abril 27, 2024

Blog do Prof. H

Adaptando conhecimento útil às necessidades da humanidade

Cronologia das revelações de Deus — quando, como, a quem e o que foi revelado

A Palavra de Deus é o conjunto de revelações que Ele transmitiu à humanidade, a qual Se manisfestou desde que o universo foi criado. Como não havia testemunha ocular/auricular humana, no início do universo até a Criação da humanidade, Deus revelou aos profetas o que havia acontecido antes da humanidade. Esses profetas viram as “filmagens” gravadas pelo próprio Deus e/ou Seus assistentes angélicos e oralizaram para seus contemporâneos e estes para a posteridade. A partir de Moisés, do profeta Moisés, a Palavra de Deus começou a ser anotada e registrada em diversas mídias (ou por diversos meios).

“Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hebreus, 11.3).

Acreditar nisso, longe de ser fideísmo, é mais racional do que crer que o santo nada, a inexistência toda-poderosa, criadora, engenheira, onisciente e mantenedora, seja a causa “científica” do universo e da vida.

As evidências em favor da Bíblia como fonte histórica confiável das origens, em comparação com as ideologias atéias, são robustas, verificáveis e não necessitam de imposições e perseguições para serem examinadas e aprendidas. Já as crenças ateístas, só sobrevivem à base de imposição: se não fossem impostas nas universidades, artigos e livros, não existiriam mais.

Por outro lado, o que é a Palavra de Deus? Ela já se aposentou? Essas revelações divinas foram extintas? As aberrações medievais do “cristianismo” de Roma (torturas, genocídios, mentiras, fraudes, corrupção e totalitarismo) estão em conformidade com Deus e Suas revelações? E os abusos e assassinatos também vindos da outra vertente “cristã” denominada protestantismo, a Bíblia é a fundamentação teórica desses outros eventos monstruosos?

Se tanto os que supostamente foram/são de Deus como os que supostamente não creem Nele foram/são capazes de cometer atrocidades contra seus semelhantes, e contra fauna e flora, para que serve a Bíblia? Alguém que realmente conhece, ama e obedece à Bíblia é capaz de prejudicar seu próximo de alguma forma?

Como saber se Deus apoia um movimento em Seu Nome? Quais as revelações Dele e o que Ele não revelou?

Certamente, se encontrarmos respostas para essas questões, poderemos apostar todas as nossas fichas e reciocínio e tempo de vida nessas respostas!

Esta cronologia procura traçar uma linha do tempo que contemple não apenas as respostas desses importantes questionamentos, mas também oferecer ao leitor motivos para enxergar a Bíblia como Palavra de Deus, e luz para a estrada da vida humana.

(Hendrickson Rogers)

Figuras mencionadas ao longo desta Cronologia

FIGURA 1
FIGURA 2
FIGURA 3
TABELA 1
FIGURA 4
ÉpocaEvento
Há cerca de 13,8 bilhões de anos[3]Sl 33 6Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles.

Sl 33 9Pois ele falou, e tudo se fez;
ele ordenou, e tudo passou a existir.

Hb 11 3Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem.
3º milênio a.C.Alguns documentos que mencionaremos, como por exemplo o Enuma Elish e o Épico do Gilgamesh (ambos do 7° século a.C.), são posteriores a Moisés, mas hoje é praticamente unânime a opinião que esse tipo de literatura remonta a uma tradição que advém do 3° ou 2° milênio a.C., p. 60.[13]

Ur dos Caldeus, p. 75.[13] (Cf. o ano de 1922).
3000 a.C.No auge do movimento de "desmitologização" da Bíblia, que pretendia expurgar racionalmente tudo que não era considerado histórico nas páginas do livro sagrado, os críticos ensinavam que a arte de escrever não se cultivara entre os israelitas senão a partir do 10° século a. C., nos dias de Davi, portanto. Até essa época a tradição e legislação de Israel fora apenas oral, de modo que Moisés não poderia ter escrito nada do Pentateuco. Mesmo porque, a escrita conhecida em seu tempo era hieroglífica e pictográfica, não possuía vocabulário suficiente para um texto tão rico como o Gênesis (cf. o ano 1934).

As escavações, no entanto, vieram demonstrar o contrário. Hoje todos nós sabemos que a escrita era muito mais antiga do que se pensava. Ela datava de quase mil anos antes de Moisés. A descoberta de vastas bibliotecas pré-abraâmicas em Ereque, Lagash, Ur, Kish. Babilônia e outras cidades demonstrou que já pelo terceiro milênio antes de Cristo os sistemas gráficos estavam em uso corrente, produzindo livros, anais e documentos que tornavam perfeitamente possível a autoria mosaica do Pentateuco (cf. o ano 1979), p. 18 e 19.[13]
2500 a.C.A história registrada por escrito (a invenção da escrita) começa em torno de 2500 a. C., p. 41.[13]
2400 a.C.Várias inscrições hieroglíficas foram encontradas em estelas, obeliscos, tumbas, sarcófagos, templos e papiros encontrados no território egípcio e sudanês. A maioria desses textos foi catalogada, traduzida e recebeu o nome de The Pyramid Texts. Atualmente, qualquer interessado em egiptologia pode ler esse vasto material e ter uma idéia de como os antigos conterrâneos do faraó entendiam, entre outras coisas, a formação do mundo. Na verdade, o Egito possui um rico acervo de versões sobre a criação. Basicamente, elas apresentam os princípios da vida, da natureza e da sociedade como sendo estabelecidos pelos deuses, desde a criação do nosso planeta. Mas todas começam falando de um tempo em que nada existia. Mencionam uma época antes da história "quando o céu ainda não tinha vindo à existência, a Terra não tinha ainda se formado, os deuses não haviam nascido e a morte não tinha se tornado realidade".

Embora, diferentemente da teologia cristã, esses textos marquem um "começo" para as divindades, é possivel encontrar na crença egípcia os resquícios de uma visão monoteista, quando afirmam que houve no início um único Deus, anterior a todos os outros, que tirou sozinho a Terra das águas primordiais ou do caos - exatamente como o Gênesis que também descreve a Terra saindo de um estado caótico simbolizado pelas águas do abismo.

No entanto, a versão egípcia refere-se ao primeiro deus com um nome que o Gênesis atribui ao primeiro homem. Ele é chamado de Atûm (lê-se Atam, Aton ou Atên) que é foneticamente similar ao hebraico Adam. Ai vê-se uma corruptela da tradição original adâmica, pois Atûm é o disco solar e mais tarde o próprio deus-sol. Mas ainda há espaço para outras similaridades: assim como o Espírito de Deus pairava sobre as águas do abismo (como um pássaro aninha-se sobre um ninho), Atûm emerge das trevas caóticas de Num (o céu) como se fosse um pássaro místico (Bennu) e paira sobre Heliópolis, uma antiga cidade próxima ao Cairo que era vista como território sagrado do antigo paraíso dos deuses.

A história de Atûm está muito bem preservada nas paredes internas das pirâmides dos reis Mer-ne-Re e Nefer-ka-Re que datam de 2400 a.C. Assim como o Gênesis, o texto se ocupa em apresentar os descendentes de Atûm e entre eles existe um cujo nome é Set. Embora não tenhamos bases absolutas para identificá-lo com o Sete bíblico, filho de Adão, é deveras curioso que esse homônimo egipcio seja descrito como um homicida que, por inveja, matou o próprio irmão, tornando-se obscuro para todo o sempre.

Ora, a história que conhecemos é bem diferente dessa. Sete é o filho bom, dado por Deus a Adão para substituir Abel que fora vítima de seu irmão, Caim. Não seria, então, plausível supor que estamos diante de uma outra descrição dos acontecimentos, que os egipcios contavam segundo a versão dos antigos descendentes de Caim? p. 52 e 53.[13]
2350 - 2000 a.C.A construção da torre de Babel talvez aconteceu nesse período, p. 42.[13]
2300 a.C.Uma outra maneira de descobrir as idéias mesopotâmicas é examinar sua arte. Vários vasos, estatuetas e relevos em pedra contam-nos a história do mundo e do pecado, de acordo com a ótica desses povos antigos. Aqui merecem destaque os selos cilíndricos que foram escavados em Babilônia e hoje enriquecem as coleções de vários museus ao redor do mundo. Prontos para deslizar na argila como um rolo compressor, eles trazem, tal qual uma fotografia da época, as cenas ou episódios importantes de sua história. Novamente, muitas delas apresentam os mesmos elementos básicos da história do Gênesis.

A Figura 1 é um selo cilíndrico dito "da tentação", que hoje se encontra no Museu Britânico, em Londres. Ele data aproximadamente do 3° milênio a.C. e contém a figura de um casal sentado defronte a uma árvore, aparentemente comendo do seu fruto. Note que atrás da mulher que fica à esquerda há uma serpente participando da situação.

Embora alguns pensem que esse selo seja meramente um símbolo do culto à fertilidade, não é difícil ver na cena uma símile com a história de Adão e Eva. Os que objetam ao paralelismo entre esse artefato e Gênesis 3, argumentam que a figura masculina tem em sua cabeça uma tiara de divindade e, portanto, constituiria um deus sentado diante de uma mulher devota. Ora, isso não invalida a ligação do selo com Adão, que poderia, muito bem, ser identificado como um ser divino, uma vez que os sumérios chamavam o primeiro homem de "filho [direto] do deus Ea". Ademais, numa cultura patriarcal como a sumeriana, é difícil imaginar que uma mulher apareceria sozinha adorando um deus sem a presença de seu marido. Diferente dos gregos, os su- mérios não falavam de deuses seduzindo mulheres e a que aparece na cena não se encontra em nenhuma das posições clássicas de adoração. Ela simplesmente está sentada defronte de uma figura masculina sem nenhuma evidência que justifique um culto à fertilidade. p. 56 e 57.[13]
2150 - 2125 a.C. P. 64.[15]Outro exemplar muito interessante, vindo da antiga cidade sumeriana de Lagash. Um casal (alguns supõem que seja o rei Gudea e sua esposa) é conduzido pela mão até ao trono do grande deus Anu ou Enki, pois eles haviam pecado. Suas mãos erguidas são o que os babilônios e assírios chamavam de shu'il-la, isto é, "prece com a mão levantada", porque eram recitadas como sinal de súplica ou penitência, tendo principalmente a mão direita à altura do rosto (cf. Figura 2).

Note que do trono divino flui a água da vida - um emblema que também aparece em Apocalipse 22:1. Além disso, o desenho ainda mostra duas figuras ontológicas que nos chamam a atenção: uma serpente quadrúpede e um ser divino que parece ajudar ao casal, como um intercessor diante do deus Enki. A maioria dos assiriólogos pensa que ambas as figuras referem-se ao mesmo personagem - o deus Ningishzida - na sua forma humana e de uma serpente quadrupede e alada.

Mas a coincidência de alguns detalhes nos remete mais uma vez à trama do Gênesis. A serpente do Éden também podia caminhar sobre patas e, muito provavelmente, voar. Somente depois do pecado é que lhe foi ordenado rastejar e comer o pó da terra (Gn 3:14). Na Bíblia essa serpente é a representação máxima de Lúcifer, descrito como um querubim que perdeu sua antiga posição no Céu. O curioso é que, se lermos o mito por detrás de Ningishzida, perceberemos que ele se parece muito com aquela versão bíblica acerca do anjo caido.

Segundo os tabletes cuneiformes, Ningishzida era uma divindade sumeriana cultuada em Gishbanda, próxima à cidade de Ur. Embora fosse o deus do mundo inferior, ele também era designado como o (antigo?) guardião do trono divino e o "deus da árvore do conhecimento", pois seu nome, aparentemente, significa: "aquele que produziu a árvore agradável." E que árvore poderia ser essa senão a que a Bíblia qualifica como "do conhecimento do bem e do mal"? Afinal, Génesis 3:6 a descreve como "boa para se comer, agradável aos olhos e... desejável para dar entendimento". Não estariam ambos os relatos do Gênesis e de Ningishzida referindo-se ao mesmo elemento?

Representado originalmente por uma serpente - nalguns casos alada - Ningishzida também é associado a um dragão com asas, expulso do Céu. Em Apocalipse 12, um dragão alado também é identificado com a antiga serpente do Eden que, naquele contexto, é denominada "diabo" e "Satanás",

O ser que toma a mão de Gudea (Ningishzida) também leva sobre os ombros duas cabeças de dragão com dois chifres cada uma (compare com Ap 13:11). Contrastando com a teologia biblico-cristã, ele está no lugar que deveria pertencer a Cristo, o intercessor entre Deus e os homens. Na ótica cristã, a serpente não é de modo algum a mediadora, mas a que trouxe o pecado e a morte e Cristo, o único intermediário, é quem leva nos ombros a culpa que deveria recair sobre a humanidade pecadora.

É evidente que as diferenças entre esses mitos (cf. o ano 2400 a.C.) e o relato do Gênesis são mais notórias que as semelhanças. Contudo, o que nos interessa é que existe um claro paralelismo literário, senão na mensagem teológica, pelo menos na estrutura e em algumas descrições muitissimo semelhantes.

À luz dessa evidência, só restam três conclusões possíveis:

(1) que os escritores mesopotâmicos derivaram seu material dos livros de Moisés;
(2) que Moisés derivou seus escritos dos mitos mesopotâmicos; ou
(3) que ambos (Moisés e os mesopotâmicos) derivaram seus escritos de uma mesma fonte.

A primeira opção deve ser descartada a partir do fato que a civilização mesopotâmica antecede em mais de mil anos o nascimento de Moisés. Quanto à segunda, lembramos o fato de que Moisés tem características singulares que negam a dependência literária desses documentos. Ele pode até tê-los consultado ou conhecido, pois era um homem culto, em relação à sua época. Contudo, se alguma ligação houve entre o Gênesis e a literatura mitológica que o antecedeu, esta foi apenas no sentido de corrigir suas aberrações e seu politeísmo.

Sobra-nos, portanto, a terceira hipótese que é a mais razoável do ponto de vista literário. Houve de fato um ancestral comum a todos os homens cujo nome soa foneticamente similar ao hebraico Adam (cf. o ano 2400 a.C.). Ele e sua mulher não foram frutos de uma evolução, mas de um ato criativo de Deus. Por uma desobediência, ambos pecaram e colocaram a humanidade no estado de permanente caos. No entanto, é aqui que entra a superioridade do relato bíblico: a provisão divina de um Salvador para redimir a humanidade. A Biblia é a história dessa redenção! P. 58 - 60.[13]
2100 - 1700 a.C.Os escritos de Beroso (3º séc. a.C.), um antigo sacerdote da Babilônia, mencionam uma lista de reis que viveram antes do grande diluvio que se abateu sobre a Terra (compare com Gn 5:1-32). Seu texto, embora seja do 3º século a.C., de tabletes cuneiformes muito mais antigos que também foram encontrados e hoje estão disponíveis, tanto nas línguas originais quanto em traduções especializadas, feitas por orientalistas de todo o mundo. Essas listas foram produzidas num período de aproximadamente 400 anos, que cobrem de 2100 a 1700 a.C.

Os textos genealógicos, além de fragmentários, não são uniformes, mas parecem proceder de uma mesma fonte mais antiga. O mais completo deles é o Prisma de Weld-Blundell, descoberto em 1921 nas es- cavações de Larsa. Portanto, a tarefa dos especialistas é tentar remontar a genealogia original e descobrir os homônimos que podem estar escritos de modo diferente nos diversos tabletes já identificados.

Fazendo um paralelo com a Bíblia, há duas coisas nessas listas sumerianas que nos chamam a atenção: em primeiro lugar a extrema longevidade dos chamados reis pré-diluvianos que, de acordo com os tabletes, viveram milhares de anos. Segundo, a semelhança lingüística entre vários nomes listados e alguns patriarcas que a Bíblia menciona antes do Dilúvio.

Apenas para ilustrar, vejamos parte de um texto cuneiforme do segundo milênio a.C. que contém a lista sumeriana dos reis pré e pós-diluvianos. Esse documento certamente serviu de base para os escritos de Beroso. Os números à esquerda equivalem às linhas da primeira coluna do tablete:

1. [Quando] a soberania desceu do céu
2. Em Eridu estava a soberania.
3. Alulim exerceu
4. a soberania por 28.000 anos
5. Alamar a exerceu por 36.000 anos
6. Dois reis
7. a exerceram por 64.800 anos
8. Eridu foi destruida
9. A soberania de Badgurgurru
10. foi ...
11. Em Badgurgurru, Enmenluanna
12. exerceu [a soberania] 43.200 anos...

A lista continua apresentando uma série de reis com suas longas soberanias até que uma interrupção na linha 40 quebra a seqüência com a frase "e então veio o diluvio e cobriu a Terra". A partir daí a listagem que se segue é formada pelos reis que viveram "depois que o diluvio havia coberto [a Terra]" (linha 41). Curiosamente, seu período de reinado é drasticamente diminuído de vários milhares para apenas algumas centenas de anos. Como, aliás, também ocorre nas cronologias bíblicas pré e pós-diluvianas, em que a média de vida dos patriarcas vai gradativamente reduzindo de 900 anos para valores menores que um século e meio de existência. Vejamos a continuidade do texto:

42. A soberania desceu do céu
43. A soberania está em Kish
44. Em Kish, Gaur
45. Foi rei
46. Ele exerceu [a soberania] por 1.200 anos
47. Khulla-Nidada, a divina donzela,
48. a exerceu por 960 anos.
[Segunda coluna]
1.... buum (?)
2. exerceu [a soberania] por 900 anos
3. ...
4 ...
5. foram companheiros
6. completaram (?) ...
7. Galumun
8. Governou por 900 anos:
9. Zigagib
10. governou 840 anos
11. A-Ri-Pi, filho de Mashgag.
12. governou 720 anos...

Embora a listagem bíblica também apresente os pré-diluvianos com uma expectativa de vida muito superior à atual, a cifra babilônica que atribui a média de 21 mil anos para cada monarca necessita de um esclarecimento. Podemos apresentar uma observação feita por Alfred Rehwinkel que desanuvia consideravelmente a problemática. Ele menciona um lexicógrafo grego chamado Suidas, que teria vivido por volta de 670 d.C. e produzido um vasto dicionário da língua grega. Nessa obra, o autor comenta que o "saro" - medida cronológica de Babilônia - teria dois valores: um, o saro civil, que valia 18,5 anos em média e o outro, o saro astronômico, que valeria 3.600 anos. Assim, Rehwinkel assume que os escribas (e especialmente Beroso) teriam dado ao saro civil o valor astronômico que gerou a cifra exagerada.

De fato, uma comparação da primeira listagem cuneiforme com a de Beroso apresenta um progressivo aumento dos períodos. Enquanto os tabletes trazem um total de 241.200 anos de reinado pré-diluviano, Beroso traz 432.000!

Se, como ele supõe, Beroso deu aos "saros" o seu valor astronômico, então os 36 mil anos de Alamar correspondem na verdade a dez saros. Ora, se cada saro civil equivalia a 18,5 anos, Alamar não teria governado mais que 185 anos o que estaria próximo da idade de Adão (130 anos) quando lhe nasceu o primeiro filho [Sete].

Essa teoria pode não responder a todas as perguntas acerca desses "reis", mas fornece uma boa pista para uma compreensão mais razoável. De acordo com Rehwinkel, levando-se em conta as diferenças numéricas entre a versão samaritana, o texto hebraico massorético e a LXX, a discrepância entre a Bíblia e o texto babilônico seria de apenas vinte e um anos, o que é um valor insignificante.

Mais interessante que a comparação dos números é a equiparação fonética entre os patriarcas bíblicos e os nomes que aparecem nas listagens mesopotâmicas. Já fizemos uma breve referência ao nome de Adão que também aparece modificado nesses documentos (cf. Séc. 14 a.C.). Aqui vamos nos deter em apenas duas listas (uma cuneiforme e outra de Beroso) e compará-las com o texto bíblico. A correspondência genealógica entre elas não será, é claro, absolutamente exata. Não obstante, a semelhança entre alguns nomes é incrível! Confira a Tabela 1 anterior a esta cronologia.

