maio 8, 2024

Blog do Prof. H

Adaptando conhecimento útil às necessidades da humanidade

A Bíblia diferencia leis eternas de leis efêmeras? Leis morais de leis amorais? Toda ordem de Deus é um mandamento moral? Há mandamentos e testes?

O debate foi realizado em dois dias seguidos, no grupo de WhatsApp “Ciência e Filosofia”, entre NA (católico e graduando em Direito) e HR (Hendrickso Rogers).

NA @Hendrickson Rogers, pode me responder algumas perguntinhas?

HR Sim.

NA Você acredita que a lei resiste à Cruz de Cristo – afinal não existe sequer oposição entre elas – em verdade, Cristo cumpriu e está cumprindo elas. Faço um retrato fiel do que acredita? Prossigo, porém, naturalmente, há inúmeros versículos que atestam a morte/superação de diversas leis (por exemplo quando Paulo atesta que cada um observe os “dias” de acordo com sua consciência, ou que a lei é mero “aio que conduz a Cristo”) razão porque você deve crer que <algumas leis> foram superadas, e outras não. Retrato bem? Pois bem, qual o critério para uma lei ter sido abolida e outra não, e onde reside essa distinção na Bíblia, além de, havendo a distinção, o indicativo de quais estão vigentes e quais não?

HR 1) De fato, na teologia bíblica (bastante diferente da teologia católica e da teologia evangélica) a cruz é efeito e o pecado é a causa. E uma definição objetiva de pecado é:

Todo o que vive habitualmente em pecado também vive em rebeldia contra a lei, pois o pecado é rebeldia contra a lei.
1João 3:4 (A21)

2) A Bíblia em português costuma não diferenciar os vários significados do termo polissêmico “lei”, contidos nas cópias de outros idiomas. Observe:

A seguir, Jesus lhes disse: — São estas as palavras que eu lhes falei, estando ainda com vocês: era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito a respeito de mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.
Lucas 24:44 (NAA)

Lei = pentateuco.

Logo, para que é a lei? Ela foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador.
Gálatas 3:19 (NAA)

Lei = leis sacrificiais.

E nisto sabemos que o temos conhecido: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz: “Eu o conheço”, mas não guarda os seus mandamentos, esse é mentiroso, e a verdade não está nele.
1João 2:3‭-‬4 (NAA)

Mandamentos = leis morais/10 Mandamentos de Êxodo 20.

E por aí vai. Temos ainda as leis civis israelitas específicas da época; leis sanitárias: antecipações científicas como não comer carne de animais “imundos” no sentido sacrifical e do prejuízo à saúde humana, bem como higiene profilática pessoal e coletiva; e as leis-apêndices, invencionices judaicas não chanceladas por Deus e Seus profetas.

3) O pecado humano que levou a “morte” de Deus, em vez do atalho de Ele alterar Suas leis, se refere às Suas ordenanças morais – a ordem edênica de não obedecer ao anjo caído (árvore alternativa à árvore da vida), as leis bio-éticas/morais de ser macho ou fêmea (um evento genotípico fora do livre arbítrio humano), as quais foram bem resumidas nos 10 Mandamentos escritos pelo dedo de Deus em rochas e dados a Moisés, embora mesmo antes de Êxodo 20 todos esses 10 Mandamentos já vigoravam, o que deixa claro que são mandamentos anteriores a qualquer cultura e portanto dela independentes.

Jesus recebeu a condenação de todo filho de Adão (incluindo a este), tornou-Se vigário do pecador e morreu em lugar dele. Repito: a condenação da transgressão da lei evidencia que esta não foi revogada por Deus, mas mantida, de modo que o pecador arrependido e em processo de salvação não desdenha da lei que foi mantida pelo Fabricante, obedecida por Ele e que O levou a morte em lugar de editá-la ou aboli-la.

4) A fé é obediente:

Por meio dele viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência da fé, entre todos os gentios.
Romanos 1:5 NAA

E nós somos testemunhas destes fatos — nós e o Espírito Santo, que Deus deu aos que lhe obedecem.
Atos 5:32 NAA

Não há qualquer conflito entre fé e obediência, mas sim entre fé e a desobediência aos 10 Mandamentos. O pecador é salvo do pecado (da desobediência) e portanto, por meio das obras (estilo de vida obediente) revela o processo de santificação através da submissão às leis do Fabricante.

