maio 8, 2024

Blog do Prof. H

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Patrística: a palavra que Deus não disse (Tertuliano)

INTRODUÇÃO

Jeremias, o profeta, falando das falsas fontes de ensino, chama-as de “cisternas rotas, que não retêm as águas” (2:13). Deixar as Escrituras – infalível Palavra de Deus – para escorar-se nos chamados Pais da Igreja é, sem dúvida, abeberar-se nas cisternas rotas da confusão, da dúvida, da incerteza e da incoerência. Embora alguns desses homens tenham sido piedosos, a verdade é que não eram inspirados, e seus escritos não são infalíveis. Pelo contrário, há neles uma eiva tremenda de absurdos e ilogismos insanáveis. Eis uma amostra:

CRENÇAS DE TERTULIANO QUE CONFLITAM COM A PALAVRA DE DEUS E O BOM SENSO

Tertuliano, o que mais heresias ensinou, era sarcástico, injurioso, apaixonado, colérico, fanático e aderiu à heresia montanista, isto é, aderente da heresia de Montano, do segundo século, que fazendo tábua rasa dos dogmas e disciplina da igreja, insistia na intervenção perpétua do Parácleto (Espírito Santo) inspirando os homens por meio de revelações especiais.

a. Diz regozijar-se com os sofrimentos dos ímpios no inferno (Tertuliano, As Sombras, cap. 50).

b. Afirma que os animais oram (Tertuliano, Orando (discurso)):

“4. Oram também todos os anjos, oram todas as criaturas, oram os rebanhos e as feras que dobram os joelhos. Quando saem dos estábulos e tocas, olham para o alto, levantam a cabeça e não fecham a boca, mas gritam, fazendo vibrar o ar, cada qual conforme a sua natureza. Até as aves despertam, elevam-se para o céu, asas abertas – mãos estendidas – uma cruz. Qualquer coisa sussurram. Seria oração. Que mais dizer sobre o dever da oração? O próprio Senhor também orou. A ele, glória e poder pelos séculos dos séculos!” (Da Oração (Tertuliano de Cartago). Tradução: Timóteo Anastácio. Capítulo XXIX – Eficácia da oração. Disponível em: http://apologistascatolicos.com.br/obraspatristicas/Obras/PadresSecII/Tertuliano/DaOracao.htm. Acesso em jul., 2021).

c. Defende o purgatório, a oração pelos mortos e outros despautérios doutrinários (Tertuliano, Orando (discurso)).

d. Crê que “os israelitas, culpados hereditariamente dos mesmos crimes de que tinham consciência os seus pais”, suas “mãos estão sempre impuras, eternamente manchadas com o sangue dos profetas e com o do próprio Senhor” (Da Oração (Tertuliano de Cartago). Tradução: Timóteo Anastácio. Capítulo XIV – Puro seja o coração (cont.). Disponível em: http://apologistascatolicos.com.br/obraspatristicas/Obras/PadresSecII/Tertuliano/DaOracao.htm. Acesso em jul., 2021).

SUPOSTA CITAÇÃO DE TERTULIANO CONTRA O SÁBADO BÍBLICO

Tertuliano, na África, A. D. 200:

“Nós solenizamos o dia após o sábado em contradição àqueles que chamam a este dia o seu sábado” (Apologia, cap. 16).

Leiamos algo mais da pena desse mesmo Tertuliano para ver se, de fato, era o domingo uma instituição bíblica, certa, pacífica, um “dia de guarda” intocável. Nessa mesma Apologia, no mesmo capítulo, há este trecho:

“Outros […] pensam que o Sol é o deus dos cristãos, porque é sabido que adoramos em direção a Leste e festejamos o dia do Sol”.

Isto é sintomático, e revela que tal prática não era bíblica. Ainda Tertuliano diz:

“Somente no dia da ressurreição do Senhor deviam [os cristãos] guardar-se não apenas contra o ajoelhar-se, mas contra todos os gostos de serviço de solicitude, adiando mesmo nossas ocupações para não darmos qualquer lugar ao maligno”.

É claro que, por aquele tempo, os cristãos, após a reunião matinal do festival da ressurreição, retornavam aos seus trabalhos. O primeiro dia da semana era, na época, dia de trabalho normal. Os cristãos não se abstinham das tarefas seculares.

