abril 29, 2024

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Teologia Histórica – A composição do Cânon Bíblico (Séculos 2 ao 5)

A primeira parte desse estudo está em Teologia Histórica – A composição do Cânon Bíblico (Igreja Primitiva do Novo Testamento).

A primeira lista data de cerca de 170 d.C. O Cânon muratoriano era assim formado:

Por causa do estado fragmentado do Cânon muratoriano, não podemos ter certeza de que alguns ou todos os escritos “ausentes” não eram considerados canônicos.[27]

Por volta da mesma época, surgiu mais um grupo herético. Chamado montanismo em referência a Montano, seu fundador, esse movimento incentivava uma grande expectativa da volta rápida do Senhor, apelando para novas revelações do Espírito Santo. A igreja respondeu a essa ênfase na revelação obtida fora da Bíblia sublinhando que o cânon das Escrituras estava concluído. Eusébio, ao confrontar essa heresia, teve o cuidado de não formular uma resposta que parecesse deter uma autoridade equivalente à autoridade das Escrituras — para não cometer a mesma heresia que ele estava combatendo. Ele falou da

“doutrina do Novo Testamento, à qual ninguém que tenha resolvido viver de acordo com o evangelho pode acrescentar ou retirar coisa alguma”.[28]

Embora não tenha formulado uma lista de livros do Novo Testamento, ele confirmou a percepção da igreja de que não se podia acrescentar nem subtrair coisa alguma ao cânon concluído das Escrituras.

Na metade do século 3, Orígenes estava usando um Novo Testamento com estes livros:[29]

No início do século 4, Eusébio dividiu sua classificação de escritos bíblicos em quatro categorias:[30]

Deve ficar claro que a igreja via de modo semelhante quase todos os livros do Novo Testamento que consideramos canônicos: os quatro Evangelhos, Atos dos Apóstolos, as trezes cartas do apóstolo Paulo, 1Pedro, 1joão e (ao menos em muitos círculos) Apocalipse de João. Vários livros que agora consideramos canônicos — Tiago, 2Pedro, 2 e 3João, Judas e Hebreus — estavam “na periferia” do cânon da igreja primitiva.

Tiago. Ter certeza do autor dessa carta foi uma dificuldade: ele era Tiago o apóstolo, Tiago o meio-irmâo de Jesus ou algum outro Tiago da igreja primitiva? Além disso os destinatários da carta (as doze tribos da Dispersão) e o sabor judaico-cristão tornavam-na menos atrativa para as igrejas formadas por gentios em sua maioria.

2Pedro. Embora afirmasse ser de autoria do apóstolo, vários outros escritos que claramente não deveriam ser situados junto com os textos canônicos faziam o mesmo tipo de afirmação (Atos de Pedro, Apocalipse de Pedro). Assim, algumas igrejas hesitaram em aceitá-la.

2 e 3João. Essas cartas eram tão curtas e aparentemente destituídas de importância, que a igreja as menosprezou com facilidade; elas são raramente citadas em escritos primitivos. Determinar a autoria dessas cartas também foi um problema. As duas começam com o autor designando a si mesmo como “o presbítero”. Ao menos alguns na igreja primitiva achavam que não se tratava do apóstolo João. Atribuídas a um “João, o presbítero” desconhecido e, portanto, sem autoridade apostólica, as duas cartas foram reprovadas em um teste fundamental para inclusão no cânon.

• Judas. Dúvidas sobre a condição canônica de Judas surgiram por causa de suas citações de fontes extrabíblicas (o v. 9 cita Assunção de Moisés e o v. 14 cita 1Enoque).

• Hebreus. A inclusão ou exclusão dessa carta estava ligada a seu vínculo com o apóstolo Paulo. Algumas igrejas (principalmente as do Oriente) a atribuíram a Paulo ou ao menos encontraram ideias paulinas por trás do estilo não paulino. Para essas igrejas, isso garantia sua inclusão no cânon bíblico. Outras igrejas (principalmente as do Ocidente) questionaram a autoria paulina ou a associação com o apóstolo e, assim, excluíram Hebreus do cânon.[31]

Ainda outros escritos estavam nas margens do cânon da igreja primitiva, mas acabaram não sendo incluídos no Novo Testamento. A Epístola de Barnabé, O pastor de Hermas, o Didaquê (ou Ensino [dos Doze Apóstolos]) e várias outras obras apareceram com certa uniformidade em algumas listas de livros canônicos. A igreja finalmente reconheceu que nenhuma delas passava nos testes de apostolicidade e antiguidade e, por isso, não podiam fazer parte das Escrituras canônicas que compunham o Novo Testamento.