É claro que, como já foi dito, nem todos os nomes de patriarcas bíblicos possuem uma correspondência clara para longe de qualquer questionamento. Mesmo os especialistas mais renomados debatem entre si quanto à grafia e a correlação exata entre alguns nomes. Para alguns, Alarapus teria se corrompido e se transformado em Abel. Para outros seria um correspondente de Sete ou até mesmo de Adão. Porém, a despeito de algumas divergências, é reconhecido no mundo acadêmico que alguns pares de nomes possuem uma correspondência muito interessante que não pode ser ignorada. Vejamos alguns casos:

1. Amelon, o terceiro nome que da lista de Beroso, é claramente deri- vado de Enmenluanna - coincidentemente, o terceiro da lista cuneiforme. Ambas as formas parecem vir da raiz amelu, que significa "homem" em acadiano. Ora, na lista genealógica de Adão (Gn 5:6) o terceiro nome que aparece é o de Enos (no hebraico enosh) que também significa "homem".
2. Ammenon, que não parece possuir correspondente na lista cuneiforme, vem provavelmente do acadiano ummanu que quer dizer "artífice". Cainan (cuja abreviatura seria Caim) também significa "artífice" ou "aquele que trabalha com metais" - uma óbvia relação temática com o acadiano. Quanto à falta de correspondente entre esse termo e a lista cuneiforme, devemos nos lembrar que a genealogia de Cristo apresentada por Lucas também acrescenta nomes que não aparecem em Gênesis 5 ou 1 Crônicas 1:1-4. Abreviações e omissões voluntárias de alguns nomes não são impossíveis de ocorrer no trabalho do escriba.
3. Dumuzi, que dizer "aquele que recebe a vida" ou "filho vivente", parece ter se modificado posteriormente até assumir a forma Daonos que teria o mesmo significado. Seu correspondente bíblico seria Jared, "aquele que descende", o que, por contexto, também se adequaria ao sentido de "filho vivente" expresso em Dumuzi.
4. Devido a corruptelas lingüísticas e semânticas não é difícil supor que Magalaros transformou-se em Maalalel e Euedorachos assu- miu a forma abreviada Enoch (Enoque) que aparece em Gênesis.
5. Por fim, tomando-se em conta que Enmenduranna possa corresponder ao acadiano "Utu-sal-elu", não é dificil supor que esse termo tenha sido mais tarde vertido ao hebraico por Methuselah ou "Matusalém".

Seria, por fim, interessante relembrar que Eridu - a primeira cidade do mundo - vem da mesma raiz da palavra Eden. Ademais, Badgurguru, a cidade que segue à destruição de Eridu, significa literalmente "a fortaleza dos que trabalham com bronze". Agora, se você ler Gênesis 4:14 encontrará a afirmação de que Caim fundou uma cidade (talvez a primeira fora do Éden) e pôs nela o nome de Enoque. Ali moraram os primeiros artífices do bronze que tinham por patrono, Tubalcaim, descendente direto do primeiro homicida. Seria Enoque a mesma Badgurgurru dos tabletes cuneiformes? É possível, e ainda que não tenhamos certeza absoluta acerca de todos os detalhes lingüísticos desses documentos, fica evidenciada a origem comum das tradições bíblica e mesopotâmica acerca das origens da civilização mundial.
P. 62-68.[13]
2060 - 1955 a.C.Cada cidade-estado da Suméria era governada por um patesi que seria ao mesmo tempo o supremo sacerdote e chefe militar absoluto Os deuses regionais eram os proprietários de todas as terras a quem os homens deveriam servir, sendo as cidades suas moradas terrenas, Junto aos templos das cidades, homenageando o seu deus patrono, eram erigidas enormes torres em forma piramidal chamadas zigurates. Elas eram feitas de tijolos maciços e serviam de santuários ou acesso aos deuses, quando eles desciam à Terra para visitar o seu povo.

Os zigurates eram para os sumérios como uma espécie de link entre o céu e a Terra. As escadarias que subiam de sua base até o topo eram um caminho de ascensão aos deuses. Provavelmente, o sonho de Jacó visualizando uma escadaria que vinha do céu tenha relação direta com essa imagem cultural ainda presente em sua época (Gn 28:10-22).

A Figura 3 (acima desta cornologia) é uma placa de pedra volitiva que foi encontrada no templo de Ur-Nammu. Ela data de mais de 2.000 anos antes de Cristo e traz o relevo do que seria a construção de um zigurate em homenagem a Nannar, o deus da Lua. O rei aparece em três cenas, como trabalhador junto a um operário, como um benfeitor no segundo piso e, finalmente, como um adorador no topo da torre (Esela de Ur Nammu, cerca de 2060 - 1955 a.C.).

Diferentes do Egito, os governantes mesopotâmicos, salvo raras exceções, não eram tidos como deuses, mas eram considerados seus representantes e intermediários. Logo, sua autoridade era divina e não por aqueles que viviam em sua jurisdição.

Ninrode certamente viu nessa "política divina" a oportunidade de unificar politicamente a região e ter controle sobre as cidades-estados que viviam em constantes guerras, produzindo sucessivas hegemonias territoriais. Se ele promovesse a paz e conseguisse se estabelecer como o procurador-geral de todos os deuses, ganharia a confiança do povo e obrigaria os governantes regionais a lhe prestarem obediência. Foi talvez por isso que ele empreendeu o maior projeto arquitetônico de todos os tempos: construir o mais gigantesco de todos os zigurates, a torre de Babel.

Até o nome do edificio foi escolhido a dedo. Babel (que os hebreus propositalmente chamavam de Bavel, "confusão") vem do acadiano bab-ilu que quer dizer "portal de Deus". Com isso seus construtores queriam dizer que, enquanto os deuses menores usavam os zigurates locais para se comunicar com o povo, o chefe de todos os deuses (Anu ou Enlil) usava o zigurate de Babel para descer à Terra. Portanto, todos os povos deveriam estar ali para adorá-lo, mesmo que fossem devotos de outro deus local, pois sua religiosidade pessoal não os permitiría se ausentarem desta grande coletividade ecumênica que traria a paz e a união na terra do crescente fértil.

Em 1872, George Smith, pesquisador do Museu Britânico, descobriu um tablete cuneiforme que trazia o seguinte relato acerca da edificação de um zigurate que provavelmente poderia ser a Torre erguida por Ninrode:

"A edificação desta torre ofendeu todos os deuses. Numa noite, eles [deitaram abaixo] o que o homem havia construído e impediram o seu progresso. Eles [os construtores] foram espalhados e sua língua se tornou estranha."

Novamente a arqueologia encontrou uma evidência do relato bíblico, dessa vez da confusão de línguas ocorrida em Babel. Alguns minimalistas, é claro, tentaram invalidar o achado de Smith e sua interpretação. Contudo, especialistas como E. A. Speiser e S. N. Kramer, da Universidade da Pensilvânia, após estudarem profundamente os tabletes concluíram que a narrativa da torre de Babel "tem uma demonstrável fonte na literatura cuneiforme".

Um outro fragmento de tablete foi descoberto posteriormente, contendo 27 linhas. Quem o copiou e traduziu foi o assiriólogo de Oxford, Oliver Gurney. O texto é parte de uma carta endereçada ao "senhor de Arrata". O remetente desconhecido solicita ao rei que lhe permita ser seu vassalo, pois os tempos estavam muito difíceis. Ele, então, relembra ao monarca que houve uma era de ouro na Mesopotâmia em que havia "harmonia nos idiomas da Suméria" e "todo o universo, em uníssono [adorava] a Enlil em uma só língua...".

Atualmente, vários zigurates parcialmente preservados foram localizados na região do Iraque. Muitos deles datam de mais de 2.000 anos antes de Cristo e podem ter sido construídos nos dias de Ninrode. Dificil é saber se algum deles é, porventura, o que restou da torre de Babel. Mas, de qualquer forma, é interessante oservar que seus tijolos são queimados e colocados com betume justamente como a Bíblia descreve o processo de construção da torre em Gênesis 11:3. P. 72-74.[13]
2º milênio a.C.Na Mesopotâmia, encontramos ainda outra grande variedade de mitos, com curiosas semelhanças com um ou outro aspecto da cosmogonia bíblica. O conto de Enki e Ninhursag mais conhecido como o "mito do paraíso", foi escrito por volta do 2° milênio a.C. Nele, os deuses criam os céus, a Terra e os homens. Eles os colocam no paraíso idílico de Dilman e, para curar a costela de Enki, fazem surgir uma mulher e lhe dão o nome de Nin-ti, cujo significado seria "rainha dos meses", "senhora da costela" ou "aquele que faz viver". Ora, Eva também foi criada a partir de uma costela de Adão e seu nome hebraico (hawwa) é associado etimologicamente ao verbo "viver". P. 54.[13]

A mais antiga versão do Diluvio que conhecemos vem de um tablete bastante danificado que conta a história de um certo herói chamado Ziusudra. Infelizmente mais de 80% do texto encontra-se perdido e, como resultado, a maior parte da história é obscura e difícil de ser resgatada. Apenas umas poucas passagens podem ser lidas com certo grau de certeza e, pelo que sabemos, trata-se do relato de uma imensa inundação que há tempos abateu sobre o planeta Terra, mas Ziusudra conseguiu sobreviver a ela. Outras versões, no entanto, estão bem mais preservadas que esse épico e seu achado ajudou bastante na reconstrução dos antigos relatos sumerianos acerca do Dilúvio. O mais completo e bem conhecido é o "épico de Gilga- mesh" (cf. o ano de 1852). Após dois anos de árduo trabalho desenterrando os alicerces do palácio de Assurbanipal, Rassam foi recompensado com o achado da biblioteca real, a qual continha mais de 30 mil tabletes de argila reunindo o conhecimento milenar de povos do Tigre e Eufrates.

Embora os documentos fossem datados do 7° século a.C. ficou claro que muitos deles (inclusive o épico de Gilgamesh) eram cópias de materiais muito mais antigos que remontavam a uma tradição do segundo milênio antes de Cristo.

A história é longa e o que nos interessa está no tablete número onze da coleção. Ela diz que Gilgamesh tinha um amigo chamado Utnapishtim que ganhara a imortalidade e, semelhante ao Noé bíblico, conseguiu sobreviver às águas do Dilúvio. Ele havia sido previamente avisado pelo deus Ea (senhor das águas e criador da humanidade) que uma imensa inundação se abateria sobre os homens. Assim, caso quisesse se salvar, Utnapishtim deveria construir uma embarcação de madeira e piche, capaz de carregar a semente da vida de cada espécie.

Finalmente, o barco ficou pronto e Utnapshtim, munido de todos os seus tesouros, entrou a bordo com sua família, seus artesãos e os animais que havia recolhido. Então fechou a porta e aguardou. Finalmente, uma torrencial tempestade caiu sobre a Terra durando seis dias sem parar. O desastre foi tão intenso que até os deuses ficaram assustados e fugiram para os lugares mais altos do céu que ficavam na montanha celeste de Anu. Eles se encolhiam como cães assustados.

No sétimo dia após o início da tempestade, o barco encalhou no topo do monte Nissir (no Curdistão) a ali permaneceu por mais seis dias. No sétimo dia, Utnapshtim solta uma pomba para ver se as águas haviam baixado, mas ela retornou, pois não havia encontrado lugar para pousar. Então, possivelmente dias depois, ele soltou um corvo, que não retornou, pois havia encontrado terra firme. Seguro de que as águas haviam baixado, Utnapshtim saiu da arca com os animais e seus companheiros e, imediatamente, ofereceu um cordeiro aos deuses que respiraram a fumaça do sacrificio e se mostraram satisfeitos. P. 68 e 69.[13]
2000 - 1800 a.C.Abraão (cf. o ano de 1922), Isaque e Jacó. P. 42.[13]
1800 - 1550 a.C.Os descendentes de Jacó aparecem no Egito. P. 42.[13]
1646 - 1626 a.C.Outra versão ainda mais antiga do Diluvio (cf. o 2º milênio a.C.) foi recuperada a partir de vários fragmentos encontrados ao longo de 78 anos (1889-1967) em vários sítios arqueológicos da Mesopotamia. Ela data do reinado de Ammisaduqa, que governou Sippar de 1646 a 1626 a.C., e é seguramente, anterior a Moisés.

Nela, o herói diluviano não é Utnapishtim (como no Gilgamesh), e sim Atrahasis. Como no outro relato, ele é avisado pelo deus Enki (outro nome para Ea) de que a terra seria destruída por causa do barulho que os homens faziam não permitindo que o deus Enlil descansasse em paz. As pragas e a fome foram enviadas primeiro e, finalmente, derramou-se um grande dilúvio. Obediente às instruções de Enki, Atrahasis, sua família e vários tipos de animais sobrevivem à inundação através de um barco que o próprio herói construiu.

Nota-se, portanto, que os sumerianos criam que um grande Dilúvio havia ocorrido num remoto período de sua história. O relato do Gênesis não é imaginação gratuita de Moisés. Além disso, embora não tenhamos espaço para abordar todas as versões do Dilúvio, é importante dizer que não se trata (como alguns minimalistas fazem supor) de uma mera lenda mesopotâmica ecoada pelo autor bíblico. Essa mesma história de uma inundação universal permeia dezenas de culturas fora da Mesopotâmia. Estudos antropológicos estão repletos de relatórios sobre cerimônias religiosas ligadas a esse acontecimento que podem ser vistas em tradições milenares da India, China, Egito e México. Tribos africanas e indios (tanto americanos quanto andinos e brasileiros) também demonstravam conhecer o fato de que um dia o mundo esteve submerso sob as águas, e isso, antes de qualquer contato com missionários ou detentores da tradição bíblica. P. 69 e 70.[13]
1550 - 1400 a.C.Ocorre o Êxodo hebreu. P. 42.[13]
1500 a.C.A parte mais antiga das Escrituras foi escrita por esse tempo, p. 41.[11]
1445 a.C.A tradição afirma que Moisés escreveu ou compilou Gênesis logo depois que Israel saiu do Egito, por volta de 1445 a. C. P. 155.[11]
1420 a.C.Misés escreveu o livro de Números. P. 169.[11]
Séc 14 a.C.Os tabletes cuneiformes encontrados no Oriente (p. ex., cf. o ano 1934) revelaram que, desde longo tempo, existiu na Mesopotamia uma tradicional história acerca de Adapa. Dela já foram encontrados quatro fragmentos, sendo três deles derivados da biblioteca de Assurbanipal (cf. o Séc. 7 a. C.), e o mais extenso e antigo veio dos arquivos egípcios de El Amarna, escritos por volta do século 14 a.C.

O poema gira em torno da problemática da vida eterna, pois, segundo seu relato, o primeiro homem chamado Adapa recebera grande sabedoria, mas não era naturalmente imortal. Ele era, pela criação, o filho do deus Ea e morava na cidade sagrada de Eridu. Curioso é notar que Eridu e Éden procedem da mesma raiz etimológica em conjunto com o sumeriano Edin ou Edenu (que também quer dizer "paraiso" ou "planura"). Coincidentemente, Lucas também estabelece a genealogia humana a partir de Adão, qualificando-o, como no mito de Adapa, de filho de Deus (Le 3:38).

A história prossegue dizendo que Adapa vivia em meio aos Anunnakis, palavra que lembra muito o termo anaquins ou os gigantes que temos na Bíblia. Depois apresenta sua falha ao quebrar com a vela do seu barco a "asa" do vento sul, impedindo-o de soprar sobre a Terra.

Em seu julgamento perante os deuses, Adapa se recusa a alimentar-se do pão e da água da vida. Aquilo, na verdade, era um teste, pois ele sabía que não lhe era permitido participar de um alimento reservado aos deuses, Inconformado, o deus Anu lhe pergunta: "Por que não tens comido, nem bebido [da água da vida]? Se [assim fazes] não poderás ter a vida eterna!" Essas palavras ecoam a mesma proposta da serpente ao oferecer o fruto para Eva: "É certo que não morrereis, pois no dia em que dele comerdes sereis iguais a Deus". Também lembram a proibição divina do acesso adâmico à árvore da vida eterna (Gn 3:24).

Adapa é, portanto, elogiado em sua atitude de recusar comer do alimento proibido. A única coisa que ele aceitou dos deuses foi tomar sobre si um segundo manto - dado para substituir o primeiro que era o manto da lamentação - e ser ungido com azeite. Esses elementos simbolizam a justiça que é outorgada por outrem àquele que merecia morrer. Embora o Gênesis não fale sobre o azeite, traz o tema das duas vestes de Adão, que primeiro faz para si e sua mulher cintas de folhas e no final é vestido com um segundo manto feito a partir da pele de um animal (Gn 3:7, 21).

Na mentalidade da época, era forte a idéia de que a imortalidade não é algo que nos pertence naturalmente, ela é outorgada pelos deuses. Igualmente, na visão bíblica, o homem não é criado um ser imortal, mas um candidato à imortalidade mediante a obediência. Com a entrada do pecado perdemos a vida eterna e somente em Cristo podemos recuperá-la.

Com peculiaridades próprias de cada poema essa mesma estrutura de criação e queda do gênero humano aparece em outras histórias espalhadas pelo antigo Oriente Médio. E todas igualmente possuem semelhanças incríveis com o relato bíblico. P. 55 e 56.[13]
1400 - 1300 a.C.Ocorre a conquista de Canaã pelo povo de Israel.

Início do período dos juízes. P. 42.[13]
1150 - 1000 a.C.Fim do período dos juízes. P. 43.[13]
1000 a.C.O salmista Salomão predisse a visita dos magos do oriente trazendo presentes para o Messias: "Paguem-lhe tributos os reis de Társis e das ilhas; os reis de Sabá e de Sebá lhe ofereçam presentes" (Salmo 72.10). P. 168.[11]
1000 - 900 a.C.Monarquia Unida: Saul, o primeiro rei.

Davi torna Jerusalém a capital do reino.

Salomão constrói o primeiro templo. P. 43.[13]
900 - 700 a.C.Monarquia Dividida: Judá e Israel. P. 43.[13]
Séc. 8 a.C.Escritos dos profetas Jonas, Amós, Oseias, Miqueias e Isaías, p. 206.[14]
750 - 730 a.C.O profeta Oséias registrou seu livro. P. 169.[11]
Séc. 7 a.C.(Cf. o 3º milênio a.C.) O Enuma Elish é outro importantíssimo documento que também possui muitos paralelos com o relato bíblico. O texto foi primeiramente encontrado nas escavações da biblioteca real de Assurbanipal que ficava na cidade de Ninive e data do 7° século a.C. Porém, outros fragmentos mais completos foram encontrados posteriormente em Kish. Ao todo são sete tabletes que descrevem a criação do mundo dividida em sete partes (como o Gênesis que a divide em sete dias). Embora existam divergências religiosas acentuadas entre a Bíblia e a epopéia babilônica, vamos nos deter nos paralelismos, os quais nos interessam mais de perto:

Enuma Elish:
"Quando nas alturas, o céu não havia sido nomeado e a terra firme abaixo não tinha sido chamada pelo nome...".

Gênesis:
"No principio criou Deus os céus e a terra, a terra, porém, era sem forma e vazia".

Enuma Elish:
Um espirito divino coexistia eternamente com a matéria.

Gênesis::
O Espirito Divino criou a matéria do nada e vivia independente dela..

Enuma Elish:
O caos primitivo (chamado pelos babilónicos de Tiamat) é visto como uma figura mitológica envolvida nas trevas.

Gênesis:
A terra era sem forma e vazia e as trevas cobriam a face do abismo (chamado por Moisés de Tehom).

Enuma Elish:
A luz emana dos deuses.

Gênesis:
Deus diz: "Haja luz".

Enuma Elish:
Criação do firmamento.

Gênesis:
Criação do firmamento.

Enuma Elish:
Criação da terra seca.

Gênesis:
Criação da terra seca.

Enuma Elish:
Criação dos luminares.

Gênesis:
Criação dos luminares.

Enuma Elish:
Criação do homem (sexto tablete).

Gênesis:
Criação do homem (sexto dia).

Enuma Elish:
Os homens são criados a partir do sangue de um sacficio divino.

Gênesis:
O homem é criado à imagem e semelhança de Deus.

Enuma Elish:
Os deuses celebram a criação (sétimo e último tablete).

Gênesis:
Deus santifica o sábado (sétimo dia) numa celebração pelo que havia criado. P. 54.[13]

No épico babilônico do Gilgamesh, o lendário herói sumeriano tem um amigo, Enkidu, que é seduzido por uma cortesà da deusa Ishtar e passa a ter um "conhecimento pleno" [seria como o "conhecimento do bem e do mal', mencionado na Bíblia?]. Após esse ocorrido, Ishtar lhe declara: "Você agora é um conhecedor, Enkidu. Você será igual a deus." Então ela improvisa vestiduras e o veste com elas. P. 56.[13]

Escritos dos profetas Naum, Habacuque, Sofonias, Joel e Jeremias, p. 206.[14]
700 a.C.Isaías escreveu acerca de Babilônia por volta de 700 a. C. P. 110.[11]
Séc 6 a.C.Escritos dos profetas Ezequiel, Obadias, Daniel, Ageu, Zacarias e Malaquias, p. 206.[14]
600 a.C.Jeremias predisse o extermínio de crianças na tentativa de destruir Jesus: "Assim diz o Senhor: Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável por causa deles, porque já não existem" (Jr 31.15).

