maio 18, 2024

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Origens da crença “o papa é o mediador terrestre”; escritos forjados pelos monges e cada vez mais superstições em lugar da revelação bíblica

O acesso da Igreja de Roma ao poder assinalou o início da escura Idade Média. Aumentando o seu poderio, mais se adensavam as trevas. De Cristo, o verdadeiro fundamento, transferiu-se a fé para o papa de Roma. Em vez de confiar no Filho de Deus para o perdão dos pecados e para a salvação eterna, o povo olhava para o papa e para os sacerdotes e prelados a quem delegava autoridade.

Ensinava-se-lhe ser o papa seu mediador terrestre, e que ninguém poderia aproximar-se de Deus senão por seu intermédio; e mais ainda, que ele ficava para eles em lugar de Deus e deveria, portanto, ser implicitamente obedecido. Esquivar-se de suas disposições era motivo suficiente para se infligir a mais severa punição ao corpo e alma dos delinqüentes. Assim, a mente do povo desviava-se de Deus para homens falíveis e cruéis, e mais ainda, para o próprio príncipe das trevas que por meio deles exercia o seu poder.

O pecado se disfarçava sob o manto de santidade. Quando as Escrituras são suprimidas e o homem vem a considerar-se supremo, só podemos esperar fraudes, engano e aviltante iniqüidade. Com a elevação das leis e tradições humanas, tornou-se manifesta a corrupção que sempre resulta de se pôr de lado a lei de Deus.

Dias de perigo foram aqueles para a igreja de Cristo. Os fiéis porta-estandartes eram na verdade poucos. Posto que a verdade não fosse deixada sem testemunhas, parecia, por vezes, que o erro e a superstição prevaleceriam completamente, e a verdadeira religião seria banida da Terra. Perdeu-se de vista o evangelho, mas multiplicaram-se as formas de religião, e o povo foi sobrecarregado de severas exigências.

Ensinava-se-lhes não somente a considerar o papa como seu mediador, mas a confiar em suas próprias obras para expiação do pecado. Longas peregrinações, atos de penitência, adoração de relíquias, ereção de igrejas, relicários e altares, bem como pagamento de grandes somas à igreja, tudo isto e muitos atos semelhantes eram ordenados para aplacar a ira de Deus ou assegurar o Seu favor, como se Deus fosse idêntico aos homens, encolerizando-Se por ninharias, ou apaziguando-Se com donativos ou atos de penitência!

Apesar de que prevalecesse o vício, mesmo entre os chefes da Igreja de Roma, sua influência parecia aumentar constantemente. Mais ou menos ao findar o século VIII, os romanistas começaram a sustentar que nas primeiras épocas da igreja os bispos de Roma tinham possuído o mesmo poder espiritual que assumiam agora. Para confirmar essa pretensão, era preciso empregar alguns meios com o fito de lhe dar aparência de autoridade; e isto foi prontamente sugerido pelo pai da mentira.

Antigos escritos foram forjados pelos monges. Decretos de concílios de que antes nada se ouvira foram descobertos, estabelecendo a supremacia universal do papa desde os primeiros tempos. E a igreja que rejeitara a verdade, avidamente aceitou estes enganos. [1]

Os poucos fiéis que construíram sobre o verdadeiro fundamento (1 Coríntios 3:10, 11), ficaram perplexos e entravados quando o entulho das falsas doutrinas obstruiu a obra. Como os edificadores sobre o muro de Jerusalém no tempo de Neemias, alguns se prontificaram a dizer: “Já desfaleceram as forças dos acarretadores, e o pó é muito e nós não podemos edificar o muro.” Neemias 4:10. Cansados da constante luta contra a perseguição, fraude, iniqüidade e todos os outros obstáculos que Satanás pudera engendrar para deter-lhes o progresso, alguns que haviam sido fiéis edificadores, desanimaram; e por amor da paz e segurança de sua propriedade e vida, desviaram-se do verdadeiro fundamento.

Outros, sem se intimidarem com a oposição de seus inimigos, intrepidamente declaravam: “Não os temais: lembrai-vos do Senhor grande e terrível” (Neemias 4:14); e prosseguiam com a obra, cada qual com a espada cingida ao lado. Efésios 1:17.

O mesmo espírito de ódio e oposição à verdade tem inspirado os inimigos de Deus em todos os tempos, e a mesma vigilância e fidelidade têm sido exigidas de Seus servos. As palavras de Cristo aos primeiros discípulos aplicam-se aos Seus seguidores até ao final do tempo: “E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai.” Marcos 13:37.

As trevas pareciam tornar-se mais densas. Generalizou-se a adoração das imagens. Acendiam-se velas perante imagens e orações se lhes dirigiam. Prevaleciam os costumes mais absurdos e supersticiosos. O espírito dos homens era a tal ponto dirigido pela superstição que a razão mesma parecia haver perdido o domínio. Enquanto os próprios sacerdotes e bispos eram amantes do prazer, sensuais e corruptos, só se poderia esperar que o povo que os tinha como guias se submergisse na ignorância e vício.

Notas e referências:

[1] Escritos Forjados. – Entre os documentos que no presente se admitem geralmente como falsificações, a Doação de Constantino e as Decretais Pseudo-isidorianas são de primeira importância.