A primeira lista de livros do Novo Testamento que corresponde exatamente ao cânon como se conhece hoje foi apresentada na Trigésima Nona Epístola (Pascal) de Atanásio, em 367 d.C.[32] Depois de apresentar a lista dos livros canônicos do Antigo Testamento, Atanásio apresentou este cânon do Novo Testamento:[33]

Embora as sete cartas gerais tenham sido colocadas antes das cartas paulinas e a carta aos Hebreus seja incluída nos escritos paulinos, não há outra diferença entre o cânon de Atanásio e o Novo Testamento que lemos hoje. Em relação aos livros não canônicos, Atanásio explicou que eles “de fato não estão incluídos no cânon, mas os pais da igreja os designam para serem lidos por aqueles que acabam de se unir a nós e desejam instrução na palavra de piedade”.[34] Os novos convertidos os liam simplesmente para continuar crescendo na fé, mas eles não faziam parte do cânon das Escrituras.

O cânon do Novo Testamento de Atanásio foi oficialmente endossado pelo Concílio de Hipona em 393 d.C. Os escritos de Paulo (sem incluir Hebreus) passaram a aparecer antes das cartas gerais:

“As Escrituras canônicas […] do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, Atos dos Apóstolos (um livro), as treze cartas do apóstolo Paulo, uma do mesmo aos hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas, o Apocalipse de João”.[35]

Duas outras reuniões importantes da igreja endossaram essa mesma lista: o Terceiro Concilio de Cartago, em 397, e o Quarto Concílio de Cartago, em 419.[36] Esse cânon é aceito desde então pela igreja — tanto a católica como a protestante.

Embora o cânon do Novo Testamento tenha permanecido inalterado desde a última parte do século 4, o mesmo não ocorreu com o cânon do Antigo Testamento. Acontecimentos no quinto século levaram à inclusão de outros escritos na lista de livros que a igreja reconhecia como divinamente inspirados e com peso de autoridade. No século 3 antes de Cristo, iniciou-se uma tradução da Bíblia hebraica para o grego.[37] O termo Septmginta (setenta) ficou associado a essa tradução; muitas vezes se faz referência a ela com os numerais romanos LXX. Essa Bíblia passou a circular amplamente entre os judeus que falavam grego, e quando a igreja se expandiu para áreas gentílicas, a LXX se tornou o Antigo Testamento deles.


A Septuaginta (LXX)

• A primeira divisão:

Gênesis

Êxodo

Levítico

Números

Deuteronômio

• A segunda divisão:

Josué

Juizes

Rute

O Livros dos Quatro Reinos: 1 e 2Samuel; 1 e 2Reis

Paralipômenos (gr. Paralipomena, lit., “coisas deixadas para trás”): 1 e 2Crônicas

1Esdras: um relato diferente de 2Crônicas 35.1— Neemias 8.12

Ester: bastante ampliado com um prefácio, uma conclusão, três trechos narrativos acrescentados em 3.13; 4.17; 8.12 e uma frase em 9.19

Judite: mulher piedosa, bela e hábil derrota os inimigos arrogantes de Israel

Tobias: filho obediente, recebe ajuda miraculosa de um anjo

• A terceira divisão: Salmos: ampliado para incluir o salmo 151

Provérbios

Eclesiastes

Cântico dos Cânticos

Livro de Sabedoria (ou Sabedoria de Salomão): texto que exalta a sabedoria e narra a história do período primitivo de Israel e do Êxodo, segundo a perspectiva da Sabedoria

Eclesiástico (ou Sabedoria de Jesus Ben Sirá): um guia para uma vida santa e virtuosa e um tributo a grandes santos do Antigo Testamento

• A quarta divisão:

Os doze Profetas Menores

Jeremias

Lamentações

Baruque: uma oração, um poema sobre sabedoria e uma profecia sobre a esperança futura de Israel

Carta de Jeremias: uma carta de Jeremias aos exilados, advertindo contra a idolatria

Daniel: o Cântico dos Três Jovens (a oração de Azarias/Abede-Nego no meio do fogo e o cântico dos três amigos de Daniel na fornalha) em 3.23; a história de Susana (a sabedoria de Daniel salva uma vítima de falsas acusações) formando o capítulo 13; e Bel e o Dragão (Daniel desmascara falsos deuses) formando o capítulo 14

• Apêndice 1 e 2Macabeus: histórias de revoltas judaicas no segundo século d.C.