Observação: Ramá era uma pequena cidade próxima a Jerusalém. Mateus 2:16 faz referência a belém e a lugares em suas redondezas, p. 169.[11]
587 ou 586 a.C.O profeta Ezequiel predisse a destruição e a queda de Tiro. P. 117.[11]
551 a.C.A profecia foi dada a Daniel por volta do ano 551 a.C. e, séculos depois, tudo se cumpriu ao pé da letra, p. 25.[16]

De todos os resgistros não babilônicos que tratam sobre a situação no fim do império neobabilônico, o quinto capítulo de Daniel segue com precisão a literatura cuneiforme.

O autor do livro de Daniel tinha bastante conhecimento sobre a vida e os tempos da Babilônia do 6º século e nada sobre a Judeia do 2º século. Essa é uma forte evidência que apoia o 6º século a.C. como a data em que o livro foi escrito.

Vamos ao cerne da diferença entre os acadêmicos tradicionalistas e os críticos contemporâneos na questão da data da autoria do livro de Daniel. Podemos resumir tudo isso em duas palavras, com uma abreviação entre elas: supernaturalismo versus naturalismo. Acadêmicos tradicionais acreditam que Deus intervém na história humana de maneiras miraculosas, ou seja, sobrenaturais. A exposição precisa de Daniel sobre sucessivos impérios força os acadêmicos críticos, que negam a possibilidade do sobrenatural e, consequentemente, do conhecimento prévio divino, a concluir que o livro foi escrito em meados de 160 a.C. P. 62 e 63.[17]
520 a.C.O profeta Zacarias registrou seu livro. P. 179.[11]
464 a 423 a.C.Desde Artaxerxes até nossa época, escreveu-se uma história completa, mas ela não foi considerada digna do mesmo crédito conferido aos relatos anteriores, por não estar inserida na sucessão exata dos profetas.[1]
435 a.C.O cânon das Escrituras judaicas havia sido concluído na época em que foram escritos Esdras, Neemias e Ester (435 a. C.). Não se havia acrescentado — nem se poderia acrescentar — nenhum outro livro à Bíblia hebraica no período decorrido, porque a inspiração divina dos profetas havia cessado, p. 45.[2]

Essa Bíblia hebraica, com seu cânon definido, era a Bíblia da igreja primitiva. Embora contivesse diferenças óbvias na ordem e disposição, em comparação com o Antigo Testamento com que a igreja de hoje está acostumada, todos os livros que consideramos canônicos estavam presentes e, juntos, constituíam a Palavra de Deus para o povo judaico — e para a igreja primitiva, p. 46 e 47.[2]
430 a.C.O profeta Malaquias registrou seu livro. P. 169.[11]
Séc. 3 a.C.Iniciou-se uma tradução da Bíblia hebraica para o grego. O termo Septuaginta (setenta) ficou associado a essa tradução; muitas vezes se faz referência a ela com os numerais romanos LXX. Essa Bíblia passou a circular amplamente entre os judeus que falavam grego, e quando a igreja se expandiu para áreas gentílicas, a LXX se tornou o Antigo Testamento deles.

(Lendas fantasiosas ficaram associadas com o processo de tradução: 70 ou 72 judeus foram supostamente levados para Alexandria, no Egito, para realizar o trabalho. Embora estivessem isolados uns dos outros em celas separadas, eles produziram traduções idênticas (do Pentateuco; lendas posteriores afirmavam que traduziram toda a Bíblia hebraica) em 72 dias! Uma dessas lendas se encontra na Letter of Aristeas [Carta de Arísteas]. Além do mais, Filo de Alexandria (15 a.C. - 50 d.C.), filósofo judeu, afirmou que todos os tradutores escreveram as mesmas palavras “como se algum indutor invisível lhes tivesse transmitido toda a sua linguagem”. Filo, The works of Philo Judaeus, tradução para o inglês de Charles Duke Yonge (1854; reimpr., London: H . G. Bohn, 1993), vol. 2: Life of Moses, 2.7.37, livro 25)}, p. 56.[2]

• A primeira divisão
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
• A segunda divisão
Josué, Juizes, Rute, O Livros dos Quatro Reinos: 1 e 2Samuel; 1 e 2Reis, Paralipômenos (gr. Paralipomena, lit., “coisas deixadas para trás”): 1 e 2Crônicas, 1Esdras: um relato diferente de 2Crônicas 35.1— Neemias 8.12, Ester: bastante ampliado com um prefácio, uma conclusão, três trechos narrativos acrescentados em 3.13; 4.17; 8.12 e uma frase em 9.19, Judite: mulher piedosa, bela e hábil derrota os inimigos arrogantes de Israel, e Tobias: filho obediente, recebe ajuda miraculosa de um anjo.
• A terceira divisão
Salmos: ampliado para incluir o salmo 151, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Jó, Livro de Sabedoria (ou Sabedoria de Salomão): texto que exalta a sabedoria e narra a história do período primitivo de Israel e do Êxodo, segundo a perspectiva da Sabedoria, e Eclesiástico (ou Sabedoria de Jesus Ben Sirá): um guia para uma vida santa e virtuosa e um tributo a grandes santos do Antigo Testamento.
• A quarta divisão
Os doze Profetas Menores, Jeremias, Lamentações, Baruque: uma oração, um poema sobre sabedoria e uma profecia sobre a esperança futura de Israel, Carta de Jeremias: uma carta de Jeremias aos exilados, advertindo contra a idolatria, e Daniel: o Cântico dos Três Jovens (a oração de Azarias/Abede-Nego no meio do fogo e o cântico dos três amigos de Daniel na fornalha) em 3.23; a história de Susana (a sabedoria de Daniel salva uma vítima de falsas acusações) formando o capítulo 13; e Bel e o Dragão (Daniel desmascara falsos deuses) formando o capítulo 14.
• Apêndice
1 e 2Macabeus: histórias de revoltas judaicas no segundo século d.C.

A Septuaginta é mais longa que as Escrituras hebraicas, e seus acréscimos são denominados livros apócrifos (ou ocultos) ou somente Apócrifos. Os escritores do Novo Testamento estavam acostumados com a Septuaginta e de fato a usaram como fonte de diversas citações do Antigo Testamento. No entanto, em nenhum momento eles fizeram citações dos livros apócrifos; na melhor das hipóteses, podem ter feito alusões a eles, p. 56-58.[2]
278 a.C.A lista de reis sumérios é o registro dos reis e governantes da Suméria em tempos antigos. A Suméria é a civilização mais antiga conhecida, abrangendo a área na qual a história começou primeiro na Mesopotâmia. A lista de reis veio à tona, pela primeira vez, em textos cuneiformes descobertos durante os primeiros anos de escavações arqueológicas na região mesopotâmica. Desde então, 15 outras versões da lista também foram encontradas em diversos lugares de todo o antigo Oriente próximo. Um fato em particular se destaca: todas as versões posteriores dessa lista fazem referência ao grande dilúvio, apresentando os nomes dos reis em duas listas - aqueles que governaram antes do dilúvio e os que governaram depois. O dilúvio é a grande linha de demarcação. Um dos textos cuneiformes mais antigos relativos à lista de reis sumérios, WB62, hoje no Museu Ashmolean, em Oxford, Inglaterra, cita dez governantes antediluvianos. Isso levou alguns eruditos a concluir que a lista de reis sumérios, em suas muitas cópias e versões, provavelmente correspondesse a um registro corrompido que teria se originado no relato bíblico.

De todo modo, a lista de dez reis antediluvianos era preeminente no pensamento antigo, conforme revela a narrativa de Beroso, historiador babilónio do 3º século a.C. Ao escrever a história de Babilônia, por volta de 278 a. C., para os gregos de sua época, Beroso registrou a tradição de dez reis antediluvianos, confirmando-a em preferência a qualquer outra versão.

O erudito judeu Umberto Cassuto nos lembra de que a tradição dos dez reis também é encontrada em muitas outras culturas orientais, que incluem a babilônica, egípcia, persa e indiana. Ele disse que o "testemunho tardio" de Beroso é suficiente para despertar nossa consciência acerca dos paralelos "notáveis" entre o relato bíblico e a antiga tradição babilônica.

J. J. Finkelstein, grande especialista na lista de reis sumérios, comentou ainda que, no que diz respeito às evidências da tabuleta cuneiforme WB62, "é possível defender a existência da tradição de dez reis já em uma data relativamente antiga".

Cassuto concluiu, por fim, que os "dez reis" de Gênesis 5 e a lista de reis sumérios revelam "uma semelhança que não pode ser por acaso", p. 151 e 152.[11]
167 a.C.Antes mesmo que a Bíblia fosse concluída, houve tentativas de destruir as Escrituras do Antigo Testamento (AT). Em 167 a.C., o rei sírio Antioco Epifanio se determinou a exterminar o judaísmo e tudo que fosse relacionado aos judeus. Ele profanou o templo de Jerusalém e tentou destruir as sagradas Escrituras judaicas. O tirano falhou, é claro, mas não demorou muito para que o AT fosse alvo de outros ataques. Muitos eruditos creem que os Manuscritos do Mar Morto foram cruciais para a preservação da Bíblia. Eles ficaram escondidos em cavernas próximas às praias do Mar Morto a fim de que fossem protegidas dos exércitos invasores de Roma no 1º século d.C. P. 41.[11]
167 - 37 a.C.Revolta dos Macabeus. P.43.[13]
31 d.C.Desde seu início, no dia de Pentecostes, a igreja considerou a Bíblia hebraica como a Palavra de Deus (2Tm 3.16,17; 2Pe 1.19-21).

Josefo (37 - 100) registra 22 livros divinamente inspirados no cânon hebraico: os cinco livros de Moisés, treze livros proféticos e quatro livros que contêm hinos e preceitos. Os livros de Moisés eram o Pentateuco tradicional. Os livros proféticos eram Josué, Juízes-Rute, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias-Lamentações, Ezequiel, os Profetas Menores (Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias), Jó, Daniel, Esdras-Neemias, Crônicas e Ester. A última categoria era formada por Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Observe que, embora os livros de Samuel, Reis e Crônicas apareçam como dois livros em nosso Antigo Testamento, o cânon de Josefo considerava cada um como apenas um livro. Do mesmo modo, os pares Juízes e Rute, Jeremias e Lamentações, Esdras e Neemias, embora separados em nosso Antigo Testamento, estavam unidos e eram considerados um só livro nessa seqüência. [1]

Mais tarde, os judeus passaram a contar 24 livros na Bíblia hebraica distribuídos em três divisões: a Lei, os Profetas e os Escritos. Os Profetas Menores são os mesmos que constam em Josefo. Samuel, Reis e Crônicas não estão divididos; cada um é considerado um só livro. Esdras e Neemias estão unidos e também são considerados um só livro. A diferença entre essa versão do cânon e a de Josefo, além da mudança na ordem dos livros, é a separação de Rute e JuÍzes e de Jeremias e Lamentações. Isso acrescenta 2 livros ao total, aumentando o cânon de 22 livros de Josefo para um cânon de 24 livros. [4]

Nossa discussão pode passar a impressão errada de que a igreja primitiva possuía uma Bíblia escrita e prontamente acessível a todos os seus membros (semelhante ao que ocorre hoje em dia, em que cada um de nós tem um exemplar da Bíblia e o leva às reuniões da igreja e ao estudo bíblico). Mas as coisas não eram assim. Na verdade, durante as primeiras décadas de existência, a igreja tinha somente histórias orais para passar adiante. Até mesmo quando estavam sendo redigidos os últimos textos daquilo que viria a ser o Novo Testamento, a igreja ainda dependia amplamente da tradição oral, e assim foi durante vários anos nos primeiros tempos da igreja. Esses registros escritos e a tradição oral eram vistos como duas partes de um todo unificado, e a igreja primitiva recorria a ambos para expressar sua doutrina e combater heresias, p. 48.[2]

Ao cabo de algum tempo, parte dessa tradição apostólica foi registrada por escrito. Desse modo, “o evangelho nos foi transmitido, inicialmente proclamado em público [pelos apóstolos] e, em uma época posterior, pela vontade de Deus, transmitido a nós nas Escrituras, para que fosse fundamento e pilar de nossa fé”. Como já observado, a tradição dos apóstolos e seus registros escritos eram um todo inseparável na igreja primitiva; a tensão que testemunharemos entre esses dois não estava presente. Isso era possível em virtude da harmonia que havia entre eles: a tradição era o resumo da verdade bíblica e, quando os hereges distorciam as Escrituras, os apologistas recorriam à tradição para reforçar o modo como a igreja entendia e devia entender as Escrituras.

Ireneu expressou essa unidade das verdades orais e escritas — juntamente com a harmonia entre as Escrituras hebraicas e a revelação apostólica — em seu apelo “à pregação dos apóstolos, ao ensino com peso de autoridade do Senhor, às proclamações dos profetas, às declarações [isto é, registros escritos] recebidas dos apóstolos e à administração da lei”. Juntas, as Escrituras e a tradição forneciam o fundamento da verdade para a igreja primitiva.

Os hereges, aqueles que estavam fora da igreja, eram criticados porque “não concordam com as Escrituras nem com a tradição”. A essa compilação de Escrituras hebraicas com peso de autoridade foram finalmente acrescentados alguns escritos na forma de Evangelhos, um relato histórico, cartas e um apocalipse (revelação de eventos futuros).

Alguns desses escritos apontavam para uma ampliação do cânon das Escrituras. Por exemplo, Pedro falou sobre as cartas do apóstolo Paulo no contexto das “demais Escrituras” (2Pe 3.14-16), e o próprio Paulo vinculou uma declaração de Jesus (“O trabalhador é digno de seu salário” ) com Deuteronômio 25.4, referirido-se a ambos como “Escritura” (1Tm 5.18).

Os escritos mais antigos fora de nosso Novo Testamento continuaram essa prática de elevar as palavras de Jesus e os escritos dos apóstolos, reconhecendo neles o peso da autoridade divina. Um exemplo disso é uma referência de Policarpo (69 - 155) a um trecho da carta de Paulo aos efésios (4.26) como “Escrituras”. Outro exemplo vem de uma obra anônima que observou a autoridade complementar dos “Livros” (o Antigo Testamento) e dos “Apóstolos”. Além disso, a Epístola de Barnabé cita palavras de Jesus (“muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”, Mt 22.14) com a fórmula de introdução “está escrito”, expressão reservada a citações das Escrituras do Antigo Testamento, p. 49 e 50.[2]
49Talvez a carta de Paulo aos gálatas seja de 49 A. D., após o Concílio de Jerusalém de Atos 15. Se sim, Gálatas é o mais antigo documento cristão que se conhece (Lição da Escola Sabatina em inglês, Adultos, p. 3, 3º trimestre de 2017).
50Ao que tudo indica, Marcos foi mesmo o primeiro evangelho a ser escrito. É até possível que eletenha sido o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito (Revista Adventista, Julho/2008).

A epístola de Paulo ás igrejas da Galácia foi escrita em aproximadamente 50 d. C., quinze anos antes da morte de seu autor (Lição da Escola Sabatina, Adultos, 24/Jul. 2017).
54A primeira carta de Paulo aos cristãos de Corinto foi escrita em 54 d. C., p. 74.[12]
54 - 70Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas foram escritos nos anos entre a primeira carta aos coríntios e a queda de Jerusalém (54-70 d. C.), p. 75.[12]
64 - 70Nos tempos de Jesus, o templo ainda não estava concluído. Ele só foi finalizado em 64 d.C., apenas seis anos antes de ser destruído pelos romanos. Assim, em 31 d.C., Cristo predisse a destruição de um templo que nem estava terminado! No entanto, tudo aconteceu exatamente como Ele disse que ocorreria.

Em 66 d.C., o exército romano, sob a liderança de Vespasiano, marchou contra Jerusalém a fim de suprimir a última revolta violenta que os judeus fizeram contra os odiados romanos que ocupavam sua terra. Quando Vespasiano foi proclamado imperador em 69, seu filho Tito assumiu o comando do exército na Judeia e imediatamente iniciou os preparativos para tomar Jerusalém.

O ano 70 entrou para a história como o ano em que Jerusalém foi completamente destruida pela força de 80 mil soldados do exército romano. Tito não deixou nada de pé. O templo foi destruído até o chão, assim como a cidade inteira, para demonstrar aos judeus e ao restante do mundo que nem mesmo as fortificações mais inexpugnáveis poderiam resistir à força militar romana. Não restou pedra sobre pedra. Contrariando as ordens de Tito, o templo foi incendiado. P. 122.[11]
Antes de 68"As cartas de Paulo, endereçadas a diversas congregações da igreja cristã primitiva, já eram consideradas 'Escrituras'", p. 22.[11]

"e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2ª Pedro 3.15 e 16).
90Concilio de Jamnia.

Outrora se pensava que o Concilio de Jamnia, reunião de estudiosos rabínicos acontecida por volta de 90 d.C., havia sido crucial para decidir o cânon das Escrituras hebraicas. O pensamento atual entende que o concilio se reuniu para discutir a inspiração de vários livros do cânon, mas não para decidir quais livros incluir ou excluir do cânon. A conclusão do cânon hebraico havia sido estabelecida bem antes de Jamnia; p. 125-132 [5] e p. 319-49 [6].
96 ou antesA tradição é a de que João escreveu o evangelho que recebe seu nome e o fez no final da década de 90 do 1º século, em Éfeso. P. 75[12] e p. 96.[11]

Composição do Apocalipse, o último livro da Bíblia, escrito pelo discípulo João, p. 96. [11]
155 - 172Surgiu mais um grupo herético. Chamado montanismo em referência a Montano (? - ?), seu fundador, esse movimento incentivava uma grande expectativa da volta rápida do Senhor, apelando para novas revelações do Espírito Santo. A igreja respondeu a essa ênfase na revelação obtida fora da Bíblia sublinhando que o cânon das Escrituras estava concluído. Eusébio (265 - 339), ao confrontar essa heresia, teve o cuidado de não formular uma resposta que parecesse deter uma autoridade equivalente à autoridade das Escrituras — para não cometer a mesma heresia que ele estava combatendo. Ele falou da “doutrina do Novo Testamento, à qual ninguém que tenha resolvido viver de acordo com o evangelho pode acrescentar ou retirar coisa alguma”. Embora não tenha formulado uma lista de livros do Novo Testamento, ele confirmou a percepção da igreja de que não se podia acrescentar nem subtrair coisa alguma ao cânon concluído das Escrituras, p. 51.[2]
170Primeira lista de livros do Novo Testamento: o cânon muratoriano. Composição incerta (devido o estado dos fragmentos do documento): os quatro Evangelhos, Atos dos Apóstolos, treze cartas de Paulos (sem Hebreus), Judas, 1ª e 2ª João, Apocalipse de João, Sabedoria de Salomão e Apocalipse de Pedro. O Cânon muratoriano recebeu este nome em homenagem ao arqueólogo italiano L. A. Muratori (1672 – 1750), que descobriu e publicou o documento em Antiquitates Halicae Medii Aevi, III (Milão, 1740). O documento está fragmentado e começa com uma análise que conclui o evangelho de Marcos, seguida de uma análise “do terceiro livro do Evangelho, aquele segundo Lucas”. Algumas emendas ao texto corrompido restauram 1Pedro e até mesmo 2Pedro, p. 51.[2]
Séc. 2O fragmento de John Rylands, contendo alguns versos de João 18, é datado do início do segundo céculo (cf. o ano de 1936).

O fragmento do Apocalipse, descoberto no Egito, datado do 2º século (cf. o ano de 1971).