Legalismo, por outro lado, é a tentativa fracassada de ser salvo por meio de rituais (sacramentos católicos) e não do perdão oferecido unicamente pelo Fabricante, nunca por outros pecadores. A salvação é unicamente pela graça/pelo amor e arbítrio divinos. Mas a salvação se manisfesta por meio das obras:

Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.
Efésios 2:8‭-‬10 NAA

— Se vocês me amam, guardarão os meus mandamentos. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.
João 14:15‭, ‬21 NAA

Portanto, ser salvo é sinônimo de ser obediente, assim como amar é sinônimo de ser obediente! Deus não tem filhos rebeldes, pois Sua graça transformadora trata com nossa natureza carnal herdada e adquirida. Fugir da obediência é fugir dos efeitos da salvação.

5) O texto (e obcontexto) ao qual vc se refere é este:

Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem-definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.
Romanos 14:5‭-‬6 ARA

Paulo não se refere ao sábado da Criação (Gn 2.1-4 e Êx 20.8-11), um mandamento moral e, portanto, não mutável. Ele está falando sobre dias para jejuar. Sugiro que aprofunde sua pesquisa nesse texto e reconheça o que lhe informei.

6) O texto (e o contexto) ao qual vc se refere é este:

Antes que o caminho da fé se tornasse disponível, fomos colocados sob a custódia da lei e mantidos sob a sua guarda, até que essa fé fosse revelada. Em outras palavras, a lei foi nosso guardião [aio] até a vinda de Cristo; ela nos protegeu até que, por meio da fé, pudéssemos ser declarados justos. Agora que veio o caminho da fé, não precisamos mais da lei como guardião.
Gálatas 3:23‭-‬25 NVT

Como já citei, aqui Paulo NÃO se refere à mandamentos morais, mas às leis sacrificiais. Evidências: a) fé e 10 Mandamentos não são divergentes, mas convergentes, como já expliquei; b) os cristãos da Galácia estavam abandonando o evangelho e retornando aos sacrifícios já cumpridos por Cristo; c) Paulo como cristão (não como judeu) obedecia aos 10 Mandamentos e o fez até sua morte (cf. p. ex. Rm 7.7-12 e 3.31).

7) Os termos legislativos “medida provisória”, “leis municipais” e “Constituição Federal”, a título de comparação para gerar as aprendizagens necessárias à compreensão do texto bíblico, correspondem respectivamente à: leis sacrificiais, leis civis e 10 Mandamentos, com a ressalva de que, estes últimos, não são resultado de uma assembleia constituinte, mas do caráter e autoridade do Fabricante. Os profetas deixaram isso bem claro:

O mais importante é que temos um Sumo Sacerdote sentado no lugar de honra à direita do trono do Deus Majestoso no céu. Ele ministra ali no verdadeiro tabernáculo, o santuário construído pelo Senhor, e não por mãos humanas. E, visto que todo sumo sacerdote deve apresentar ofertas e sacrifícios, era necessário que esse Sumo Sacerdote também apresentasse uma oferta. Se ele estivesse aqui na terra, nem seria sacerdote, pois já existem sacerdotes que apresentam as ofertas exigidas pela lei. O serviço sacerdotal que eles realizam é apenas uma representação, uma sombra das coisas celestiais. Pois, quando Moisés se preparava para construir o tabernáculo, Deus o advertiu: “Cuide para que tudo seja feito de acordo com o modelo que eu lhe mostrei aqui no monte”.
Hebreus 8:1‭-‬5 NVT

O santuário mosaico era uma miniatura do Santuário Celestial no qual Deus rege o universo e em particular o único planeta no qual a serpente conseguiu inocular seu veneno. Cada sacrifício, cada lei provisória/típica tinha sua origem nas atividades celestiais divinas em Seu tratamento com o planeta rebelde.

NA @Hendrickson Rogers meu objetivo aqui não é disputar qualquer desses pontos, estou pedindo apenas que evidencie:

1. Distinções dadas pela própria Bíblia de que há uma diferença

a. de importância e/ou

b. de tipo entre as diversas leis,

2. O indicativo de que, havendo essas diferenças, qual delas foi superada e qual permanece.

HR Os 7 tópicos respondem todas essas questões. Caso haja alguma questão que fui desatento, é só falar.

NA O fato de que há uma citação homogênea à “lei” seria um indício de que essa categorização que você faz é artificial.