A Septuaginta é mais longa que as Escrituras hebraicas, e seus acréscimos são denominados livros apócrifos (ou ocultos) ou somente Apócrifos. Os escritores do Novo Testamento estavam acostumados com a Septuaginta e de fato a usaram como fonte de diversas citações do Antigo Testamento. No entanto, em nenhum momento eles fizeram citações dos livros apócrifos; na melhor das hipóteses, podem ter feito alusões a eles.

A primeira lista de “livros da antiga aliança” que a igreja redigiu (170 d.C.) incluía todos os livros das Escrituras hebraicas, com exceção de Ester, mas não incluía nenhum dos livros apócrifos.[38] Essa prática continuou no terceiro século com Orígenes (embora ele tenha incluído em seu cânon do Antigo Testamento a Carta de Jeremias, apócrifa), e no quarto século com Atanásio (embora ele tenha incluído em sua lista canônica a Carta de Jeremias e Baruque).

A partir do segundo século depois de Cristo, empreendeu-se uma tradução latina de toda a Bíblia, refletindo a troca do grego pelo latim como língua universal do império romano. A versão do Antigo Testamento traduzida foi a Septuaginta, não a Bíblia hebraica. Quando a igreja começou a adotar o latim como sua língua, a tradução latina, que incluía os Apócrifos, tornou-se sua Bíblia. Em 382, o bispo de Roma convidou Jerônimo para iniciar uma nova tradução da Bíblia para o latim. Quando começou seu trabalho no Antigo Testamento, Jerônimo percebeu que uma tradução correta exigia um original em hebraico e não a Septuaginta em grego. Assim, ele começou a traduzir a Bíblia hebraica e teve de confrontar as diferenças óbvias entre ela e a Septuaginta.

Jerônimo traduziu primeiramente Samuel e Reis, e em seu prefácio a esses livros redigiu uma lista de Escrituras canônicas. Ela incluía somente os livros da Bíblia hebraica; somente esses eram Escrituras. Ele comentou:

“Esse prefácio às Escrituras pode servir de introdução geral a todos os livros que passamos [traduzimos] do hebraico para o latim, de modo que podemos ter certeza de que o que não se encontra em nossa lista deve ser situado entre os escritos apócrifos”.[39]

Esses escritos eram Sabedoria (de Salomão), o Livro de Jesus Ben Sirá (Eclesiástico), Judite, Tobias e 1 e 2Macabeus.[40] Em outro lugar, Jerônimo rejeita Baruque e, embora tenha traduzido as histórias acrescentadas a Daniel na LXX, situou-as em um apêndice ao livro. Assim, ele relegou os Apócrifos a uma posição secundária em comparação com as Escrituras canônicas.

Ao comentar a respeito de dois escritos apócrifos (Sabedoria de Salomão e Eclesiástico), Jerônimo referiu-se à função ou ao propósito dos Apócrifos:

“Visto que a igreja lê Judite, Tobias e os livros de Macabeus, mas não os admite entre as Escrituras canônicas, então, que leia esses dois volumes para a edificação do povo, mas não para dar aval a doutrinas da igreja”.[41]

Isto é, a igreja poderia ler os livros apócrifos para seu crescimento, mas eles não poderiam ser consultados para estabelecer doutrinas da igreja (essa função dos Apócrifos, como Jerônimo a concebia, seria invocada mais tarde pelos reformadores quando a questão do cânon das Escrituras foi retomada, mais de um milênio depois, no século 16).[42] Jerônimo exerceu uma enorme influência por meio de sua tradução da Bíblia para o latim conhecida como Vulgata Latina.[43] Poderíamos imaginar que sua postura em relação aos Apócrifos se tornou a visão predominante na igreja, mas não foi assim que as coisas se deram.