Irineu (130 - 202), discípulo de Policarpo e este contemporãneio ao apóstolo João, irmão do mártir Tiago, foi o primeiro a chamar as Escrituras (escritos dos profetas e tradição dos apóstolos já escrita) de Antigo e Novo Testamentos.[9]

Tertuliano (160 - 220), falando sobre a igreja, observou: “Ela une a Lei e os Profetas em um só volume com os escritos dos evangelistas e apóstolos; dos quais bebe [recebe] sua fé”, p. 36.[7]

As revelações antiga e nova constituíam uma unidade. Desse modo, Tertuliano acusou Marcião (85 - 160), herege eminente, de ser “autor do desentendimento entre o evangelho e a lei”, ao passo que a igreja não detectava nenhuma distinção entre as previsões dos profetas e as declarações do Senhor.[8]

A “única fé verdadeira e vivificante que a igreja recebeu dos apóstolos e transmitiu a seus filhos” era considerada “a santa e gloriosa regra de nossa tradiçâo”, “a regra de fé” e a “ regra (ou cânon) da verdade”. A essência dessa tradição estava definida e contava com o consenso das igrejas, e seu conteúdo era uma declaração resumida que representava a essência da doutrina cristã. Tudo em que a igreja cria precisava estar de acordo com essa regra de fé. Aliás, era possível fazer distinção entre uma doutrina verdadeira e uma falsa remontando sua origem à “tradição dos apóstolos”, p. 48.[2]

Além disso, essa regra de fé era de conhecimento público, acessível a todos. Assim, ela contrastava com certas heresias que alegavam um “conhecimento secreto” das verdades da fé cristã. Essa sabedoria oculta se reservava à elite desses movimentos ilegítimos e muitas vezes se opunha ao ensino bíblico. O mesmo não acontecia com a tradição apostólica: ela era de conhecimento público e estava de conformidade com as Escrituras. Os receptores e transmissores dessa tradição foram principalmente os sucessores dos apóstolos, bispos que lideravam as igrejas. Eles eram a garantia de que aquilo que as igrejas criam e praticavam estava de acordo com a regra de fé apostólica. Esses bispos não eram fontes de novas revelações paralelas às Escrituras. Ao contrário, eram os transmissores fiéis da verdade recebida dos apóstolos — e, em última análise, recebida do próprio Deus. Tertuliano defendia que “todas as doutrinas que concordam com as igrejas apostólicas — moldes e fontes primeiras da fé — devem ser consideradas verdadeiras, expressões incontestáveis daquilo que as igrejas receberam dos apóstolos, estes, de Cristo, e Cristo, de Deus”, p. 48 e 49.[2]

Essa questão do cânon das Escrituras se tornou especialmente decisiva quando começaram a aparecer falsos mestres e falsos profetas. Marcião, por exemplo, era líder de um movimento herético cujas visões eram obviamente erradas. Seu “cânon” das Escrituras consistia de “o Evangelho e o Apóstolo” (uma versão mutilada do evangelho de Lucas e dez cartas de Paulo). Marcião rejeitava todo o Antigo Testamento e todas as partes do Novo Testamento em formação que refletiam de modo favorável o Antigo Testamento. Do evangelho de Lucas, Marcião eliminou o relato do nascimento de Jesus, bem como qualquer referência a Jesus que reconhecesse o Deus Criador como seu Pai. Do conjunto paulino, ele tirou todas as referências do apóstolo a profecias veterotestamentárias acerca do advento de Cristo, bem como qualquer referência ao Deus Criador como Pai de Jesus. Além disso, ele não incluiu 1 e 2Timóteo e Tito.

A igreja primitiva tinha razão de estar preocupada com as visões de Marcião e reconheceu que seu cânon limitado das Escrituras promovia sua teologia herética. Seu “cânon” estava obviamente errado. Mas quais escritos deveriam ser incluídos no cânon verdadeiro? A igreja se voltou então para a definição do cânon das Escrituras. Surgiram dois critérios fundamentais para determinar quais escritos incluir no cânon: (1) apostolicidade: o autor do texto é um apóstolo (e.g., as cartas de Paulo, os evangelhos de Mateus e de João)? Se não, será que um apóstolo está vinculado ao texto (e.g., Marcos registra o relato do apóstolo Pedro)? (2) antiguidade: a igreja reconheceu ao longo da história a voz de Deus falando a seu povo nesse texto? Embora estivesse munida desses critérios, a igreja não estava empenhada em determinar o cânon das Escrituras, mas em reconhecer e afirmar os textos inspirados que Deus pretendia que fossem incluídos em sua Palavra, p. 50.[2]

Papairos de Chester Beatty, descobertos em 1930, alguns datados do ano 150 e outros de 220 a 230, p. 94.[11]
Séc. 3Orígenes (185 - 253) usava um Novo Testamento com os seguintes livros: os quatro Evangelhos, Atos dos Apóstolos, treze cartas de Paulo, Tiago, Judas(?), 1ª Pedro, 2ª Pedro(?), 1ª João e Apocalipse. Ele considerava livros controversos: Hebreus, 2ª Pedro(?) e 2ª e 3ª João.

Vários comentários são necessários: (1) Em seu Commentary on the Gospel of John [Comentário ao evangelho de João], 19.6, Orígenes se referiu ao segundo capítulo de Tiago e observou que as palavras são “da carta que contém (o nome de) Tiago”. Alguns estudiosos viram nisso uma indicação da dúvida de Orígenes a respeito da canonicidade da carta. Essa visão, no entanto, é errada. Orígenes se referiu à carta como Escritura em sua Selection on Psalms [Seleção de Salmos], 30.6, e chamou Tiago de “apóstolo” em seu Commentary on the Gospel of John [Comentário do Evangelho de João], frag. 126. (2) A inclusão de 2Pedro é incerta por causa de evidências conflitantes. Por um lado, Orígenes citou Pedro ao menos seis vezes em seus escritos e parecia considerar a carta como canônica. Por exemplo, ele falou de Pedro ressoando com as duas trombetas de suas cartas (Homilies on Jushua, 7.1). Por outro lado, de acordo com um comentário de Eusébio, Orígenes acreditava que “Pedro, sobre o qual a igreja de Cristo está edificada, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão, deixou uma carta de que podemos ter certeza. Suponhamos, também, que a segunda tenha sido deixada por ele, pois quanto a isso há certa dúvida”. Eusébio, Ecclesiastical history, 6.25 in: Cruse, Eusebius’ Ecclesiastical history, p. 246. Orígenes parecia considerar Judas como canônica (“repleta de palavras de graça celestial” ; Commentary on Matthew, 10.17), mas reconhecia que nem todas as igrejas a aceitavam como tal (ibidem, p. 30), p. 52.[2]

Papairos de Chester Beatty, descobertos em 1930, alguns datados do ano 150 e outros de 220 a 230, p. 94.[11]
Séc. 4No início do século 4, Eusébio dividiu sua classificação de escritos bíblicos em quatro categorias: Livros aceitos — Os quatro Evangelhos, Atos dos Apóstolos, As treze cartas de Paulo, 1joão, 1Pedro e Apocalipse de João (possibilidade de ser espúrio). Livros controversos (embora conhecidos pela maioria) — Tiago, 2Pedro, 2 e 3João e Judas. Obras espúrias — Atos de Paulo, Pastor de Hermas, Didaquê, Epístola de Barnabé, Apocalipse de Pedro, Evangelho segundo os hebreus, e Apocalipse de João (possibilidade de ser aceito). Obras absurdas (heréticas) — Evangelho de Pedro, Evangelho de Tomé, Evangelho de Matias, Atos de André, Atos de João e Atos de outros.

Vários comentários se impõem aqui: (1) Embora Eusébio tenha situado a carta de Tiago entre os “livros controversos”, ele defendia sua canonicidade. Essa inclusão, portanto, decorria do fato de que ele reconhecia que algumas igrejas tinham dúvidas a respeito da canonicidade da carta. (2) Em relação a 2Pedro, Eusébio observou que “uma de suas epístolas, chamada a primeira, é reconhecida como genuína, pois os patriarcas a usaram na antiguidade em seus escritos como obra incontestável do apóstolo. Mas aquela chamada de segunda, não consideramos, de fato, como parte dos livros sagrados […] no entanto, visto que parecia útil para muitos, foi atentamente lida com as outras Escrituras […]. Essas, no entanto, são aquelas chamadas epístolas de Pedro, das quais considerei somente uma como genuína e admitida pelos patriarcas”. Ecclesiastical history, 3.3 in: Cruse, Eusebius’ Ecclesiastical history, p. 83. P. 52 e 53.[2]
325Até o século 19, a maioria dos manuscritos mais antigos conhecidos vinham do 4º século d. C. em diante. Entre os manuscritos antigos mais importantes estava o Códice Vaticano, assim chamado porque pertence à biblioteca do Vaticano em Roma, não por refletir, de alguma forma, a teologia católica. Data de aproximadamente 325 d.C. e contém a maior parte da Bíblia, com exceção de alguns livros do Novo Testamento, p. 89.[11]
330 - 350O Códice Sinaítico é uma das duas cópias mais antigas que existem da Bíblia inteira. Seu nome remete ao local em que foi descoberto, ao pé do monte Sinai. Hoje o Códice Sinaítico é amplamente considerado um dos manuscritos mais importantes já descobertos. Pode ser datado de forma segura da metade do 4° século, tendo sido escrito entre 330 e 350 d.C.

Foi descrito como um "tesouro sem preço" e "um dos manuscritos mais valiosos para a crítica textual do Novo Testamento grego, sendo também crucial para nossa compreensão da história da Bíblia cristã. Ele diminuiu a lacuna entre o último dos apóstolos e o manuscrito completo mais antigo do Novo Testamento para menos de 250 anos, demonstrando que as diferenças entre a Bíblia que temos hoje e a Bíblia existente por volta de 350 d.C. são periféricas. Marshall afirmou: "Graças ao Códice Sinaítico, hoje podemos dizer com certeza que, no Novo Testamento de nossas Bíblias do século 21, temos todas as intenções e todos os propósitos dos evangelhos, dos livros e das cartas, conforme escritos por seus autores do 1º século", p. 92 e 93.[11]
367A primeira lista de livros do Novo Testamento que corresponde exatamente ao cânon como se conhece hoje foi apresentada na Trigésima Nona Epístola (Pascal) de Atanásio de Alexandria (296 - 373), em 367 d.C. Depois de apresentar a lista dos livros canônicos do Antigo Testamento, Atanásio apresentou este cânon do Novo Testamento: Os quatro evangelhos, Atos, as 7 cartas gerais, as 14 cartas paulinas (Hebreus inclusa) e Apocalipse. Livros não canônicos: Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Sirácida, Ester, Judite, Tobias, Didaquê e Pastor de Hermas. Embora as sete cartas gerais tenham sido colocadas antes das cartas paulinas e a carta aos Hebreus seja incluída nos escritos paulinos, não há outra diferença entre o cânon de Atanásio e o Novo Testamento que lemos hoje. Em relação aos livros não canônicos, Atanásio explicou que eles “de fato não estão incluídos no cânon, mas os pais da igreja os designam para serem lidos por aqueles que acabam de se unir a nós e desejam instrução na palavra de piedade".

Atanásio, Thirty-ninth letter, 3, in: NPNF², 4:551-2. Como bispo de Alexandria no Egito, Atanásio tinha a responsabilidade de determinar a data da Páscoa todos os anos. Para comunicar essa decisão, ele escrevia cartas às igrejas. Foi em sua carta pascal de 367 d.C. que ele se incumbiu da tarefa de explicitar o cânon das Escrituras. A introdução ressaltava a seriedade da tarefa: “Ao fazer menção dessas coisas, adotarei, para recomendar meu trabalho, o modelo do evangelista Lucas, dizendo sobre meu trabalho: ‘Visto que muitos têm empreendido’ uma organização coordenada dos livros ditos apócrifos e sua mistura com as Escrituras, divinamente inspiradas, em relação às quais estamos plenamente convencidos de que, ‘pelos que desde o princípio foram suas testemunhas oculares e ministros da Palavra’, foram transmitidas aos patriarcas; ‘pareceu adequado também a mim’, tendo sido instado a fazê-lo por verdadeiros irmãos, ‘e depois de investigar tudo cuidadosamente desde o começo’, apresentar aqui os livros incluídos no cânon, passados para as gerações seguintes e considerados divinos”. P. 55[2].
380Edito de Teodósio I: o cristianismo era a religião exclusiva do Estado, e o Estado puniria os dissidentes. Todos deveriam ser cristãos católicos romanos trinitarianos, segundo a ordem do imperador Teodósio, o Grande.
382A partir do segundo século depois de Cristo, empreendeu-se uma tradução latina de toda a Bíblia, refletindo a troca do grego pelo latim como língua universal do império romano. A versão do Antigo Testamento traduzida foi a Septuaginta, não a Bíblia hebraica. Quando a igreja começou a adotar o latim como sua língua, a tradução latina, que incluía os Apócrifos, tornou-se sua Bíblia.

Em 382, o bispo de Roma convidou Jerônimo (347 - 420) para iniciar uma nova tradução da Bíblia para o latim. Quando começou seu trabalho no Antigo Testamento, Jerônimo percebeu que uma tradução correta exigia um original em hebraico e não a Septuaginta em grego. Assim, ele começou a traduzir a Bíblia hebraica e teve de confrontar as diferenças óbvias entre ela e a Septuaginta.

Jerônimo traduziu primeiramente Samuel e Reis, e em seu prefácio a esses livros redigiu uma lista de Escrituras canônicas. Ela incluía somente os livros da Bíblia hebraica; somente esses eram Escrituras. Ele comentou: “Esse prefácio às Escrituras pode servir de introdução geral a todos os livros que passamos [traduzimos] do hebraico para o latim, de modo que podemos ter certeza de que o que não se encontra em nossa lista deve ser situado entre os escritos apócrifos”.

Esses escritos eram Sabedoria (de Salomão), o Livro de Jesus Ben Sirá (Eclesiástico), Judite, Tobias e 1 e 2Macabeus.

Em outro lugar, Jerônimo rejeita Baruque e, embora tenha traduzido as histórias acrescentadas a Daniel na LXX, situou-as em um apêndice ao livro. Assim, ele relegou os Apócrifos a uma posição secundária em comparação com as Escrituras canônicas.

Ao comentar a respeito de dois escritos apócrifos (Sabedoria de Salomão e Eclesiástico), Jerônimo referiu-se à função ou ao propósito dos Apócrifos: “Visto que a igreja lê Judite, Tobias e os livros de Macabeus, mas não os admite entre as Escrituras canônicas, então, que leia esses dois volumes para a edificação do povo, mas não para dar aval a doutrinas da igreja”.

Isto é, a igreja poderia ler os livros apócrifos para seu crescimento, mas eles não poderiam ser consultados para estabelecer doutrinas da igreja (essa função dos Apócrifos, como Jerônimo a concebia, seria invocada mais tarde pelos reformadores quando a questão do cânon das Escrituras foi retomada, mais de um milênio depois, no século 16).

Jerônimo exerceu uma enorme influência por meio de sua tradução da Bíblia para o latim conhecida como Vulgata Latina. Poderíamos imaginar que sua postura em relação aos Apócrifos se tornou a visão predominante na igreja, mas não foi assim que as coisas se deram. P. 58 e 59.[2]
393O cânon do Novo Testamento de Atanásio foi oficialmente endossado pelo Concílio de Hipona em 393 d.C. Os escritos de Paulo (sem incluir Hebreus) passaram a aparecer antes das cartas gerais: “As Escrituras canônicas […] do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, Atos dos Apóstolos (um livro), as treze cartas do apóstolo Paulo, uma do mesmo aos hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas, o Apocalipse de João”, p. 56.[2]

Agostinho (354 - 430) exerceu uma influência ainda maior que Jerônimo na perspectiva da igreja em relação aos livros apócrifos. O fundamento da visão de Agostinho a respeito do cânon das Escrituras era sua convicção de que “o único e mesmo Espírito” havia falado tanto por meio dos autores das Escrituras hebraicas como dos tradutores da Septuaginta. Até mesmo nos pontos em que as duas versões apresentavam divergências importantes, a obra de inspiração do Espírito havia estado ativa em ambas. Essa era uma condição necessária, já que os apóstolos citavam tanto a Bíblia hebraica como a Septuaginta. Se os fundadores da igreja defendiam essa visão, ela tinha de continuar sendo a visão de Agostinho — e, desse modo, da igreja — a respeito das Escrituras: ״Eu também, de acordo com a minha capacidade, seguindo os passos dos apóstolos, que de fato citaram testemunhos proféticos das duas, isto é, da Bíblia Hebraica e da Septuaginta, cheguei à conclusão de que ambas devem ser usadas como detentoras de peso de autoridade, visto que as duas são uma e divinas”.

Em uma série de cartas trocadas entre eles, Agostinho exortou Jerônimo a traduzir o Antigo Testamento para o latim a partir da Septuaginta e não do hebraico. Como Jerônimo incluiu traduções dos livros apócrifos em sua Vulgata latina, estas se tornaram amplamente conhecidas. Antes disso, a igreja considerava como canônica a Bíblia hebraica refletida no Antigo Testamento. No entanto, visto que a Vulgata havia se tornado a nova Bíblia da igreja, os Apócrifos passaram a ser considerados parte das Escrituras canônicas.

O Concilio de Hipona, em 393, o Terceiro Concilio de Cartago, em 397, e o Quarto Concilio de Cartago, em 419, endossaram o cânon de Agostinho (“Council of Hippo”, cânon 36. Megivern, Bible interpretation, p. 48. Cf. Terceiro Concilio de Cártago, cânon 47; Quarto Concilio de Cártago, cânon 29).

Desse modo, o Antigo Testamento com os Apócrifos (Tobias, Judite, acréscimos a Ester, 1 e 2Macabeus, o Livro de Sabedoria, Eclesiástico, Baruque e acréscimos a Daniel), juntamente com o cânon do Novo Testamento de Atanásio, passariam a representar as Escrituras da igreja. Essa posição continuaria sem contestação significativa até a Reforma no século 16. P. 59 e 60.[2]
397O Terceiro Concilio de Cartago endossou essa mesma relação de livros bíblicos, p. 56.[2]
400Versões siríacas do Novo Testamento.

O siríaco era uma língua antiga, usada em uma parte da Síria oriental na região da antiga cidade de Edessa, nos primeiros séculos da era cristã. Os habitantes da região, que não falavam nem latim latim ou grego, aceitaram o cristianismo logo em seus primórdios. Por isso, começaram a surgir documentos cristãos no idioma siríaco em torno da mesma época, ou pouco depois.

Sobre os cristãos siriacos, é necessário fazer uma observação importante: "Não é de surpreender que o cristianismo de Edessa tenha começado a se desenvolver de maneira independente, sem mistura da losofia grega e dos métodos romanos de governo que, logo no começo, modificaram o cristianismo primitivo no Ocidente e o transformaram no amálgama conhecido como catolicismo".

Hamilton argumenta corretamente que as versões iniciais do Novo Testamento em outras linguas são "uma evidência extremamente importante para a determinação do texto no Novo Testamento". Ele afirma que, dentre as versões mais antigas, as traduções em siríaco estão "entre as mais importantes".

Outro manuscrito antigo descoberto no monastério de Santa Catarina [cf. o ano de 1859] em 1892 foi uma versão siriaca dos evangelhos, que data de 400 d.C. aproximadamente. Na verdade, trata-se de uma cópia de uma tradução anterior para o siríaco feita no final do 2° século. Muitas outras versões antigas das Escrituras em diversos idiomas sobrevi veram em parte ou integralmente. De acordo com Hamilton, todas elas "nos permitem ter certeza de que temos, em essência, o texto dos autores originais". Mesmo assim, são os evangelhos em siríaco, acima de tudo, que nos mostram que "nosso texto é, em essência, o mesmo usado na metade do 2º século" no vale do Eufrates e no oeste da Mesopotamia. O intervalo temporal entre as mais antigas cópias subsistentes do Novo Testamento e o original continua a encolher, p. 93 e 94.[11]
419O Quarto Concilio de Cartago também endossou essa mesma relação de livros bíblicos [cf. o ano 393]. Esse cânon é aceito desde então pela igreja — tanto a católica como a protestante, p. 56.[2]
425O Códice Alexandrino é um manuscrito do final do 4º século ou início do 5º, datado de no máximo 425 d.C. e contém quase todo o Novo Testamento, p. 89.[11]
450O Códice Efraimita foi escrito por volta de 450 d. C. e contém a Bíblia inteira, embora só possa ser lido hoje usando luz infravermelha. Há também um grande número de manuscritos posteriores do Novo Testamento em grego do 5º e 6º séculos d. C., p. 89.[11]
538Flagrantemente, o papado e seus adeptos editam a Palavra de Deus descaradamente, sem qualquer receio e consciência pesada, uma vez que o feitiço da serpente — a psicologia derivada da adulteração da Lei e Palavra de Deus —, embota o raciocínio e impede o reconhecimento do óbvio: Deus não passou Sua autoridade divina, Sua Natureza divina e Sua inerrância divina para criaturas. Menos ainda criaturas pecadoras e que distorcem Sua Palavra (Antigo, Novo Testamento e 10 Mandamentos).

