Davi e Jonatas eram gays?
Ler a Bíblia e tentar encontrar desculpas para distorcer passagens dela em prol dos nossos gostos pessoais não é vontade apenas de não-cristãos. Infelizmente, cristãos e não-cristãos ao lerem a Bíblia se deparam com passagens que não lhe soam agradáveis, pois atacam diretamente às suas mais profundas angústias, sobretudo se percebem terem aquilo que muitos chamam de “pecados acariciados”.
Contudo, o contrário também pode ocorrer: tentarmos nos aproveitar de passagens um pouco mais complicadas ou de versos isolados para embasar um estilo de vida que a própria Bíblia condena em diversas outras passagens.
O vídeo que irei comentar pode ser classificado como a segunda forma de distorção, aquela que faz uso de versos isolados, com argumentações fora de contexto e que não respeitam às regras de estudo e interpretação de texto (como exegese e hermenêutica), e muito menos à cultura oriental (evidentemente diferente da nossa, ocidental). Porém, vale ressaltar aqui que, como qualquer ser humano, mortal e pecador, pretendo essencialmente destacar os equívocos cometidos pelo jovem autor do vídeo em questão com a intenção de chamar-vos ao estudo completo da Bíblia, respeitando-a como o meio utilizado por Deus para transmitir a nós a Sua vontade, em todas as áreas da nossa vida; e que, sabendo das nossas falhas e tendências pecaminosas, ele provê o escape, cabendo a nós aceitar Seu perdão e lutar contra as tentações (1 Coríntios 10:13; Hebreus 2:18; Tiago 1:12-14; Mateus 26:41).
Antes, ratifico aqui a proposta de, bem como foi feito pelo jovem autor do vídeo, exprimir minha análise do tema como direito de resposta às afirmativas bíblicas, e tão somente estas, por ele expostas. Considerações gerais O vídeo rodou toda a rede. Tive acesso inicialmente via Facebook, mas este pode ser assistido pelo YouTube.
Uma resposta rápida e simplificada às indagações por ele levantadas pode ser vista neste vídeo. Porém, acredito que deva ser dada maior atenção aos textos por ele citados e a alguns aspectos visíveis no próprio vídeo.
Em primeiro lugar, não apoio aqueles cristãos que eventualmente tenham-no criticado com relação à homossexualidade e terminado com um mero “vá ler a Bíblia”. Isso é um desserviço ao Cristianismo em todas as esferas. Impede o evangelismo eficiente, cria uma imagem intolerante (para com o considerado pecador) e cria uma muralha com muitos que estariam até mesmo dispostos a abandonar aquele estilo de vida simplesmente por meio do bom relacionamento com cristãos autênticos.
O interesse dos cristãos verdadeiros não reside em “obter mais almas” ou “ganhar mais dizimistas” mas, uma vez que o cristão verdadeiro acredita estar munido da verdade e vê em sua vida uma mudança que lhe enche de esperança, é natural querer compartilhar sua felicidade com outros. Esbarrar em alguém que tem práticas que são condenáveis biblicamente apenas fará que este cristão [autêntico] se compadeça e ore, aja e se engaje em fazer com que a outra pessoa sinta e viva a mesma esperança que ele.
Sua intolerância será com o pecado, e não com o dito pecador.
Em segundo lugar, desafiar séculos de estudo sistemático do Velho e Novo Testamentos feito por Luteranos, Batistas, Católicos, Presbiterianos, Metodistas, Adventistas e tantos outros, é, no mínimo, impensado. O tom ditado no vídeo apenas faz com que a ira e polarização sejam acentuadas, a fim de criar tão somente um clima “antirreligiosos homofóbicos”.
Em terceiro lugar, antecipando os próximos parágrafos, ele faz uso isolado dos textos de 1 Samuel 18:1, 1 Samuel 19:1, 1 Samuel 20:30, 1 Samuel 20:41 e 2 Samuel 1:26, desrespeitando totalmente a história que os antecedeu. Para os desavisados, sobretudo os não-cristãos, isto dá o ar da razão a ele muito facilmente, e poucos são os que correrão à fonte e a comentários sérios sobre o assunto, infelizmente.