Um de seus contemporâneos, Agostinho, exerceu uma influência ainda maior na perspectiva da igreja em relação aos livros apócrifos. O fundamento da visão de Agostinho a respeito do cânon das Escrituras era sua convicção de que “o único e mesmo Espírito” havia falado tanto por meio dos autores das Escrituras hebraicas como dos tradutores da Septuaginta. Até mesmo nos pontos em que as duas versões apresentavam divergências importantes, a obra de inspiração do Espírito havia estado ativa em ambas. Essa era uma condição necessária, já que os apóstolos citavam tanto a Bíblia hebraica como a Septuaginta. Se os fundadores da igreja defendiam essa visão, ela tinha de continuar sendo a visão de Agostinho — e, desse modo, da igreja — a respeito das Escrituras:

״Eu também, de acordo com a minha capacidade, seguindo os passos dos apóstolos, que de fato citaram testemunhos proféticos das duas, isto é, da Bíblia Hebraica e da Septuaginta, cheguei à conclusão de que ambas devem ser usadas como detentoras de peso de autoridade, visto que as duas são uma e divinas”.[44]

Em uma série de cartas trocadas entre eles, Agostinho exortou Jerônimo a traduzir o Antigo Testamento para o latim a partir da Septuaginta e não do hebraico.[45] Como Jerônimo incluiu traduções dos livros apócrifos em sua Vulgata latina, estas se tornaram amplamente conhecidas. Antes disso, a igreja considerava como canônica a Bíblia hebraica refletida no Antigo Testamento. No entanto, visto que a Vulgata havia se tornado a nova Bíblia da igreja, os Apócrifos passaram a ser considerados parte das Escrituras canônicas.

O Concilio de Hipona, em 393, o Terceiro Concilio de Cartago, em 397, e o Quarto Concilio de Cartago, em 419, endossaram o cânon de Agostinho.[46] Desse modo, o Antigo Testamento com os Apócrifos (Tobias, Judite, acréscimos a Ester, 1 e 2Macabeus, o Livro de Sabedoria, Eclesiástico, Baruque e acréscimos a Daniel), juntamente com o cânon do Novo Testamento descrito acima, passariam a representar as Escrituras da igreja. Essa posição continuaria sem contestação significativa até a Reforma no século 16.

(Continua no próximo artigo)

Fonte: Gregg R. Allison. Teologia histórica: uma introdução ao desenvolvimento da doutrina cristã / Gregg R. Allison; tradução de Daniel Kroker e Thomas de Lima. — São Paulo: Vida Nova, 2017. 928 p. 51-60.

Leia todas as partes desta pesquisa (em contrução):

I. Teologia Histórica – A composição do Cânon Bíblico (Igreja Primitiva do Novo Testamento)

II. Teologia Histórica – A composição do Cânon Bíblico (Séculos 2 ao 5)

III. Teologia Histórica – A composição do Cânon Bíblico (da Idade Média à Modernidade)

Notas:

[27] O Cânon muratoriano recebeu este nome em homenagem ao arqueólogo italiano L. A. Muratori (1672 – 1750), que descobriu e publicou o documento em Antiquitates Halicae Medii Aevi, III (Milão, 1740). O documento está fragmentado e começa com uma análise que conclui o evangelho de Marcos, seguida de uma análise “do terceiro livro do Evangelho, aquele segundo Lucas”. Algumas emendas ao texto corrompido restauram íPedro e até mesmo 2Pedro. Veja o texto completo em Alexander Souter, The text and canon of the New Testament, 2. ed. (London: Duckworth, 1954), p. 191ss.

[28] Eusébio, Ecclesiastical history, 5.16, Eusebius’Ecclesiastical history, tradução para o inglês de Christian Frederick Cruse (Grand Rapids: Baker, 1962), p. 195. Eusébio parece estar citando um apologista que defendia a ortodoxia da igreja.