Neste ano os "três chifres" arianos vistos pelo profeta Daniel (cf. Dn 7.8) assinalando o levantar da monstruosidade da "besta do mar" — não mais um "chifre pequeno", mas um predador monstruoso e cada vez mais agigantado pelos feitiços blasfemos de sua falsa teologia, sua herança romana imperialista/globalista e seu ventríloquo: o próprio pai da mentira.

Isto até 1798, quando a besta seria golpeada pela revolução Francesa, após os 1260 anos de supremacia sem concorrentes (cf. Dn 7.25; Ap 11.2, 3 e 11; Ap 12.6 e 14; e Ap 13.5 ). Após o golpe, rapidamente viria a cura por meio de outra besta: a da terra (cf. Ap 13.11-18). Os EUA e seu protestantismo apostatado curariam a ferida, dariam fim às limitações políticas impostas, e romanismo e falso protestantismo dariam à "besta do mar" seu poder temporal globalista novamente, até alguns dias antes da volta do Rei Jesus. [10]

Por mais de um milênio, a igreja prosseguiu adotando como sua Bíblia a Vulgata Latina, formada pelo Antigo Testamento com os Apócrifos e o Novo Testamento. No entanto, duas grandes mudanças ocorreram na Idade Média e levaram a um novo questionamento sobre quais livros de fato pertenciam ao cânon das Escrituras.

A primeira mudança foi a elevação da Igreja Católica Romana à posição de autoridade suprema — uma autoridade maior que a das Escrituras. Essa mudança conduziu à afirmação de que a Igreja Católica Romana tinha autoridade para determinar o cânon das Escrituras. Como Guido Terreni afirmou: “Da autoridade da igreja os livros canônicos derivam seu poder de autoridade. Por meio da igreja os livros da Bíblia foram aceitos como detentores de autoridade. Com base em sua autoridade [da igreja] os fiéis creem com firmeza que elas [as Escrituras canônicas] contêm infalivelmente a verdade. É apenas com base na autoridade da igreja que se pode provar que precisamos crer nelas com firmeza”. Além disso, de acordo com Gabriel Biel: “Devemos crer na verdade que a santa madre igreja define ou aceita como católica com a mesma veneração com que creríamos se ela estivesse expressa nas Sagradas Escrituras”.

Como a Igreja Católica [Romana] havia definido o cânon das Escrituras, todos os cristãos deveriam aceitar sua determinação do cânon [(ou seja, o império peseudo cristão, e não a igreja cristã fundada por Jesus)], p. 60.[2]
916A primeira Bíblia hebraica foi impressa em 1526, publicando um texto extraído de manuscritos em hebraico, dentre os quais o mais antigo datava de 916 d. C., mais de 1500 anos depois da escrita do último livro do Antigo Testamento. Isso mudou drasticamente a partir de 1947. p. 97.[11]
538 - 1798“Nesse período de perseguições e martírios, de 538 até 1798 d.C., o Antigo e o Novo Testamentos bíblicos, Minhas duas testemunhas na Terra, ensinarão sobre Mim mas de luto, pela contínua perseguição, e por serem forçados pelos falsos adoradores a viverem em idiomas antiquados e sem acesso à maioria das pessoas”, p. 205 e 206.[10]
Sécs. 12 e 13Os valdenses - grupo cristão que se desenvolveu principalmente no norte da Itália e na França durante os séculos 12 e 13 - produziam e colocavam em circulação muitos exemplares das Escrituras, a partir de seus abrigos nas montanhas. Sofrendo ameaça de morte, missionários valdenses levavam para muitas partes da Europa essas Biblias escritas à mão escondidas dentro da roupa. Documentos da Inquisição descobertos recentemente revelam que muitos pregadores e seguidores dos valdenses foram condenados à morte por possuir, carregar, pregar ou ouvir as palavras da Bíblia. Em 1229, o Concilio de Toulouse proibiu a posse e a leitura da Bíblia, definindo punições severas para quem fosse considerado culpado e para aqueles que o abrigassem ou protegessem, p. 42.[11}
Sécs. 14 e 15John Wycliffe (1328 - 1384) e alguns de seus amigos traduziram a Biblia para o inglés. A mensagem das Escrituras foi proclamada por toda parte pelos seguidores de Wycllife e recebida com muita alegria por aqueles que desejavam ouvir e entender esse livro proibido. As autoridades lançaram mão de esforços vigorosos para eliminar e queimar a Biblia de Wycliffe, mas ela continuou a ser copiada ao longo de todo o século 15. A igreja promulgou uma lei em 1408 proibindo a tradução de qualquer parte da Bíblia para o inglês. P. 42.[11}
Séc. 14 ao 16A ascensão do importante movimento chamado humanismo, na segunda metade da Idade Média, também contribuiu para o retorno à Bíblia e a diminuição da influência dos livros deuterocanônicos e apócrifos. Não se deve confundir esse movimento com o humanismo secular dos séculos 20 e 21, espírito secularizante com uma nítida natureza anticristã. O humanismo dos séculos 14,15 e 16 era fundamentalmente um movimento cultural e educacional cujo foco era promover a eloqüência oral e escrita.

Surgido na Renascença italiana e estendendo-se para o norte da Europa, o humanismo não era anticristão e foi adotado por muitas figuras importantes da igreja. O lema do humanismo era “ad fontes”: “de volta às fontes”. Para a igreja, isso significava uma volta a seus escritos fundamentais: o Antigo Testamento hebraico, o Novo Testamento grego e as obras da igreja primitiva. Isso levou a vários desdobramentos e perguntas:

I) Em primeiro lugar, a diferença entre a Bíblia hebraica e a Vulgata Latina, que incluía os Apócrifos, ficou mais uma vez evidente. E de novo surgiu a pergunta: o Antigo Testamento da igreja deve se basear na Bíblia hebraica, mais curta, ou na Septuaginta, que lhe acrescenta seus escritos apócrifos?

II) Em segundo lugar, ressuscitou-se a antiga distinção que Jerônimo fazia entre livros canônicos e livros apócrifos. O tradutor da Vulgata havia declarado que os Apócrifos poderiam ser lidos “para a edificação do povo”, mas não se poderia usá-los para “conferir autoridade às doutrinas da igreja”. Para estabelecer suas doutrinas, a igreja podia recorrer somente às Escrituras canônicas. Agostinho havia obscurecido essa distinção e, desse modo, a igreja, seguindo sua influência, havia estabelecido certas convicções e práticas com base na autoridade dos escritos apócrifos. Por exemplo, o clássico texto de prova para a crença no purgatório e para a prática de orar pelos mortos era 2Macabeus 12.38-45. Surgiu a pergunta: A igreja deveria continuar baseando suas convicções e práticas nos Apócrifos ou deveria usar somente as Escrituras canônicas para estabelecê-las?

III) Em terceiro lugar, uma comparação da tradução latina com o Novo Testamento grego revelou que a Vulgata era uma tradução que não refletia bem o original em certos trechos. Essa descoberta foi especialmente importante em várias passagens, porque certas convicções e práticas da igreja se baseavam na versão latina. Por exemplo, a versão da pregação evangelística de Jesus (Mt 4.17) na Vulgata trazia ״fazei penitência”. Essa ordem do Senhor foi usada pela igreja como fundamento bíblico do sacramento da penitência — a prática de orar, dar esmolas aos pobres, privar-se de certos prazeres físicos etc., a fim de receber a graça de Deus depois de haver pecado. Erasmo (1466 - 1536), eminente estudioso humanista, insistia na tradução do original grego por “arrependei-vos”, um profundo chamado à mudança no interior do coração, não a um ato exterior imposto pela igreja. Surgiu então a pergunta: A igreja deve basear suas convicções e práticas do Novo Testamento na Vulgata Latina, cuja tradução apresenta deficiências, ou deve recorrer ao texto grego original? P. 60 e 61.[2]

Lutero (1483 - 1546) rejeitou 1Macabeus e os acréscimos a Ester e Daniel porque eles não apareciam na Bíblia hebraica. Descartou Judite e Tobias por causa de seus relatos históricos incorretos, e Baruque por suas incoerências cronológicas. Rejeitou Sabedoria de Salomão e Eclesiástico por não serem citados na igreja primitiva. Martinho Lutero, Prefaces to the Apocrypha, LW, 35:337-54. P. 61.[2]

Influenciados pelo humanismo, os reformadores acompanharam essas mudanças e responderam as perguntas acima do seguinte modo:

(I) O Antigo Testamento da igreja deveria se basear na Bíblia hebraica mais curta, e não na Septuaginta com seus livros apócrifos. Essa decisão se baseava no fato de que as Escrituras judaicas, com seus 22 (ou 24) livros, havia sido a Palavra de Deus que Jesus e os discípulos usaram; assim, essa versão mais curta deveria ser considerada a Bíblia da igreja. Além disso, alguns escritos apócrifos continham informações históricas ou cronológicas incorretas, e muitos não tinham sido considerados confiáveis pela igreja primitiva. Desse modo, os reformadores descartaram os Apócrifos do Antigo Testamento canônico.

(II) Adotando a distinção clássica de Jerônimo, os reformadores insistiam que a igreja pode apelar somente às Escrituras para estabelecer suas convicções e práticas. Como os Apócrifos não eram canônicos, não se poderia usá-los como base para as doutrinas da igreja. Isso significava que crer no purgatório e orar pelos mortos eram práticas sem fundamento bíblico e deviam ser interrompidas. Ao menos para alguns reformadores, no entanto, os Apócrifos tinham certo valor. Martinho Lutero disse que Judite era “um livro com qualidades, bom, útil, cuja leitura era de grande valor para cristãos”. Ele também elogiou Sabedoria de Salomão: “Agrada-me sobremaneira que o autor aqui exalte a Palavra de Deus a ponto de lhe atribuir todos os prodígios que Deus realizou, tanto em seus inimigos como em seus santos”. Desse modo, a leitura dos Apócrifos era incentivada, mas não a definição de doutrinas com base em sua autoridade. Os reformadores retomaram a distinção de Jerônimo e a promoveram.

(III) Os reformadores insistiam que, assim como o Antigo Testamento da igreja devia se basear na Bíblia hebraica, o Novo Testamento devia ter como base o original grego. Se as convicções e práticas da igreja estiverem baseadas na tradução deficiente da Vulgata Latina, elas precisarão ser modificadas ou abolidas. Assim, em 31 de outubro de 1517, quando Lutero iniciou a Reforma afixando suas Noventa e Cinco Teses na porta da igreja da universidade de Wittemberg, na Alemanha, ele começou com estes dois pontos:

• Quando nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo diz: ״Arrependei-vos” (Mt 4.17), ele quer que toda a vida dos que creem seja arrependimento.
• Essa palavra de arrependimento não pode ser entendida como se referindo ao sacramento da penitência (isto é, à confissão e reparação) administrada pelos sacerdotes.

Em sua explicação desses pontos, Lutero usou “a própria palavra grega metanoeite, que significa “arrependei-vos” e que se poderia traduzir de modo mais exato pelo verbo em latim transmentamini, que significa “adquiri outra mente e sentimento, voltai ao juízo, fazei a transição de uma mentalidade para outra, realizai uma mudança de espírito”. Essa descoberta deu início a um processo que culminou na rejeição de Lutero à penitência como sacramento da igreja.

Acima de tudo, ela estabeleceu que o fundamento do Novo Testamento canônico da igreja precisava ser o original em grego e não a Vulgata Latina. Contrariando a expansão da autoridade da Igreja Católica Romana na época medieval, os reformadores rejeitaram a alegação de autoridade da igreja acima das Escrituras. O princípio formal do protestantismo era o sola Scriptura — somente as Escrituras. Entre outras coisas, isso significava que ״as Escrituras sagradas e bíblicas, pelo fato de serem a Palavra de Deus, têm reputação e credibilidade suficientes em si mesmas e por sua própria natureza”. Assim, a Bíblia não necessita que a igreja lhe confira autoridade.

No que diz respeito à canonicidade, isso significava que a igreja não estabeleceu o cânon das Escrituras. Aliás, João Calvino (1509 - 1564) fez uma crítica mordaz a essa posição, desafiando a hierarquia católica romana a provar que foi a igreja quem estabeleceu o cânon das Escrituras. Citando Paulo, Calvino afirmou que a igreja “está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2.20); assim, as Escrituras precedem a igreja e não devem sua existência à autoridade desta. A igreja reconheceu e confirmou os escritos divinamente inspirados que Deus pretendia que fossem incluídos no cânon, mas ela não criou nem determinou o cânon das Escrituras.

Como, então, a igreja reconhece as Escrituras canônicas? Calvino apontou ״para o testemunho íntimo do Espírito” e para os “claros sinais de veracidade” contidos nas próprias Escrituras: "Que esta verdade fique, portanto, bem clara: aqueles a quem o Espírito Santo ensinou interiormente de fato descansam na Escritura, e essa Escritura é de fato autoautenticada […] E a confiabilidade que lhe devemos ela obtém pelo testemunho do Espírito […] Portanto, iluminados por seu poder [do Espírito], cremos, baseados no juízo não de nós próprios nem de mais ninguém, que a Escritura procede de Deus; mas, independentemente da opinião humana, dizemos com plena certeza (exatamente como se estivéssemos contemplando a majestade do próprio Deus) que ela flui para nós da boca de Deus por intermédio do ministério de homens. P. 61 - 63.[2]
1511Lutero se tornou professor universitário de teologia na recém-inaugurada Universidade de Wittenberg, onde lecionou sobre a Bíblia, livro praticamente desconhecido na época, p. 57.[11]
1516A disputa por objetos vindos da Terra Santa era incontrolável. Só a coleção de Frederico, o sábio, príncipe da Saxônia (1486 -1525), contava com mais de 19 mil peças entre, as quais destacavam-se: um pedaço da sarça ardente, ferrugem da fornalha de fogo onde estiveram os companheiros de Daniel, leite do seio de Maria, uma pena da pomba do Espirito Santo e pedaços do berço de Cristo. Isto para citar apenas algumas. Uma exposição pública desses artefatos em 1516 garantia a quem pagasse o ingresso, uma redução da pena no purgatório que passaria de 1.902.207 anos para apenas 270 dias.

Opondo-se a esse sistema, Lutero chegou a ironizar perante seus alunos em Wittenberg -conforme um diálogo sugerido por Eric Till - que os colecionadores haviam trazido tantos ossos de santos para a Europa que "somente na Espanha, poderiam ser vistos os corpos de dezoito dos doze apóstolos!", p. 12.[13]
1526William Tyndale (1484 - 1536) conclui sua tradução do Novo Testamento, p. 42.[11]
1559A Confissão de Fé Francesa, depois de listar os livros canônicos do Antigo e do Novo Testamento, declarou: Sabemos que esses livros são canônicos e que são a regra segura de nossa fé, não tanto pelo comum acordo e consenso da igreja, mas antes pelo testemunho e iluminação interna do Espírito Santo, que nos permite distingui-los de outros livros eclesiásticos sobre os quais, por mais úteis que sejam, não podemos fundamentar quaisquer artigos de fé”, p. 63 e 64.[2]

Faço um alerta aqui: pessoas não guiadas pelo Espírito de Deus, e até muito guiadas pelos anjos maus, podem dizer a mesma coisa: "iluminação interna do Espírito". Ou seja, ainda que seja verdadeira e prática a promessa do Salmo 32.8, não se deveria usar a condução do Senhor Espírito na mente de alguém como critério "de desempate". Isso fica com a ausência de contradição, bem como a narração de eventos históricos, o que é de se esperar de algo produzido por pessoas guiadas pelo Espírito de Deus.
1561A Confissão Belga, referindo-se aos livros apócrifos, observa: ״Todos os quais a igreja pode ler e dos quais pode adquirir instrução, contanto que concordem com os livros canônicos; mas eles estão longe de ter tal poder e eficácia que possamos de seu testemunho confirmar qualquer ponto da fé ou da religião cristã, muito menos enfraquecer a autoridade de quaisquer outros livros sagrados”, p. 64.[2]
1588A Bíblia foi traduzida para o galês, p. 189.[11]
1611A Reforma tinha base sólida na Bíblia. Sola Scriptura - "Somente as Escrituras" - foi um dos grandes princípios que causaram e sustentaram a Reforma. A Bíblia não estava disponível nos idiomas comuns dos povos europeus durante a Idade Média. A Reforma inaugurou um grande período de tradução da Bíblia, que culminou, na Inglaterra, com a versão King James em 1611 (90% de seu NT veio da versão de Tyndale). Outros países também receberam as Escrituras no próprio idioma durante esse periodo. No mundo anglófono, a versão King James da Bíblia foi um dos livros mais influentes já publicados. Moldou o pensamento e a vida dos ingleses por mais de 300 anos. Também ajudou a dar forma à lingua inglesa moderna e influenciou o desenvolvimento da vida na América colonial. É impossível quantificar ou calcular a influência da Bíblia no desenvolvimento do pensamento e da vida ocidental, uma vez que foi enorme. P. 34 e 43.[11]
1630A Bíblia foi traduzida para o galês em 1588, mas sua mensagem, de modo geral, permanecia desconhecida, sem ser ouvida. No entanto, a partir do final da década de 1630, a Reforma verdadeira finalmente chegou ao País de Gales. Isso aconteceu em grande medida pelos esforços de fervorosos pregadores puritanos e não conformistas. Então as coisas começaram a mudar depressa. Comunidades inteiras começaram a entender a mensagem da Bíblia. O País de Gales se tornou conhecido pelo fervor de sua vida religiosa. Igrejas e capelas foram construídas no país inteiro. O reavivamento galês é uma das características marcantes da história do país. Muitos dos belos hinos e das melodias tocantes da fé cristã ainda cantados ao redor do mundo surgiram no País de Gales. Corais nativos ainda entoam os antigos cânticos evangélicos, que expressaram no princípio a fé bíblica de milhares de cristãos galeses. Uma nova era raiou - as trevas deram lugar à luz. P. 189.[11]
1643-46A Confissão de Fé de Westminster, depois de listar os livros canônicos, acrescentou: “Os livros comumente chamados de Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon das Escrituras e, portanto, não têm autoridade na igreja de Deus, de modo algum se devendo aprová-los, ou usá-los, de maneira diferente do que quaisquer outros escritos humanos”, p. 64.[2]
1656Em 1656, aconteceu um debate na Polônia entre alguns rabinos judeus muito distintos e um grupo de eruditos cristãos. Durante a discussão, os cristãos apresentaram a profecia do capítulo 9 de Daniel. Ela fala sobre "setenta semanas" de tempo profético evidenciando que Jesus foi o verdadeiro Messias.

O debate terminou de maneira inconclusiva, mas depois os rabinos fizeram uma reunião. Ficou decidido proibir os judeus de tentar entender essa profecia, mesmo que fizesse parte das Escrituras judaicas. Aliás, eles pronunciaram uma maldição sobre qualquer judeu que tentasse fazê-lo, dizendo: "Que apodreçam os ossos e a memória daquele que tentar contar as 70 semanas."

Ficou claro que acharam difícil resistir ao convencimento de que Cristo, de fato, foi o Messias prometido por meio dessa profecia. É possível que a profecia das 70 semanas seja a mais convincente de todas as predições messiânicas. George McCready Price chamou Daniel de "o maior dos profetas" e disse que essa profecia do período de 70 semanas, que se estende de forma específica até a vinda do "Ungido" [Messias], o "Principe" (Dn 9:25), é interpretada há muito por todos os cristãos como "a mais clara e inequívoca de todas as profecias". Então acrescentou que se trata da "evidência mais inquestionável da presciência divina" e da "inspiração sobrenatural das profecias em si".

Essa profecia extraordinária está contida em apenas quatro versículos: Daniel 9:24-27. P. 172 e 173.[11]
1755"Portanto, farei estremecer os céus; e a terra será sacudida do seu lugar, por causa da ira do Senhor dos Exércitos e por causa do dia do seu ardente furor", Is 13.13.

"Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores", Mt 24.7 e 8.

"haverá grandes terremotos, epidemias e fome em vários lugares, coisas espantosas e também grandes sinais do céu", Lc 21.11.

"Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. [...] Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar", Ap 6.12 e 14.