A Bíblia e o homossexualismo A Bíblia não apoia, em hipótese alguma, o estilo de vida homossexual. Há pelo menos seis passagens básicas para isto: Gênesis 19:5-7, Levítico 18:22, Deuteronômio 22:5, Romanos 1:24-28, 1 Coríntios 6:9-10, 1 Timóteo 1:10. As passagens de Gênesis, Levítico e Deuteronômio foram escritas antes de 1 e 2 Samuel, logo, é evidente que Saul, Davi e Jônatas tinham pleno conhecimento do tema e, consequentemente, da reprovação divina.
Para os mais “liberais”, vemos que há passagens claríssimas sobre o assunto também no Novo Testamento (Romanos, 1 Coríntios e 1 Timóteo). Ao longo da sua história, os escritores bíblicos se mantiveram fiéis às instruções de Deus com relação ao assunto, independente da cultura ou sociedade que se encontravam. De fato, Paulo em sua carta ao Romanos os exorta a abandonarem este estilo de vida, justamente por conta da clara reprovação divina.
Velho Testamento vs. Novo Testamento? O fato de haver passagens claras de reprovação sobre o assunto em ambos os testamentos ratifica a universalidade de toda a Bíblia. É importante lembrar um detalhe lógico muitas vezes esquecido: quando os autores do Novo Testamento o escreviam, só havia Velho Testamento! Na verdade, o Novo Testamento nada mais é que o testemunho de Jesus Cristo que, em suas próprias palavras, disse que “não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mateus 5:17). Ou seja, a Bíblia de Cristo era o próprio Velho Testamento, formado pelos livros da Lei e Profetas. Complementarmente, Jesus também referiu-se aos Salmos que, evidentemente, compõem as Escrituras sagradas junto à Lei e os Profetas (Lucas 24:44).
Jesus e o homossexualismo Adicionalmente, alguns podem se perguntar e até querer tecer desculpas para o estilo de vida homossexual ao afirmar que Jesus “não disse nada sobre o tema”. Contudo, tal afirmativa é falsa por algumas razões. Uma delas é justamente por conta dos textos citados na seção anterior: Jesus afirmou não vir “abolir a Lei”, mas “cumprir”. Parte da Lei, especialmente a Lei Civil (que era um reflexo da Lei Moral, expressa nos Dez Mandamentos), era contra a prática homossexual (Levítico 18:22, Deuteronômio 22:5), bem como contra o adultério, relações sexuais entre pais e filhos, estupro e outros. Um segundo aspecto importante, é que Jesus resume a Lei em si em dois mandamentos universais: “Respondeu Jesus: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mateus 22:37-40).
Perceba que Cristo, em Sua sabedoria bíblica, reforça a Lei, ainda que de forma resumida, apontando para o fato de que esta tem como fim último o “amar a Deus e ao semelhante”. O fato de dos dois mandamentos dependerem toda a Lei e os Profetas indica que a Lei e os Profetas são meios para o fim de se alcançar e cultivar o amor a Deus e ao semelhante. Jesus veio em missão de enaltecer e viver a mensagem já existente, e lembrar-nos de sua real importância. Assim, todos os Seus atos de perdão, cura e repreensão visavam somente a salvação mediante Sua graça e o reconhecimento do pecador de que este estava contra a vontade de Deus, isto é, em pecado.
É importante lembrar que muitas (senão todas) as curas de Cristo eram precedidas do perdão dos pecados (o que ocorreu para coxos, cegos e adúlteros). Além do mais, caso Cristo houvesse deixado pontas para a aprovação do estilo de vida homossexual, seria de se esperar a aprovação ou a não-repreensão por parte Paulo em suas cartas ao Romanos, Coríntios e a Timóteo (como já citado). O fato de ele ter reprovado este estilo de vida deixa evidente de que a Lei estava mais viva do que nunca. Além das deduções anteriores, em Seus ensinamentos acerca do casamento [aprovado por Deus, isto é, Ele mesmo] Jesus não deixa dúvidas.
Em Mateus 19:3-12, Marcos 10:2-12 e Lucas 16:18, Cristo ratifica qual o plano de Deus para o casamento perfeito. Vejamos o relato de Marcos: “Mas no princípio da criação Deus ‘os fez homem e mulher’. Por esta razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne. Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe”. (Marcos 10:6-9) Jesus volta ao relato da Criação para lembrar que a concepção divina natural para o casamento – que envolve toda a relação emocional, psicológica, espiritual e física – deve-se dar apenas entre homem e mulher.