[29] Vários comentários são necessários: (1) Em seu Commentary on the Gospel of John [Comentário ao evangelho de João], 19.6, Orígenes se referiu ao segundo capítulo de Tiago e observou que as palavras são “da carta que contém (o nome de) Tiago”. Alguns estudiosos viram nisso uma indicação da dúvida de Orígenes a respeito da canonicidade da carta. Essa visão, no entanto, é errada. Orígenes se referiu à carta como Escritura em sua Selection on Psalms [Seleção de Salmos], 30.6, e chamou Tiago de “apóstolo” em seu Commentary on the Gospel of John [Comentário do Evangelho de João], frag. 126. (2) A inclusão de 2Pedro é incerta por causa de evidências conflitantes. Por um lado, Orígenes citou Pedro ao menos seis vezes em seus escritos e parecia considerar a carta como canônica. Por exemplo, ele falou de Pedro ressoando com as duas trombetas de suas cartas (Homilies on Jushua, 7.1). Por outro lado, de acordo com um comentário de Eusébio, Orígenes acreditava que “Pedro, sobre o qual a igreja de Cristo está edificada, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão, deixou uma carta de que podemos ter certeza. Suponhamos, também, que a segunda tenha sido deixada por ele, pois quanto a isso há certa dúvida”. Eusébio, Ecclesiastical history, 6.25 in: Cruse, Eusebius’ Ecclesiastical history, p. 246. Orígenes parecia considerar Judas como canônica (“repleta de palavras de graça celestial” ; Commentary on Matthew, 10.17), mas reconhecia que nem todas as igrejas a aceitavam como tal (ibidem, p. 30).

[30] Vários comentários se impõem aqui: (1) Embora Eusébio tenha situado a carta de Tiago entre os “livros controversos”, ele defendia sua canonicidade. Essa inclusão, portanto, decorria do fato de que ele reconhecia que algumas igrejas tinham dúvidas a respeito da canonicidade da carta. (2) Em relação a 2Pedro, Eusébio observou que “uma de suas epístolas, chamada a primeira, é reconhecida como genuína, pois os patriarcas a usaram na antiguidade em seus escritos como obra incontestável do apóstolo. Mas aquela chamada de segunda, não consideramos, de fato, como parte dos livros sagrados […] no entanto, visto que parecia útil para muitos, foi atentamente lida com as outras Escrituras […]. Essas, no entanto, são aquelas chamadas epístolas de Pedro, das quais considerei somente uma como genuína e admitida pelos patriarcas”. Ecclesiastical history, 3.3 in: Cruse, Eusebius’ Ecclesiastical history, p. 83.

[31] Panteno e Clemente de Alexandria consideraram Paulo o autor de Hebreus. De acordo com História eclesiástica, de Eusébio (6.14), Clemente acreditava que a carta “foi escrita por Paulo aos hebreus na língua hebraica, mas cuidadosamente traduzida por Lucas e publicada entre os gregos”. Parece que Clemente desenvolveu essa teoria com base em Panteno: “Mas, agora, como o bem-aventurado presbítero [isto é, Panteno] costumava dizer: ‘visto que o Senhor, apóstolo do Todo-Poderoso, foi enviado aos hebreus, Paulo, em razão de sua inferioridade, tendo sido enviado aos gentios, não se identificou como apóstolos dos hebreus, tanto por reverência ao Senhor quanto por ter escrito de sua abundância aos hebreus como mensageiro e apóstolo dos gentios” ’ in: Cruse, Eusebius’ Ecclesiastical history, p. 234. Orígenes matizou essa visão: “Mas eu diria que os pensamentos são do apóstolo, mas o ditado [estilo de escrita] e fraseologia pertencem a alguém que anotou o que o apóstolo disse, alguém que escrevia em seu tempo livre o que seu mestre ditava. Se, desse modo, alguma igreja considera essa epístola como vinda de Paulo, que ela seja condenada por isso, pois também os homens antigos [isto é, os pais da igreja] não a transmitiram como tal sem razão. Mas somente Deus sabe quem realmente escreveu a epístola”. Ecclesiastical history, 6.25 in: Cruse, Eusebius’ ecclesiastical history, p. 246-7.

