativar pessoas através de argumentações baseadas nas nossas idéias. E quase sempre nos esquecemos que o Evangelho é simples.

(H) Excelente colocação, meu irmão. Sugiro que releia bem devagar o que você mesmo digitou..

Judas era livre, e somente a liberdade dele isenta Deus de culpa! Dito de outro modo: se Deus tivesse sua ideia (com todo respeito fraterno), Ele seria tão culpado em não salvar um pecador quanto o pecador que não quer ser salvo, posto que Ele não respeitaria a liberdade que Ele apenas encenou no Éden, mas, segundo sua ideia, não existe de fato. A ausência da liberdade humana torna o julgamento de Deus em pura encenação. Vamos estudar o santuário terrestre e compará-lo com seu original, o santuário celestial, em pleno vigor até o retorno de Jesus? Acredito que o amigo nunca estudou sobre esse tema tão recorrente no AT e no Apocalipse. 

(A) Todo homem tem livre agência, mas não é automato. 

(H) Se temos livre gerência, podemos escolher entre o caminho estreito e o largo, entre a vida eterna e a perdição, como Jesus e Seus profetas ensinam. 

(A) Amado, o senhor trouxe um punhado de informações que precisaríamos de muito tempo para discutir. Eu faço coro com aquilo que o irmão mesmo me sugeriu: reveja algumas coisas escritas de seu punho. Querido, para não deixarmos linhas descritas com o nosso pensamento, para não parecer filosofias vãs, vamos ver o que de fato as Escrituras nos ensinam. Me causa estranheza ao ler o que o irmão abordou no último artigo. Dizer que Cristo se fez criatura não é bíblico nem ortodoxo. Outro detalhe que me chamou a atenção é a ideia de que, a escolha divina é para algumas tarefas específicas. As Escrituras não me permite pensar assim. 

Vejamos então: 

Efésios 1: 3. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo; 4. como também nos elegeu nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; 5. e nos predestinou para si mesmo, segundo a boa determinação de sua vontade, para sermos filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, 6. para o louvor da glória da sua graça, que nos deu gratuitamente no Amado. 7. Nele temos a redenção, o perdão dos nossos pecados pelo seu sangue, segundo a riqueza da sua graça, 8. que ele fez multiplicar-se para conosco em toda sabedoria e prudência. – Almeida Século 21 Como seria a sua exegese a partir desses versos? Comecemos a partir daqui.

(O diálogo foi interrompido, mas assim que ambos estiverem com disponibilidade, ele será retomado). 

Transcrição do telegram para aqui e correções/adaptações por Hendrickson Rogers.

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