maio 8, 2024

Blog do Prof. H

Adaptando conhecimento útil às necessidades da humanidade

Dúvidas acerca da providência no processo da evolução

Várias formas de evolução teísta sugerem que a descendência com modificação é o processo que Deus escolheu para criar a diversidade da vida incluindo os seres humanos. Muitos parecem achar que estão combinando a ciência com a Bíblia, ao adotar uma das teorias da evolução teísta. Essa é uma falsa esperança. A despeito de alegações popularizadas, qualquer noção de atividade sobrenatural na natureza é incompatível com o darwinismo ou com a ciência, como são usualmente definidos. [60] Darwin foi enfático ao rejeitar qualquer apelo quanto à divina guia sobre a evolução:

Rejeito por inteiro qualquer adição subsequente, segundo meu juízo totalmente desnecessária, “de novo poder, atributos e forças”; ou de qualquer “princípio de melhoramento, a não ser que, na medida em que cada caráter que é naturalmente selecionado ou preservado, seja de algum modo uma vantagem ou melhoramento, caso contrário, não teria sido selecionado. Se estivesse convencido de que precisaria exigir essas adições à teoria da seleção natural, eu a rejeitaria como refugo. […] Eu não daria nada pela teoria da seleção natural, se ela exigisse acréscimos miraculosos em qualquer dos estágios da descendência. [61]

O biólogo ateu Jerry Coyne enfatiza a impossibilidade de combinar a fé no Deus bíblico e a evolução de Darwin:

Verdade; existem cientistas religiosos e darwinistas que vão à igreja. Porém, isso não quer dizer que fé e ciência sejam compatíveis, exceto no sentido trivial de que ambas as atitudes possam ser simultaneamente abraçadas por uma mente humana singular (é como dizer que casamento e adultério são compatíveis porque algumas pessoas casadas são adúlteras),. [62]

Coyne acrescenta:

Essa desarmonia é um segredinho sórdido nos círculos científicos. É de nosso interesse pessoal e profissional proclamar que a ciência e a religião são perfeitamente harmônicas. Afinal, queremos nossas subvenções financiadas pelo governo, e nossas crianças em idade escolar expostas à verdadeira ciência e não ao criacionismo. Pessoas religiosas liberais têm sido importantes aliadas em nossa luta contra o criacionismo e não é prazeroso afastá-las ao declarar como nos sentimos. É por isso que, por questão tática, grupos como a Academia Nacional de Ciências alegam que a religião e a ciência não estão em conflito. Porém, sua principal evidência — a existência de cientistas religiosos — está minguando, à medida que os cientistas se tornam cada vez mais vociferantes em relação à sua falta de fé. [63]

O cenário evolucionista está permeado de características que os cristãos consideram como inverídicas e não provadas. Acrescentar o teísmo à teoria da evolução, como em todas as teorias da evolução teísta, inevitavelmente torna Deus o deus do mal. David Hull, preeminente filósofo evolucionista, das Universidades de Indiana e Northwestern, assinala as implicações da evolução teísta relativas ao problema do mal e do sofrimento:

Que tipo de Deus pode alguém inferir da natureza de fenômenos sintetizados pelas espécies nas Ilhas Galápagos, de Darwin? O processo evolucionário tem abundância de casualidade, eventualidade, incrível desperdício, morte, dor e horror. […]

Seja qual for o Deus envolvido na teoria evolucionista e sejam quais forem os dados da história natural, Ele não é o Deus protestante do ‘não desperdice’, ‘não tenha falta’. Ele também não é um Deus amoroso que cuida de suas produções. Ele não é sequer o Deus tremendo retratado no livro de Jó. O Deus de Galápagos é descuidado, esbanjador, indiferente, quase diabólico. Certamente não é o tipo de Deus diante do qual alguém se inclinaria para orar. [64]

Os cristãos que quiserem combinar a teoria da evolução com alguma noção de um deus que age na natureza devem evitar alegar que estão combinando Deus e Darwin. O que fazem é colocar alguma atividade sobrenatural no lugar dos processos neodarwinistas de mutação e seleção natural. No processo, estão colocando Deus no lugar de Satanás como a causa do mal. O biólogo evolucionista Kenneth Miller, da Universidade Brown, denunciou qualquer apelo a um Deus que esteja ativamente guiando os eventos da natureza:

O design inteligente [qualquer teoria segundo a qual Deus esteja vez após vez afetando o curso da natureza] presta um terrível desserviço a Deus, ao lançado como um mágico que periodicamente cria, e cria, e depois cria outra vez, ao longo das eras geológicas. Aqueles que acreditam que o único propósito do Criador foi a produção da espécie humana devem responder a uma pergunta simples — não porque eu a tenha feito, mas porque é demandada pela própria história natural. Por que esse mágico, a fim de produzir o mundo contemporâneo, acha necessário criar e destruir criaturas, habitats e ecossistemas, reiteradamente, milhões de vezes? [65]