“‘Doação de Constantino’ é o nome aplicado tradicionalmente, desde a última parte da Idade Média, a um documento que se diz ter sido endereçado por Constantino o Grande ao Papa Silvestre I, o qual se encontra primeiro num manuscrito de Paris (Codex lat. 2777), datando provavelmente do princípio do século nove. Do século onze para cá tem sido usado como poderoso argumento em favor das pretensões papais, e consequentemente desde o século doze tem sido objeto de vigorosas controvérsias. Ao mesmo tempo, como torna possível considerar o papado como meio-termo entre o Império Romano original e o medieval, constituindo assim uma base teórica da continuidade do recebimento da lei romana na Idade Média, tem tido não pouca influência sobre a história secular.” – New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge; vol. III, art. “Donation of Constantine”, págs. 484 e 485.

A teoria histórica apresentada na Doação é minuciosamente estudada em The Temporal Power of the Vicar of Jesus Christ, de Henry E. Cardinal Manning, Londres, 1862. Os argumentos da Doação são de tipo escolástico, e a possibilidade de ser um escrito forjado, só se mencionou quando surgiu a crítica histórica, no século quinze, contando-se Nicolau de Cusa entre os primeiros a concluir que Constantino jamais fizera semelhante doação. Lorenzo Valla, na Itália, produziu uma brilhante demonstração de sua espuriedade, em 1440. Ver Treatise of Lorenzo Valla on the Donation of Constantine (Nova Iorque, 1927). Por mais um século, porém, se manteve viva a crença na autenticidade da Doação e das Falsas Decretais. Por exemplo, Martinho Lutero a principio aceitou as decretais, mas logo disse a Eck: “Impugno essas decretais”; e a Spalatin: “Ele [o papa] em suas decretais corrompe e crucifica a Cristo, isto é, a verdade.”

Conclui-se que: 1) A Doação é um documento forjado; 2) que é obra de um homem ou um período; 3) seu forjador fez uso de documentos antigos; 4) sua criação originou-se entre os anos 752 e 778. Quanto aos católicos, abandonaram a defesa da autenticidade, desse documento com Baronius, Ecclesiastical Annals, em 1592.

Citando fatos relativos à questão – quando e por quem foi forjada a Doação de Constantino, o Sr. Gosselin, diretor do Seminário de São Sulpício (Paris), diz:

“Posto que este documento seja inquestionavelmente espúrio, seria difícil determinar com precisão a data em que foi produzido. M. de Marca, Muratori, e outros ilustrados críticos, são de opinião que foi composto no oitavo século, antes do reinado de Carlos Magno. Muratori julga ainda provável que possa ter induzido aquele monarca e Pepino a serem tão generosos para com a Santa Sé.” – Gosselin, Pouvoir des Papes ao Moyen Âge (Paris, 1845), pág. 717.

Os “falsos escritos” aos quais se refere o texto, abrangem também as Decretais Pseudo-isidorianas, juntamente com outras criações. Essas Decretais Pseudo-isidorianas são certas cartas fictícias, atribuídas a papas antigos, desde Clemente (A.D. 88-97), até Gregório o Grande (A.D. 590-­604), incorporadas numa coleção do século nove, que se diz ter sido feita por Isidoro Mercador. O nome “Decretais Pseudo-isidorianas” está em uso desde o aparecimento da crítica, no século quinze.

Sobre a data das Decretais Pseudo-isidorianas, ver Mosheim em Historiae Ecclesiasticas, liv. 3, século 9, parte 2, cap. 2, sec. 8. Conforme o Dr. Murdock tradutor, indica em nota à margem, o ilustrado historiador católico M. L’Abée Fleury, em sua Histoire Ecclesiastique, diz a respeito destas decretais que “elas se arrastaram para a luz perto do final do século VIII”. Fleury, escrevendo perto do fim do século XVII, diz mais que essas falsas decretais foram consideradas autênticas durante o espaço de oitocentos anos; e foi com muita dificuldade que foram abandonadas no último século. É verdade que presentemente é difícil haver alguém, ainda que medianamente instruído nestes assuntos, que não reconheça que essas decretais são falsas.” – Fleury, Histoire Ecclesiastique, vol. 9, pág. 446 (Paris, 1742). Ver também Gibbon: Histoire de la Décadense et de la Chute de L’Empire Romain, cap. 49, pág. 16 (Paris, 1828, vol. 9, págs. 319-323).

Fonte: O Grande Conflito, p. 52-54 e 687-689.

Confira toda a sequência desta pesquisa:

  1. Paganismo versus Evangelho: vitória do evangelho, embora sangrenta. Paganismo + Evangelho: vitória do paganismo e ascensão das crenças inventadas.
  2. Início das crenças inventadas pelo falso cristianismo institucionalizado: “o papa é a cabeça visível da igreja universal de Cristo”.
  3. Origens das crenças inventadas pelo cristianismo apostatado: “culto a imagens” e “guardar domingos e festas”.
  4. Origens da crença “o papa é o mediador terrestre”; escritos forjados pelos monges e cada vez mais superstições em lugar da revelação bíblica.
  5. O papa Gregório VII e a irracional crença na inerrância da Igreja de Roma!
  6. O sincretismo cristão-pagão e as crenças derivadas: imortalidade da alma, invocação do santos, adoração da virgem Maria, tormento eterno, purgatório e indulgências.
  7. O sincretismo cristão-pagão e as crenças derivadas: missa, inquisição e o déspota do mundo – o santo papa.
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