Diz o pastor Albert C. Pittman, pastor da Primeira Igreja Batista de Dayton, Ohio, EUA: “Primitivamente reuniam-se [os cristãos] no domingo de manhã porque o domingo não era um dia feriado, mas sim um dia de trabalho normal como os demais […]. Cantavam um hino a Cristo, ligavam-se por um voto de companheirismo, partilhavam uma merenda religiosa e, em seguida, retornavam ao seu trabalho, para os labores da semana” (The Watchman Examiner (jornal batista) de 25 de outubro de 1956).

O próprio Tertuliano, usado como referencial teórico/doutrinário pelos oponentes do 4° mandamento moral da Lei de Deus, escrevendo a respeito de certas práticas em voga no seu tempo, entre elas o festival da ressurreição, conclui que provinham da tradição, sem o menor apoio nas Escrituras. Ele escreveu:

“Sempre que ocorre o aniversário, fazemos ofertas para os mortos (um costume pagão) e o fazemos como honras de aniversário […] o jejum, a adoração no dia do Senhor. Regozijamo-nos desde a páscoa ao domingo menor. Sentimo-nos angustiados se o vinho e o pão […] devessem ser jogados ao chão […]. Fazemos na testa o sinal da cruz. Se, para estas e outras regras, vós insistis sobre uma positiva determinação da Escritura, nada encontrareis. A tradição vos será apresentada como originadora destas práticas, o costume as fortaleceu e a fé as pôs em prática” (Tertuliano, De Carona, seções 3 e 4).

O tiro tertulianiano saiu-lhe pela culatra. Dessa forma, o argumento se destrói por si mesmo. Nem faremos comentário. É nesses falsos pilares que se vai buscar prova em abono da guarda de um dia que não era, a rigor, guardado.

Tertuliano diz que os cristãos, ao se reunirem no primeiro dia da semana, não deviam ajoelhar-se. E um seu contemporâneo, Orígenes, de Alexandria, nos diz em sua Homília Sobre Números 23, parte 4, que se devia observar o sábado, e cita Heb. 4:9 (“Ainda resta um sabatismo para o povo de Deus”).

Eis um trecho:

“Abandonando, pois, a observância judaica do sábado, que espécie de guarda do sábado se espera do cristão? No dia de sábado nenhuns atos seculares devem ser efetuados. Se, pois, vos abstendes de todas as obras seculares, nada façais de mundano, mas estai livres para obras espirituais, vinde à igreja, ouvi a leitura e o comentário, e pensamentos em coisas celestiais, atentando para a vida futura, mantendo diante dos olhos o julgamento vindouro, não considerando coisas presentes e visíveis, mas o invisível e o futuro. Esta é a observância cristã do sábado”.

Se isto prova alguma coisa, prova que o sábado era ainda observado como dia de guarda. Prova também que no primeiro dia da semana, o dia do Sol, os cristãos já se reuniam de manhã para comemorarem o festival da ressurreição, mas na parte da tarde retornavam às ocupações seculares. Se prova alguma coisa, prova que em ambos os dias havia atividades espirituais pelos mesmos cristãos.

A interpretação oferecida por oponentes do sábado da Criação de Deus, de que somente os cristãos judeus guardavam o sábado e que os cristãos gentios guardavam o domingo, é falsa e insustentável. Tentar ressignificar expressões, torturar citações, para que elas apoiem teologia pirata, não bíblica, não revelada, antes fabricada por homens distantes da Revelação, só distancia ainda mais os cristãos anti sabatistas do Cristo.

A VISÃO DE ESTUDIOSOS SOBRE OS “PAIS” DA IGREJA

Mais abaixo alongamos esta relação citando outros “pais” e seus despautérios. Por aí se vê o absurdo de citá-los para comprovar doutrina. Enquadram-se perfeitamente na conceituação do profeta Jeremias: são verdadeiras cisternas rotas.

Adão Clarke, abalizado comentarista bíblico, depois de considerar a obscuridade dos escritos destes “pais,” conclui: “Em ponto de doutrina a autoridade deles é, a meu ver, nula” (Clarke’s Commentary, on Proverbs 8).