HR Qual dos profetas bíblicos possui um conteúdo “artificial” pra vc? Vc acha mesmo que Jesus morreu na cruz para que vc tivesse o direito de

~M1) ter outros deuses,

~M2) fazer imagens de esculturas sem a autorização Dele,

~M3) tomar o Nome Dele em vão,

~M4) não santificar o sábado, nem trabalhar 6 dias de dom. a sexta,

~M5) não honrar os pais,

~M6) cometer homicídio,

~M7) adulterar (ou seja, fornicar, trair, bater na esposa, “homossexualizar”, “zoofilar”, “pedofilar”, “pornografar”),

~M8) furtar,

~M9) mentir e

~M10) cobiçar??

Vc tem certeza que crê nisso? (Usei a grafia ~ e M como indicativo do oposto aos 10 Mandamentos bíblicos contidos em Êxodo 20).

Jesus morreu para vc ser igual ao diabo que vive pecando desde o princípio?? (Cf. 1ª Jo 3.8).

NA [E com relação ao tópico (5):] eu não mencionei o Sábado.

HR Verdade. Mas o que vc quis dizer ao usar o texto paulino sobre “tanto faz o dia”??

NA Que havia dias cerimoniais e que são [desnecessárias] hoje, como o texto diz. Mas o que eu quis dizer é irrelevante, quero saber a sua opinião.

HR Se vc reconhece a existência dos “dias cerimoniais”, o que lhe impede de reconhecer a clara distinção entre as leis?

NA O que eu acredito é irrelevante, a pergunta não é “você acha artificial mandamento X ou Y?”; a pergunta é “as distinções entre leis civis, morais, cerimoniais, alimentares são artificiais?”. Isto sequer implica dizer que alguma delas ou todas estejam válidas ou não, isso é um passo posterior. Qual o fundamento textual dessas distinções? Veja, eu não perguntei por analogias, perguntei pelo fundamento textual delas. Há?

HR Como vc mesmo reconhece a existência de “dias cerimoniais” ou feriados legislados pelo próprio Deus e dados por Moisés ao povo hebreu com objetivos espirituais/pedagógicos específicos, de fato há uma clara distinção entre leis cerimoniais (com validade específica), leis sanitárias (com validade específica e outras sem validade), leis civis (validade específica) e leis morais (sem validade).

NA Legal, são claras distinções baseadas em que textos bíblicos? Só estou assumindo o que você falou, que são distintos. No entanto sigo: em que (texto) reside a distinção?

HR O profeta Davi (Sl 111.7, 8 supracitado) te mostrou que há leis cuja validade é permanente. O profeta Paulo também te mostrou (Hb 8 citado mais acima também) que as leis sacrificiais tiveram sua validade até a cruz. Como ajudá-lo mais?

NA Demonstrando qual é qual, e demonstrando quais permanecem e quais não. Você presume a distinção em vez de demonstrá-la.

HR Já o fiz mais de uma vez [ao longo de todo o debate].

NA [Os 7 tópicos] Não respondem, por um motivo simples: [vc] não está nem falando do mesmo que eu. Eu nem apresentei qualquer argumento aqui, estou apenas perguntando o fundamento das distinções e, se havendo, o fundamento que leve a crer qual delas persiste e qual não.

HR Caramba.. como assim eu tratei de um assunto diferente de suas questões? Gostaria que vc me mostrasse sua pergunta e a resposta supostamente desviada, tudo bem?

O fundamento é a própria lei e o modo como foi [enunciada]! Qual dos textos que citei vc não conseguiu ver a natureza da lei?

NA Opa, não inverta o ônus, amigo, qual texto enuncia haver alguma distinção?

Literalmente todos os pontos de 1 a 5 eu não perguntei. Eu não quero saber qual sua interpretação desses textos. Eu apenas concedi toda a sua visão para, partindo dali, perguntar quais os textos bíblicos fazem (eles mesmos) as distinções.

NA [E em relação ao tópico 7] Incorreto, as analogias não são suficientes. Você deseja estabelecer uma distinção de matéria, as normas que você levantou [têm] distinção formal autoritativa (quem é <competente> e o modo pelo qual é competente para [redigi-las], as distinções de [matéria] são consequências dessas).

Vou pedir que você não se desvie do assunto.

HR De fato, as comparações são pedagógicas e não fundamentação do que eu disse e do que o profeta bíblico escreveu. De novo: as diferentes naturezas e validades das leis bíblicas são definidas por aqueles que as enunciaram e pelo Legislador delas. Caso isso não tenha ficado Claro pra vc, posso te ajudar.

