novembro 21, 2024

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Quem realmente toma decisões: a mente ou o cérebro?

A sensação de decisão no experimento de Libet pode ser uma ilusão completa. Talvez a verdadeira escolha seja feita pelo inconsciente. Ou talvez a percepção da escolha seja atrasada no cérebro em relação à decisão em si

A sensação de decisão no experimento de Libet pode ser uma ilusão completa. Talvez a verdadeira escolha seja feita pelo inconsciente. Ou talvez a percepção da escolha seja atrasada no cérebro em relação à decisão em si

Talvez seja o experimento mais famoso da neurociência: em 1983, o psicólogo Benjamin Libet, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, causou polêmica com sua demonstração de que a noção de livre arbítrio pode ser uma ilusão [mas, o mesmo experimento sugere que antes mesmo de o cérebro sinalizar a decisão, o “inconsciente” pode ter sinalizado primeiro; confira essa possibilidade em negrito mais abaixo].

No experimento, voluntários eram equipados com eletrodos na cabeça e deveriam escolher entre mover um dedo na mão direita ou um dedo na mão esquerda.

Os participantes eram instruídos a “deixar a vontade aparecer sozinha, sem planejar e sem se concentrar em quando agir”. O exato momento em que faziam o movimento era anotado.

Com um ponteiro que dá uma volta completa a cada 2,56 segundos, o relógio usado no teste tinha sido projetado especialmente para permitir que os voluntários percebessem mudanças de menos de um segundo.

Libet pediu ainda que os voluntários reportassem o momento exato em que tomavam a decisão de se mexer.

Há décadas, fisiologistas já sabiam que uma fração de segundos antes dos movimentos, sinais elétricos no cérebro se modificam. Isso aconteceu também durante o experimento de Libet.

Mas o resultado surpreendente foi o fato de que o momento que os participantes relataram como sendo o da decisão ocorria depois destes impulsos cerebrais e antes do movimento em si.

Isso significa que a sensação de ter tomado uma decisão não correspondia ao que causava o movimento.

Os registros dos eletrodos mostraram que a decisão, de alguma forma, já tinha sido tomada antes de os participantes perceberem. Os sinais no cérebro já estavam mudando antes da experiência subjetiva de realizar a escolha.

Será que o cérebro dos participantes realmente já tinha decidido? Será que a sensação de escolha era apenas uma ilusão? As controvérsias geradas pelo experimento de Libet só ganharam volume desde então.

A experiência não é a única que tenta demonstrar relações entre o livre arbítrio e a neurociência.

Mas a sua simplicidade chamou a atenção de muitos que acreditam que a nossa existência como ser vivo limita a vontade própria, assim como aqueles que argumentam que o livre arbítrio sobrevive aos desafios da mente por estar firmemente baseado em nossos cérebros fisiologicamente.

Parte do apelo do experimento de Libet vem de duas suposições sobre a mente humana que acreditamos serem “fatos consumados”.

A primeira é a ideia de que a mente é algo separado do corpo físico – um dualismo natural que nos leva a acreditar que a mente é um lugar puro e abstrato, livre de limitações biológicas.

A segunda suposição que temos – e que torna o estudo surpreendente – é a crença de que conhecemos nossas próprias mentes. Por causa disso, acreditamos que a nossa experiência subjetiva de tomar decisões é um relato preciso sobre como essas decisões são tomadas.

Mas a verdade é que não há motivos concretos para pensarmos que somos relatores confiáveis de todos os aspectos de nossas mentes. A psicologia, aliás, fornece vários exemplos de como erramos com frequência nesse aspecto.

A sensação de decisão no experimento de Libet pode ser uma ilusão completa. Talvez a verdadeira escolha seja feita pelo inconsciente. Ou talvez a percepção da escolha seja atrasada no cérebro em relação à decisão em si. Relatar erroneamente o timing de uma decisão não quer dizer que não estejamos intimamente envolvidos com ela.

A cada ano surgem novos artigos e estudos comentando o experimento de Libet. O processo levou ao crescimento de todo um setor acadêmico que se dedica à neurociência do livre arbítrio.

Há muitas críticas e rejeições às primeiras ideias do psicólogo americano. Muitos questionam se o experimento é mesmo relevante para entendermos a liberdade de nossas escolhas cotidianas.

Até mesmo simpatizantes de Libet tiveram que admitir que a situação usada no experimento pode ser artificial demais para servir como modelo direto de uma verdadeira decisão corriqueira.

Mas o experimento continua a inspirar discussões e a provocar novos pensamentos sobre como a nossa liberdade está enraizada em nossos cérebros.

Isso, porque o estudo nos ajuda a confrontar as nossas intuições sobre o funcionamento da mente, e ver que as coisas são mais complexas do que imaginamos.

Fonte: BBC.com.

Nota: Convido-lhe a ponderar mais sobre este empolgante assunto assistindo à palestra do psiquiatra Marcos Romano, a qual nos oportuniza mais evidências da existência da mente não como um artefato produzido pelo cérebro, nem como algo que sobrevive à morte. Siga por AQUI.

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