Davi e Jônatas: contextualizando Saul havia sido rejeitado por Deus por conta de seus diversos erros, especialmente pela sua desobediência (1 Samuel 15:26-28). Deus havia dado oportunidades para que ele se arrependesse, por meio das mensagens de exortação de Samuel, porém Saul, obstinado, preferiu seguir em seus erros. Samuel, então, foi enviado por Deus à cidade de Belém para ungir Davi, filho de Jessé, para futuro rei de Israel.
Após a batalha épica de Davi com Golias, sua posse do reinado tornou-se uma questão de tempo. Deus havia rejeitado Saul e estava com Davi. O que, segundo a Bíblia, tornou a situação mais drástica foram as canções das mulheres sobre a vitória de Davi (1 Samuel 18:6-9). À partir daí, o projeto pessoal de Saul se tornou matar Davi a todo custo.
O primeiro texto citado no vídeo, 1 Samuel 18:1, refere-se à afeição que Jônatas sentiu por Davi após este ter derrotado os filisteus. A palavra no original hebraico utilizada é aheb, melhor traduzida por amor (como está traduzido na Almeida Revista e Atualizada). Porém, é muito importante citar que esta palavra está longe de ser utilizada somente com conotações sexuais ou da paixão entre homem e mulher. Uma pesquisa realizada no excelente site BibleHub.com, que dispõe de diversos comentários, referências e notas, mostra que há 209 ocorrências para aheb em todo o Velho Testamento. Destas, a palavra aparece na relação amorosa entre Abraão e Isaque (Gênesis 22:2), Isaque e Rebeca (Gênesis 24:67), Jacó e José (Gênesis 37:3-4), Deus e Israel (Êxodo 20:6), entre servos e seus senhores (Êxodo 21:5), entre “o próximo e a ti mesmo” (Levítico 19:18), entre o natural e o estrangeiro (Levítico 19:34) e outros.
De fato, o maior número de ocorrências parece ser para entre Deus e seu povo (Deuteronômio 23:5; 30:6; 30:16; Josué 22:5; Juízes 5:31, etc.). A mesma palavra também aparece com relação ao amor de Judá para com Davi (1 Samuel 18:16), Deus e Salomão (2 Samuel 12:24), o amor de Deus pela justiça (Salmos 33:5; 37:28) e o amor à sabedoria (Provérbios 8:17, 21, 36).
Os livros dos Profetas também estão recheados com aheb. Ellen G. White faz um comentário muito interessante em seu livro Patriarcas e Profetas:
“Depois de matar Golias, Saul conservou Davi consigo, e não permitiu que voltasse à casa de seu pai. E aconteceu que ‘a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma’. Jônatas e Davi fizeram um concerto para serem unidos como irmãos, e o filho do rei “se despojou da capa que trazia sobre si, a deu a Davi, como também os seus vestidos, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto”. A Davi foram confiadas importantes responsabilidades; todavia ele conservou sua modéstia, e ganhou a afeição do povo bem como da casa real. […] E a amizade de Jônatas por Davi era também da providência de Deus, a fim de preservar a vida do futuro governante de Israel. Em todas estas coisas, Deus estava levando a efeito Seus propósitos de graça, tanto em favor de Davi como do povo de Israel. (Patriarcas e Profetas, pág. 649).
Aliás, é importante citar que aheb também aparece em 1 Samuel 16:21: “Assim Davi veio a Saul, e esteve perante ele, e o amou muito, e foi seu pajem de armas” (1 Samuel 16:21-21). Por que haveria de ter uma conotação diferente com relação a Jônatas? Seria a relação de Davi e Saul homossexual também? Claro que não. O amor de Jônatas para com Davi, como descrito em 1 Samuel 18:1-4, era o mesmo amor que Saul havia nutrido para com Davi tempos atrás. A gratidão pela vitória conquistada e o caráter exemplar demonstrados por Davi foram o que gerou tamanha comoção em Jônatas e no povo. Tornava-se Davi um líder amado pela sua fidelidade a Deus.
Explicando os textos Feitas as considerações anteriores, analisemos texto a texto. À medida que o ódio de Saul por Davi crescia, a amizade de Davi para com Jônatas também. Ambos compartilhavam a mesma preocupação com relação aos intentos do rei, e a vida de Davi dependia daquela amizade. Não fosse a amizade entre os dois, talvez Saul teria sucesso na sua empreitada assassina.