NA Por favor, me ajude: onde raios está descrito, as leis M1, M2, M3 e M4 são mandamentos morais, e os ritos R1, R2 e R3 são cerimoniais? Apenas para dar um exemplo do problema: o que, na observância do [Sábado], faria ele ser um mandamento moral? Onde, na natureza de um dia estaria o fundamento para dizer “esse mandamento é excepcionalmente moral”? ((Presumindo que é na natureza do ordenado que se estabelece a distinção, coisa que você não se dignou a explicitar)).

E qual o motivo da questão: se você disser “porque Deus ordenou”, isso torna trivial a distinção, já que Deus ordenou muitas coisas, todas elas seriam então morais, e a distinção que você zela estaria minada. A consequência é hermenêutica: você só presume [contínuas] as leis que explicitamente reaparecem no NT e superadas todas as demais. Ou, ao contrário, mantém-se todas, exceto aquelas que foram explicitamente ditas superadas.

A sua argumentação está assentada nessa distinção entre os tipos de leis.

HR Vou continuar daqui. Desejo-lhe um bom primeiro dia da semana com a luz da Palavra de Deus.

Antes, porém, gostaria de lembrá-lo de que há questões minhas que não foram respondidas por vc. Depois irei marcá-las para que vc possa fazer isso. Outro ponto: para que não caminhemos em círculo, toda pergunta respondida ou parcialmente respondida deverá ser concluída por aquele que a fez, e somente então uma nova questão poderá ser levantada. Tenho a impressão de que vc, em suas questões, ao serem respondidas pelos profetas bíblicos, em vez de reconhecer isso, formula novas e novas questões antes mesmo de concluir as primeiras. Sejamos organizados e atentos, tudo bem? Vamos lá.

(As questões parcialmente respondidas devem ser notadas para que o complemento que falta seja dado. Com “notadas” eu quero enfatizar a importância de não serem ignoradas).

Essas questões, todas elas, ao meu ver, já deveriam ter sido concluídas, uma vez que os profetas que eu citei detalham as respostas satisfatoriamente. No entanto, fica claro, pelo menos pra mim, que vc exige da Bíblia um anacronismo: o conhecimento dado no formato de milênios atrás deve ser posto no formato da cultura do terceiro milênio d.C. Isso não é razoável! Vou explicar usando os temas de suas questões:

1) O mandamento sabático é anterior a qualquer cultura e foi dado à humanidade e, por conseguinte, a todas as gerações. A humanidade ainda era perfeita quando a separação do sétimo dia da semana foi legislada por Deus. Dois milênios a frente, Deus inclui em tábuas de pedra o mandamento sabático. Isso pode ser apenas um detalhe decorativo, se usarmos as lentes de nossa cultura do milênio 3. Mas à luz da cultura do milênio 2 a.C., ganhamos novas informações: os mandamentos que Deus colocou nas tábuas de pedra geraram no público da época a ideia de perpetuidade, como, de fato, já eram perpétuos. Os ex escravos dos egípcios entenderam isso muito bem! Ele não colocou em pedras as leis civis (provisórias), sacrificiais (provisórias), mas apenas os dez princípios cuja validade era eterna. Vc claramente ignora isso e procura na Bíblia uma versão do terceiro milênio sobre “qual ordem de Deus tinha validade e qual era perpétua”. Isso é anacronismo e não uma investigação.

2) Talvez o termo “moral”, exatamente por não estar na moda em nossa cultura, esteja lhe confundindo. Troquemos esse termo por outro: validade. De fato, as leis de validade efêmera são absurdamente distintas das leis perpétuas. Sua dificuldade em enxergar ou reconhecer isso não tem nada a ver com “isso não está na Bíblia”, mas sim com “vc não sabe onde está na Bíblia”; algo que já corrigi com as citações oportunizadas.

3) Nada vindo de Deus é “trivial” ou banal. No entanto, isso não é sinônimo de que tudo o que Ele ordena é eterno. Observe a lista de leis não triviais e não eternas:

a. não comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal;
b. entrar na arca construída por Noé;
c. circuncisão dos descendentes machos de Abraão;
d. sacrifícios de animais que apontavam para o “Cordeiro de Deus”;
e. outros rituais no santuário terrestre que apontavam para os rituais no Santuário Celestial;
f. erradicar os povos cananitas de seu território;
g. as leis sobre os trajes do sacerdócio levítico,

e por aí vai. Se vc tem dificuldade em entender o por que dessas legislações divinas, embora não serem triviais, não serem eternas, isso só revela uma lamentável lacuna em seu relacionamento com a Palavra de Deus, e não uma lacuna na Própria.