A profecia estabelece “um grande tremor de terra” como marco inicial do sexto sêlo. E o grande terremoto a primeiro de novembro de 1755, preenche absolutamente os requisitos da profecia. Evidentemente não fôra Lisboa a vítima única do tremendo abalo daquele ano. Porém, foi a velha capital portuguêsa a maior vítima do grande cataclisma, pelo que êle é denominado de — Terremoto de Lisboa, p. 86.[10]

Em cumprimento desta profecia ocorreu no ano de 1755 o mais terrível terremoto que já se registrou. Posto que geralmente conhecido por terremoto de Lisboa, estendeu-se pela maior parte da Europa, África e América. Abrangeu uma extensão de mais de 10 000 000 km². Foi na Espanha e Portugal que o choque atingiu a maior violência. Em Lisboa, no lapso de mais ou menos 6 minutos, pereceram 60 000 pessoas. O mar a princípio se retirou, deixando seca a barra; voltou então, levantando-se 12 metros ou mais acima de seu nível comum.

Calculou-se que 90 000 pessoas perderam a vida naquele dia fatal. P. 304 e 305.[18]
1780"O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue", Ap 6.12.

O sexto selo inicia em Apoc. 6:12 e se estende até o fim do capítulo sete. Apoc. 7 é a seqüência do sexto selo, revelando o Julgamento dos Vivos. Novamente aqui o ponto central do selo é um grupo de pessoas no juízo. O sexto selo começa falando de alguns eventos que devem acontecer no mundo físico: um grande terremoto, escurecimento do sol e da lua, e queda das estrelas. Esses mesmos sinais também são mencionados em Mateus 24:29 e Lucas 21:11, 25.

Existem dois períodos de aflição mencionados na profecia, o primeiro de 1260 anos (538 - 1798), foi a primeira supremacia papal. Tudo indica que Jesus esteja falando desse período de aflição em Mateus 24:29 quando diz: “Logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu.” Esses sinais no mundo físico ocorreram em seqüência: o terremoto de Lisboa em 01/11/1755; o escurecimento do sol e da lua em 19/05/1780; a queda das estrelas em 13/11/1833. Esses sinais proféticos chamaram a atenção do mundo para a proximidade da volta de Jesus, porém, mais que isso, chamaram a atenção do mundo para o início do Juízo Celestial, para a Vinda de Jesus ao Pai no Santíssimo do Santuário Celestial, para receber o Livro Selado e dar início ao Juízo Celestial. Na Bíblia existem três referências a este evento (Daniel 7:13-14; Mal. 3:1-3; Apoc. 5:7). P. 85.[10]

E, segundo atesta a história, as perseguições ou a “grande aflição”, causada pela espada de Roma, cessou cêrca do ano de 1773. Logo depois deveria ocorrer o grande fenômeno. Foi precisamente a 19 de maio de 1780 que tomou lugar o sobrenatural escurecimento do sol, apenas sete anos depois da cessação das perseguições contra os santos. As narrativas que até nós chegaram do grande escurecimento, são perfeitamente comprobatórias da profecia. O continente Americano foi o primeiro a ser envolto pelas densas e estranhas trevas, pois que se manifestaram nos Estados Unidos, desde cêrca das dez e meia hora da manhã até ao pôr do sol.

A Lua tornou-se como sangue. – A escuridão da noite seguinte a 19 de maio de 1780 foi tão invulgar como tinha sido a do dia. A escuridão foi tão densa como talvez não se tenha ainda observado desde que a ordem do Todo-Poderoso deu origem à luz. Não pude resistir à idéia de que se todos os corpos luminosos do Universo estivessem envoltos em trevas espessas ou tivessem desaparecido totalmente, a escuridão não podia ter sido mais completa. Uma folha de papel branco a poucos centímetros dos olhos era tão invisível como o mais negro veludo. Aquela noite não foi talvez mais escura desde que os filhos de Israel saíram da casa da servidão. A escuridão permaneceu até a uma, embora no dia anterior tinha começado a fase da Lua cheia, p. 86.[10]
1790“A Bíblia enlutada e com as limitações impostas pelo papado e outros falsos adoradores, testemunhará de Mim dessa forma somente até o momento em que Satanás tentar erradicá-la através de uma descristianização reacionária. Ele e seus instrumentos humanos aparentemente destruirão a Bíblia numa região específica do planeta, na Primeira República da França, na década de 1790; em Paris, a Revolução Francesa queimará Bíblias e instituirá uma descristianização como Lei nacional, endeusando a promiscuidade e a violência; a semana de 7 dias será trocada por uma de 10 dias, afetando o sábado da Minha Criação! Muitos dos verdadeiros adoradores já haviam sido perseguidos e mortos pelo papado nesse país; e agora Meus seguidores genuínos são mortos pelo ateísmo que o papado ajudou a criar na França, de modo que essa apostasia dupla ali torna inútil o sacrifício expiatório do Cristo na vida e no destino desses opositores contumazes da Bíblia e dos seguidores genuínos do Cristo”, p. 214.[10]
1791Um fato curioso, que ilustra o clima daquela época, aconteceu com Voltaire, um deísta que, embora não se proclamasse ateu, era anticristão e crítico absoluto da historicidade biblica. Inimigo intelectual de Isaac Newton e Blaise Pascal que também haviam defendido a fé crista - ele chegou a definir a Bíblia e como uma crença ultrapassada, que desapareceria em menos de um século. Por ironia da história, vinte e cinco anos depois de sua morte, ocorrida em 1791, sua casa foi comprada pela Sociedade Biblica de Genebra e transformada num depósito de Biblias! P. 10.[13]
1793 - 1797“Outro escritor disse: ‘No dia 10 de novembro de 1793, um jumento vestido com hábito sacerdotal, conduzido por dois exaltados republicanos, (pensamos que foi em Lião) levando vasos sagrados com que davam a beber a êste animal; e quando foram chegados a um edifício público, Bíblias, livros de devoção, etc.... foram postos em pilha formando um montão enorme ao qual foi lançado fogo no meio da gritaria duma grande multidão dizendo: ‘Vivam os republicanos exaltados’... Em qualquer parte onde uma Bíblia era encontrada, podemos dizer que era condenada à morte’. (Harmonias da Natureza, 132)”, p. 215.[10]

“‘Mas a França ‘fez guerra’ à Bíblia? Sim; e em 1793 a Assembléia Francesa promulgou um decreto proibindo a Bíblia, e ao abrigo desse decreto as Bíblias foram reunidas e queimadas, cobertas de todos os possíveis sinais de desprezo e abolidas todas as instituições da Bíblia. O dia de descanso semanal foi anulado e em seu lugar consagrado cada décimo dia à folia e à profanação. O batismo e a comunhão foram abolidos. A existência de Deus foi negada e a morte considerada um sono eterno. A deusa da Razão, na pessoa de uma dissoluta mulher, foi proclamada e adorada publicamente. Há sem dúvida aqui um poder que corresponde exatamente à profecia.’ – George Storrs, Midnight Cry, 4 de maio de 1843, vol. IV, pág. 47. P. 218.[10]

“A Revolução Francesa humilhará Minhas duas testemunhas, Antigo e Novo testamentos, por três anos e meio, entre 1793 e 1797, e será observada por muitos povos e idiomas, e muitas nações aprenderão sobre o fracasso do ateísmo e da descristianização em administrar pessoas sem a presença e atuação da Bíblia, e não quererão essa ideologia mentirosa e cruel para seu território”, p. 220 e 221.[10]

“Boa parte dos franceses e outras nações influenciadas pela revolução ateísta ficarão aliviados e festejarão, trocando lisonjas e presenteando-se com uma consciência amortecida, pois a Bíblia não os incomoda mais! Ela não revela mais os princípios de amor regrado, ordem, responsabilização e julgamento que Deus enviou para cada habitante do planeta por meio de Seus profetas bíblicos. Ateísmo e licenciosidade calam temporariamente a Bíblia e a consciência dos revolucionários, os quais em nome da razão se comportam como irracionais”, p. 222.[10]
1797“No entanto, no ano de 1797, três anos e meio depois do escárnio contra a Bíblia, Deus a ressuscitará na França e a estabelecerá ali; os observadores deste fato, infectados pelas nefastas filosofias ateias em sua fase embrionária – evolucionismo, comunismo e espiritualismo – se assustarão com o retorno da Bíblia; “não um retorno à obscuridade papal, mas Deus a exaltará gloriosamente por todo planeta, e os inimigos da Bíblia, na França e noutros países observarão, a contragosto, a disseminação de Bíblias que as Sociedades Bíblicas e os missionários realizarão a partir do século 19!”, p. 223 e 226.[10]
1798Com a prisão e desterro do papa Pio VI - ocorrida justamente em 1798 - eruditos de toda a Europa sentiram-se livres para pesquisar e pregar as doutrinas bíblicas sem o risco de serem perseguidos como hereges pelo Santo Oficio. Assim, o final do século 18 foi caracterizado por um grande despertamento religioso que invadiu toda a Europa e os Estados Unidos. As igrejas protestantes, sentindo-se compelidas à atividade missionária, fundaram escolas e Sociedades Bíblicas para sustentar as missões e distribuir exemplares da Bíblia em todo o mundo.

O ceticismo, embora ardorosamente defendido desde o advento das correntes iluministas, ainda enfrentava o questionamento de outros intelectuais que, mesmo reconhecendo os exageros da eclesiologia medieval, continuavam crendo num Deus Criador e na fidedignidade histórica das Escrituras Sagradas. Galileu, Copérnico, Leibnitz e Cuvier são apenas alguns dentre os vários acadêmicos que se declaravam cristãos fervorosos, a despeito das críticas racionalistas de seu tempo. P. 10.[13]
1799Foi um dos oficiais de Napoleão, em 1799, que encontrou a famosa Pedra de Roseta, hoje em exposição no Museu Britânico, que se tornou uma das mais ilustres de todas as descobertas egípcias, não por causa de seu conteúdo, nem pelas informações históricas que transmite, mas porque se tornou a chave para que os hieroglifos egípcios fossem decifrados. A língua do Egito estava morta havia séculos e seus caracteres eram ininteligíveis para toda pessoa viva na Terra havia quase dois milênios.

As inscrições na Pedra de Roseta estavam em: (a) hieroglifos egipcios, a antiga forma de escrita usada no Egito; (b) egípcio demótico, a escrita posterior e mais popular do Egito; (c) grego. Os pesquisadores estudaram a Pedra de Roseta por anos, tentando decifrar as inscrições antigas, sobretudo os hieróglifos. Eles tinham a certeza de que essa seria a chave para ler as centenas de inscrições hieroglíficas nas paredes de templos e palácios, dentro de túmulos reais e em outros monumentos antigos em diversos lugares de todo o Egito antigo. O grego era até fácil de ler, mas as inscrições egípcias foram um desafio. P. 66.[11]
1804Fundou-se a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira que, ano após ano, ampliou as suas edições,
lendo já alcançado a tiragem de muitos milhões de exemplares anualmente.
1812-17Em 1812 fundaram-se a sociedade russa e a de Stuttgart, em 1813 a de Dresden, em 1814 a de Berlim, em 1817 a de Hamburgo.
1816Surgiu a Sociedade Bíblica Americana, que, em seu grande esforço, está seguindo de perto a Britânica na produção e difusão de Bíblias no mundo.
1822Por fim (cf. o ano de 1799), o código foi decifrado; as inscrições da Pedra de Roseta se tornaram conhecidas! Trabalhando segundo o pressuposto de que as três inscrições diziam a mesma coisa, o erudito francês Jean-François Champollion (790 - 1832), "pai da egiptologia", começou com o grego e decifrou a escrita hieroglífica em 1822. Conforme conta Horn, essa realização descorti- nou "um vasto campo de fontes intocadas que revolucionaram nossa compreensão da história egipcia." Foi a primeira chave para desvendar muitos dos mistérios do passado anterior ao Egito, pois os antigos registros egípcios continham informações acerca de outros governantes e povos do mundo antigo, além de grande riqueza de informação sobre o próprio Egito. P. 66.[11]
1795 - 1836Não só dêste modo e pelas sociedades Bíblicas foram as sagradas Escrituras e suas verdades espalhadas pelo mundo inteiro, mas também por meio das missões modernas até aos confins da terra. Várias sociedades missionárias foram fundadas: ‘A de Londres, em 1795; a da Escócia, em 1796; a da Holanda, em 1797; a anglicana, em 1799; a grande Sociedade Americana, em 1810; a de Berlim, em 1823; a de Paris, em 1824; a de Renana e a de Basiléia, em 1829; a Norte Alemanha, em 1836; etc.’. Hoje, grande é o número de sociedades missionárias e numerosos os bravos heróis que desde William Carey (1761 - 1834) têm levado o estandarte da fé e da Bíblia às mais remotas regiões da terra, p. 227.[10]
1833"as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes", Ap 6.13.

Em 1833, dois anos depois que Miller começou a apresentar em público as provas da próxima vinda de Cristo, apareceu o último dos sinais que foram prometidos pelo Salvador como indícios de Seu segundo advento. Disse Jesus: “As estrelas cairão do céu.” Mateus 24:29. E João, no Apocalipse, declarou, ao contemplar em visão as cenas que deveriam anunciar o dia de Deus: “E as estrelas do céu caíram sobre a Terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte.” Apocalipse 6:13. Esta profecia teve cumprimento surpreendente e impressionante na grande chuva meteórica de 13 de novembro de 1833. Aquela foi a mais extensa e maravilhosa exibição de estrelas cadentes que já se tem registrado, achando-se então o firmamento inteiro, sobre todos os Estados Unidos, durante horas, em faiscante comoção! Neste país, desde que começou a ser colonizado, nenhum fenômeno celeste já ocorreu que fosse visto com tão intensa admiração por uns ou com tanto terror e alarma por outros.

Sua sublimidade e terrível beleza ainda perdura em muitos espíritos. Raras vezes caiu chuva mais densa do que caíram os meteoros em direção à Terra; Leste, Oeste, Norte e Sul, tudo era o mesmo. Em uma palavra, o céu inteiro parecia em movimento. O espetáculo, como o descreveu o diário do Prof. Silliman, foi visto por toda a América do Norte. Desde as duas horas até pleno dia, estando o céu perfeitamente sereno e sem nuvens, um contínuo jogo de luzes deslumbrantemente fulgurantes se manteve em todo o firmamento. P. 87.[10]
1838Em 1838, o explorador americano Edward Robinson revolucionou a exploração da Palestina, inaugurando propriamente a pesquisa arqueológica naquele lugar. Bom conhecedor de várias línguas semíticas, principalmente o árabe, ele e um amigo percorreram várias vezes toda a região, identificando localidades históricas (principalmente em Jerusalém) e desenterrando importantes estruturas. Fruto de seu trabalho foram as descobertas dos muros que contornavam Jerusalém no primeiro século e o arco que hoje leva o seu nome e que, nos dias de Cristo, dava acesso direto ao pórtico do santuário. P. 13.[13]
1843Desde o começo das explorações modernas do antigo Oriente Próximo, a arqueologia tem verificado continuamente a existência de pessoas mencionadas na Bíblia, como também a ocorrência de eventos bíblicos. A primeira dessas descobertas a apresentar uma relação direta com as Escrituras foi feita em 1843, por Paul Emile Botta (1802-1870), um oficial consular e antiquário francès. Ele estava escavando em Khorsabad, local também conhecido como Dur Sharrukin (castelo de Sargon), no Iraque, e encontrou alguns tabletes cuneiformes, como também baixos-relevos com inscrições. Ao trazer tudo isso para a Europa, um erudito chamado Longperrier conseguiu decifrar o nome Sar-gin em uma das inscrições, identificando esse nome com Sargom, o rei da Assíria mencionado em Isaías 20:1. Provavelmente, esse foi o primeiro personagem bíblico que teve a existência confirmada independentemente da Bíblia, p. 37.[12]
1846Em 1846, um clérigo irlandês chamado Edward Hincks conseguiu ler o nome do rei Nabucodonosor (II) e de seu pai em tijolos de barro que viajantes haviam trazido da Mesopotâmia. Isso confirmou a existência dessa pessoa mencionada no livro de Daniel, como também sua afirmação de ser o grande construtor de Babilônia, p. 37.[12]
1846 - 53Mais ou menos nessa mesma época, o arqueólogo britânico Austen Henry Layard estava nos sítios vizinhos de Kuyunjik e Nebi Yunus (o lugar tradicional da sepultura de Jonas), os quais se revelaram parte da Ninive biblica. Entre os achados bíblicos significativos descobertos por Layard estava o Obelisco Negro (1846). Nele, alguns eruditos puderam identificar os nomes de pessoas mencionadas na Bíblia: Salmaneser (III), a mesma pessoa mencionada em 2Reis 17:3, e Jeú, filho da casa de Onri. Jeú, naturalmente, foi o rei de Israel conhecido pela maneira agressiva de conduzir sua carruagem (2Rs 9:20).

Por volta de 1853, Layard, com a ajuda de especialistas em epigrafia, pôde afirmar que havia encontrado cerca de 55 governadores, cidades e países mencionados tanto no Antigo Testamento como nos recentemente descobertos textos assírios, p. 37.[12]
1852Descoberta do Épico de Gilgamesh (cf. 2º milênio a.C.) por Hormuzd Rassam (substituto do pioneiro Henry Layard), nas escavações de Nínive. Os tabletes de argila foram datados do 7º séc. a.C., e eram cópias de materiais do 2º milênio a.C. P. 68.[13]
1854Alguns eruditos como Ferdinand Hitzig, em seus comentários sobre Daniel, foram tão longe, a ponto de sugerir que Belsazar era pura invenção da parte do escritor do capítulo 5 de Daniel. Todavia, como se sabe hoje, em 1854, alguns cilindros de barro foram encontrados na antiga cidade de Ur. Sobre um desses cilindros, estava inscrita uma oração em favor do rei Nabonido e de seu filho - Belsazar.

Outros documentos foram descobertos depois, os quais indicam que o rei Nabonido preferiu morar em Teima, norte da Arábia, do que na capital, Babilônia. Aparentemente, ele deixou o filho, Belsazar, encarregado como o segundo - uma espécie de corregente - do reino. Essa posição designada para Belsazar explica por que ele ofereceu a Daniel a terceira maior posição da nação, em vez da segunda, a qual ele, Belsazar, já ocupava. P. 38[12]
1857A descoberta da segunda chave (cf. o ano de 1822) - a compreensão da escrita cuneiforme. A história gira em torno da grande rocha em Behistun, na Pérsia (Irä), na estrada de Teerã para Bagdá. Uma antiga inscrição cuneiforme, também em três idiomas, foi gravada no gigantesco paredão rochoso milhares de anos antes. As linguas em questão eram persa antigo, babilônico e elamita, todas em caracteres cuneiformes e extintas muito tempo antes. A rocha de Behistun intrigava viajantes havia séculos, mas permaneceu completamente ininteligível até a década de 1850.

Nosso entendimento dessa antiga inscrição na rocha se deve, em grande medida, à obra do explorador inglês Sir Henry Rawlinson (1810 - 1895), "um dos pais da assiriologia". Colocando-se em grande risco de morte, Rawlinson passou muitas semanas escalando a pedra, copiando com cuidado cada uma das inscrições. Então deu início à tarefa quase impossível de descobrir o que elas diziam. Começando com o persa antigo, Rawlinson por fim desvendou as três línguas. Sua obra foi confirmada por outros pesquisadores em uma célebre reunião que aconteceu em Londres, no ano de 1857.

Ao falar sobre a interpretação de idiomas antigos, o doutor Horn afirmou: "Nenhuma realização supera, neste campo, a tarefa de decifrar o persa, o babilônico e o elamita, empreendida por Rawlinson." Foi uma conquista notável e abriu as portas para uma compreensão ainda maior do passado antigo.

Com a habilidade de ler registros do Egito antigo, da Babilônia e da Pérsia, o passado podia ser entendido de maneira que jamais tinha sido possível até então. P. 66 e 67.[11]
1859A descoberta do Códice Sinaítico.

Um "achado de uma vida inteira", pegando emprestada a expressão de Marshall, foi feita no monastério de Santa Catarina, perto da base do monte Sinai, em 1859, por um erudito alemão, Konstantin Tischendorf. Ele tinha ouvido falar que o monastério de Santa Catarina abrigava a maior coleção de manuscritos bíblicos antigos do mundo e já havia visitado o local duas vezes antes, em 1844 e 1853. Em uma dessas primeiras visitas, ele descobriu uma cesta grande cheia de pergaminhos antigos no meio do grande hall do monastério. Ficou sabendo que duas pilhas de documentos velhos como aqueles já haviam sido queimados. Horrorizado, ele salvou o que pôde e levou para casa consigo aquilo que descobriu serem partes do Antigo Testamento. Na terceira visita, em 1859, ele descobriu dentro da biblioteca do monastério um manuscrito grande e encadernado que correspondia a trechos em grego de toda a Bíblia que conhecemos hoje.