O texto de 1 Samuel 20 relata a aliança feita entre Davi e Jônatas que visava descobrir se Saul efetivamente planejava matar Davi. Por ocasião da Festa da Lua Nova, Jônatas achou oportunidade junto ao rei de saber, ainda que de maneira indireta, quais as intenções deste para com Davi. No segundo dia da festa, ao permanecer vazio o lugar de Davi, Saul perguntou por ele e Jônatas seguiu com o plano combinado. Porém a resposta de Saul foi categórica: “Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e disse-lhe: Filho da mulher perversa e rebelde; não sei eu que tens escolhido o filho de Jessé, para vergonha tua e para vergonha da nudez de tua mãe?” (1 Samuel 20:30 ARC). O texto na Nova Versão Internacional (NVI) pode auxiliar na compreensão do texto: “A ira de Saul se acendeu contra Jônatas, e ele lhe disse: Filho de uma mulher perversa e rebelde! Será que eu não sei que você tem apoiado o filho de Jessé para sua própria vergonha e para vergonha daquela que o deu à luz?” (1 Samuel 20:30 NVI).
O itálico destacado em ambas as versões foi adicionado, justamente para mostrar qual a palavra mais importante da passagem. A primeira consideração válida aqui refere-se a qual conotação Saul dá quando refere-se à relação entre Jônatas e Davi. A palavra utilizada no hebraico é bachar que remete essencialmente a “escolha”, no sentido efetivo de apoio ou suporte. Em todas as suas 152 ocorrências em todo o Velho Testamento, há apenas dois locais em que há o sentido de desejo por detrás no contexto e consequente tradução (pelo menos para o inglês desired) (1 Samuel 12:13, Provérbios 21:3; 22:21).
Todas as outras remetem ao sentido de escolha em si, no sentido de “opção”, ou de “qual lado ficar” (Salmos 78:67; 47:4; 2 Crônicas 7:16; Deuteronômio 31:11; etc.). Parece, aqui, que a NVI foi muito feliz em apresentar o sentido real da passagem, sem mascarar o contexto da história. Entretanto, é importante compreender o que Saul efetivamente queria dizer.
Além de abertamente ter se oposto a Jônatas e sua amizade para com Davi, Saul utiliza de termos esquisitos para nossa cultura ocidental. O Pulpit Commentary (comentário bíblico criado no século XIX sob a direção do Rev. Joseph S. Exell e Henry Donald Maurice Spence-Jones, que consiste em 23 volumes e foi escrito ao longo de 30 anos por mais de 100 contribuidores) explica de maneira muito interessante toda a “bronca” de Saul [ver original inglês]:
“’Filho da mulher perversa e rebelde’. – Literalmente, ‘tu filho de uma perversa em rebelião’. No Oriente, o maior insulto possível a um homem é o de insultar sua mãe; mas a palavra perversa, em vez de ser um adjetivo feminino, é provavelmente um substantivo abstrato, e ‘filho da perversidade da rebelião’ significaria alguém que estaria completamente perverso em sua resistência à vontade de seu pai. ‘Para vergonha da nudez de tua mãe’. – Isto é, ‘sua mãe se sentiria envergonhada e desonrada por ter tido tal filho’”.
O comentário acima reforça a revolta de Saul, no sentido de que este se sentia, provavelmente, “traído” por Jônatas apoiar a Davi, ao invés de seu pai, o rei. A esta altura, as intenções de Saul estavam claras. Jônatas, então, procede com o plano de avisar Davi de que ele estava em perigo.
Em 1 Samuel 20:35-43 há o reencontro dos dois amigos. Davi estava na expectativa para saber o que Jônatas havia descoberto, e este, por sua vez, levava um rapaz para cumprir o sinal combinado. O aspecto em análise aqui é o beijo entre os dois homens. Porém, há de se destacar dois pontos importantes:
1) O beijo relatado em 1 Samuel 20:41 é resultado de uma série de eventos catastróficos. É a mais alta forma de expressão em meio aos acontecimentos mais desesperadores que aqueles grandes amigos passavam. Assim que Davi recebeu a mensagem e se reencontrou com o príncipe Jônatas, seu superior, prostrou-se; foi evidentemente um ato que exprimia sua súplica e desejo por misericórdia. O choro de ambos, acompanhado pelo beijo em si, é a expressão máxima da tristeza que ambos sentiam.