[32] Atanásio, Thirty-ninth letter, 3, in: NPNF², 4:551-2. Como bispo de Alexandria no Egito, Atanásio tinha a responsabilidade de determinar a data da Páscoa todos os anos. Para comunicar essa decisão, ele escrevia cartas às igrejas. Foi em sua carta pascal de 367 d.C. que ele se incumbiu da tarefa de explicitar o cânon das Escrituras. A introdução ressaltava a seriedade da tarefa: “Ao fazer menção dessas coisas, adotarei, para recomendar meu trabalho, o modelo do evangelista Lucas, dizendo sobre meu trabalho: ‘Visto que muitos têm empreendido’ uma organização coordenada dos livros ditos apócrifos e sua mistura com as Escrituras, divinamente inspiradas, em relação às quais estamos plenamente convencidos de que, ‘pelos que desde o princípio foram suas testemunhas oculares e ministros da Palavra’, foram transmitidas aos patriarcas; ‘pareceu adequado também a mim’, tendo sido instado a fazê-lo por verdadeiros irmãos, ‘e depois de investigar tudo cuidadosamente desde o começo’, apresentar aqui os livros incluídos no cânon, passados para as gerações seguintes e considerados divinos”.

[33] Ibidem, p. 5,7, in: NPNF², 4:552.

[34] Ibidem, p. 7, in: NPNF², 4:552. Atanásio acrescentou mais uma categoria de escritos: os livros apócrifos. Visto que eram “invenções de heréticos”, deveriam ser evitados completamente.

[35] “The Council of Hippo”, cânon 36; citado em James J. Megivern, Bible interpretation (Wilmington: McGrath, 1978), p. 48.

[36] Terceiro Concilio de Cártago, cânon 47; Quarto Concilio de Cártago, cânon 29.

[37] Lendas fantasiosas ficaram associadas com o processo de tradução: 70 ou 72 judeus foram supostamente levados para Alexandria, no Egito, para realizar o trabalho. Embora estivessem isolados uns dos outros em celas separadas, eles produziram traduções idênticas (do Pentateuco; lendas posteriores afirmavam que traduziram toda a Bíblia hebraica) em 72 dias! Uma dessas lendas se encontra na Letter of Aristeas [Carta de Arísteas]. Além do mais, Filo de Alexandria, filósofo judeu, afirmou que todos os tradutores escreveram as mesmas palavras “como se algum indutor invisível lhes tivesse transmitido toda a sua linguagem”. Filo, The works of Philo Judaeus, tradução para o inglês de Charles Duke Yonge (1854; reimpr., London: H . G. Bohn, 1993), vol. 2: Life of Moses, 2.7.37, livro 25.

[38] Essa lista apareceu em uma carta de Melito, bispo de Sardes, a seu amigo Onésimo, e Eusébio a preservou em História eclesiástica, 4.26. Veja Cruse, Eusebius’ Ecclesiastical history, p. 164.

[39] Jerônimo, Preface to the books of Samuel and Kings, in: NPNF², 6:490. Ele descreveu o conteúdo do Antigo Testamento em sua carta a Paulino (Carta 53), datada de 394. Novamente, ele não mencionou os livros apócrifos.

[40] Ibidem. Ele também inclui o Pastor de Hermas em sua lista dos Apócrifos do Antigo Testamento, mas o livro está fora de lugar e deveria ser listado como apócrifo do Novo Testamento. Para simplificar e não confundir, deixei-o fora de sua lista.

[41] Jerônimo, Preface to the books of Proverbs, Ecclesiastes, and the Song of Songs, in: NPNF², 6:492.

[42] Vej a discussão mais à frente neste capítulo.

[43] O nome Vulgata se tornou o modo comum de se referir à tradução de Jerônimo no século 16. E. F. Sutcliffe, “Jerome”, G. W. H. Lampe, org., The West from the fathers to the Reformation, Cambridge History of the Bible (Cambridge: Cambridge University Press, 1969), vol. 2, p. 80-101, esp. p. 99.

[44] Agostinho, The city of God, 18.43-4, in: NPNF¹, 2:386-7 [edição em português: A cidade de Deus, tradução de Oscar Paes Leme (Petrópolis: Vozes de Bolso, 2012), 2 vols.].

[45] Agostinho, Letter 28.2; Letter 71, in: NPNF¹, 1:251; 1:326-8. Jerônimo, Letter 105; Letter 112, in: NPNF², 6:189,214.

[46] “Council of Hippo”, cânon 36. Megivern, Bible interpretation, p. 48. Cf. Terceiro Concilio de Cártago, cânon 47; Quarto Concilio de Cártago, cânon 29.


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(Hendrickson Rogers)

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