O Códice Sinaítico já estava dividido em diversas seções na época em que Tischendorf o descobriu na década de 1850. Hoje, as seções que restam e compõem cerca de metade do original estão localizadas em quatro lugares diferentes. A maior parte, que corresponde ao Novo Testamento inteiro, é hoje propriedade da Biblioteca Britânica. Foi para Londres, via São Petersburgo, no auge da Grande Depressão, em 1933. Por meio de uma doação do governo britânico e de uma coleta nacional de casa em casa, por fim conseguiram dinheiro suficiente para comprar esse documento inestimável para a primeira nação que disponibilizou ao mundo a Bíblia em inglês. O Códice Sinaítico é uma das duas cópias mais antigas que existem da Bíblia inteira, p. 92.[11]
1872A história de Gilgamesh e de seu amigo Utnapishtim que sobreviveu a um Dilúvio universal (cf. o 2º milênio a.C.)
foi publicada pela primeira vez em 1872, e houve um grande alvoroço na Europa, pois recentemente, em 1859, Charles Darwin havia publicado a primeira edição do best-seller Origem das Espécies que mudou completamente a visão de muitos eruditos acerca do Génesis. Para eles, toda a história do Diluvio não passava de um "conto judaico" e nada mais. Porém, então, evidências fora da Biblia indicavam que o relato de Génesis capitulos 6 a 9 era mais universal do que se imaginava, e não podia ser, de maneira nenhuma, criação de um autor hebreu. P. 69.[13]
1881Os Códices Vaticano, Alexandrino e Efraimita, já citados nesta cronologia, juntamente com outros, formaram a base da Revised Version da Bíblia em inglês, publicada em 1881 e que influenciou a maioria das traduções desde então, p. 89.[11]
1887Em 1887, em Tell el Amarna, no Egito, uma camponesa descobriu por acaso uma coleção de tabuletas de barro, 377 documentos ao todo. Estavam em escrita cuneiforme e se descobriu que eram cartas para dois faraós egípcios, enviadas por oficiais do governo na Palestina, Fenícia e Síria, a maioria deles escritos por volta de 1500 a.C. (datação atual). Ficaram conhecidas como as cartas de Amarna. Além de informações governamentais de rotina, as cartas de Amarna lançam luz sobre os costumes e as condições na Palestina do século 15 a.C., confirmando várias referências bíblicas a esse período da história. Uma enciclopédia atual ratifica o valor histórico dessas tabuletas e afirma que, em muitos casos, as cartas de Amarna "ilustram e confirmam o que já sabíamos com base no Antigo Testamento" (disponível em: https://www.newadvent.org/cathen/14477d.htm; acesso em: out. 2023). P. 68.[11]
1889 - 1967Ao longo de 78 anos (1889 - 1967), uma versão do Dilúvio bíblico mais antiga que o Épico de Gilgamesh (1852), foi recuperada a partir de vários fragmentos encontrados em vários sítios arqueológicos da Mesopotâmia. Confira o ano de 1646 a.C. P. 69 e 70.[13]
1911Hititas (NVI) ou heteus (ARA). Os hititas são mencionados diversas vezes na Bíblia - são no minimo 46 referên- cias em 15 livros do Antigo Testamento. Lemos sobre "Urias, o heteu", "Efrom, o heteu" e "Beeri, o heteu". Os cananeus, os amorreus e os heteus aparecem ao longo de toda a história do Antigo Testamento, em geral, opondo-se aos israelitas. Os heteus se encontram nas primeiras páginas das Escrituras. Esaú, o renegado, casou-se com duas mulheres heteias. Qualquer pessoa que lé a Biblia precisa concluir que os heteus eram tão reais quanto os egipcios, os babilónios ou os israelitas. No entanto, eles desapareceram, ao passo que os egípcios e israelitas ainda se encontram em nosso meio. Além do relato biblico, os hititas aparentemente não haviam deixado nenhum vestígio - até que os arqueólogos começaram a trabalhar.

Escavando em um sítio da Turquia, a cerca de 160 quilômetros a leste de Ancara, em 1911, o arqueólogo alemão Hugo Winkler e outros encontraram a capital dos hititas, Hattusa (hoje chamada de Baghazkoy). Nas portas da cidade, havia entalhes de tamanho real inscritos no basalto negro, duro como o ferro. Com base nessas descrições da vida dos heteus, hoje sabemos como eram seus guerreiros. Tratava-se de um povo de baixa estatura, com nariz grande, testa grande e lábios grossos. Usavam cabelos longos que caíam pelos ombros. Aventais curtos eram amarrados à cintura com cintos largos e os sapatos ou as botas tinham uma ponta virada para cima. Tudo isso foi descoberto pela arqueologia.

Winkler também descobriu outra biblioteca antiga, enterrada por cerca de 3 mil anos. Ali estavam os arquivos reais dos monarcas hititas. Ao passo que algumas das tabuletas estavam em babilônico cuneiforme, outras se encontram em uma lingua antiga chamada acadiano e outras ainda em uma escrita desconhecida, que se demonstrou ser o idioma hitita. Essas 30 mil tabuletas de barro foram outra descoberta inestimável. As escavações em Hattusa prosseguiram até a década de 1950, desenterrando ruínas dos resquícios da capital hitita de um império poderoso no passado, à altura de qualquer outro do mundo antigo.

Outras descobertas acerca dos heteus também vieram à tona. Foi comprovado que Carquêmis, mais abaixo, na direção sudeste, no local que hoje equivaleria à fronteira entre a Síria e a Turquia, foi uma capital hitita posterior. Embora ainda permaneçam muitas lacunas no conhecimento da história dos heteus, hoje eles são reconhecidos como um dos povos mais significativos da história da Mesopotâmia. Conhecidos por sua habilidade comercial e de negócios, bem como pela especialização na arte da guerra, também foram parcialmente responsáveis pela transmissão da cultura mesopotâmica através da região mediterrânea oriental, chegando, com o tempo, até a Grécia.

Acredita-se que Jerusalém já existia muito antes de Canaã ser conquistada pelos israelitas e que os hititas estão envolvidos em sua fundação.

Outro mapa do livro de Keller, The Bible as History, mostra que o império heteu, por volta de 1400 a.C., estendia-se do Mar Negro ao Egito e incluía toda a faixa litorânea até o lado oriental do Mediterrâneo.

Não é de se espantar que um relato conte que a ressurreição dos hititas, "sua história, cultura, religião e língua, é uma das maiores sagas da arqueologia moderna". Marshall destaca que, ao passo que a edição de 1860 da Enciclopédia Britânica traga apenas oito linhas sobre os heteus, a edição de 1947 dedicou mais de dez páginas de texto em duas colunas para descrever a história, cultura e religião dos hititas. Conforme ele diz, "os heteus não foram um dos erros históricos da Bíblia." p. 77 e 78.[11]
1921Descoberta do Prisma de Weld-Blundell, nas escavações de Larsa, o qual contém textos genealógicos com paralelos à genealogia do Gênesis (cf. o 3º milênio a.C.). P. 63.[13]
1922O nome "Abraão" foi encontrado nos registros de outras linguas, demonstrando com clareza que "o nome de Abraão era conhecido nesses tempos antigos". Ao se referir de maneira específica ao Abraão da Bíblia, a Catholic Encyclopedia afirma que "a arqueologia está dando fim à ideia de que as histórias patriarcais sejam meros mitos". O renomado arqueólogo inglês Sir Leonard Woolley, entre 1922 e 1934, junto com uma equipe de arqueólogos da Universidade da Filadélfia, trabalhou no que se pensava ser o local da antiga Ur, no sul do Iraque.

Tanto Thompson, em The Bible and Archaeology, uanto Keller, em The Bible as History, descrevem as escavações de Woolley em Ur com riqueza de detalhes. Keller conta que, após longas semanas de trabalho duro, debaixo do sol escaldante, "Ur foi despertada de seu longo sono" pelo esforço paciente de arqueólogos ingleses e norte-americanos."

Hoje está claro que Ur era uma cidade grande, sofisticada e altamente desenvolvida no sul da Mesopotamia durante o terceiro e segundo milênios antes de Cristo. Keller comentou: "Como seus cidadãos viviam bem! E em casas tão espaçosas! Nenhuma outra cidade da Mesopotamia revelou casas tão belas e confortáveis. Em comparação com as muitas casas de dois andares de Ur, as habitações atuais de algumas partes de Bagdá são bem menores e nem de perto tão confortáveis.

Nas escolas de Ur, as crianças aprendiam matemática, geografia, a ler e escrever. Ur era uma cidade com um sistema complexo de governo. Consistia em um centro de comércio que usava escrita. recibos e contratos para realizar negócios. Rotas comerciais ligavam Ur a outras cidades ocupadas de norte a sul. Thompson contou que Ur deu "diversas evidências de ser uma civilização extremamente desenvolvida". Wiseman destaca que os objetos feitos de ouro e pedras preciosas em Ur deram indícios "de um padrão de habilidade artesanal raramente ultrapassado em eras posteriores".

E, acerca de Abraão, Keller comentou: "Esse Abraão não era um simples nômade, mas filho de uma grande cidade do segundo milênio antes de Cristo". É impossível duvidar de que Abraão ou Ur tenham existido, p. 79 e 80.[11]

A história de Abraão começa na antiga cidade sumeriana de Ur, que mais tarde seria conhecida como "Ur dos caldeus". Ao contrário do que muitos imaginavam, Abraão não vinha de um clã de pastores nômades, sem cultura. Sua cidade natal era altamente civilizada e possuía um extraordinário sistema de leis, economia, religião e arte. O sítio arqueológico onde ficava a antiga Ur foi escavado entre 1922 e 1934 por uma expedição conjunta da Universidade da Pensilvânia e do Museu Britânico. O líder da equipe era o inglês Leonard Wooley que recebeu o título de "Sir" diretamente das mãos da rainha da Inglaterra. Audacioso, Wooley trabalhava contra uma correnteza de críticos que acreditavam ser Ur uma cidade imaginária, oriunda apenas da cabeça do autor bíblico. "Jamais - diziam eles - houve uma cidade chamada Ur, nos moldes que a Bíblia apresenta." Realmente, eles tinham, aparentemente a seu favor, o fato de que ninguém sabia realmente onde ficava o lar paterno do patriarca Abraão.

Arqueólogos ingleses como J. Taylor e H. Rawlinson já haviam apresentado suas suspeitas de que Ur estaria na região da Baixa Mesopotamia. Era, porém, preciso descobrir a cidade sob as toneladas de areia do deserto entre o Tigre e o Eufrates. Assim, a confirmação absoluta do lugar - para desespero dos céticos - acabou sendo obtida com os trabalhos de Wooley que trouxe à superficie os restos da antiga Ur, datada do terceiro milênio antes de Cristo.

Muitos tesouros foram ali desenterrados, mas o que mais impressionou Wooley foi a descoberta de um zigurate que se elevava sobre uma plataforma retangular de 62,5 por 43 metros (cf. a Figura 4). Essa torre-templo, a maior e mais bem preservada, dentre as até agora encontradas, fora erguida como tributo ao deus Sin, deus da Lua, que os sumerianos chamavam de Nannar. O prédio tinha o estranho nome de Etemennigur que quer dizer "a casa cuja fundação causa terror" e possuía vários recintos.

Usando informações de tabletes cuneiformes que descreviam os zigurates, Wooley pôde fazer um modelo de como seria originalmente o templo. Ele possuía três andares e no topo se elevava um pequeno santuário. Seu conjunto arquitetônico interno era protegido por um revestimento de 720 mil tijolos queimados que mediam 30 x 30 x 7 cm e pesavam em torno de 15 kg cada. A torre maciça, por sua vez, foi erguida usando algo em torno de 7 milhões de tijolos crus secados ao sol. Cada tijolo media 25 x 16 x 7 cm e pesava cerca de 4,5 kg. A cada seis fileiras de tijolos, uma esteira de canas era colocada de maneira entrelaçada, junto a uma camada de areia, para tornar o edificio maleável durante uma inundação e não permitir que rachasse quando estivesse molhado pelas águas da enchente. Esse procedimento mostra não apenas uma previsão dos arquitetos quanto a possíveis cheias do Tigre e Eufrates, mas também uma provisão de fuga, caso um dilúvio voltasse a ser derra- mado sobre a Terra.

Embora não possamos afirmar que algum achado de Ur aponte diretamente para o patriarca bíblico, é digno de nota que Wooley descobriu entre as ruínas da cidade recibos em argila contendo o nome "Abraão", o que indica que esse era um nome corrente ali. Não é muito, reconhecemos, mas é um indicio de que havia em Ur pelo menos uma pessoa chamada "Abraão". Ademais, André Parrot mostrou que os nomes de Abraão e Sara também apareciam em documentos da cidade real de Mari, distante poucas centenas de quilômetros ao norte de Ur. p. 74-76.[13]
1929A Bíblia faz alusões frequentes à imoralidade grosseira e às práticas religiosas pagãs dos cananeus (leia, por exemplo, Ex 23:19, 34:13-16; Os 4:13-14; Ez 16:15-22). Os profetas fizeram diversos ataques à influência dos cananeus, uma vez que, em várias ocasiões, os israelitas adotaram algumas das práticas pagãs dos cananeus e de outros povos. As descrições bíblicas retratam tamanha decadência e imoralidade que, por anos, os estudiosos se recusavam a crer que fossem verdadeiras. Eles diziam que nenhum povo poderia cair tão baixo quanto os cananeus descritos na Bíblia, ao mesmo tempo em que eram extremamente cultos em outros aspectos.

Somente em 1929, com a descoberta das tabuletas cuneiformes em Ras Shamrah, a antiga cidade cananeia de Ugarite, no litoral nordeste do mar Mediterrâneo, na região onde hoje se encontra a Síria, vieram à tona evidências que confirmam esses relatos bíblicos. Essas descobertas foram chamadas de "sensacionais". Horn, entre outros, contou que as tabuletas de Ras Shamrah nos deram a compreensão das práticas religiosas cananeias, afirmando que bém nos apresentam um retrato claro da moral pervertida" do povo cananeu.

À luz das evidências, é impossível contestar tal avaliação. Sem dúvida, a crueldade e a imoralidade dos cananeus se com- para ao pior que Hollywood ou qualquer empresa clandestina de filmagem pudesse produzir hoje. Provavelmente haveria grandes cortes em qualquer filme que tentasse retratar a realidade das práticas cananeias de culto. Keller incluiu um capítulo inteiro sobre as crenças e práticas religiosas dos cananeus em seu livro revisado. O capítulo se chama "As religiões sedutoras de Canaa" e apresenta um relato vivido da decadência inacreditável do povo cananeu. Ao fazer menção às "grandes descobertas de Ras Shamrah", afirmou "A última coisa que os profetas fizeram foi exagerar." Mais uma vez as evidências arqueológicas ratificam os relatos bíblicos, p. 76.[11]
1930Os papiros de Chester Beatty.

O papiro é o material no qual os documentos antigos eram escritos. É feito de junco achatado e pressionado. Depois do velino ou pergaminho, era uma das principais superficies para escrita no mundo antigo. Alfred Chester Beatty, norte-americano que morava na Inglaterra, descobriu uma coleção de papiros antigos no Egito, em 1930. Esses fragmentos de papiro, bem preservados em jarros de cerâmica, foram encontrados em um antigo cemitério cristão, próximo ao rio Nilo, cerca de 70 quilômetros ao sul do Cairo. Sua descoberta foi denominada "a mais sensacional dentre os manuscritos bíblicos gregos em papiro." O doutor Siegfried Horn a descreveu como "a maior descoberta relativa ao Novo Testamento", acrescentando que os papiros de Chester Beatty demonstraram, mais uma vez, que "não ocorreu nenhuma mudança significativa no texto bíblico.

Os papiros de Chester Beatty contêm partes de todos os quatro evangelhos e do livro de Atos, dez epístolas de Paulo, praticamente completas, e trechos do Apocalipse. Também abrange grandes seções do Antigo Testamento, incluindo boa parte de Gênesis, Números e Deuteronômio.

Alguns dos papiros datam de 150 d.C. Também havia trechos dos escritos dos profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, tudo do fim do 2º século d.C. ou início do terceiro. Um dos especialistas em papiro de maior renome do mundo, o professor V. Wilcken, datou os manuscritos que contêm as epístolas de Paulo de aproximadamente 200 d.C Os especialistas concordam em dizer que qualquer um dos papiros de Chester Beatty com textos do Novo Testamento datam de 220-230 dC aproximadamente, e muitos deles podem até ser anteriores. Isso é apenas 120 ou 130 anos após o último dos apóstolos e 100 anos mais perto dos originais do que qualquer manuscrito descoberto até então.

Os papiros de Chester Beatty "demonstram estabilidade extraordinária na transmissão do texto bíblico." Em alusão a esses documentos de Chester Beatty, Sir Frederic Kenyon, ex-diretor do Museu Britânico, escreveu que o resultado da descoberta desses manuscritos inestimáveis foi "a redução da lacuna entre os primeiros manuscritos e as datas tradicionais dos livros do Novo Testamento, tornando insignificante qualquer discussão de sua autenticidade." Falando sobre as evidências dos papiros de Chester Beatty, Kenyon prossegue dizendo, sobre a Bíblia inteira, o que muitos outros concluíram desde então: "Nenhum outro livro antigo tem qualquer coisa semelhante a um uso tão inicial e abundante de testemunhos sobre seu texto e nenhum pesquisador imparcial seria capaz de negar que o texto que chegou até nós é substancialmente confiável." P. 94 e 95.[11]
1934Um tablete encontrado em 1934 no sítio de Korsabá, a 22 km de Ninive, contém uma lista de reis assírios começando com "dezessete reis que viveram em tendas", provavelmente líderes de povos nômades. Tudia é o primeiro nome da lista seguido por Adamu, que, mui provavelmente, seria um título de realeza advindo de um ancestral famoso, como foi o nome César para os imperadores romanos. Mais à frente, noutra lista, encontramos o 37° rei chamado Puzar-Assur. Ele era um dos vários reis nomeados em homenagem ao seu ancestral Assur, o fundador da Assíria. Em Gênesis 4:22, encontramos o mesmo costume num dos descendentes de Caim que se autodenominou Tubalcaim. Assim, é possível que Adamu, tenha sido um rei que assumiu esse nome em homenagem a outro Adamu importante que existiu antes dele. E por que não supor que seria uma homenagem ao Adão que viveu no Eden?

Os arqueólogos também perceberam que pelo menos seis elementos históricos do Gênesis podiam ser encontrados nos tabletes que foram traduzidos por peritos em paleografia. De maneira bastante comum, eles mencionavam:

1. A criação e desobediência de um casal humano que perdeu o paraíso.
2. A maldição que seguiu à desobediência, trazendo a morte aos habitantes da Terra.
3. O início da família humana marcado pela tragédia de um fratricídio.
4. A humanidade que se tornou má e, por isso, foi destruida num dilúvio.
5. O perecimento de quase todos, menos alguns que foram preservados pelos deuses.
6. Uma confusão de idiomas que espalhou os homens pelos quatro cantos da Terra.

Esses paralelos literários derrubaram a tese de que a narrativa do Gênesis seria um mito criado por Moisés. Alguns, no entanto, continuaram a negar a historicidade bíblica, sugerindo, então, que esses relatos mesopotâmicos eram os originais e que o Gênesis seria um plágio de obras literárias já existentes.

Desmentindo essa última hipótese, K. A. Kitchen escreveu que "a suposição comum de que este relato [bíblico] é simplesmente uma versão simplificada de lendas babilônicas é um sofisma em suas bases metodológicas. No Antigo Oriente Próximo, a regra é que relatos e tradições podem surgir (por acréscimo ou embelezamento) na elaboração de lendas, mas não o contrário. No Antigo Oriente, as lendas não eram simplificadas para se tornar pseudo-histórias como tem sido sugerido para o Gênesis".

Ao contrário de ser um plágio, o Gênesis possui características de ser quase uma "correção" daquilo que o antecede. Prova disso é o fato de que, dentre todos os textos, ele é o único que assume um monoteímo clássico em meio a versões milenares que preferiam atribuir aos "deuses" a obra de criação e julgamento do planeta Terra.