2) Beijos entre homens na cultura oriental não é novidade, seja na Bíblia ou fora dela. Em diversos outros episódios, a Bíblia apresenta situações diversas em que homens, a fim de expressarem gratidão, arrependimento, tristeza e outros sentimentos intensos, beijaram-se uns aos outros. Alguns exemplos são Esaú e Jacó (Gênesis 33:4), José e seus irmãos (Gênesis 45:15), José e Jacó (Gênesis 50:1), Arão e Moisés (Êxodo 4:27), Moisés e seu sogro (Êxodo 18:7), Orfa e sua sogra (duas mulheres, Rute 1:14), Samuel e Saul (confira 1 Samuel 10:1) e outros. Paulo exorta os Romanos para que “[…] saudai-vos uns aos outros com santo ósculo […]” (Romanos 16:16), que é nada mais que um “santo beijo”.
O último texto em debate é 2 Samuel 1:26. Após receber a notícia da morte de Saul e Jônatas em batalha, Davi e seus homens prantearam a morte de ambos. Assim, os versos 17 a 27 registram o lamento de Davi pela morte daqueles dois combatentes: Saul, o ungido do Senhor, e Jônatas, seu irmão (verso 26). Perceba que Davi cita Jônatas como irmão, lembrando deste como “amabilíssimo para com ele”; isto é, que Jônatas agia de amor para com Davi tal qual um irmão de sangue. Davi faz questão de ratificar seu amor pelo seu dito irmão ao comparar e colocar este amor acima do amor de mulheres.
O Ellicott’s Commentary, comentário bíblico escrito pelo teólogo anglicano Charles John Ellicott (1819-1905) contribui de forma muito interessante [ver original em inglês]:
“Ultrapassando o amor de mulheres. – Por esta forte expressão, comparando o amor de Jônatas por Davi ao da esposa fiel para o seu marido, Davi mostra seu apreço daquele maravilhoso afeto que existia entre Jônatas e ele mesmo sob as circunstâncias mais desfavoráveis. Era tal afeição, como só poderia existir entre as naturezas nobres e aqueles unidos no temor de Deus. Nestes últimos versos em que se refere somente a Jônatas, Davi deu expressão à sua própria tristeza pessoal.”
Davi seria “mesmo” homossexual? Os textos que relatam da vida amorosa de Davi no que tange a casamentos indicam claramente que ele realmente não era homossexual; não mesmo. Mical, filha de Saul, foi sua primeira esposa (1 Samuel 18:20-30). Abigail, viúva de Nabal, foi outra (1 Samuel 25:39-42). 1 Samuel 25:43 cita ainda Ainoã, outra mulher que Davi tomou para si; 2 Samuel 5:13-16 diz que Davi “tomou mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera de Hebrom, e nasceram-lhe mais filhos e filhas”. E, com certeza, o episódio que deixa evidente toda a atração heterossexual de Davi, que o levou até mesmo a pecar (a ponto de ser repreendido pelo profeta Natã), foi com Bate-Seba, esposa de Urias (2 Samuel 11 e 12:1-25).
Jônatas seria “mesmo” homossexual? O texto de 2 Samuel 9 conta a história da misericórdia de Davi para com Mefibosete, o último da linhagem de Saul ainda vivo (à época). Mefibosete, conforme o servo de Saul, Ziba, era “um filho de Jônatas” (2 Samuel 9:3), o que nos permite deduzir, sem dúvidas, que Jônatas teve pelo menos uma esposa e pelo menos um filho. Adicionalmente, 1 Crônicas 8 elenca os descendentes da tribo de Benjamim até os filhos de Uião. O verso 33 cita Jônatas filho de Saul, e o verso 34 cita o filho de Jônatas como sendo Meribe-Baal (variante de Mefibosete), que gerou Mica (também repetido em 1 Crônicas 9:40).
Conclusões A proposta deste breve estudo não se limita apenas a uma resposta ao vídeo publicado em questão. Além, obviamente, de buscarmos esclarecer os textos em debate a fim de se evitar quaisquer equívocos, o grande objetivo desta postagem é demonstrar todo o cuidado e atenção necessários para o correto estudo da Bíblia, sobretudo frente a textos que, eventualmente, possam gerar dúvidas. Dúvidas nunca serão um problema se corretamente dirigidas, em primeiro lugar, pela oração em prol do discernimento, e pela pesquisa e estudo sistemáticos (buscar os textos e termos originais (exegese) e estar a par do contexto (hermenêutica), são requisitos básicos).
A questão é se estamos realmente dispostos a aceitar a verdade.
Fonte: Engenharia Filosófica.
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