3) Todo o AT aparece no NT. Repito: todo AT! A crença [dispensacionalista], [auto contraditória], não é bíblica, mas uma invencionice. Não há qualquer inutilidade no AT ou metodologia falha que Deus tenha precisado “mudar” após Sua vinda como Emanuel. Essa bipolaridade teológica ignora a Exegese e torna a Hermenêutica um jogo relativista. Deus não muda, e Sua metodologia com a gente, por conseguinte, também não. Nós é que somos mutantes, para melhor ou pior, a depender de nosso relacionamento com a Palavra!

Todas as leis provisórias que eu citei mais acima, não foram provisórias por mudança no paradigma divinos no trato com a humanidade. Foram provisórias desde sua vigência.

O que muda no NT então? Nada. Exatamente nada. A Palavra de Deus não precisa de reformas, revisões e muito menos edições. Ela é completa para nossa salvação e para o desenvolvimento da ciência/métodos matemáticos. Está escrito:

— Não pensem que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir. Porque em verdade lhes digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que desrespeitar um destes mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado mínimo no Reino dos Céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no Reino dos Céus. Porque eu afirmo que, se a justiça de vocês não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrarão no Reino dos Céus.
Mateus 5:17‭-‬20 NAA

Quando o Senhor asseverou isto, ainda não existia o NT! Portanto, essa e todas as demais palavras de Jesus se referem ao AT. E Ele não o modificou, pois o AT é fruto Dele mesmo, pois Ele é a Palavra. A Bíblia é uma metáfora viva do Cristo, por isso é impossível idolatrá-la, (assim como é impossível endeusar Deus, embora seja facilmente possível endeusar criaturas e idolatrá-las, colocando as invencionices delas em pé de igualdade ou acima da Palavra Dele!).

Portanto, o NT só é entendido à luz do AT, no qual aparece toda a teologia necessária para a salvação da humanidade. O NT sem o AT é música para surdos.

HR Já demonstrei que sua crença de que todos os mandamentos divinos são morais, é falsa. Caso reconheça isso, ficará explícita a distinção que os profetas enunciadores das diversas leis fazem. Vc discorda de quem, de Davi ou Paulo?

NA Aqui há outra confusão: ainda que se estabeleça que nem todas as leis são morais, não fica estabelecida a distinção de <quais leis são morais> e quais não são, e dentre as que não são, se haveria outros tipos, que é o foco todo da nossa conversa.

HR Após ler o que eu pus (ou reler), espero que seu amor à Verdade seja mais forte que a paixão aos costumes e repetições. A Bíblia já distinguiu exitosamente, e eu a citei detalhadamente. Caso haja algum mal entendido, faça o que coloquei no início: para não parecer que suas perguntas são desculpas, conclua aquelas que já foram devidamente respondidas ou parcialmente respondidas.

NA Você fez uma alegação de que mandamentos morais são eternos/insuperáveis por serem morais, quanto à isso eu tenho três questões:

1. Qual o fundamento para isso?
2. Qual mandamento divino não é moral? Afinal, se Deus ordenasse que [dizimássemos] 10,5% do nosso produto bruto, em vez de 10% seria de igual valor moral – porque desobedecê-lo implicaria pecado.
3. Como você explicaria o caso da ordem de Deus para Abraão matar Isaque à luz disso? No momento T1 quando Deus ordena [a] Abraão, é literalmente o dever moral dele matar o filho, no entanto em T2 quando Deus diz que ele não mate, é literalmente o dever moral dele não matar o filho.

De T1 para T2 existe uma notória mudança em mandamento moral. Só sucede aquilo que é possível. Portanto é possível uma mudança de mandamentos morais.

HR 1) Está escrito:

Tudo o que ele faz é bom e justo, podemos confiar em todos os seus mandamentos. Eles permanecem para sempre e devem ser cumpridos com verdade e honestidade.
Salmos 111:7‭-‬8 VFL

De fato, há mandamentos sem validade.

NA Sim, amigo, volte na minha primeira mensagem. [Eu] comecei concedendo que você está certo. Há <algumas leis superadas> e há <algumas leis não superadas>.Por isso eu comecei perguntando “por acaso estou retratando bem?”.