Até mesmo Levi-Strauss que considerava o relato da criação um mito foi forçado a admitir que "grande surpresa e perplexidade surgem do fato de que esses temas básicos para os mitos da criação são mundialmente os mesmos em diferentes áreas do globo", principal- mente fora do Oriente Médio.

Se o relato bíblico fosse apenas uma reprodução de lendas culturais da Mesopotamia, não deveríamos encontrar essa mesma história tão largamente ensinada entre povos que viviam fora das terras bíblicas e não tinham, até aonde se saiba, algum contato com as Escrituras hebraicas ou com a tradição sumeriana. Foi uma grande surpresa para muitos missionários encontrar entre aborigines e tribos isoladas das Américas, Ásia, África e Oceania tradições orais tremendamente similares à narrativa bíblica. Vários missiólogos e antropólogos reconheceram a importância dos paralelos bíblicos nas culturas pagãs e as coletaram em livros que se tornaram best-sellers em várias partes do mundo.

Portanto, o que nos resta é aceitar a hipótese de que tanto o Génesis quanto esses mitos (por mais distorcidos que estejam) procedem igualmente de uma mesma raiz histórica, a saber, a tradição adâmica. Todos eles narram, à sua maneira, um fato que realmente aconteceu e ficou marcado, por muitas gerações, na memória dos povos. A distorção, é claro, foi se tornando mais acentuada à medida que os descendentes de Adão mergulhavam no politeísmo, perdendo de vista o aspecto monoteista de Deus que vinha desde o Eden.
P. 49-51.[13]
1936O fragmento de John Rylands.

O mais antigo de todos os manuscritos descobertos é o fragmento de John Rylands, encontrado em 1936 no Egito e hoje exibido na Biblioteca John Rylands, na Universidade de Manchester. A história de sobrevivência desse texto é fantástica. Conforme o nome sugere, o fragmento de Rylands é um pequeno pedaço de papiro que contém apenas alguns versículos do evangelho de João. Por séculos, foi usado junto com outros materiais para enrolar uma múmia egípcia. Tem escrita nos dois lados e contém versos do capítulo 18 de João. Vários especialistas o datam do início do 2º século d.C., apenas alguns anos após a morte de João.

Trata-se de uma evidência de que o evangelho de João estava em circulação nessa época e, para que esse seja o caso, ele deve ter sido escrito antes disso, conforme tradicionalmente se aceita. No século 19 e no início do século 20, os críticos contestaram a datação do evangelho de João, alegando que ele teria sido escrito muito tempo depois, e até questionaram se João havia, de fato, escrito o quarto evangelho. Com base no fragmento de Rylands, Horn destaca que uma série de eruditos do século 20, incluindo Deissman, Dibelius, Kenyon e Goodspeed, passaram "a se declarar a favor da origem apostólica do quarto evangelho".

Citando Kenyon, Marshall concluiu, de maneira semelhante: "Mesmo que permitíssemos um tempo mínimo de circulação da obra em seu lugar de origem, isso faria a data de composição voltar para tão perto da data tradicional, na última década do primeiro século, que não existe mais motivo para questionar a validade da tradição." A tradição, é claro, é a de que João escreveu o evangelho que recebe seu nome e o fez no final da década de 90 do 1º século, p. 95 e 96.[11]
1947Os Manuscritos do Mar Morto.


Em 1947, quando um menino pastor jogou uma pedra dentro de uma caverna, nas encostas estéreis dos montes da Judeia, junto às praias do Mar Morto, ele ouviu o barulho de jarros se quebrando, e os manuscritos do Mar Morto estavam prestes a ser descobertos. O barulho dos jarros se quebrando correspondia a vasilhas contendo manuscritos escondidos na caverna por no mínimo 2 mil anos. Havia centenas de fragmentos de cerâmica e ainda mais fragmentos de rolos que as investigações naquele momento e ao longo dos anos seguintes apresentaram como evidências para um mundo espantado.

No mínimo 40 vasos daquela primeira caverna foram minuciosamente colados por especialistas e cerca de 200 rolos dife rentes foram identificados, além de milhares de fragmentos de outros rolos. O material é tanto bíblico quanto extrabíblico, de grande valor para pesquisadores de todas as crenças e disciplinas. Nas palavras do professor W. F. Albright, que examinou os rolos logo após sua desco berta, foi "o maior achado de manuscritos dos tempos modernos."

No fim, 11 cavernas foram encontradas nas proximidades e outras em lugares vizinhos. Posteriormente, foram identificados 35 mil fragmentos de rolos em uma das cavernas. Pesquisadores do Museu Rockefeller em Jerusalém, onde hoje os rolos se encontram, creem que levará décadas para juntar cada fragmento e revelar todos os segredos dos rolos do Mar Morto, escondidos por tanto tempo.

Aqueles que estudaram os locais e os rolos acreditam que a biblioteca de uma antiga comunidade judaica, conhecida como essênios, de Qumran, nas redondezas, foi escondida dentro das cavernas durante a revolta dos judeus contra a ocupação romana na Palestina, de 66 a 70 d.C., a fim de impedir que fosse destruída pelo implacável exército romano. Os vasos são evidências valiosas da antiguidade dos rolos que eles continham. De acordo com a investigação arqueológica realizada, todos eles foram feitos durante a ocupação romana, antes da destruição de Jerusalém em 70 d.C. Houve evidências de que muitos rolos, talvez a maioria dos que haviam originalmente sido armazenados ali, foram tirados por invasores antes da descoberta das cavernas em 1947. Horn falou em nome de muitos eruditos quando afirma que, embora seja deplorável que muitos manuscritos tenham se perdido, devemos ser gratos porque tantos foram preservados.

As palavras de outro erudito sem dúvida são corretas: "Os manuscritos do Mar Morto com certeza são a evidência textual mais importante descoberta nos tempos modernos e apoiam, sem sombra de dúvida, a confiabilidade do texto do Antigo Testamento."

No entanto, os fatos confirmam essa afirmação ousada? No final de 1952, antes mesmo de todos os rolos serem descobertos, ficou evidente que aqueles já achados tinham no mínimo 2 mil anos de idade. Desde sua descoberta, os manuscritos têm sido intensamente estudados por eruditos do mundo inteiro. A investigação e a análise continuam até hoje. Os rolos foram identificados e catalogados. Além disso, tanto quanto possível, milhares de fragmentos foram reunidos.

Há trechos de todos os 39 livros do Antigo Testamento, com exceção de Ester e Neemias. Nenhuma descoberta de manuscritos dessa magnitude foi feita antes. A maioria dos manuscritos recuperados nas cavernas do Mar Morto é mais de mil anos mais antiga que os manuscritos hebraicos conhecidos até então.

É possível que o manuscrito mais conhecido de todos seja o rolo de Isaías, encontrado na caverna 1. Está preservado com perfeição e contém todo o livro de Isaías. O capítulo 66 desse profeta, que escreveu cerca de 700 anos antes de Cristo, foi copiado com uma letra belíssima e clara. Horn dedicou diversas páginas a uma descrição detalhada do achado e da relevância dos manuscritos do Mar Morto, dizendo o seguinte acerca desse rolo: "O texto prova que, desde a época em que essa cópia foi escrita, provavelmente no 2º século a.C. ou no primeiro, o livro de Isaías não sofreu nenhuma mudança (...). Todos que trabalharam com esse rolo ficaram profundamente impressionados com o fato inconfundível de que esse manuscrito bíblico de 2 mil anos de idade contém exatamente o mesmo texto que possuímos hoje."

Os estudiosos reconhecem que existem erros de copistas no rolo de Isaías, como as falhas encontradas na maioria dos manuscritos. Contudo, a despeito desses erros insignificantes, Horn afirmou que a preservação e a descoberta desse rolo, "nesse período crucial da história do mundo", foram "providenciais". Ele também citou diversos eruditos de renome internacional que ficaram imediatamente impressionados com a semelhança notável entre o rolo de Isaías e o texto das Bíblias atuais, incluindo Millar Burrows, William F. Albright e John Bright todos, na época, professores de grandes universidades e teólogos reconhecidos. Daremos destaque ao comentário de apenas uma dessas importantes autoridades, Burrows, especialista no texto de Isaías, que disse: "Com a exceção de [...] omissões relativamente sem importância [...] o livro inteiro se encontra aqui e é, em essência, o mesmo que foi preservado no texto massorético" (o texto hebraico do Antigo Testamento que serviu de base para a tradução da versão King James). Os pesquisadores que estudaram o rolo de Isaías chegaram a conclusões semelhantes. É impressionante que o texto hebraico usado hoje tenha apenas variações mínimas em relação ao rolo de Isaías com mais de 2 mil anos de antiguidade.

Os invólucros de linho em muitos dos manuscritos do Mar Morto foram submetidos ao processo de datação com carbono 14, e Marshall apresentou os resultados: "A grande maioria dos rolos data de três séculos antes de Cristo, alguns são datados em um século antes de Jesus e alguns poucos são do 2º d.C. (coincidindo com a ocupação do lugar durante a segunda revolta judaica). P. 97 - 101.[11]
1956Quase inseparivel de Babilônia é o nome de um de seus grandes reis - um dos monarcas mais célebres da história, Nabucodonosor. No entanto, até 1956, muitos eruditos se recusavam a acreditar que ele houvesse existido. Seu nome só era mencionado na Biblia e mais uma outra fonte histórica, o historiador grego Beroso, do 3º século antes de Cristo. Seu registro histórico era impopular em sua época e a maior parte se perdeu. Por isso, os críticos concluíram, mais uma vez, que a Biblia não era digna de confiança. Falava de governantes miticos que nunca existiram de verdade, diziam. As escavações em Babilônia e em outras partes também demonstraram que o erro não estava com a Bíblia, mas com os criticos. Centenas de inscrições que citam Nabucodonosor pelo nome foram encontradas e decifradas (cf. o ano de 1846). Aliás, hoje a existência de Nabucodonosor como um dos personagens centrais da história babilónica se encontra tão bem consolidada que muitos livros nem sequer mencionam o ceticismo que já houve no mundo acadêmico em relação a ele. Conforme o doutor David Marshall declara de forma incisiva, as descobertas de Koldewey "os obrigaram a ficar em silêncio", p. 72.[11]
1971O fragmento do Apocalipse.

Um dos últimos manuscritos que vieram à tona foi uma pequena parte do livro do Apocalipse descoberta no Egito e estudada, pela primeira vez, em 1971. Contém partes do capítulo 1 de Apocalipse e, nas palavras do doutor Steven Thompson, "é o fragmento de manuscrito mais antigo do livro do Apocalipse de que se tem conhecimento." Sua relevância foi descoberta graças a um programa de computador da Universidade da Califórnia, o qual permite que os pesquisadores estudem combinações de palavras gregas - nesse caso, as palavras que aparecem no primeiro capítulo do Apocalipse também se encontram no fragmento de papiro. São compatíveis!

O livro do Apocalipse foi escrito no máximo em 96 d.C. Alguns eruditos o datam antes disso. O fragmento foi confiavelmente datado do 2º d.C. Isso significa que agora temos um segundo fragmento de papiro cuja data corresponde a um intervalo de menos de 100 anos do manuscrito original. Ainda mais importante é constatar que as diferenças entre as palavras do fragmento e do texto grego do qual o livro do Apocalipse foi traduzido são mínimas e insignificantes. Thompson afirmou: "A maioria das diferenças não aparece na tradução, uma vez que consiste principalmente em pequenos detathes, como grafias variantes.

As evidências da integridade textual do Novo Testamento não param de chegar, p. 96.[11]
1979Julius Wellhausen (1844 - 1918) e seus discipulos também afirmavam que o Pentateuco, em sua maior parte, era uma compilação de textos tardios posteriores ao 9° século a.C. Essa teoria é comumente chamada pelos teólogos de hipótese documentária (cf. o 3º milênio a. C.). Ela sustenta que algumas passagens como os capitulos iniciais de Números 1:1 a 10:28 (tecnicamente chamadas de documento Sacerdotal [P]) não teriam sido escritas senão após o cativeiro babilónico que terminou em 539 a.C. Seu autor, portanto, teria sido Esdras e não Moisés. Assim, os críticos entendiam que a Biblia seria uma produção literária bem mais recente do que sustentava a posição tradicional. Embora não houvesse uma evidência concreta para embasar esses pronunciamentos, eles se tornaram o elemento central de muitos comentários bíblicos produzidos na Europa e também nos Estados Unidos.

Mas, em 1979, o arqueólogo israelense Gabriel Barkay, descobriu num túmulo do vale do Hinom, um minúsculo adorno de prata contendo antigas letras hebraicas. Métodos laboratoriais e de paleografia dataram com segurança o artefato em, pelo menos, 650 anos antes de Cristo. Ou seja, bem antes do início do cativeiro, Isso, aparentemente, nada teria de extraordinário, não fosse a decifração das letras hebraicas impressas no objeto que sacudiu as bases do mundo acadêmico. Tratava-se da benção sacerdotal de Nú- meros 6:24-26 com o nome sagrado de Deus (lahweh) perfeitamente escrito em três diferentes linhas. Para muitos criticos, essa porção do Pentateuco era parte do documento Sacerdotal e não poderia ter sido produzida antes do cativeiro babilónico, porque supunham que foi somente a experiência do exilio que propiciou sua composição. Bastou, porém, um pequeno adorno cunhado por um antigo artesão, para mostrar que, novamente, os pressupostos minimalistas estavam errados. O amuleto era de uma época em que os descendentes de Davi ainda estavam no poder e, a essa altura (isto é, no período do Primeiro Templo), o texto já era conhecido do povo.

A hipótese documentária de Wellhausen, é claro, foi obrigada a sofrer algumas revisões e hoje é notória a falta de consenso entre os especialistas do método crítico sobre onde começam e terminam as tais fontes documentárias que se pressupõem estariam relacionadas com a compilação do Pen- tateuco. Como bem concluiu Edward Mack, ex-professor do Union Theological Seminary, de Richmond, Virginia: "A variedade de opiniões é tão grande na atualidade, que não se pode mais falar em 'Crítica', mas na realidade em 'Críticas' do Velho Testamento ... a unidade dos críticos ainda é um sonho." P. 19 e 20.[13]
1998Outra objeção dos criticos é a aparente presença de anacronismos na Biblia. Por anacronismo queremos dizer um evento ou fenômeno de um período mais recente da história sendo descrito como se fosse de um período mais antigo. Alguns exemplos apontados como anacronismo incluem as referências a camelos e tendas nas narrativas patriarcais (Gn 12:16). Argumentava-se que os camelos não foram domesticados até cerca de metade do primeiro milênio a. C., bem depois do suposto período patriarcal, no segundo milênio Semelhantemente, argumentava-se que morar em tendas (como na história de Abraão e sua família) era mais comum no primeiro milênio do que no segundo. As referências às tendas e camelos eram, portanto, anacrónicas, e lançavam dúvidas sobre a confiabilidade histórica das narrativas de Génesis.

Minha pesquisa sobre camelos domesticados demonstra que os criticos estão equivocados. Por exemplo, durante uma excursão ao Wadi Nasil, no Sinai, em julho de 1998, notei um petróglifo de um camelo sendo conduzido por um homem, não muito distante de uma estela de Amenemes II, e algumas inscrições protossinaíticas (alfabeto primitivo). Tomando como base a pátina dos petróglifos e as datas das inscrições ali presentes e em restos arqueológicos naquela vizinhança, verificamos que esse petróglifo de camelo data da Idade do Bronze Posterior, provavelmente anterior a 1.500 a. C. Claramente, os eruditos que tém negado a presença de camelos domesticados no segundo milenio a. C. cometeram a falácia de usar o silêncio como argumento. Não se deveria permitir que tal abondagem lançasse dúvidas sobre a veracidade de nenhum documento histórico, muito menos sobre as Escrituras. P. 39 e 40[12]
2001Por meio da tradução cuidadosa e honesta dos primeiros e melhores manuscritos gregos e hebraicos originais, a Palavra de Deus se tornou disponível. Foi transmitida de geração em geração por escribas e copistas fiéis, os quais preservaram os originais com um grau quase que inacreditável de precisão. Isso ainda acontece hoje, versão após versão, e em quase todas as línguas na Terra, por todo aquele que se beneficia desse método de tradução. Podemos notar o benefício dessa filosofia típica de tradução moderna nos comentários a seguir, extraídos da introdução de uma das versões mais recentes da Bíblia em inglês: English Standard Version, publicada pela primeira vez em 2001.

Os tradutores afirmam que seu objetivo foi "conservar a profundidade de significado" no original, explicando que buscaram "tanto quanto possível captar as palavras precisas do texto original" e "transmitir todas as nuances possíveis de significado das palavras originais das Escrituras em nossa própria língua". Outras traduções modernas foram introduzidas com declarações semelhantes.

Podemos ter bastante certeza de que, ao ler a Bíblia hoje em inglés ou mesmo em francês, espanhol, português ou qualquer outro idioma, estamos lendo o que os autores originais queriam dizer e o que desejavam que os leitores e ouvintes originais entendessem. A própria Bíblia declara: "Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a Palavra de nosso Deus permanece eternamente" (Is 40:8). Os séculos vão e vêm, dando testemunho da veracidade dessa profecia de um modo que jamais poderia ter sido imaginado - e ela continua a se cumprir hoje. Jesus disse algo parecido: "Passará o céu e a terra, porém as Mi- nhas palavras não passarão" (Mt 24:35). Graças a copistas diligentes e tradutores honestos, elas de fato nunca passaram.

Antes mesmo da descoberta dos manuscritos do Mar Morto, Kenyon, o pesquisador bíblico que tanto fez no século 20 para combater os falsos pressupostos e as conclusões incorretas de muitos de seus contemporâneos, pronunciou sua conclusão, alcançada como resultado da avaliação das evidências disponíveis: "O cristão pode pegar a Bíblia inteira em mãos e dizer, sem temor nem hesitação, que segura a Palavra verdadeira de Deus, transmitida sem perdas essenciais de geração em geração, ao longo dos séculos", p. 104 e 105.[11]

Notas e Referências

[1] Josefo, Contra Ápion, 1.41.

[2] ALISSON, Gregg R. Teologia histórica: uma introdução ao desenvolvimento da doutrina cristã. Tradução de Daniel Kroker e Thomas de Lima. — São Paulo: Vida Nova, 2017.

[3] Insituto de Física da USP. Acesse por AQUI.

[4] Baba Bathra 14b-15a.

[5] LEWIS, Jack P. “What do we mean by Jabneh?”, JBR 32 (1964).

[6] NEWMAN, Robert C. “The council o f Jamnia and the Old Testament canon”, WTJ 38 (1976).

[7] Tertuliano, Prescription against heretics, in: ANF, 3:260.

[8] Tertuliano, Against Marcion, 1.19; 4.39, in: ANF, 3:285,416.

[9] Ireneu, Against heresies, 4.9.1, in: ANF, 1:472.

[10] SILVA, Hendrickson Rogers Melo da. Apocalipse – Possibilidades. 2016. Disponível em: <https://blogdoprofh.com/2018/11/12/livro-apocalipse-possibilidades>. Acesso em: jan. 2021.

[11] BALL, Bryan. Em defesa da Bíblia: por que podemos confiar nas Escrituras; tradução Cecília Eller. – Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2020.

[12] RASI, Humberto M. H.; VYHMEISTER, Nancy J. A lógica da fé: respostas inteligentes para perguntas difíceis sobre nossas crenças. Tradução: Delmar F. Freire – Tatuí, SP. Casa Publicadora Brasileira, 2014.

[13] SILVA, Rodrigo P. Escavando a Verdade: a Arqueologia e as incríveis histórias da Bíblia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007.

[14] KLINGBEILL, Gerald A. Ele falou e tudo se fez: a criação divina no Antigo Testamento. Organização. Tradutor: Lícius Lindquist. – Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2020.

[15] ZDEBSKYI, Janaina de Fátima. A deusa precisa ser satisfeita: Guerra, morte e sexo na Suméria nos atributos da deusa Inanna. 2022. 253 f. Tese (Doutorado). Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina.

[16] BULLÓN, Alejandro. A última chamada: embarque imediato para um futuro sem medo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021.

[17] MOORE, marvin. Na corte celestial: em defesa do juízo investigativo. Tradução de Delmar F. Freire. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017.

[18] WHITE, Ellen G. O Grande Conflito, 2013. Disponível em: <https://cdn.centrowhite.org.br/home/uploads/2022/11/O-Grande-Conflito.pdf>. Acesso em: dez. 2023.

(Esta pesquisa estará em constante construção até a volta de Jesus).


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(Hendrickson Rogers)

 

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