Eduardo Carlos Pereira, douto escritor, disse que a patrística além de constituir-se “testemunha falível de autoridade humana,” era “tradição que a crítica não pode sequer firmar no terreno digno da História”. Diz ainda que se trata de “tradição confusa e contraditória”. E remata: “Pululam, nos anais primitivos da Igreja, escritos espúrios ou apócrifos, que revelam a tendência perigosa para a ficção e para as lendas, que degeneraram largamente nas fraudes pias dos tempos medievais” (E. C. Pereira, O Problema Religioso na América Latina, p. 215, 219 e 227).

O Arcediago Farrar acrescenta: “Há pouquíssimos deles cujas páginas não estejam repletas de erros, erros de método, erros de fatos, erros históricos, de gramática, e mesmo de doutrina” (Farrar, The History in Interpretation, págs. 162, 163 e 165, ed. 1886).

Mosheim, afamado historiador eclesiástico confirma: “Não é de admirar que todas as serras dos cristãos podem encontrar nos chamados pais algo que favoreça sua própria opinião e sistemas” (Mosheim, Ecclesiastical History, Liv. 1, part. 2, cap. 3, seção 10).

Sim, os escritos patrísticos provam tudo, amparam a maior heresia. O leitor agora vai ter um choque ao ler estas estarrecedoras declarações, extraídas de uma publicação batista, antiga mas autêntica. Em resposta um jovem ministro que perguntara ao jornal como poderia provar a sua congregação uma coisa, quando nada encontrasse com que prová-la, na Bíblia, o pastor Levi Philetus Dobbs D. D. escreveu o seguinte:

“Recomendo, no entanto, um judicioso emprego dos Pais em geral, da mais alta confiança para qualquer pessoa que esteja na situação do meu consulente. A vantagem dos Pais é dupla: em primeiro lugar porque exercem grande influência sobre as multidões; em segundo lugar porque você poderá encontrar o que quiser nos Pais. Não creio que haja opinião mais tola e manifestamente absurda, para a qual você não possa encontrar passagens para sustentá-la nas páginas daqueles veneráveis homens de experiência. E para a mente comum, tanto vale um como outro. Se acontecer que o ponto que você quer provar nunca tenha ocorrido aos Pais, então você pode facilmente mostrar que eles teriam tomado seu lado se apenas tivessem pensado no assunto. E se, por acaso, nada há para sustentar, mesmo remotamente, de maneira favorável o ponto em questão, não desanime: faça uma boa e vigorosa citação e coloque nela o nome dos Pais, e pronuncie-a com ar de triunfo. Ela será igualmente valiosa. Nove décimos do povo não se detém a indagar se a citação apóia a matéria em debate. Sim, irmão, os Pais são a sua fortaleza. Eles são a melhor dádiva do Céu ao homem que tenha uma causa que não possa ser amparada por nenhum outro modo” (Jornal National Baptist, march 7, 1878, Dr. Wayland, redator).

Duvidaríamos dessa monstruosidade se a ela não tivéssemos acesso.

Causa pena a insegurança dos que se agarram à patrística para salvar uma causa perdida. Os chamados pais da igreja, como podemos ver nesta série de estudos, também ensinaram os maiores dislates e absurdos, e as mais desbragadas heresias. Replicam, romanistas e “protestantes”, oponentes à Palavra de Deus, que, se os citam, fazem-no apenas como referência histórica para provarem que os pais se referiam a um “costume já implantado na igreja subapostólica”. Ora, se isto é verdade então, todos os que se dizem cristãos, forçosamente, por coerência e honestidade mental, terão que admitir que o batismo de afusão, o purgatório, os jejuns cerimoniais, fórmulas, orações pelos mortos e outros disparates eram “costumes” da igreja e, como tais, devem ser aceitos e praticados em nossos dias – embora tais costumes contrariem os claros ensinos dos livros canônicos!

Se eram exatas as informações que davam de um fato, por que o seriam menos em relação a outros fatos? Vamos continuar nossa análise das outras cisternas rotas onde se abeberam autores anti sabatistas, para basear uma “prova” em favor da guarda do domingo, já que não a encontram nas páginas inspiradas da Bíblia.

Fonte: Arnaldo B. Christianini (Subtilezas do Erro, p. 232 – 251) e Hendrickson Rogers.

Confira outros “pais” da igreja cristã:

Inácio de Antioquia

Barnabé

Justino Mártir

Clemente de Alexandria

Tertuliano

Cipriano, Eusébio de Cesareia e Irineu


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(Hendrickson Rogers)

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