“Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo reino”, Daniel 7:24
Duas hipóteses
H1 – os 10 chifres substituem o animal, ou seja, o animal morre e os chifres representam 10 animais diferentes em lugar do animal.
H2 – os 10 chifres dariam continuidade ao animal, ou seja, o animal continua vivo e com os 10 chifres o representando.
Análise da hipótese 2
Os defensores de H2 creem que Roma, o animal em questão (o quarto animal de Daniel 7), teve 10 imperadores proeminentes, os quais foram representados pelos 10 chifres. Nero seria o imperador representado pelo chifre pequeno, o qual abateu 3 imperadores.
Há problemas insolucionáveis com essa hipótese, os quais apresentarei na forma de perguntas:
- Qual o critério para se escolher os 10 imperadores, já que Roma teve quase duas centenas deles?
- Esse critério é bíblico, quero dizer, Deus revelou ao profeta Daniel?
- Tanto no capítulo 7 como no 8, o profeta Daniel recebe a revelação de que os eventos que sucederiam o quarto animal (Roma), sejam os 10 chifres (7.24), seja o tribunal aberto para julgar o chifre pequeno “romano” (7.10) que arrancaria 3 dos 10 chifres, seja a purificação do santuário (8.14), são eventos que ocorrem no período denominado por “tempo do fim” (8.17 e 8.19). Essa mesma expressão ocorre em 11.35, 11.40, 12.4 e 9. Os supostos 10 imperadores que cumprem a profecia dos 10 chifres viveram no “tempo do fim”?
- Se eles viveram no “tempo do fim”, então isso significa que há quase 2 milênios a humanidade vive o período posterior ao tempo do fim, ou seja, Jesus já voltou, Daniel já recebeu sua “herança” (foi ressuscitado!, cf. 12.13), os santos do Altíssimo, perseguidos pelo chifre pequeno (supostamente Nero) também já receberam sua recompensa, isto é, “o reino eterno” do Altíssimo, onde “todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão” (7.27), e “terminou o assunto” (7.28). Isso é sério?
Crer que Jesus já voltou e que todos Lhe obedecem em algum lugar que não é o planeta Terra não só perpetua o mal na Terra, mas gera uma imagem irresponsável de Deus: Ele é incompetente de resolver o problema do mal, pois permitiu a existência do mal paralelamente à existência de Seu reino eterno. Além de todas essas aberrações teológicas, isso não é apoiado por uma interpretação holística da Palavra de Deus.
Conclusão: ou a hipótese 2 está equivocada ou os 66 livros, 1 189 capítulos e 31 104 versículos (em média) da Bíblia NÃO devem estar em harmonia; eles podem se contradizer livremente, sem qualquer coesão e coerência da parte Daquele que inspirou os profetas bíblicos, de modo que, estudar a Bíblia para os crentes de H2 é algo que tem a ver com: basta pegar um punhado de textos, isolá-los e atribuir um siginificado a eles, ainda que isto gere coflitos com outros textos que não estão no punhado. Isso se chama, na verdade, seletividade, e não estudo bíblico.
Análise da hipótese 1
Quem precisa dizer o significado exato dos 10 chifres é o Revelador. E Ele o fez através do anjo Gabriel. Na verdade, os reformadores e todos os que têm o cuidado de deixar a Bíblia interpretar a Bíblia, os profetas inspirados dialogarem entre si e estudar todos os versículos da Bíblia sobre determinado tema, para ter uma visão holística do assunto, somente esses estudam a Palavra de Deus como ela é. Quem não faz isso, atribui à Bíblia semânticas não confiáveis, de modo que ela deixa de ser a Palavra de Deus e se torna um livro onde cada um interpreta sem a preocupação com o que o Revelador quis revelar. Isso explica tantos “cristianismos” diferentes, mas igualmente equivocados…
Vamos deixar Deus e Seus encarregados explicarem:
Daniel 7 (ARA; grifos nossos)
2 Falou Daniel e disse: Eu estava olhando, durante a minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar Grande.
3 Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar.
15 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi alarmado dentro de mim, e as visões da minha cabeça me perturbaram.
16 Cheguei-me a um dos que estavam perto e lhe pedi a verdade acerca de tudo isto. Assim, ele me disse e me fez saber a interpretação das coisas:
17 Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis que se levantarão da terra.
19 Então, tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro, cujas unhas eram de bronze, que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobejava;
20 e também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça e do outro que levantou, diante do qual caiu três, aquele chifre que tinha olhos e uma boca que falava com insolência e parecia mais robusto do que os seus companheiros.
23 Então, ele disse: O quarto animal será um quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e pisará aos pés, e fará em pedaços.
24 Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis.
Daniel 8 (ARA; grifos nossos)
8 O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-se-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu.
22 o ter sido quebrado, levantando-se quatro em lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão deste povo, mas não com força igual à que ele tinha.