O fisico Steven Weinberg, vencedor do Prêmio Nobel de Fisica em 1979, escreveu:

Embora eu entenda muito bem como as penas vivamente coloridas evoluíram a partir de uma competição pelo acasalamento, é quase irresistível imaginar que toda essa beleza foi, de algum modo, providenciada para nosso beneficio. Entretanto, o Deus das aves e das árvores teria que ser também o Deus dos defeitos congênitos e do câncer. [66]

Propor que Deus, de algum modo, esteja guiando a evolução não resolve os problemas da teoria geral da evolução. Somente acrescenta esses problemas aos problemas teológicos da evolução teísta. O tipo de Deus envolvido na teoria da evolução não é o Deus da Bíblia. Um “deus” como esse faz pouca diferença para o domínio do naturalismo filosófico na ciência, mas torna-se causa do mal na forma de sofrimento, defeitos genéticos, violência e o predomínio do forte sobre o fraco. Esse “deus” não é apenas uma inutilidade para a ciência, mas filosófica e sociologicamente indesejável.

Conclusão (este desfecho vem depois do texto acima, o qual vem depois da seguinte sequência de artigos: “Evolução” e evasiva, Evolução como questão experimental ou histórica, Viés filosófico na Ciência e na Evolução, A “teoria da Evolução” não tem uma definição suficientemente clara para uso científico, Questões sobre abiogênese, Questões acerca de um ancestral universal comum (monofilia), Questões Acerca da Confiabilidade de Avaliar Relações Evolutivas e Questões acerca da Seleção Natural como sendo capaz de criar novidade morfológica).

A ciência contemporânea é dominada pela filosofia naturalista, que repele qualquer atividade divina. Sendo assim, a abiogênese e a seleção natural (ou algo similar) são suas únicas opções disponíveis para explicar as origens da biodiversidade. Essa explicação persiste, não porque tenha sido cientificamente testada e demonstrada como razoável, mas devido a uma repulsa pelo sobrenatural. As declarações citadas aqui, muitas de cientistas evolucionistas engajados e gabaritados, mostram que a abiogênese e a seleção natural são amplamente vistas como tentativas insatisfatórias de explicar a presença e a diversidade da vida, respectivamente.

A aversão pelo sobrenaturalismo inerente a uma criação especial pode ser um fator da insistência no sentido de que a evolução tenha que ser verdade. O biólogo D. M. S. Watson, da University College, Londres, escreveu:

A extrema dificuldade em obter os dados necessários para qualquer cálculo quantitativo da eficiência da seleção natural faz com que pareça provável que essa teoria seja restabelecida, se for o caso, pelo colapso de explanações alternativas que são atacadas com mais facilidade por observação e experimentos. Nesse caso, apresentará um paralelo à própria teoria da evolução, uma teoria aceita em âmbito universal, não porque possa ser provada como verdadeira por evidências logicamente coerentes, mas porque a única alternativa, a criação especial, é claramente inacreditável. [67]

Talvez tenha chegado o tempo de fazer com que o mundo científico se lembre da criação especial. O quadro naturalista contemporâneo do mundo, que exclui a atividade divina antes mesmo de examinar as evidências, é um fracasso. Alguém poderia perguntar o quanto nosso retrato da natureza seria diferente se ele fosse reemoldurado com o libertador conhecimento de um Deus criador, cujo poder eterno e natureza criativa podem ser vistos nas coisas que Ele fez.

Referências:

60. Concordo com aqueles que, no movimento do design inteligente, alegam que definir ciência desse modo é uma decisão filosoficamente baseada, não uma escolha logicamente necessária.

61. Neal C.Gillispie, Charles Darwin and the Problem of Creation (Chicago, IL: University of Chicago Press, 1979), p. 120, carta em CD para Lyell.

62. Jerry Coyne, “Seeing and Believing”, The New Republic, 4 de fevereiro de 2009, p. 33.

63. Ibid., p. 41.

64. David L. Hull, “The God of the Galapagos”, Nature 342 (8 de agosto de 1991), p. 485, 486.

65. Kenneth R. Miller, Finding Darwin’s God (Nova York: HarperCollins, 1999), p. 128.

66. Steven Weinberg, Dreams of a Final Theory (Nova York: Vintage Books, 1993), p. 250.

67. D. M. S. Watson, “Adaptation”, Nature 124, n. 3119 (10 de agosto de 1929), p. 231-234, 233.

 

Fonte: No Princípio: a ciência e a Bíblia confirmam a criação. Org. Bryan W. Ball; tradução Eunice Scheffel. – Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017, p. 264-267 e 270.

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