HR 2) e 3) Não existe mandamento divino “moral” para uma criatura. Uma qualidade deles é a coletividade. Na verdade, essa propriedade legislativa/jurídica é imitada pela humanidade na busca justiça! A ausência de legislação para a coletividade ou “a lei que vale pra Chico e não pra Francisco” evidencia injustiça.

Abraão não recebeu uma lei moral, mas um teste. Está escrito:

Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque. Aquele que acolheu as promessas de Deus estava a ponto de sacrificar o seu único filho, do qual havia sido dito: “A sua descendência virá por meio de Isaque.” Abraão considerou que Deus era poderoso até para ressuscitar Isaque dentre os mortos, de onde também figuradamente o recebeu de volta.
Hebreus 11:17‭-‬19 NAA

O Deus bíblico, nosso Pai, não é bipolar, nem injusto. Portanto, nem Ele nem Suas leis morais são mutantes, editáveis ou descartáveis!

Espero que reconheça que impôs ao texto uma crença sua: “todas as ordens de Deus são mandamentos morais e Ele pode dar ordens diferentes para pessoas diferentes”, [parafraseando] o que vc insinuou no caso de Abraão. Paulo discorda de vc. Paulo interpretou Moisés (Abraão) de modo diferente do seu. Logo, deve-se abandonar imediatamente a crença diferente daquela autorizada pelo profeta autorizado.

Está escrito:

— Porque eu, o Senhor , não mudo; por isso, vocês, filhos de Jacó, não foram destruídos.
Malaquias 3:6 NAA

Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre.
Hebreus 13:8 NAA

Essa é a base da imutabilidade dos mandamentos morais e universais divinos: a lei é reflexo do caráter de seu legislador. Crer que Deus é bipolar gera crenças equivocadas como essa sua de que Mandamentos morais divinos são qualquer coisa mutante e/ou editável. Não existe isso na Bíblia!

NA Aqui você se confunde: Paulo de fato explica o episódio de Abraão como sendo um teste, mas isso não significa dizer que Paulo com isso atestou que “nem todos os mandamentos são morais”, afinal, cono demonstrei isso interpreta mal o que eu falei e não encaixa com o que você mesmo disse, pois você acredita que o episódio sequer se tratava de um “mandamento”, obviamente não seria um “mandamento moral” se não é nem um “mandamento”.

Vou aportar o que para mim configura todos os mandamentos divinos como morais:

1. Qualquer ordem divina parece implicar que eu tenho o <dever> de obedecê-las, o dever é matéria de moral, portanto qualquer ordem divina é de matéria moral.
2. Qualquer desobediência à Deus configura pecado, o pecado é matéria moral, portanto qualquer obediência à Deus é de matéria moral.

HR Essa é a sua opinião, não a de Deus. Mandamento não é passível de relativização ou edição, nem da letra nem da validade. Vc incorre em ambos os equívocos ao colocar tudo o que Deus ordena como mandamento eterno.

Vc não vai tentar matar seu filho como prova de obediência a Deus, correto?
Vc não é circunciso, correto?
Vc não sacrifica animais para participar do processo de salvação, correto?

Isso exemplifica que há testes e mandamentos. Há mandamentos de validade efêmera e eterna.

Pecado é a desobediência aos mandamentos, não aos testes.

A obediência aos mandamentos eternos constitui ocupação dos filhos de Deus nos últimos dias antes da volta do Senhor, enquanto a besta do mar impõe mandamentos adulterados e crenças falsas. Está escrito:

Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.
Apocalipse 14:12 NAA

NA A base da imutabilidade dos mandamentos divinos é um texto que fala sobre a imutabilidade do próprio Deus. Bom, ou disso segue, ou [disso se] presume que os mandamentos de Deus são o próprio Deus. Um ato divino pode ser transitório, e ordenar é um ato, portanto um mandamento divino poderia ser transitório.

Deus temporariamente manteve o sol parado no céu, também moveu provisoriamente a sombra, também provisoriamente manteve ressurreto à Lazaro. Nenhum desses atos, transitórios, implicou mutabilidade divina.

HR A validade de um mandamento divino já foi amplamente fundamentada. Caso vc tenha alguma dificuldade em relação a isso, é só destacar.