Encontramos a chave dada pelo anjo Gabriel: chifres representam “reis” ou “reinos”! Já vimos que se usarmos apenas o significado “reis” para os 10 chifres, criaremos situações contraditórias e problemas insolucionáveis, como na hipótese 2. Por outro lado, se usarmos a chave chifres = reinos, além de não gerarmos conflitos entre os textos bíblicos, teremos uma visão cristalina da História (profecias que já se cumpriram) e da Escatologia (profecias que ainda irão cumprir-se).
Irei, portanto, substituir a palavra “reis” pela palavra “reinos” em Daniel 7.24:
“Os dez chifres correspondem a dez REINOS que se levantarão daquele mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três REINOS.”
É essa interpretação que nos leva a olhar para 10 tribos/povos não romanos (“bárbaros”) como as 10 nações ou REINOS que se levantaram do império romano. Dito de outro jeito, 10 reinos que substituíram o império romano.
Isso está em harmonia com Daniel 2, onde as pernas de ferro correspondem ao império romano (Roma pagã), enquanto que os 10 dedos dos pés (e não das pernas!), se referem a um período histórico-geográfico posterior aos romanos, mas diretamente relacionado ao império romano: os 10 dedos são de barro e ferro, assim como os 10 chifres vieram da cabeça do 4º animal, mas em ambos os casos o Revelador não quis dizer que o império romano coexistiria com os 10 dedos/chifres. Antes mesmo da abertura do tribunal divino, o quarto animal ou Roma pagã já teria passado como império (cf. Dn 7.11), enquanto o chifre pequeno estaria apenas no começo de sua obra blasfema, insolente e violenta contra os santos. Se o chifre pequeno (o décimo primeiro chifre) atua somente depois do império romano, não faz sentido acreditar que os outros 10 chifres seriam contemporãneos à Roma! Isso é o equivalente a colocar dedos nas duas pernas da estátua do capítulo 2, percebe? Pernas não possuem dedos, assim como os chifres representam um período posterior ao animal a partir do qual eles surgiram. A hipótese 1 mantém a lógica usada pelo Revelador em Daniel 2.
Nessa linha, o chifre pequeno se refere à Roma “cristã” ou ao Catolicismo romano, o qual dominou o planeta por 3 tempos proféticos e meio (cf. Dn 7.25) ou 3,5 anos ou 42 meses ou 1260 dias, ou ainda 1260 anos literais.
Assim, o tribunal celestial montado por Deus para julgar o pseudo cristianismo e suas más ações contra os santos (verdadeiro cristianismo) teve seu início depois desse período, cumprindo as “2300 tardes e manhãs” (cf. Dn 8.14) ou 2300 dias proféticos, ou ainda 2300 anos literias. Daniel 9.24-27 nos ajuda a contar esse período a partir do ano 457 a.C até o ano de 1844 a.D, do qual 70 semanas proféticas ou 70×7 dias ou 490 dias, ou ainda 490 anos literais são analisados à parte, pois no final desse período “cortado” (cf. Dn 9.24), especial, o Messias Jesus viria.
Na hipótese 1, não encontramos qualquer problema cronológico ou teológico.
Na hipótese 2, além dos problemas citados, aparece Antíoco IV Epifânio como um dos chifres pequenos (o de Daniel 8, já que o de Daniel 7 é Nero, gerando bipolaridades no Revelador: Ele supostamente utiliza a mesma simbologia, “chifre pequeno”, para duas realidades completamente diferentes, o grego Antíoco e o romano Tito, em épocas totalmente distintas!) e lapsos de tempo estranhos como o de 34 a.D até 66,5 a.D, onde é necessário se pausar o tempo prófético, torná-lo literal sem a devida conversão dias proféticos = anos literais, tudo para que se adapte a Bíblia ao interpretador, e o imperador Tito se torne aquele que faz com que o fim chegue e a segunda vinda de Jesus aconteça no ano 70 a.D (alguns adeptos da hipótese 2 creem que Jesus já voltou!), embora a realidade do mal no planeta Terra e todos os outros versículos não analisados apontem na direção de que o fim ainda não chegou, Jesus ainda não voltou e, portanto, a hipótese 2 deve ser descartada se quisermos entender Daniel 7.24. Já a hipótese 1 possui uma interpretação em harmonia com o restante da Palavra de Deus.
A hipótese 1 sugere o uso do significado REINOS e não apenas “reis”. Isso foi dito pelo próprio anjo que Deus enviou para ajudar o profeta Daniel. Alguns podem pensar “mas, isso sim que é bipolaridade!” Gostaria de refletir o seguinte: o chifre pequeno, por exemplo, além de ser uma metáfora do REINO católico romano de 538 até 1798 a.D, é também um símbolo do papado, o rei do catolicismo romano, o qual possui seu trono e de onde ele supostamente substitui Deus na Terra…
Ou seja, “reis” ou “reino” não entram em conflito. São significados que, dado o contexto histórico, podem intercambiar sem gerar qualquer bipolaridade no Revelador. Pelo contrário, expande e completa o significado da profecia. E eu só dei um exemplo. Os outros 10 chifres, reis ou reinos, de igual modo, podem ter esse intercâmbio ao longo do cumprimento histórico/escatológico de seus símbolos.
(Hendrickson Rogers)
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