Os mandamentos divinos refletem o caráter do Legislador, não a validade dos mesmos. Seu jogo de palavras deve ser trocado pelo correto relacionamento com a Palavra. Está escrito:

Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.
Mateus 22:29 ARA l

Até aqui a fundamentação de suas perguntas jaz em seu pouco relacionamento com a Bíblia. Segundo Jesus, isso é um erro.

Deus não parou o sol, assim como coelhos não ruminam, nem o sol se põe! Isso são expressões populares que desde sempre a humanidade usa! Josué 10 não é um tratado de Astronomia, mas uma declaração feita e deve ser entendida no contexto do conhecimento científico: sol e lua (os astros citados por Josué) não geram dia/noite, mas a rotação da Terra em relação a esses astros. Essas expressões bíblicas refletem propriedades da inspiração e revelação:

a. Deus não oblitera o conhecimento/a identidade do profeta;
b. o desconhecimento do profeta sobre todos os detalhes da profecia não diminui a veracidade da mesma, mas exige do estudioso dela conhecimento do contexto e da cultura do profeta, para evitar uma compreensão equivocada daquilo da profecia.

Moisés também escreveu que coelhos ruminam com base no movimento da boca do animal. Isso é perfeitamente aceitável vindo de um profeta que não é biólogo. João fala sobre os 4 cantos da Terra e até hoje nós usamos essa expressão e “o pôr do sol”. Mas isso não quer dizer que essas declarações são literais!

De novo: seu jogo de palavras envolvendo a (i)mutabilidade de Deus e Seus Mandamentos reflete pouco relacionamento com a Bíblia e não acrescenta neste debate.

NA Você deu um argumento muito interessante aqui [em 2) e 3)] e vou [respondê-lo] separadamente. Mas temo que a implicação disso seja que não existe nenhum mandamento eterno.

Aqui [em 2) e 3)] parece haver três pontos principais:

I. O argumento de que uma lei necessariamente é coletiva.

II. O argumento de que Abraão [exemplifica] um teste e não uma lei.

III. As leis mudarem implicaria que Deus muda.

Vou partir do pressuposto que III já foi satisfatoriamente respondido.

Sobre I. Esse argumento é particularmente interessante (porém não é bíblico, é jurídico). Eu vou começar discordando dele, mas depois concordando para desenhar que as implicações dele são desfavoráveis para você.

Eu não considero que [seja] requerida uma comunidade ou coletividade para um mandamento ser um mandamento (ou seja, coletividade não é um requisito de um mandamento, ainda que possa sê-lo (veja por exemplo o mandamento “não cobiçarás a mulher do próximo”, ele tem como requisito lógico que haja um agente, seu próximo e a mulher do próximo, além de um legislador), porque penso que, ainda que houvesse apenas Adão, e Deus tivesse dirigido à ele a ordem “guardarás o [Sábado] como dia Santo”, isso seria mandamento entre ele e Deus tanto quanto será, se havendo uma comunidade de recipientes da norma. Afinal, a obediência ao Sábado é um mandamento cuja obediência é pertinente à Deus e ao obediente, e não à comunidade.

Em seguida você argumenta que se houvesse lei “para uma só pessoa” esta seria injusta, e isso simplesmente não segue, principalmente se nós cremos que a imperatividade de uma Lei (divina) se radica justamente na Autoridade responsável por ela.

Todavia, se eu concedesse que [seu] argumento está certo, se seguiria que não há nenhum mandamento eterno, e a razão é simples: houve um tempo em que não havia comunidade humana nenhuma para receber as leis, e então um tempo onde só houve um, e então dois, e então multiplicaram-se.

Aqui não há sentido em apelar para a “coletividade de anjos” ou a coletividade da Trindade, na eternidade, porque qualquer “mandamento” quanto à Trindade seria mera descrição do modo como são.

Um argumento acessório à ser aportado aqui seria: é arbitrário vincular a validade da Lei à certa coletividade, simplesmente porque você não é capaz de determinar quanta gente constitui uma coletividade. Adão sozinho não é coletividade, mas quando Eva surge, são? Ou então com Caim e Abel? Ou com estes e seus filhos?

Quanto ao ponto II. Eu nunca neguei que exemplificava um teste, isso é biblicamente claro, o que eu aleguei é que quando Abraão recebe aquela ordenação, ela constitui um mandamento para ele. Ou seja, o mandamento é o meio pelo qual Abraão fica obrigado à sacrificar Isaque. O teste por sua vez é se Abraão vai obedecer ao mandamento ou não.

Esse exemplo é excelente porque você não tem escapatória, senão admitir que Abraão tinha mesmo o dever moral de matar à Isaque, porquanto a alternativa à isso é dizer que Deus mentiu para Abraão.

Logo, fica de pé o exemplo de Abraão como uma prova de que mandamentos morais podem sim mudar. Logo, ser moral não é critério para dizer que uma norma é eterna.

HR I e II. Uma lei justa é aquela cujo alcance é coletivo, e não individual. É isso que está desenhado em meu argumento sobre seu comentário a respeito do teste feito por Deus a Abraão. Primeiro reconheça seu erro em crer que o teste dado por Deus a Abraão era um mandamento eterno.

III. Se leis de validade eterna fossem mudadas por Deus, então Ele estaria Se contradizendo. Esse é o ponto. De igual modo, leis de validade passageira, se fossem por Ele tornadas eternas também denotariam uma mudança divina, algo estranho para alguém que é perfeito e todo-poderoso.

1) Todos os argumentos que eu uso são, na verdade, não são meus, mas dos profetas bíblicos. Eu apenas os enuncio.

2) O Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu. Trouxe-os ao homem para ver como os chamaria, e o homem escolheu um nome para cada um deles.
Gênesis 2:19 NVT

Essa é a única atividade feita pela humanidade quando só havia um exemplar dela. Todas as demais atividades, todos os mandamentos, efêmeros e eternos, sem exceção, foram para a humanidade com pelo menos duas pessoas. O sábado é o sétimo dia, e Eva foi fabricada ainda no 6° dia. Isso refuta toda sua construção “Sobre I”.

Aqui (“Eu nunca neguei que exemplificava um teste”) vc se contradiz pra fugir do reconhecimento de sua crença “tudo o que Deus manda não é trivial e, portanto, tem igual validade”. Se era um teste, não era um mandamento eterno, mas uma escolha livre. Moisés, séculos depois, foi submetido a um teste semelhante:

O SENHOR disse a Moisés: — Agora vi que este povo é teimoso e rebelde. Portanto, deixe-me, porque estou muito irritado contra eles e vou destruí-los. Mas farei de você uma grande nação. Moisés implorou ao SENHOR, seu Deus, dizendo: — Ó SENHOR, por que está tão irritado contra o seu povo, o povo que tirou do Egito com grande força e poder? Se o Senhor fizer isso, o povo do Egito irá dizer: “Foi para lhes fazer mal que os libertou. Foi para matá-los nas montanhas e removê-los da superfície da terra”. Não esteja tão irritado e abandone a ideia de fazer mal ao seu povo. Lembre-se dos seus servos Abraão, Isaque e Israel. O Senhor jurou pelo seu nome e prometeu a eles: “Multiplicarei os seus descendentes e farei com que vocês sejam tantos como as estrelas do céu. E esta terra que lhes prometi será dos seus descendentes para sempre”. Então o SENHOR teve compaixão e não destruiu o seu povo como tinha dito que ia fazer.
Êxodo 32:9‭-‬14 VFL

E aí? Moisés foi “desobediente ao teste de Deus”? Ou num teste o sujeito testado pode escolher livremente e ainda assim isso não é descrito como obediência ou desobediência?

Espero que reflita e reconheça mais esta refutação..

Abraão não tinha qualquer dever moral, uma vez que ele não estava submetido a um mandamento moral! Outra crença equivocada sua.. Moisés também não.

De modo algum [“fica de pé o exemplo de Abraão”]! Sua construção cuja fundamentação é falta de relacionamento com a Bíblia já foi destruída pela própria Bíblia. Teimosia e negacionismo é o destino do não reconhecimento dos dados bíblicos!

NA Provavelmente a gente já chegou no final da conversa, você provavelmente não vai aportar nenhum argumento novo, e eu provavelmente também não. Parece que você está apenas discordando desde algum tempo das definições que eu dei, então provavelmente não há muito mais de onde possamos seguir. Então, possivelmente eu não darei seguimento depois dessas respostas a seguir, apenas porque não é mais matéria de discussão, como você insinuou abaixo eu “não respondi” as perguntas que você fez – e eu literalmente as respondi – então acredito que o que você quer dizer é que as respostas não são satisfatórias, sendo esse o caso, já não é algo que eu possa arbitrar.

HR Tudo bem, mano. Agradeço-lhe a atenção e o respeito. Deus nos conceda Sua sabedoria e que nós tenhamos o desejo intenso de recebê-la.

(Hendrickson Rogers)

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